31 janeiro, 2007

||| Bolívar?
Promulgada, na Venezuela, a lei que «autoriza al presidente de la República a dictar decretos con rango, valor y fuerza de ley» a fim de «profundizar la revolución bolivariana y avanzar hacia la construcción del socialismo». De vitória em vitória até à derrota final.

||| Obrigado pelas leituras.













Os Judeus no Velho Porto, de Artur Carlos de Barros Basto; Isaac da Costa (Autor Holandês de Origem Sefárdica), de José Van Den Besselaar; e Os Encargos das Comunidades Judaicas no Portugal Medievo, de Amílcar Paulo. Três presentes recebidos, agradecidos, lidos e anotados. Obrigado.

||| Assis.






Fernando Assis Pacheco completaria amanhã 70 anos. São quatro sessões na Casa Fernando Pessoa, com (entre outros) João Rodrigues, Manuel Alberto Valente, Tiago Rodrigues, Pedro Tamen (que lerá poemas), Ricardo Araújo Pereira, Gustavo Rubim, Pedro Mexia, Abel Barros Baptista, Fernando J.B. Martinho, Diogo Dória, José Carlos Vasconcelos e Rogério Rodrigues. E uma exposição, Universo Pessoal de Assis Pacheco.

||| Europa, Europa.
Escusam de me explicar como funciona a economia e como se convencem investidores a aplicar os seus dinheiros em Portugal. Percebo essa lógica. Mas quando ouço o ministro da Economia a avisar os chineses de que Portugal tem os salários mais baixos da Europa, para tentar convencê-los a desembarcar em Lisboa, tenho uma sensação absurda de uma certa miséria do investimento.

30 janeiro, 2007

||| Mandar calar.
Uma das notas essenciais da campanha do referendo, que hoje começa, é a tentação de mandar calar. É, no fundo, uma tentação velhíssima entre nós. Parece que 58% dos portugueses não quer que a igreja católica fale. Ignoro a percentagem dos que não querem que os ministros falem, mas também deve existir. Periodicamente, desejamos que alguém não fale, pura e simplesmente. Ora, por que não há-de a igreja falar do assunto? Que falem todos. E que se despachem.

||| Bon chic, bon genre.
Maravilhas dos nossos manuais escolares.

||| O narguilé, 2.
Sobre esta matéria, o AJS informa que «não é necessário ir a S. Paulo para fumar o cachimbo de água em público, felizmente já se pode fazer em Vila Real, num restaurante indiano». Ah, Trás-os-Montes! Cosmopolitismo é assim mesmo.

||| Revista de blogs. Imagina, Tomás, se fosse eu a escrever isto.
«[...] percebi, finalmente, porque sou sportinguista: trata-se de uma equipa que devia estar no meio da classificação, mas o esforço e a mestria dos seus jogadores fazem com que esteja no terceiro lugar. Não há dúvida que isso constitui uma grande satisfação para os seus adeptos.»
{Tomás Vasques, no Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos.}

||| Alfabeto.
Às vezes, Charlotte, demora mais.

29 janeiro, 2007

||| Revista de blogs. Escrever sobre as tias.
«[...] alguns escritores ou gostam muito da conversa das tias e ficam na mesa durante horas, ou se enchem e vão embora também, mas assim que chegam nos quartos pegam um caderno e escrevem justamente sobre as tias e as conversas delas. Escrevem com desprezo, porque odiaram a conversa, se sentem superiores e tal, como eu, mas não lhes passa pela cabeça escrever sobre outra coisa qualquer. Não escapam nunca, nunca. Mas não vale a pena sair da sala de jantar para ficar na sala de jantar. Se for sair, sai mesmo.»
{Alexandre Soares Silva}

Ler esta peça notável sobre Hemingway visto e revisto, antes e depois de morto. Rir muito.

||| Estas coisas não surpreendem.
Leio no Superflumina: parece que 40% dos jovens muçulmanos a viver no Reino Unido querem que o país adopte a shaaria. A notícia não me surpreende; um muçulmano deve querer ser muçulmano e, julgo eu, deve querer aplicar a lei. Mas (ah!, pergunta xenófoba do dia!) porquê aqui?

||| Revista de blogs. Imagina, Filipe, se fosse eu a escrever isto.
«Os directores do SLBenfica fazem o papel de scavengers na savana futebolística. Mas são inteligentes: primeiro dedicaram-se a desmontar os jogadores sãos que contrataram ( Rui Costa, Manuel Fernades, Miccoli), agora dedicam-se a pesquisar no mercado atletas que vêm com um kit de instruções para montar: Klasnik ( transplante renal), Derlei ( um joelho em obras há mais de um ano) e sabe-se lá mais quem. Engenheiros...»
{Filipe Nunes Vicente, Mar Salgado}

||| Revista de blogs. Estratégias.
«A TVI, para garantir que os seus "Morangos" superam a "Floribella" do dr. Balsemão, trocou as habituais mamocas da meninas pelos rabos dos rapazes. Em alternativa, também podem ser vistos pela frente, em cuecas apertadas, estilo Calvin Klein. Como diria o Fernão Mendes Pinto, em mar de tempestade qualquer buraco é porto.»
{João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos}

||| Marmelo.










Aonde o Vento me Levar, de Manuel Jorge Marmelo (edição Campo das Letras), deve estar a chegar às livrarias. É um romance sobre todos os romances e sobre a impossibilidade de escrever um romance. Dito assim (vem aqui, também) pode parecer presunção. Mas é um livro, sim, sobre a perdição. Perdição entre outros livros, entre caminhos, colocando romances de outros autores em diálogo. Estão à espera de quê? Leiam.

||| Revista de blogs. Confirmações.
«Quando me disseram que havia um actor da série Morangos Com Açúcar na lista dos 100 Grandes Portugueses, tive primeiro uma apoplexia e depois encarei a verdade: a presença de Hélio Pestana dá credibilidade a este concurso, caso contrário seria levada a crer que o povo português já só se interessava por grandes escritores e estadistas.»
{Helena Botto, no Tristes Tópicos.}

||| Revista de blogs. Teoria do blog.
«Vou voltar a escrever. Com regularidade. Porque me faz bem. Porque se me irrito e a úlcera se distende, muito mais me divirto. E envaideço.»
{Carlos C. Carapinha, aliás McGuffin, no Contra a Corrente.}

28 janeiro, 2007

||| Neve.
Saudações de Inverno à volta de Lisboa. Quando era miúdo ficávamos 15 dias isolados pela neve. A imagem na memória é branco, branco puro -- e medo de que a neve se transformasse em chuva com o meio-dia. A sensação é a de giz, porque usávamos a poeira de giz de cor para os bonecos de neve.

||| Referendo.
É a primeira vez que menciono o referendo neste blog. Creio que será a última. Faço-o para reenviar para o texto de Pedro Lomba no Diário de Notícias de ontem, sábado. Sim.

||| Santa Helena e etc.













O Nuno Vargas, um dos viajantes mais destemidos (e dos mais irritantes, uma vez que esteve em quase todo o lado) que conheço propõe dois destinos. O primeiro, Santa Helena, que fica a 2333 kms de Tristão da Cunha. E tem a vantagem de ter carreiras regulares de barcos para Capetown, Ascension, Tenerife, Vigo, e Walvis Bay. Tenerife, leram bem. Vigo, leram bem. Tudo através do RMS Sta. Helena. Para quem está interessado em imaginar-se em Santa Helena, aqui está o link para a Saint FM, uma estação de rádio local.










Outra das ilhas propostas: as Pitcairn, no sul do Pacífico -- historicamente ligadas à revolta na Bounty. É um arquipélago composto por Ducie, Henderson, Oeno e Pitcairn. Ducie e Henderson foram descobertas em 1606 por um navegador português, Pedro Fernandes de Queirós, um homem mais querido dos americanos (este é o link para a página dos Famous Americans) e ingleses do que da memória portuguesa. Ducie foi originalmente chamada La Encarnación e Henderson recebeu primeiro o nome de São João Baptista). A Queirós é também atribuída a descoberta de Vanuatu, numa expedição que partiu do Peru em 1605, tendo navegado pelo estreito de Torres (atravessado pela primeira vez por Luiz Vaz Torres; lembram-se das Vinte Mil Léguas Submarinas?), bem como da Austrália, que designou por Australia del Espiritu Santo, nome retomado pelo próprio Thomas Cook. Queirós, que nasceu em Évora, em 1565, está demasiado esquecido por nós.
Quase todos os habitantes (46!) são membros da Igreja Adventista (mas só oito assistem à missa...). E Henderson, desabitada, tem o título de Património da Humanidade. Não admira.

||| O narguilé.
Não resisto (vem na Veja desta semana): «Nestes tempos em que o cigarro é cada vez mais segregado nos restaurantes e bares, outro jeito de fumar está ganhando espaço e adeptos: o narguilé. O cachimbo de água, típico do Oriente Médio, está presente em bares e restaurantes de todo o Brasil. Há também quem já compre o equipamento para fumar em casa.» O narguilé, claro. Como é que não fomos lembrar-nos do narguilé? Uma pessoa chega ao Dom ou ao Supra, por exemplo, em São Paulo, e pede: «Queria o foie gras com crocante de arroz selvagem, e o peito de pato com molho de amora. E o narguilé, chef, por favor, um narguilé cheiinho.»

26 janeiro, 2007

||| A fúria do açúcar.
Ontem, o Ministério da Educação anunciava que a TLEBS ia ser suspensa em Fevereiro. Hoje, o Ministério diz que isso só vai acontecer no próximo ano. Na semana passada, o Ministério dizia que não ia suspender nada. É a fúria do açúcar.

||| Amapá. S. José de Macapá.












A primeira impressão é a de uma cidade que adormeceu há muito. O avião chega por volta da uma da madrugada e há pouca gente no aeroporto — uma pequena parte das ruas não está asfaltada, mas é por aí que o taxista escolhe o caminho mais curto para o hotel. O hotel não tem telefone no quarto. A rede de televisão AmazonSat transmite sem cessar as imagens das festas de Parintins. Acabaram-se os cigarros — e na roulotte, junto de um jardim em cujo centro também adormeceu há muito um lago sem peixes vermelhos, só vende cerveja. A primeira impressão de Macapá não é famosa, rodeada de pequenas e de grandes florestas, de rios e sombras. E de povoações que relembram colonizações anteriores, como é o caso de Nova Mazagão, para onde foram residir os ocupantes de Mazagão, depois de abandonada a praça portuguesa do Norte de África.
São lugares retirados ao ruído das cidades e ao rumor da sua história. Os portugueses, que mandaram as suas tropas conquistar o território que hoje é o Amapá, recordaram aos seus generais que aqui não devia ficar memória dos ocupantes anteriores. Assim foi feito. Destruiram-se fortalezas e povoações, e ergueram-se outras, anexadas então ao Grão-Pará. Por estes caminhos passou Pedro Teixeira (um personagem fantástico), delimitando a Grande Amazónia do seu e nosso tempo. Por estes campos e por estes rios passaram os primeiros colonos (açorianos, por exemplo) que vieram para cultivar a terra guardada por fortes e praças militares.
Dois dias depois, quando começo a conhecer os restaurantes de Macapá, a saborear a marginal junto da fortaleza de S. José (uma construção imponente — da mesma série da do forte do Príncipe da Beira, só que maior e menos conhecida) e das suas esplanadas, a estrada de pó leva-nos até ao norte, à fronteira com a Guiana e à proximidade do Suriname. São cerca de quinze a dezoito horas, consoante a meteorologia («o rigor da meteorologia...»), mas valeu a pena ter chegado à hora de almoço, depois de muitas paragens para descansar, fotografar e só para parar, apenas em Nova Canaã, uma aldeia suspensa entre um rio e o limite da floresta, de onde uma estrada nos levaria ao parque que confina com o mar — e que é um dos lugares mais raros que se podem visitar.
E há essa curiosidade: em Macapá, ao sul da cidade, está essa linha imaginária do equador, traçada de verdade sobre o meio-campo de um estádio de futebol, o Zerão — de um lado, joga-se no hemisfério sul; do outro, no hemisfério norte. Por isso, com essa omnipresença do equador, não admira que as noites de Macapá tenham a marca de um fogo permanente, de um ferro em brasa que queima só de leve. Ou seja: por um lado, parece o cenário para um western de John Ford, luminoso, tenso, incandescente, com três quartos de céu; por outro, evoca a ausência absoluta de cenário, de seja o que for que tenha a ver com a história, de ruído.

||| O cantinho do hooligan. Agora compreende-se.









O FC Porto mereceu perder, mesmo com erros do árbitro e anti-jogo manhoso do Leiria. Agora eu compreendo como se empatou com o Tourizense – foi um resultado e tanto. Dito isto, segurem-se. E bem.

||| Feroë, Thorshávn.














Outro dos lugares: Tórshavn a capital das Ilhas Feroë. Os voos estão a 220€ a partir de Reykjavík.

||| Terras no Fim do Mundo, 1. Ilhas Sandwich.










Depois do destaque para Tristão da Cunha, o Pedro Freire de Almeida lembrou outra das terras do fim do mundo, as ilhas Sandwich. Acho que vai dar uma série. São lugares onde gostava de ir.

A primeira presença de Tristão da Cunha no Origem das Espécies. E uma crónica já antiga.

||| Smoke, don't smoke.
Não sei se esta é a formulação mais correcta da notícia: pessoas com lesão no cérebro não têm vontade de fumar (o título do Público é «Fumadores com lesões no cérebro esqueceram-se da vontade de fumar»). A gritaria que não vai ser: «Quero uma lesão, quero uma lesão!»

25 janeiro, 2007

||| Parlamento.
O parlamento acha que a RTP deve retomar o horário do tempo de antena dos partidos. O PSD, o CDS, o PCP, o BE, o PS e a ERC acham que a RTP deve colocar o tempo de antena às 20h00 ou a seguir ao jornal das 20h00. Não faço ideia, porque raramente vejo. Mas espero que Anatomia de Grey passe antes das 22h00.

||| Meter o parlamento dinamarquês na ordem.
A presidente e vice-presidente da comissão de Assuntos Sexuais e Reprodutivos do parlamento dinamarquês gostam de dar lições de moral e indicações de voto. Eduardo Pitta mete o assunto na ordem, e muito bem. Ah, as coisas que eu não gostaria de recomendar que fossem votadas pelos dinamarqueses... Nenhuma decente, é verdade, mas para isso é que servem os dinamarqueses de vez em quando.

||| TLEBS, petição.
A petição contra a experiência TLEBS foi hoje entregue por José Nunes na Assembleia da República, Presidência da República, Primeiro-Ministro, Secretário de Estado Adjunto e da Educação. Tinha 8.132 assinaturas contra a insanidade.

Em breve será publicada a portaria que suspenderá a legislação que regulava a TLEBS (portarias n.º 1488/2004, de 24 de Dezembro e n.º 1147/2005, de 8 de Novembro, por exemplo).

||| TLEBS. O debate. {Actualizado}
Para quem seguiu o debate ontem à noite sobre a TLEBS, na RTPN, parece evidente que só uma enorme falta de pudor permite que o Ministério da Educação continue com este processo azarado e ridículo (o que foi explicado por João Andrade Peres). A mesma falta de pudor atinge o Dr. João Costa, que deveria demitir-se imediatamente de todos os cargos relacionados com esta «reforma linguística» (os motivos foram explicados, um a um, por Maria Alzira Seixo). Seria uma oportunidade para que as «corporações ideológicas» fossem sacudidas («varridas» seria um excesso) do Ministério.
Entretanto, José Nunes entrega hoje a petição em São Bento e em Belém. Ele deu uma lição.

Adenda: Não, não se trata de perseguição e tenho o maior respeito pelo Dr. João Costa, mas a verdade é que o professor faz, também, parte do conselho científico do Plano Nacional de Leitura.

Adenda 2: ler, entretanto, este excelente reparo de João Paulo Sousa, no Da Literatura.

||| Coitado do Zé Dirceu, a quem tudo acontece.
O biógrafo Fernando Morais, autor dos livros sobre Olga Benário e Assis Chateaubriand (o magnífico Chatô, o Rei do Brasil) tinha decidido escrever uma espécie de report sobre «o caso» de José Dirceu, o ex-todo-poderoso ministro da Casa Civil de Lula e cujos direitos políticos foram «cassados» pela Câmara. Já se sabe que lavar ministros como Dirceu é obra. Pois acabam de roubar todos os materiais a Morais e, por consequência, a Dirceu (incluindo um taco de basebol com o autógrafo de Hugo Chávez). Quem tem sorte é Paulo Coelho; liberto (para já) da tarefa de erigir o seu monumento a Dirceu, Morais vai acabar a biografia do autor de O Alquimista. Já é azar.
(Via Gonçalo Soares.)

||| Sobre isto ninguém protesta, não é?










Fica exactamente a meio caminho entre Cape Town e Montevideu e a uns precisos 2 333 kms do pedaço de terra mais próximo. Tristão da Cunha foi descoberto por portugueses há quinhentos anos (e logo abandonado por virtude «das suas altas escarpas») -- e é território britânico. Acabo de saber que a partir de Fevereiro deixará de haver transportes regulares para Tristão da Cunha (eram assegurados pelo RMS St. Helena, um navio-correio inglês). Como não existe aeroporto em Tristão da Cunha, a única maneira de chegar a Edinburgh of the Seven Seas consiste em apanhar boleia de um navio pesqueiro sul-africano. Acho isto uma injustiça.

Adenda: O João Moreira, por mail, acrescenta que também Santa Helena e Ascensão foram descobertas por uma armada portuguesa comandada por João da Nova. Sim, João. Mas para aí há transportes. Eu queria era um cacilheiro para Edinburgh of the Seven Seas. Dizem que há lá um pub (o Albatross Inn, o único da ilha), onde a pint custa apenas 60p e a lobster quiche se fica por um euro e meio. O fim destas viagens para Tristão da Cunha devia mobilizar-nos.

Ver texto de Rob Crossan.

23 janeiro, 2007

||| Estado de sítio.
Gripe, mais gripe, trabalho, muita gripe, trabalho, otite, tudo isso. O blog ficou para trás na lista de prioridades. Regressará devagar.

15 janeiro, 2007

||| Ray.







Morreu a Ray Güde-Mertin. O que centenas de autores lhe devem, pelo mundo fora, não pode ser contabilizado. Mais do que agente literária, ela era também amiga de quase todos eles, distribuindo o seu afecto por Portugal, Brasil, Argentina, Uruguai ou na África de língua portuguesa, onde quer que estivesse um dos seus autores. Devo-lhe, por isso, muito -- pelo que fez pelos meus livros e pelo que fez pela minha vida. Acredito que muitos dos seus autores (Saramago, Agualusa, Verissimo, Lins, Zimler, Rosa Mendes, Scliar, Raduan Nassar, João Ubaldo, Tabajara, Lucho Sepúlveda, Mário de Carvalho, Aparaín, Lídia Jorge, Santiago Gamboa, tantos) podem dizer palavras semelhantes. Mas hoje é um dia daqueles.
Um dos seus últimos sonhos foi realizado, quando pôde começar a usar a sua casa do Ceará, dividindo-se entre a casinha do n.º 1 da Friedrichstrasse, em Bad Homburg (quartel-general da sua agência, quartel-general de todos nós), nos arredores de Frankfurt (a cuja universidade Goethe dava colaboração). O governo brasileiro concedeu-lhe recentemente a Ordem de Mérito Cultural -- ela conhecia o Brasil muito melhor do que a maioria dos seus autores brasileiros. A partir de agora não a encontraremos nos bares, botecos, restaurantes, salas de reuniões das feiras onde ela circulava como a nossa agente (Frankfurt, claro, e Londres, Paris, Rio, São Paulo, Buenos Aires, México...). Não poderemos rir com ela. Não irá alojar-se, de novo, no Tivoli Jardim ou no Hotel Eduardo VII, em Lisboa. Das últimas vezes jantámos comida argentina, fomos à Tasquinha da Adelaide. Há dois anos, no meio de uma minha infecção pulmonar, no Rio, organizou um «final de manhã» num apê de Ipanema, a dois passos da General Osório (com o Verissimo, o Pepetela, o Paulinho Lins, o Moacyr Scliar, o Zuenir ou o João Ubaldo) -- melhor do que o tratamento nos tubos e maquinarias do Albert Einstein foi aquele «final de manhã» em que o whisky de João Ubaldo passou para mim e, misteriosamente, me curou (creio que com vantagens). A casinha da Friedrichstrasse, a dois passos do casino histórico de Bad Homburg, deverá conservar sempre aquele ar de museu vivo da literatura de língua portuguesa e espanhola -- de que todos somos devedores -- com os retratos, os manuscritos, as recordações de viagens e, naturalmente, o pessoal da agência, instalada em baixo.
Há uns anos, jantando em Salvador (nessa noite era eu a cozinhar para a minha agente), depois de capirinhas na praia, ela decidiu, com o marido, comprar uma casa no norte do Ceará. Tinha acabado um dos seus tratamentos (sempre dolorosos) e sentiu que podia ser ainda mais feliz a sul do equador. A casa, nos arredores de Fortaleza, lá estará para guardar uma parte da Ray, sendo que outra ficará em Bad Homburg, e no coração dos «seus autores». Da nossa Ray. As despedidas não deviam ser assim, mas são.

||| TLEBS.




Não esquecer de assinar a petição contra a TLEBS.

09 janeiro, 2007

||| TLEBS.
O monstro volta a atacar. Só por preguiça não escrevi nada este fim-de-semana sobre as declarações do director-geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular, do Ministério da Educação. Nelas, o dr. Luís Capucha afirma que a TLEBS tem deficiências e que a maior parte delas só se corriguirá depois de serem identificadas «na prática com os alunos», que servirão de cobaias para uma terminologia que «tem deficiências», como reconhece à partida. Apesar disso, o dr. Luís Capucha entende não querer «que a TLEBS seja um corpo estranho nas escolas». É brilhante. Portanto, haverá agora uma comissão que corrigirá as deficiências (onde estará, entre outros, o Prof. Aguiar e Silva), mas o Ministério vai fazer uma «comparação, através dos exames do 9.º e do 12.º ano» entre os alunos que tiveram a TLEBS e aqueles que não a tiveram -- para saber quem deles está melhor a Português (vai ser bonito, vai).
É o corporativismo do ME a funcionar no seu melhor, uns defendendo os outros para que uns e outros não sejam atacados.
Mas há uma passagem atrevida na entrevista com o dr. Luís Capucha; afirma ele: «A TLEBS tem diversos níveis de complexidade e é um instrumento científico. Provavelmente não teria feito sentido que o anterior Governo a tivesse aprovado.» Pergunta a jornalista Barbara Wong: «Discorda dessa decisão?» Volta: «Creio que o Governo PSD-CDS/PP deveria ter incentivado a construção de uma terminologia uniformizada; mas a principal missão do ME seria pegar nesse instrumento científico e transformá-lo em conteúdos passíveis de administração ao ensino.» Mas que tem a ver isto com a jogada à defesa, invocando o Governo PSD-CDS/PP?

[O link fornecido acima está disponível apenas para assinantes, pelo que publiquei a entrevista na íntegra, aqui.]

||| O 11 de Março.
Nacionalizar a electricidade e as telecomunicações e pôr fim à autonomia do banco central: Hugo Chávez faz o seu 11 de Março mesmo sem ter um Spínola.

||| Censura na net brasileira.
Como, por causa de Cicarelli, se abre um precedente. O juiz Lincon Antônio Andrada de Moura, da 33ª Vara Cível de São Paulo, decidiu que o Brasil (os servidores principais, como BrTurbo, IBest ou o IG) tem de instalar filtros para que os brasileiros não possam ver o vídeo de Daniela Cicarelli na praia com o seu namorado Renato Malzoni. Ou seja, o juiz Lincon acha que os brasileiros têm de pagar pelos deslizes da bruxa. Não espanta. Se Lula quis expulsar jornalistas estrangeiros, por que é que a justiça brasileira não há-de poder imitar a China?

08 janeiro, 2007

||| Cinzento.
Nem está muito frio, nem está frio por aí além. Mas é Inverno. Não tenho essa nostalgia europeia pelo fogo da lareira. Acho que fui feito para passar o mês de Janeiro na Costa Rica, por exemplo.

||| Cavaco, a mensagem de Natal e por aí fora.
O artigo desta semana no JN.

||| Doenças, mulheres, etc.
João Pereira Coutinho na Folha de São Paulo.

07 janeiro, 2007

||| De facto.
Uma perspectiva meramente economicista, para retomar o jargão.

||| Aos poucos.
Sim, aos poucos o blog.

||| Da Literatura.
Eduardo Pitta é um excelente amigo e um dos mais notáveis bloggers portugueses. Sem desprimor para os outros membros fundadores do blog Da Literatura (João Paulo Sousa, Valter Hugo Mãe e Jorge Melícias) tem sido o Eduardo a fazer as honras da casa. E tem cumprido a missão, transformando o blog numa indispensável referência de opinião, crítica e cultura. No meu caso, um dos cinco ou seis blogs de leitura diária. Como tenho estado ausente da blogosfera nestes primeiros dias de 2007, não assinalei mais um aniversário do Da Literatura. Faço-o com o atraso de alguns dias, correndo.

P.S. - Talvez fosse escusado dizer, mas eu preciso: além de tudo isso, o Eduardo (que publicará em breve o seu primeiro romance) é um grande poeta e um dos melhores críticos que conheço.

||| O cantinho do hooligan. Atlético Clube de Portugal.




Interrompo o injustificadíssimo silêncio deste blog para beber cerveja em Alcântara e festejar com os adeptos do Atlético Clube de Portugal.

[Jesualdo Ferreira devia ter sido substituído na sexta-feira passada e readmitido (porventura) só amanhã de manhã, para evitar repetir o que fez enquanto treinador do Benfica, quando perdeu em com o Gondomar.]

Adenda: logo, logo, o Ricardo Oliveira e o João Lami me corrigiram: não foi em Gondomar, como eu tinha escrito, mas com o Gondomar, na Luz.