31 julho, 2007

||| O cantinho do hooligan, Mohammed Saeed al-Sahhaf.










Simão, o melhor jogador do Benfica, foi embora para o simpático Atlético de Madrid; isso prova que o Benfica é grande. A oferta de Berardo sobre as acções do Benfica está abaixo do seu valor de mercado; isso prova que o Benfica é grande e que a sua situação económica é invejável. O Benfica perdeu com o Al Ahly, no Egipto; isso prova que o Benfica está a melhorar e que o seu plantel está muito melhor. O Benfica conseguiu 20 milhões com a venda de Simão, enquanto o Porto vendeu Pepe e Anderson por 30 cada, e o Sporting vendeu Dani por 26; a saída de Simão é o melhor negócio do ano segundo José Manuel Delgado, o que prova que o Benfica é grande e que foi o clube que conseguiu maiores receitas com transferências de jogadores.
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||| Ninguém está a salvo.
É no que dão as liberdades.
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||| O homem novo.









«Durante o regime dos Khmer Vermelhos (1975-79), Duch dirigiu a prisão de Tuol Sleng (com o nome de código S-21), um antigo liceu de Phnom Penh transformado em centro de tortura, onde se estima que 14 mil pessoas, incluindo mulheres e crianças, foram torturadas antes de serem executadas. Os detidos, acusados de serem inimigos da revolução lançada por Pol Pot, eram sujeitos às piores atrocidades e forçados a confessar os mais variados crimes – na maioria das vezes de serem agentes da CIA ou do KGB – antes de serem levados para campos nas imediações onde seriam executados a tiro.» Duch, aliás Kang Kek, foi hoje formalmente acusado de crimes contra a humanidade, cometidos no Camboja sob o regime de Pol Pot. Ele não queria saber de minudências. Também quis construir o homem novo.
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||| Dez dias que abalaram o mundo.









Ana Catarina Almeida e
Miguel Urbano Rodrigues publicaram um romance intitulado Etna no Vendaval da Perestroika (edição Campo das Letras), e dedicado «aos portugueses que estudaram na União Soviética e permanecem comunistas». José Milhazes leu e comenta, chamando a atenção para «o grande número de orgasmos bem conseguidos por Etna, intervalados com citações de discursos e declarações de Mikhail Gorbatchov e de outros dirigentes soviéticos». As «aventuras “kama-sutristas” do vulcão sexual luso, fundamentalmente com homens de países oprimidos», fazem-no evocar uma reunião de militantes comunistas portugueses em Moscovo, em 1978: «Joaquim Pires Jorge, nosso controleiro e representante do PCP junto do irmão mais velho, decidiu colocar na ordem de trabalhos a discussão dos namoros e casamentos de estudantes portugueses com estrangeiros, alertando para o perigo de se estar a assistir “a uma perda de quadros para a futura revolução portuguesa”.» O «vulcão sexual luso» (daí o nome Etna, portanto) «tenta-nos convencer que Mikhail Gorbatchov conseguiu realizar, quase sozinho, aquilo a que se opunham a maioria dos dirigentes comunistas soviéticos e do povo, ou seja, a destruição da União Soviética. Um estudante que cursou História numa universidade soviética, que queimou muitas pestanas a decorar a História do PCUS, o Materialismo Histórico e Dialéctico, o Ateísmo e Comunismo Científico, apresenta-nos o decorrer dos acontecimentos, grosso modo, como uma operação planeada e realizada por Gorbatchov (claro que a CIA deveria estar algures) contra a vontade de “verdadeiros comunistas” como Vorotnikov, Ligatchov e Krutchkov e com a “passividade das massas”.» Texto de José Milhazes, completo, aqui.
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||| À atenção das autoridades, 2.
A propósito deste post, que dava conta da situação no Chile, onde o governo se formatou em Microsoft, o leitor João Moreira, por mail, informa que há alguma polémica na adopção dos modelos do Office da Microsoft. A notícia vem aqui: «O parecer português será conhecido no próximo dia 31 de Julho e resultará da votação da Comissão Técnica (CT) – fortemente criticada pela comunidade open source por alegada proximidade à Microsoft – formada pelo Instituto de Informática. Inicialmente formada por oito membros votantes, a composição da CT foi alargada para 18 vogais representantes de empresas e instituições ligadas às TIC na reunião decorrida a 16 de Julho. »
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||| Polícias portugueses de papel.
Ainda a propósito do «policial português», chamo a atenção dos mais distraídos para Dick Haskins, aliás António Andrade Albuquerque, bisneto de ingleses nascido em 1929 (publicou o seu primeiro livro em 1954) e que hoje vive em Peniche, diante das Berlengas. É um dos autores portugueses mais traduzidos e publicados no mundo, com livros que serviram de suporte a filmes, um best-seller na Nova Zelândia, no Canadá ou na Alemanha (milhões de exemplares vendidos). Bibliografia actualizada aqui, no catálogo Asa, mas nos alfarrabistas podem encontrar-se muitos dos seus livros publicados na Ulisseia, na DH, na Europress ou na Ática.
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||| O estripador de Lisboa.












Prescreve, hoje, o caso do estripador de Lisboa e aparentemente ficam por esclarecer os crimes de 1992 e 1993. Uma equipa da Polícia Judiciária lidou com o caso durante anos (mesmo com o apoio pontual do FBI) sem chegar a estabelecer pistas concretas, sobretudo depois do afastamento da equipa do inspector João de Sousa.
O caso interessou-me e interessa-me. Cerca de 10 anos antes era publicado em Portugal um livro com esse título, da autoria de Luís Campos, aliás Frank Gold, aliás Luís Campos. Conheci o autor e entrevistei-o duas vezes, uma no JL (em 1986), outra na SIC («Escrita em Dia», em 1996), além de ter falado com ele várias vezes durante esses anos em que se investigavam os «crimes do estripador». Na vida real, Luís Campos era professor do Instituto Superior de Agronomia; depois era autor de «romances policiais». Como Frank Gold escreveu livros como A Rapariga de Tânger, Longa é a Noite, A Mulher de Hong Kong ou A Dama de Singapura e ainda uma homenagem a um dos históricos do romance popular, Roussado Pinto, aliás Ross Pynn, em Eu, Ross Pynn. Mas como Luís Campos, nome que passou a assinar os seus livros da década de oitenta, publicou A Morte Indecente de Mónica B., Fogo, Gata em Noite de Chuva, ou As Donzelas da Noite.
Luís Campos era um homem tranquilo, solitário e culto; várias vezes o encontrei num certo bar lisboeta onde era costume haver agentes dos homicídios da PJ e as chamadas «fontes» da noite lisboeta -- sempre sozinho. Em O Estripador de Lisboa há descrições, dados, alguns pormenores materiais que se repetem depois no caso real dos anos noventa, e Luís Campos foi alvo de investigações, tais eram as coincidências.
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||| O ónus da prova.
Desde que o ex-presidente Sampaio resolveu propor a inversão do ónus da prova em matéria fiscal para pôr o país na linha, que este assunto mereceria fiscalização. O que o presidente da República acaba de fazer, enviando para o Tribunal Constitucional o decreto que alterou a Lei Geral Tributária e o Código de Processo Tributário é simplesmente dizer que a liberdade dos cidadãos e a sua dignidade não podem ser postas em causa, independentemente daquilo que o TC possa vir a decidir.
No entanto, se o TC decidir que o decreto não está (como se diz?) «ferido de inconstitucionalidade», isso não significa que seja justo ou que os cidadãos não tenham o direito de protestar contra ele. Como extensão de um outro princípio («Mais vale ter razão do que pertencer à maioria.»), a constitucionalidade de uma lei não significa a sua razoabilidade. Mas, para já, esta etapa.
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30 julho, 2007

||| Na árvore.
O Verão está cheio de coisas irritantes, palavra.
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||| Nunca digas desta água não beberei.
«É melhor do que eu imaginava. Era o que faltava no meu currículo.» [Marques Mendes na SIC Notícias, sobre a sua participação nas festividades do Chão da Lagoa, Madeira.] Toda a gente queria que Marques Mendes não fosse buscar os 10 000 votos. Não se sabe se por quererem ter um líder dermatologicamente puro, se por quererem provar que a vida é mesmo assim e mais tarde ou mais cedo todos acabarem por reconhecer que a vida é mesmo assim. Isso é uma coisa. Outra, diferente, é preencher uma lacuna no currículo.
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||| Antes e depois.
O Filipe viu o antes e o depois deste Verão social-democrata madeirense:
1) «Marques Mendes condenando, sem reservas, a bandalheira madeirense e recusando-se a comparecer no Chão da Lagoa. Somos as escolhas que fazemos e ele sabe-o.»
2) «Tal como anunciou, Marques Mendes foi animar a fête champêtre de Jardim: "faltava-me isso no currículo", para usar as suas exactas palavras. E agora já não lhe faltam 10.000 votos nas eleições internas. É a vida.»
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29 julho, 2007

||| Tripoli.
O relato de Ashraf Alhajuj sobre as torturas e o cativeiro na Líbia.
(Via Blasfémias.)
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||| À atenção das autoridades.
No Chile, uma ciberrevolta contra a Microsoft. Porquê? Porque o governo transformou a Microsoft em provedor da Administração pública, com o argumento de que «la evidencia demuestra que la adopción de tecnologías de información es responsable directa del crecimiento económico». Ou seja, tudo o que é administração pública trabalha com Microsoft. Imagine-se um lugar onde os sites institucionais e públicos estão todos optimizados para I. Explorer, onde as ferramentas disponíveis são Microsoft, etc., etc. Claro que em Portugal não se passa nada disso.
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||| Deserção cubana.
Como é que os companheiros e seus aliados de sempre, no Brasil, poderão explicar a deserção de cubanos para o Brasil? Aliás, a delegação cubana, com medo de que houvesse mais deserções, abandonou os Jogos Pan-Americanos.
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28 julho, 2007

||| Natalidade.
João Miranda tem razão.
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||| O cantinho do hooligan, eu que sou madridista.
Agora com mais sentido, a Rititi republicou a sua crónica sobre a alegria colchonera: «Yo me voy al Manzanares, al estádio Vicente Calderón, donde acuden a millares los que gustan del futbol de emoción
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||| Onésimo, novo livro.










Li o novo livro de Onésimo Teotónio de Almeida (Aventuras de um Nabogador, Bertrand, 184 pp.) numa noite de insónia – o Verão é a época delas. E isto apesar de não gostar do termo “estórias”, que já discuti com o Onésimo, um dos pioneiros na utilização do termo, muito antes da sua banalização.
Tenho, portanto, uma declaração de interesses: a de gostar de tudo ou quase tudo o que Onésimo escreve, e que eu leio logo, precisamente porque está bem escrito, porque há assunto nas suas narrativas e crónicas. Desta vez, reparei tardiamente na saída do livro e demorei um pouco mais. O cenário é, como sempre, o mundo da lusalândia, preferencialmente o dos portugueses na América, ou o seu mundo na América. Se tivéssemos lido mais Onésimo talvez não precisássemos de discutir sempre a grandeza e a miséria da América – ele é um cicerone espantoso do lado de lá do Atlântico Norte, um guia sentimental & cultural da costa leste dos EUA, um almanaque vivo do Maine, Rhode Island (Providence, onde vive), Massachussets e um pioneiro na construção de pontes – pontes vivas e amenas entre culturas e pessoas. Professor de Filosofia na Brown, onde dirigiu durante anos o departamento de estudos portugueses e brasileiros, Onésimo manuseia literatura (ficção, romance, poesia), estudos literários, estudos políticos, sociologia, história, humanidades – portanto – com uma sensibilidade muito prática: ela assenta em livros, em referências a livros, em labirintos formados por livros e, finalmente, em aproximações pessoais muito vivas à realidade americana e portuguesa e ao universo primordial das suas memórias açorianas. As suas crónicas, quase sempre autobiográficas, quando forem reunidas por um organizador dedicado (e merecem), revelarão um historiador paciente e entusiasta, um leitor obsessivo, um espírito tolerante, um americano nascido entre duas fronteiras, um português nascido entre dois mundos, e uma generosidade raríssima hoje em dia. Não é exagero: é um dos homens mais cultos que conheço.
As suas histórias (“estórias”, ele dirá, mas eu não concordo, de tal modo é utilizado o termo hoje em dia) são, por isso mesmo, de uma ingenuidade tocante. E são, no princípio, puras reportagens.
Durante anos (é um dos meus motivos de orgulho) fui editor dessas crónicas na Ler (as célebres “Diacrónicas”). Em primeiro lugar, Onésimo é um cronista no estrito sentido do termo – tem «a noção da crónica»: em espaço, em velocidade, em ritmo, em referências, em ambiente, em capacidade de relacionar os temas, e em tolerância temática, que é um valor superlativo na matéria. Há poucos cronistas na nossa imprensa e é uma pena que Onésimo não seja mais requisitado (juntamente com outro cronista excelente, José Rentes de Carvalho, por exemplo, outro estrangeirado português – na Holanda, a que dedicou um livro raríssimo).
Diverti-me com as histórias da predadora sexual californiana (uma Dolly de Santa Barbara); com a sua aventura de navegador entre as ilhotas de Bolton Landing, Lake George; com a ingenuidade com que ele mesmo se diverte escrevendo “Phalo Português” nuns calções; com o episódio de um hotel tailandês onde encontra um casal luso entretido em “cura de casamento” em período pós-revolucionário; com a aventura pela obtenção de um visto dominicano em Puerto Rico; com a narração de um voo no avião que fica sem motor a meio do Atlântico (e com o epílogo de um casal desavindo na pista das Lajes); ou com uma aventura colombiana em Cartagena (ou seja, de Barranquilla a Aracataca) à procura de Macondo. Estas não são, seguramente, as suas histórias mais identificáveis pelo leitor português, nem as suas mais populares. De certa maneira, Onésimo seria um David Lodge português, de tal modo consegue rir de si mesmo e divertir-se (e divertir-nos) com o “mundo cultural e universitário” e as suas vaidades. Se ele quisesse poderia escrever uma de duas coisas: um romance lodgiano (ou rothiano, aliás) sobre esse mundo; ou uma história da vaidade intelectual lusitana vista a partir da América e desmontada por quem não precisa de estabelecer cumplicidades com os mandarins, nem de lhes prestar homenagem. E que ricas histórias seriam, por exemplo, as suas reportagens sobre intelectuais, escritores e professores portugueses na América.
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27 julho, 2007

||| NASA.
Sabotagem de computadores, ciúmes, sequestros e amores; e, finalmente, astronautas bêbedos demais para seguir viagem. Tudo na Nasa. Crime e bebedeira.
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||| Lontano da Manaus, no Il Manifesto.












«Non per nulla l'ispettore Jaime Ramos con il suo passato da comunista e il suo presente da gastronomo, traccia un percorso tutt'altro che singolare e non privo di una coerenza logica. Fra incontri che riecheggiano il Rilke delle Lettere a un giovane poeta («solitudini che si custodiscono, delimitano e salutano») e tratti di cupezza senile che la catarsi letteraria muta in compiacimento dei sensi («noi, i vecchi, abbiamo una certa amarezza attaccata alla pelle, e ci piace l'amaro del sigaro, una visita dal barbiere, un viaggio in treno») Lontano da Manaus sembra infine ruotare intorno alla nostalgia di un romanzo che non può più essere scritto. Ci rimane, per dirla con Maurice Blanchot, un infinito intrattenimento, un insensato gioco di scrivere sull'assenza, sulla diaspora, sulla solitudine. Riscrittura permanente di un «libro dell'inquietudine» che si arricchisce, a ogni cerchio della storia, di nuovo materiale letterario di risulta, di nuovo immaginario, di nuovi sogni.» Nando Vitale no Il Manifesto.

Outras críticas da edição italiana aqui.
Da edição francesa aqui.
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||| Venezuela, os sinais.
O caso Raul Baduel e as críticas internas; o do hospital de Maracaibo; o Centro Integral Técnico-Productivo Socialista; notícias sobre a reforma permanente da constituição; o Ministério do Poder Popular para a Cultura atribui o Prémio Libertador ao Pensamento Crítico a Boaventura Sousa Santos.

Adenda: «
“Eu não vejo nem a curto nem a longo prazo a possibilidade de perder um processo eleitoral”, disse Escarrá [deputado governamental e advogado constitucional, que faz parte da comissão presidencial].

Ainda segundo o advogado, a reforma eliminará o limite de dois mandatos seguidos para a reeleição presidencial, “aprofundará o poder popular”, “promoverá a propriedade social sem reduzir a propriedade privada”, “implementará uma visão coletiva dos direitos fundamentais sem diminuir os direitos individuais”, além de uma reordenação territorial. Além de implementar o socialismo, a reforma irá abrir as portas para que Chávez, presidente da Venezuela desde Fevereiro de 1999, possa prolongar indefinidamente sua permanência no poder, desde que ganhe as eleições a cada seis anos e supere eventuais referendos revocatórios ao iniciar um novo mandato.

“A sociedade precisa neste momento de uma liderança”, justificou Escarrá. Desde Janeiro passado, Chávez foi investido com poderes para legislar de várias maneiras, por um período de 18 meses.»


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||| Rongorongo.












O problema dos posts de José Pacheco Pereira sobre a crise no PSD, escritos em rongorongo é que já não é preciso ir a Hanga Roa para encontrar intérprete, dicionário ou tabela de cifra. Os moai de Rano Raraku podem ser de pedra (como os senadores e hierofantes do partido), mas a língua já se percebe, já se percebe um pouco.
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26 julho, 2007

||| Castiços e trauliteiros, ou de como a história não se escreve em linha recta.







Está tudo muito satisfeito com a onda comemorativa. O José Medeiros Ferreira que me desculpe, mas, mesmo percebendo a natureza do 24 de Julho de 1834 (sim, eu tenho um interesse puramente literário pelo Sr. D. Miguel, por Acúrcio das Neves, pelo general McDonell e pelo Remexido), não compreendo a euforia das datas e a sua apropriação. Entendo, naturalmente, a leitura da História como um fio unido por pontos desconexos (por exemplo, o 24 de Julho com o 5 de Outubro -- que não têm nada a ver). Mas caímos sempre nesse problema: o liberalismo português não é o de 34; a ideia republicana não se resume ao telégrafo do 5 de Outubro (sim, o Dr. Afonso Costa não é aquele modelo de virtudes cívicas e democráticas nem o jornalismo de França Borges é fundador de seja o que for). Também concordo consigo, naturalmente, acerca do lugar onde estão os «heróis da liberdade» (mais na blogosfera que a Dra. Margarida Moreira vigia, de sobrolho erguido, do que em redor do Prof. Charrua, que se limitou a ser um piadista). Mas, agora responda com frontalidade e humor, José: tomando a sua designação de castiços e trauliteiros, onde é que coloca a Dra. Margarida? No campo dos derrotados em 1834 ou no grupo dos amigos do Dr. Afonso Costa? Onde estão os trauliteiros e castiços?
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||| Libertação da mulher. Em geral, digamos.










Janto com a minha filha, de oito anos, e comemos bifes antes da estreia dos Simpsons. Temos sempre apetite. De repente, olho à volta. Um casal com uma criança; ele, direitinho, nem um cabelo fora do lugar, risca do penteado traçada a esquadro e transferidor (por causa do cocuruto), bebe água «com sabores» e come uma salada; a mulher, gorduchinha, de ar vagamente devasso, come um bife e acompanha com uma caneca de cerveja preta (a dunkel da Lusitânia, que não é má). Do outro lado, duas moças jantam com um rapaz que tem os óculos de sol fazer de painel solar (vocês sabem, aquela coisa ridícula de segurar a marrafa com os óculos escuros depois das oito da noite); elas, bronzeadas, pediram suculentas picanhas e bebem cerveja (uma turva weissbier e uma pilsener); ele, pede uma «salada verde» e Coca Cola Zero; quando vem a salada, ele protesta com a quantidade, «esta gente serve horrores, que exagero». O mundo está, finalmente, bem feito. E é bem feito.
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||| Alegre, parte dois.
Quando Sócrates fez o seu primeiro congresso percebia-se que ia desmontar o velho partido. E não era por causa da célebre máquina do teleponto, que tanto fascinou os jornalistas na altura (a máquina, aliás, tinha sido comprada por Ferro Rodrigues). O velho partido tremeu mas não se deu conta de que tinha sido desmontado, pura e simplesmente. O último a percebê-lo foi Mário Soares que, depois de andar durante meses a disparar contra Sócrates, se impôs como o candidato do partido às presidenciais. Custa a crer, mas é por isso que Soares regressa ao temor pelo socialismo de plástico, que tinha situado em Blair e em Sócrates. Adiante.
O Paulo Gorjão chama, neste post, a atenção para uma frase histórica (de 23.2.2006) de Manuel Alegre:«Onde me sinto às vezes tratado como inimigo é dentro do meu próprio partido.» Mas isso não é novidade. Manuel Alegre, para o bem e para o mal, já não é deste partido desde 2005. Ele é desse partido que foi outrora o PS. Algum rigor: quantas propostas políticas (mesmo exceptuando essa graça da dissolução da AR por causa da política da água...) de Alegre durante a campanha presidencial seriam subscritas por Sócrates? Eles são intérpretes de tempos diferentes e de mundos diferentes (não, não é preciso ir buscar o caso de Souselas...). Por isso é que tem todo o sentido este post de Tomás Vasques.
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||| Dúvidas benignas, 3.










Sobre Dúvidas Benignas, Ana Luísa Mouta, por email:

«Há algum tempo, em conversa com duas professoras do 1º ciclo, descobri que as “cópias” estão fora de moda. Hoje em dia, já quase ninguém manda os alunos fazer “cópias”, as “cópias” ficaram definitivamente fora do “ensino moderno”. Há ainda quem faça isso, mas esses professores são vistos como antiquados. Pois a mim mandaram-me fazer muitas “cópias” e olhando para trás não me parece que fosse um erro. Não será uma forma simples de interiorizar a ortografia e a gramática? As “cópias” estupidificam os miúdos? Não estimulam o raciocínio, é verdade. Mas será que para aprender temos de estar sempre a raciocinar? Será que interiorizar as ferramentas básicas não é mais importante do que sermos (parecermos?) modernos?»
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||| Justiça, apesar de tudo.
O ar festivo com que se comemoram instruções de processos, indicações de arguidos e de testemunhas, idas à PJ e aos departamentos, inquéritos e anúncios de inquéritos, não significa regozijo pelo bom andamento da justiça. Quer sobretudo dizer que o ressentimento tem cada vez mais espaço público. Muitos processos caem depois no esquecimento -- mas, entretanto, já fizeram manchete, já estiveram nas primeiras páginas. Um dia, muitos deles acabarão nas colunas mais escondidas dos jornais (ver este texto de João Gonçalves e os cuidados de Tomás Vasques) e ninguém se lembrará deles. Mas entretanto satisfazem a fome de denúncia. «Corram ao Paço que matam o Mestre!», lembram-se de Fernão Lopes? E o Mestre estava de boa saúde.
No caso desportivo, a esquizofrenia é superlativa. Bandos de justiceiros dizem que a justiça já está feita e que nada será como dantes. Não que haja, até agora, um único julgamento. Na verdade, trata-se apenas de profissões de «fé na culpabilidade dos inimigos». Muitos desses jornalistas limitaram-se, durante anos, a identificar o inimigo com adjectivos e a nunca dar um único passo de «investigação jornalística», que deveria ser o seu trabalho. Covardia pura de quem se satisfaz a esconder-se atrás de uma coluna.
Ontem como hoje, o chamado «desejo de justiça» satisfaz-se com a gritaria e o desejo de vingança. O resto é papel. Gente de papel, aliás.
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||| 90 anos.












A Festa do Avante deste ano será dedicada aos «90 anos da revolução de Outubro, assinalando a criação do “primeiro Estado proletário do mundo”. A revolução russa será tema de uma das duas exposições do Pavilhão Central na 31ª edição da festa», escreve o Público. À porta, recomendo a leitura da biografia de Estaline. Há coisas que, embora se expliquem pelas ventanias da História, só se conhecem pelos seus frutos. Avante, pois.
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||| António.









O novo livro do António Manuel Venda, O Que Entra nos Livros (edição da Ambar), ontem na Casa Fernando Pessoa. Apresentação de José Eduardo Agualusa -- e casa totalmente cheia.
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||| O cantinho do hooligan. [Actualizado]







Vantagem para a colchonera Rititi: a partir de agora já pode, com Mr. Pinheiro, rumar ao Vicente Calderón para matar saudades da galinha lusitana.

Adenda: entretanto, Mr. Pinheiro informa que o Vicente Calderónera. Pobre Atlético, uma desgraça nunca vem sozinha.

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25 julho, 2007

||| Manuel Alegre.
Corri a comprar o Público esta manhã, por causa do artigo de Manuel Alegre. Pensava encontrar, não propriamente um pronunciamento (como esperava o Eduardo), mas um ponto da situação. O que Manuel Alegre se limita a fazer (e já não é pouco) é reunir um conjunto de indignações que vêm na blogosfera, além de notas ao programa de governo e ao quão difícil é governar. De alguma maneira, reafirma o que o levou a candidatar-se à Presidência: nenhuma proposta política de interesse, mas um ponto de vista sobre a forma de fazer política. Digamos que o artigo é retórica pura; Alegre não discorda das políticas do governo; discorda da sua forma de actuar. Talvez essa retórica seja necessária para combater o deslumbramento que atacou as franjas de algumas almas.
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||| Livros, Steiner. [Dúvidas benignas, 2]











Ainda não li, mas sirvo-me do post de João Gonçalves para dizer que está na lista para os próximos dias; citação de Steiner:
«A educação moderna cada vez se assemelha mais a uma amnésia institucionalizada. Deixa o espírito da criança vazio do peso das referências vividas. Substitui o saber de cor, que é também uma saber do cor(ação), pelo caleidoscópio transitório dos saberes efémeros. Reduz o tempo aos instante e vai instilando em nós, até enquanto sonhamos, uma amálgama de heterogeneidade e de preguiça.»
Steiner abordou este assunto em outros livros, naturalmente -- mas a sua experiência relatada em Errata, a sua fascinante «autobiografia intelectual» devia ser tida em conta no actual clima de experiências novitecnológicas que alastram como salvadoras no espírito dos governantes. O computador como elemento salvífico é a principal dessas ilusões que, no fundo, não faz senão prolongar o espírito de infantilização do ensino. Ontem, escrevi aqui sobre a perda antropológica que significava, por exemplo, o abandono do desenho de losangos no quadro, ou o fim do estudo da tabuada. Há uma excessiva preocupação com o aspecto que as coisas têm e a facilidade com que se estuda. Pode haver erros de percurso sérios se não mostramos que o aspecto que as coisas têm é resultado de um longo processo de maturação e de experiência, de tentativas e de erros (por exemplo: até desenharmos um losango perfeito); da mesma forma, estudar não é fácil -- implica participar nesse processo de tentativas, erros, sacrifícios (não ir ao cinema para ficar a praticar equações), coisas absurdas (decorar fórmulas essenciais, como a tabuada, os elementos químicos, as declinações -- ou seja, as ferramentas). Ou seja, pode haver recompensas. Recompensas imediatas, por que não?. Em Errata, Steiner falava das recompensas puramente espirituais, que resultavam do esforço de praticar uma tradução do grego ou uma partitura de Bach. Mas a recompensa pode ultrapassar a dimensão de puro enlevo, de prazer puro -- pode significar que se ultrapassou um ritual de iniciação (ao conhecimento dos números, da métrica ou das dinastias). O resto é pirotecnia.
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24 julho, 2007

||| Charrua, ainda o processo.
Erro meu. O JPG lembra, e bem, que o processo contra Fernando Charrua armado pela DREN está disponível para consulta. Aqui.
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|||Eu, pateta, me confesso.
Vou de férias no próximo fim-de-semana e o Algarve está no meu caminho.
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||| Intercalares de Lisboa (tarde e a más horas).
E já agora: as intercalares de Lisboa, contra tudo o que para aí se escreveu, foram uma grande vitória de António Costa: contra todas as oposições, à esquerda e à direita, e contra a inevitável colagem ao seu próprio partido. Que, dado importante, é Governo.
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||| O PSD.

Não quero imiscuir-me na vida interna do PSD, porque sempre me disseram, na infância, que «quem está de fora racha lenha». E também que «entre marido e mulher não metas a colher». Não é a minha família política, e pronto.
Só que o PSD, goste-se ou não se goste, é um elemento fundamental do equilíbrio democrático português - e representa, numa «caldeirada» que, como se vê, nem sempre é fácil de gerir, sectores importantes do nosso povo. Daí que saúde o avanço de Luís Filipe Menezes, mesmo contra as dificuldades processuais (ridículas) que Marques Mendes lhe colocou no caminho.
Menezes tem contra si ser um homem do Norte - o PSD de Lisboa continua a desconfiar da província (já vem do Eça), esquecendo-se, claro, que Sá Carneiro, seu pai fundador, vinha precisamente daí. Mas tem a seu favor uma carreira plebiscitada pelos votos e ter realizado como autarca uma obra que deixa o Porto (de Rui Rio) na mais completa sombra - e no mais completo ridículo.
Depois dos resultados eleitorais de Lisboa, é bom existir uma alternativa a Marques Mendes. Agora, cabe aos militantes do PSD fazer a escolha.
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||| DREN.







A ministra da educação arquiva processo contra Charrua sem aplicar sanção disciplinar. Diz o despacho: «A aplicação de uma sanção disciplinar poderia configurar uma limitação do direito de opinião e de crítica política, naturalmente inaceitável [...]». Podemos ficar mais tranquilos; a Dra. Margarida Moreira, que tinha coleccionado todas as reacções dos blogs, da imprensa ou de sms a propósito da sua sanha policial, foi desautorizada sem uma única vez se ter escrito o seu nome. Ora, cumpre fazer essa pergunta: o que acontecerá agora à Dra. Margarida Moreira? Alguém lhe explica o essencial?
Também é necessário dizer qualquer coisa ao coordenador dos deputados socialistas na comissão de Educação, que dizia que «é evidente» que «é preciso fazer qualquer coisa quando os políticos são achincalhados na rua». Tenham cuidado com esta gente. Às outras pobres almas, enfim.

Adenda - Espera-se o comentário de Paulo Gorjão. No fundo, passaram-se 62 dias (sessenta e dois!) desde que o Presidente da República pediu para ser esclarecido sobre o assunto. Pessoalmente, não me considero esclarecido. Continuamos sem saber o que levou a DREN a promover um inquérito que só teve forma pública neste despacho, e passados sessenta e dois dias. Continuo sem saber se as denúncias por sms têm relevância política e disciplinar na função pública. Continuo sem conhecer a natureza do processo disciplinar. Continuo sem saber, naturalmente, qual a natureza da ofensa. Tal como o Paulo, eu também não sei o que é «rapidamente esclarecido» na opinião do Presidente da República. Mas sei que há coisas que ainda não estão esclarecidas.
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||| Dúvidas benignas, 1.
Não tenho nada contra o uso de computadores em salas de aula. Não é preciso dizer isto, mas fica dito. Suponho é que qualquer um tem o direito de duvidar – benignas dúvidas, diga-se de passagem – sobre o argumentário novitecnológico que está a ser usado. Por exemplo, aquele que dizia «às vezes os professores desenhavam um losango e não se percebia muito bem, porque não tinha jeito para o desenho; agora, com computador, está tudo resolvido». Deixamos de usar a mão, de apreender «o processo», de esperar pelo desenho -- tudo aparece no computador; é uma perda antropólogica. Como já deixámos de convencer os meninos a estudar a tabuada e a exercitar a memória. Mas é uma dúvida benigna, atenção.
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||| Tragédia e confirmação, 2.
O lulismo, que tentava canalizar todas as culpas para o comandante do voo da TAM (e que festejara), vê-se a braços com o caos de Congonhas e a forma como tratou o inferno aéreo nos últimos dois anos e meio. Não há festejos diante da demagogia.
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23 julho, 2007

||| O PSD e a sala-de-espera.
O PSD está cheio de senadores, valha a verdade, e de especialistas em ter «ideias para o partido» (que geralmente se reduzem ao pagamento de quotas, à contabilidade das concelhias, à troca de favores, às prioridades da «jotas» ou do pessoal que esteve «com Cavaco» - na altura em que era fácil estar com Cavaco); mas o papel dos «senadores» é especial. Alguns deles desertaram; ou se passaram para «o inimigo» ou lhe fazem «favores», ou então dedicaram-se com mais proveito à «privada», depois de terem exercido no «público» durante os anos em que havia lugar para todos. O poder deixou de lhes interessar pela devastadora razão de que já não o têm. Eles aparecem, a espaços; mas nunca têm disponibilidade, ou nunca estão reunidas «as condições» ideais. No PSD, o papel dos «senadores» é esperar. Sejamos velhacos: esperar, para entrar; e esperar, para sair. Para muitos deles, o PSD é uma sala-de-espera. Até aparecer «qualquer coisa». Texto no JN.
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21 julho, 2007

||| Tragédia e confirmação.
No meio da tragédia vivida em Congonhas, com o voo 3054 da TAM, a face do lulismo mostra-se no seu pior. Vejam o vídeo e confirmem.

PS - Convém não esquecer o estado demencial dos aeroportos.

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||| Regresso.












Lamento informar que uma semana longe, realmente longe da Pátria – sem telefone, nem internet, nem jornais (confesso que apenas com uma interrupção no domingo passado) – faz maravilhas. Regressa-se com a ideia de que se perdeu bastante. E é verdade, perdeu-se bastante. Mas a agonia no interior do PSD continua e é bem feito; o adeus de Portas ainda não é para já; a felicidade ainda não foi decretada na Pátria, apesar dos esforços bem intencionados; Ana Salgado está no You Tube e é só a ponta do icebergue; e lamento ainda informar alguns dos meus amigos, que analisaram com minúcia a questão eleitoral em Lisboa: daqui a dois anos é que se acertam contas. Como não há «intendências» obrigatórias, haverá apontamentos dispersos. Mas nada se compara a estar longe.
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13 julho, 2007

||| Bola.
Os rapazinhos dos sub-20 fizeram as cenas do costume no Canadá depois de perderem com o Chile. Tão novos e tão portugas.
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||| Miniscente.
O Luís Carmelo comemora quatro anos de existência blogosférica. «O lado positivo da blogosfera passa por este tipo de convivência tão nova quanto incerta.»
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||| As pragas.
O Pedro Correia assinala, no Corta-Fitas, as sete pragas lisboetas – e promete votar em quem o ajudar a livrar-se delas. Eu não voto em Lisboa e estarei a milhares de quilómetros da cidade nesse dia, mas – sem querer ser desagradável para o Pedro – acho que essas pragas (que são verdadeiras pragas, sim) só deixarão de ensombrar Lisboa quando as pessoas mudarem realmente. Estacionamento selvagem? Bah. Está para durar; há cada vez mais carros em Lisboa e Lisboa está cada vez mais selvagem. Lixo acumulado? Bah. Os bairros de Lisboa, quando está sem chover por mais de um mês, são um contentor de lixo, detritos empurrados pelo vento, matéria suja ou orgânica deitada para a rua pelos queridos munícipes e pelas obras que nunca páram e ocupam a via pública como se todos tivessem de suportar a massa do cimento. Grafiti? Bah. Os meninos são protegidos pela ideia obtusa que vê naquilo uma «arte urbana» que tem o direito de sujar paredes públicas & privadas, granitos e gessos, tudo o que aparece à frente – sem serem punidos por atentado contra a propriedade e o bem público (a paisagem é um bem público). Jardins desleixados? Bah. Só uma parte ínfima dos senhores munícipes aproveita realmente os jardins; a partir das oito da noite, os jardins ficam sem luz e sem animação, entregues à fauna nocturna, porque os senhores munícipes ou estão sitiados pela selva e por essa fauna, ou não gostam de apanhar ar nem de contacto com «legumes» (é uma maneira de dizer) ou flores ou plantas que estejam vivas. Prédios em ruínas? Bah. Ouviram falar de arrendamento urbano? Não me refiro à construção de condomínios de luxo que continuarão a despovoar a cidade. Descargas de mercadorias a qualquer hora? Bah. Quem se dispõe a multar as carrinhas de distribuição que páram onde podem ou querem, em ruas estreitas ou nas «tão típicas travessas» de empedrado irregular que nos impede de dar dois passos seguidos, quando toda a gente estaciona onde pode, e o pequeno comércio não está disposto a receber mercadorias às horas que deviam ser estabelecidas (e são) para o efeito? Merda canina e columbófila? Bah. Os cãezinhos defecam às ordens dos seus donos em tudo o que é passeio e praça; quanto aos pombos, ah quanto aos pombos, eu nem sei o que diga e o mais suave seria dizer que são uma praga. Portanto, caro Pedro, ou esperas pela redenção dos senhores munícipes ou, aos poucos, teremos de procurar os lugares ainda não infectados por obras que se prolongam indefinidamente, pela fauna que anda de spray em punho a fazer «arte urbana» (coitadinhos dos «artistas»), pelas ruínas que se espalham pela cidade. Lisboa está suja porque Lisboa é suja ou porque os lisboetas a sujam?
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12 julho, 2007

||| Um país imbecil.
Seria bom que nos interrogássemos sobre o que se passa na zona imbecil do país. Que parte dos neurónios dessa gente ficou afectada?
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11 julho, 2007

||| As eleições viciadas, 2.
Ainda a propósito das autárquicas de 2001, tem razão o José Medeiros Ferreira, nesta questão: não foi João Soares, como ambos sabemos. Ele foi sacrificado a outra estratégia que resultou mal.
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||| As eleições viciadas.
Sobre as eleições não-impugnadas de Dezembro de 2001, José Medeiros Ferreira revela, no final deste post, que sabe do que fala. «Não convinha.» Talvez um dia se conte a história. Mas, Caro José, eu sei que você sabe que eu sei que você sabe quem eram «os estrategas da noite». Desde essa noite que perderam várias eleições.
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||| Uma mão lava a outra.
Ainda de Tomás Vasques, vale a pena prestar atenção ao post sobre o desassossego da direita. De certa maneira, Tomás tem razão: há uma certa paranóia no ar a propósito da limitação da liberdade de expressão. Sobre isso, há quem tome os seus desejos por realidade, apesar do carácter inexplicável das posições de Alberto Martins, que diz que o PS não tem lições «de liberdade» a receber de ninguém. Tem, sim. De nós, cidadãos preocupados com algumas perseguições movidas pelo pequeno PS. Tem, de si mesmo e do seu passado. Tem, sim, de quem acha que os direitos individuais são direitos essenciais que nenhuma razão de Estado pode ludibriar. Essa atenção não dispensa o bom-senso, até para que mais tarde não se venha a repetir a fábula de Pedro e do lobo. Até porque 1984, de Orwell, não foi escrito a propósito do estalinismo (que teve direito a Animal Farm) mas da nossa democracia. Mas uma mão não pode lavar a outra. Há, de facto, um problema de liberdades públicas.
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10 julho, 2007

||| Tentação.
Saramago alerta sobre «tentação autoritária» na esquerda latino-americana.
Adenda: sobre estas mesmas declarações, ver a nota de Tomás Vasques sobre a condenação (por Saramago) da guerrilha colombiana narcotraficante,«à atenção dos organizadores da Festa do Avante»: «[...] degeneraram em sequestradores, narcotraficantes, e o pior é que não saberão viver de outra forma
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||| Paraty, de novo.
Conferir a reportagem em directo de Paraty (da FLIP) com o Eduardo.
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||| Livros recentes e futuros.
O João pergunta que livros levo para férias. Ao arrepio das tendências, acho que ler no meio da praia é uma actividade muito saudável. Levarei três livros, que serão suficientes para deixar um de fora. Perdido de Volta, de Miguel Gullander (edição brasileira na Língua Geral), um luso-sueco que vive em Benguela, depois de ter passado por Cabo Verde e Moçambique (só há um outro livro de Gullander, publicado pela Cavalo de Ferro há tempos). Do Fanatismo, de Eric Hoffer (edição Guerra e Paz). O terceiro não é um livro mas um pequeno pacote com vários livros de Rex Stout, para continuar a perseguir as investigações de Nero Wolfe e Archie Goodwin (são sempre o mesmo livro, outra das suas virtudes).
Tudo isto para compensar os últimos lidos: Del Buen Selvaje al Buen Revolucionario, de Carlos Rangel, um venezuelano descoberto há pouco (e tardiamente); Benito Cereno, de Herman Melville (que nunca tinha lido); Todo o Mundo, de Philip Roth; e o novo livro de José Eduardo Agualusa, As Mulheres do Meu Pai.
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||| Vida de «de vez em quando».
Visitar hospitais, andar em hospitais, dá-nos uma perspectiva diferente da humanidade. Há uma fase em que não sabemos o que é saudável, o que é estar de bem com a vida; aprendemo-lo quando chegámos cá fora, como se tivéssemos escapado. Mas, realmente, nunca escapámos. Já sabemos o que é estar lá dentro.
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||| O cantinho do hooligan no Real.
Sim, o meu «lado racional» estava à espera, mas não interessa. Pepe era bom, muito bom. O melhor em todas as defesas. Aliás, ele era melhor do que a defesa do FC Porto. Exagero, naturalmente.
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09 julho, 2007

||| Paraty.
Eduardo Carvalho em directo de Paraty, e do festival literário. Reportagem pura.
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08 julho, 2007

||| Machu Picchu.









Gosto bastante desta gente (para ouvir) e destes lugares (para ver).
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||| Mario Vargas Llosa, Mi Novela Favorita.









Vargas Llosa regressa ao fascínio das radionovelas: são 52 romances adapatados à rádio, numa lista encabeçada pelo D. Quixote, e que ontem começou a ser transmitida no Peru (na RPP), com uma duração de 54 minutos para cada livro. No próximo sábado é Moby Dick, de Melville.

Aqui, pode ouvir a primeira parte da narração de D. Quixote.
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||| Lontano da Manaus, e «la piovosa Porto».












Hoje, no Il Sole 24Ore, crítica de Bruno Arpaia, com o título «Nera Movida Spagnola»:

«Dal Portogallo, infine, arriva l’interessantissimo romanzo di Francisco José Viegas, autore finora mai tradotto in italiano, che ha per protagonista l’ispettore Jaime Ramos: uomo disincantato e malinconico, con un passato comunista e una guerra coloniale in Guinea alle spalle, scettico sulla natura umana ma con una fortissima carica di ironia che lo preserva dall’orrido mondo di coloro che hanno certezze su tutto. Chiaro fin dall’esergo («Il romanzo giallo, come si sa, ha le sue regole. Questo no.»), Lontano da Manaus parte da una situazione di genere (la scoperta nella periferia di Porto di un cadavere apparentemente senza storia, quello di un tal Álvaro Severiano Furtado) per esplorare poi labili tracce, coincidenze quasi inverosimili, indizi ricavati da vecchie foto, per seguire un tempo che non è quello dell’indagine propriamente detta, per vagare da una piovossissima Porto alla luce abbacinante di Luanda, dalla Beirut del XIX secolo a una gocciolante Manaus. Come ha scritto Giancarlo De Cataldo, «il talento visionario di Viegas, capace di pagine memorabili e performance poetiche che lasciano a bocca aperta, fa venire in mente un Wenders d’annata. E, alla fine, non t’importa più chiederti che razza di libro tu abbia letto». Ne è importante aver capito davvero come si siano svolti i fatti nei dettagli. Il libro è lì, affascinante e carico d’atmosfera, all’ orizzonte possibile dei generi letterari.»
[FJV]

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||| Física, 2.
A Teresa Castro, por mail, comenta a questão dos exames de Física do secundário:
«É verdade que quem estuda e tem boas notas no decorrer do ano
lectivo obtém classificação a contento nos exames nacionais de Física (12º),
Física e Química(11º) e Química(12º). As dificuldades fundamentais não
respeitam às novas estratégias de ensino, aos critérios de avaliação ou ao
desinvestimento da tutela – o equipamento dos laboratórios é a cada ano
melhor e tecnologicamente mais desenvolvido e cresce o protagonismo das
aulas laboratoriais nas aquisições das competências necessárias às ciências
ditas experimentais.
Os problemas são outros e fundos. A maioria dos alunos chega ao ensino
secundário oriundo das escolas básicas, ensinados por professores cujos
objectivos pedagógicos são adequados ao sucesso na conclusão do nono ano de
escolaridade. Temos, como decorre das estruturas escolares, uma fractura
entre ciclos de estudo, em vez de estabelecimentos de ensino onde os
docentes podem leccionar, em simultâneo ou rotativamente, 12º ano e 7º ano
de escolaridade. A perspectiva da dialéctica ensino-aprendizagem muda por
completo – o professor terá objectivos mais abrangentes, preparando os
alunos de acordo com perspectivas e competências futuras, conquanto
subordinado aos conteúdos curriculares do nível leccionado. No quadro
estrutural presente, ao concluírem o ensino básico, os alunos vêm adaptados
a um ensino concreto – de acordo, aliás, com o desenvolvimento intelectual
da faixa etária – e deparam à entrada no secundário com ritmos de trabalho
exigentes e conteúdos que requerem treinados raciocínios lógicos e
abstractos. Ora, para isto não foram suavemente preparados. É o choque. A
inadaptação. A ruptura. A fuga. O sucesso em pirâmide aguçada culmina no 12º
ano. Convém enfatizar que três anos de estudo nas escolas secundárias são
curtos para modificarem os enraizados hábitos de modéstia nos desafios
pessoais e a facilidade.
Mais há: os cursos de ciências e tecnologias requerem dos alunos muito
empenho pelas três abordagens obrigatórias em cada ciência curricular –
componente teórica, teórico-prática e laboratorial sustentada esta em
relatórios individuais que devem cumprir normas rigorosas e prazos
específicos. Por outro lado, pais e alunos raramente levam a sério a
informação de todas as classificações obtidas desde o início do 10.º ano
contribuírem para a média final de conclusão do secundário – média decisiva
para o ingresso na universidade.
Os alunos que sustentam as aprendizagens em trabalho esforçado e talento que
lhes determinou a escolha vocacional, ainda que genérica, ao findarem o
ensino básico, têm sucesso à altura da dádiva. Os que optam pelo estudo das
ciências por razões frívolas como o prestígio social ou a perspectiva de
entrada facilitada no mundo do trabalho sem que as capacidades de disciplina
interior estejam à altura, verão nublado o sucesso.»
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07 julho, 2007

||| Física.
Ontem, uma estação de rádio ouviu alguns especialistas acerca dos muito maus resultados a Física nos exames nacionais. A Confap (que representa os pais) acha que é preciso alterar os exames e os seus critérios, além de definir novas estratégias; um membro da Associação de Professores de Física acha que se trata de «um exame novo, com características um pouco diferentes do que aquilo a que os alunos estavam habituados» e que há «algum desinvestimento por parte da tutela» na área das Ciências, sobretudo porque esta disciplina já não serve de prova de ingresso no acesso ao Ensino Superior. Sobre os novos critérios e as novas estratégias estamos falados. Sobre o desinvestimento «por parte da tutela» na área das Ciências, os professores têm certa razão, sobretudo se pensarmos na «falta de verbas» para a abordagem experimental. Mas há um pormenor que falta nesta discussão: a rapaziada estudou, ou não? E quem estudou teve boas notas, ou não?
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||| O cantinho do hooligan. Consultório, 1.
João Moreira, por email, pergunta: «O Palermo, da 1ª divisão do Calcio, equipa de rosa. Qual é o problema?»
O Cantinho do Hooligan responde, afectuosamente: não há nenhum problema, de facto; talvez por isso o Palermo tenha contratado Fabrizio Miccoli, que não vê «l’ora di iniziare questa nuova avventura». Acho desadequados e incorrectos os comentários sobre o equipamento rosa do Benfica e há até muitos frequentadores das páginas de revistas mundanas que usam pullovers rosa, tal como um antigo presidente do clube usava pantalonas encarnadas. Devemos, Caro João, ser tolerantes. Aliás, nada contra a opção do Benfica. Há quem se pergunte sobre o que quer o Benfica insinuar com esta opção. Não sabemos. Mas devemos apoiá-lo na sua opção e manifestar compreensão. Diz-se que, tradicionalmente, «o rosa está profundamente ligado ao feminino» (não sou eu a dizer), e parece que a «razão desta simbologia provém da antiguidade, atribuída devido à cor rosada dos lábios carnudos, seios e partes íntimas». Não me parece. Uma pessoa olha para o Petit e não vê nada disso e Simão já disse que gosta. Não me atrevo a mais.
[FJV]

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||| O cantinho do hooligan cor de rosa.
Não me surpreende nada que o Benfica use cor de rosa no seu equipamento alternativo. Parece que a escolha não tem nada a ver com a forma como o Nuno Gomes se comporta em campo e sim com uma estratégia de marketing: «É uma cor comercial, interessante e que mexe com o mercado», explicou a Adidas. Trata-se, então, de uma «escolha propositadamente arrojada e polémica». Pode ser. Mas não se pode negar que faz impressão ver «o Barbas» equipado de alternativo, lançando apelos aos benfiquistas para que não vendam as suas acções aos chineses que não vão aparecer.

O oeirense Garcia Barreto é um bom homem que acha que uso uma «ironia de três ao vintém», sem talento nenhum, evidentemente, para falar da grandeza das acções do Benfica na bolsa. Ele, e milhares de benfiquistas (entre eles, infelizmente, o meu amigo Bagão Félix), acha que «é preferível ver um bilião de adeptos do Benfica a correr pela Muralha da China, do que uns milhares de portistas a correr à volta das Antinhas». Eu acho que não: é preferível ver meia-dúzia de portistas a correr da Praça Velásquez às Antinhas, ou duas dúzias de sportinguistas em volta da Churasqueira do Campo Grande (já não é lá, eu sei), do que dois biliões de benfiquistas seja lá onde for. E quanto menos formos, melhor ainda. É isso que os chateia.
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||| Vida de emigrante.
A Mónica fica uma emigrante feliz quando vê o enunciado de um exame do 5.º ano, lá no Brasil. Acho que tem razão; em Portugal não ligamos nenhuma a isso. Azarinho não sermos emigras.
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||| Restaurantes.
O Memória Inventada lançou o repto (eu e tu estamos convidados, Eduardo): qual o melhor restaurante de Lisboa.
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||| Bicicleta em Lisboa, tirando junto ao rio.
Um das coisas que sempre me surpreendeu foi a mania de os candidatos à Câmara de Lisboa aparecerem de bicicleta, pedalando, certamente para incentivar os lisboetas a usar o velocípede colina acima, colina abaixo – como acontece em Amesterdão, como acontece em Dublin, em Estocolmo, no Rio, enfim, por aí fora. Desculpem, mas é um absurdo e não tenho visto nenhum jornal a explicar que isso é realmente absurdo. O Maradona publicou um post intitulado «Estava com esta entalada desde que, aqui há uns anos, o Jorge Sampaio disse não sei o quê não sei onde a propósito de isto que se segue» e vale a pena ir lá para lê-lo e para ler a guerra de comentários sobre o assunto (depressa, que o Maradona apaga o blog de vez em quando). Há lá astronautas pedalantes e tudo.
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06 julho, 2007

||| Primeira vaga.
A judicialização da vida política tem destas não-surpresas. Mas vai haver mais.
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||| Bingo!
«As substituições [nas direcções dos centros de saúde] são normais, tendo em conta os resultados eleitorais.» A frase é de um deputado socialista. Os resultados eleitorais, fixemos bem. Lysenko teria razão, deste ponto de vista.
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||| O cantinho do hooligan. Na bolsa.
Aí está uma OPA que apoio inteiramente. Quero o Benfica em Pequim. Já estou farto dos seis milhões de adeptos portugueses. O Benfica precisa de mais. A caminho dos duzentos milhões, isso sim, seria uma coisa em grande. Um bilião. Todos a correrem pela Muralha da China.
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||| O Estado e os cidadãos. Coisas básicas.
Só uma interrupção no silêncio, para esclarecer um ponto importante. Trata-se da «dupla tributação no imposto automóvel» portuguesa, que a UE detectou finalmente. Não sei se escutaram atentamente a reacção do ministro das Finanças, mas merecia. Recorde-se que a Comissão Europeia deu um prazo de dois meses «a Portugal» para abandonar a prática de dupla tributação. Ora, depois do espanto inicial, e de alguns fiscalistas e a DECO terem dito que «os contribuintes devem reclamar junto dos tribunais o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) pago na compra de automóveis», o senhor ministro declarou que «Portugal vai recorrer da decisão da Comissão Europeia». Ninguém reparou? «Portugal vai recorrer»? Portugal vai recorrer? Ou «o Estado português vai recorrer»? Alguém explique esta coisa básica. Não se trata de Portugal. Trata-se do Estado que impõe dupla tributação e que, se pudesse, imporia tripla tributação.
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04 julho, 2007

||| Cinema europeu segundo a Comissão Europeia. Let’s come together.


Através da crónica do Ferreira Fernandes, cheguei a este vídeo de promoção do cinema europeu. Publicidade enganosa em 44 segundos ou de como em Bruxelas andam muito divertidos, andam.
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||| Bruno Tolentino. «Quero o Brasil de volta.»













Lembra-me o Gonçalo Soares, de São Paulo, que seria um pecado não assinalar o desaparecimento de Bruno Tolentino. Tem razão. Bruno, o autor de A Balada do Cárcere e de O Mundo como Idéia, viveu na Europa desde 1964 e esteve preso em Inglaterra (em Dartmoor, injustamente, por tráfico de droga: o governo britânico foi obrigado a um pedido de desculpas) foi parceiro de Cecília Meirelles, Bandeira, Drummond, ou João Cabral de Mello Neto. Curiosidade: a sua tia, Lúcia Miguel Pereira, foi biógrafa de Machado de Assis. Amigo de Beckett, W. H. Auden ou Elizabeth Bishop, e admirado por St. John Perse. O seu último livro, A imitação do amanhecer (2006), é finalista do Jabuti deste ano. Em 1996, siderado com os «intelectuais do regime» («elite analfabeta e totalmente irresponsável que entregou nossa cultura; nem estou falando da nossa classe média, que tem dinheiro para gastar em boates e shows e sair de lá gargarejando cultura...»), de Marilena Chauí aos manos Campos e aos cantores da rádio, foi claro e directo, numa entrevista à Veja: «O Brasil que eu conheci, e do qual me recordo vivamente, era um país de grande vivacidade intelectual, mesmo sendo uma província. Não estou sendo duro com o Brasil. Quero saber quem seqüestrou a inteligência brasileira. Quero meu país de volta.»
Leia, aqui, a célebre entrevista de Bruno Tolentino à Veja.
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||| O zeppelin de Brasília.








Enquanto Lula chega hoje a Lisboa, uma boa iniciativa de Francisco Seixas da Costa, em Brasília, durante a Presidência portuguesa da União Europeia: as iniciativas culturais promovidas por Portugal na capital brasileira são anunciadas por um zeppelin que paira sobre os edifícios onde os eventos têm lugar.
Declaração de interesses: sim, Francisco Seixas da Costa é um embaixador especial. Uma das suas iniciativas: lançar um blog da embaixada de Portugal em Brasília. Para quem já viveu no estrangeiro e deparou, muitas vezes, com a velha política de consulados de portas fechadas, é um prazer encontrar atitudes destas.

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03 julho, 2007

||| P. G. Wodehouse (1881-1975)







A Cotovia acaba de lançar, na sua nova colecção Raposa Matreira, o romance de P. G. Wodehouse Época da Acasalamento. A tradução é do brasileiro Alexandre Soares Silva, revista para Portugal por Carla Hilário Quevedo e Fernanda Mira Barros. No Expresso do passado sábado, João Pereira Coutinho, considerando Wodehouse «um prodígio de elegância e humor sem paralelo no século XX», di-lo «inexistente em Portugal». Inexistente nas livrarias, com certeza; nas bibliotecas, não.
Há seis obras de Wodehouse traduzidas em Portugal, a primeira das quais, Por Sua Dama, publicada em 1936. Dois anos depois, em 1938, a mesma editora, Europa, publicava Isso é consigo! e, em 1949, a Sociedade Nacional de Tipografia dava à estampa Um Homem de Visão. Mais próximo de nós, a Aster, em 1958, 1959 e 1960, traduzia Dinheiro Molesto, O Tio Fred à Solta e O Código dos Woosters.
A história da edição portuguesa está toda por fazer; e as novas gerações tendem a pensar que, antes delas, só existia o caos e o vazio.
[MAV]

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||| Máximo.
Acabou o No Minimo. Uma pena.
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||| Eleições autárquicas de 2001. Viciadas?













Caro Tomás: a ideia de J. Ramos de Almeida para o livro Eleições Viciadas?, que ainda não li, merece atenção, certamente. Mas só parcialmente se justifica a tua pergunta («Agora?»). Na verdade, a primeira investigação sobre o assunto foi publicada apenas dois meses depois das eleições autárquicas de 2001, num dossier completíssimo, pela Grande Reportagem da época, que eu então dirigia -- trabalho do jornalista A. J. Vilela. Publicámos fotocópias de boletins de voto, declarações de presidentes de mesa, gráficos que provavam terem existido irregularidades, detalhes que fariam corar de vergonha. Não houve resposta. Não foi, portanto, só agora que essas dúvidas se manifestaram. Foi logo, a seguir. Seria bom, para alguns, recordar essa noite eleitoral autárquica, em que Guterres abandonou. Por mim, recordo que João Soares se recusou a comentar ou a prestar qualquer declaração sobre o assunto; achámos estranho, na redacção, muito estranho. E as explicações fornecidas alguns meses depois eram muito mais estranhas.
[FJV]

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02 julho, 2007

||| Jerónimo, Pessoa.












Acaba de sair na Imprensa Nacional e faz companhia a Escritos sobre Génio e Loucura, de 2006 (volume VII da Edição Crítica de Fernando Pessoa). Jerónimo Pizarro é um investigador colombiano da Universidade de Harvard e actualmente em Lisboa (Fac. Letras), onde integra o Grupo de Trabalho para o Estudo do Espólio e Edição Crítica da Obra de Fernando Pessoa -- um dos novos pessoanos cujo trabalho vale a pena seguir com muita atenção. Jerónimo apresenta este livro como «uma biografia intelectual, alimentada por transcrições dos papéis deixados pelo autor na sua célebre arca e também por anotações marginais que deixou nos livros que consultou sobre génio e sobre loucura».
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||| Arte roubada pelos nazis.
Durante vinte anos, o jornalista porto-riquenho Hector Feliciano procurou pistas sobre obras de arte desaparecidas durante a II Guerra às mãos dos nazis -- e que foram parar a museus que se recusavam (em nome do «interesse público) a exibir a genealogia dos seus títulos de propriedade ou a colecções privadas que também as exibiam. O resultado é um livro fascinante, O Museu Desaparecido, publicado pela D. Quixote. Está aqui a entrevista que fiz com Hector Feliciano no «Escrita em Dia», da Antena Um (versão para Wma).
Versões em mp3 e em real-audio.

Também aqui, entrevista com Otavio Frias Filho, director da Folha de São Paulo, e João Pereira Coutinho, colunista da Folha.
[FJV]

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