31 outubro, 2006

||| Língua.
Mar da Língua, que vá. Parece fescenino, mas a rapaziada do Gato Fedorento pode fazer piadas sobre o assunto. Agora Centro Interpretativo das Descobertas é que me deixa sem palavras.

||| Privacidade, a todo o custo.
Ontem, na Janela Indiscreta (Antena Um, à tarde), Pedro Rolo Duarte surpreendia-se com o tom, digamos, mais furioso, de José Pacheco Pereira referido aqui (e publicado também aqui). Ora, sendo zangado o tom de JPP (contra uma peça do Expresso e contra um editorial do Sol), gostava de insistir no facto de ele ter toda a razão. Primeiro começa-se com um tom «alegadamente político» (sim, o primeiro-ministro tem uma namorada); depois, a revelação assume o aspecto de «facto político» (que importância terá o facto de o primeiro-ministro namorar com uma jornalista?) e, finalmente, misturar-se-ão os dois planos num só: o político e o privado. Daí ao moralismo, ao inquérito cor-de-rosa, à trapalhada -- é um passo. Mário Soares vestiu a pele de moralista e beato (que lhe ficava tão mal) para criticar Sá Carneiro e Snu Abecassis em 1980, com a companhia do então O Diário comunista; lembram-se da crítica ao concubinato? Mais tarde, Sampaio foi «vigiado» por ser casado pela segunda vez. Mas o que está em causa não é o facto em si e sim a tentativa de estabelecer grilhetas morais para duas pessoas livres que vivem a sua vida conforme entendem e julgam que é melhor. Ah, o «interesse público»? Qual interesse público? Não vejo nenhum. Vislumbro o «interesse do público» e a vontade de a imprensa servir esse prato escaldante e ligeiramente picante, tal como na época foram servidas umas declarações abjectas de Santana Lopes sobre essa matéria.
Eu acho que, se alguém abre as portas da sua casa às revistas cor-de-rosa ou à «imprensa de referência», mostra a filharada e as molduras douradas, a cama e a mesa, o pijama e a correspondência particular -- está no seu direito, e há até uns vagos seres que vivem disso com aplauso do povo e lantejoulas na televisão. Mas se alguém decide reservar para a sua vida privada aquilo que é a sua vida estritamente privada, se alguém não está disposto a mostrar em público aquilo que é apenas seu, qualquer violação dessa intimidade é um crime -- quer isso aconteça nas páginas de um jornal, no colorido de uma revista ou até na reserva impiedosa de um blog. José Pacheco Pereira tem toda a razão. Não é crime dizer «o primeiro-ministro tem uma namorada»; mas não é um assunto de grande relevância jornalística e não será certamente honesto sugerir que as opiniões do primeiro-ministro estão sujeitas ao escrutínio «do casal» e que, como consequência, o casal estará sujeito ao escrutínio da imprensa e do povoléu. O povoléu não quer apenas sangue e escândalo; quer também escândalo onde não há, para que possa alimentar a sua inveja e a sua própria natureza. A privacidade é o maior dos bens no universo público.

||| Lula, 2.
Alguns leitores escreveram, céleres, lembrando-me que Lula tinha ganho as eleições com 60% (mais do que isso, até) e que, portanto, eu deveria «moderar o meu anti-petismo». Erro: eu não estou a votos. Nem que Lula e o PT tivessem 90% juntos. Se a opinião e a consciência mudassem por causa de umas eleições ou estivessem sujeitas a escrutínio maioritário, seria impossível reconhecermos o erro, seria impossível o debate – e seria impossível haver opinião e consciência.

||| Lula.
Tenho assunto para mais quatro anos. É bom quando não falta assunto.
Começo já: a festa petista arrancou com ataques à imprensa.

30 outubro, 2006

||| Anónimos.
Está aí à porta uma pequena polémica sobre o anonimato dos blogs. A pretexto de discutir o anonimato dos blogs, vai carregar-se forte & feio sobre os blogs em geral e o mal que eles fazem à saúde colectiva, às coronárias, ao colesterol e ao respeitinho. Ou eu me engano muito, o que não me parece.
Vejamos: blogs anónimos, não gosto. Mas não me fazem diferença e leio poucos deles. Há blogs anónimos que são muito bons; um dos melhores é sobre gastronomia e é escrito por diplomatas. Por pudor, não assinam, e eu compreendo. Mas quando queremos acusar, tripudiar, abalroar, criticar, assine-se por baixo. Escreva-se o nome com coragem e um nadinha de vergonha. Um blog anónimo perde uma grande parte da autoridade.
Outra coisa, inteiramente diferente, é um blog ser assinado por gente que não conhecemos. Não se trata de um blog anónimo, evidentemente, excepto para quem pensa que é anonimato tudo o que não está no seu filofax. Chamar anónimo a um nome é um erro de gramática. E um defeito de carácter.

||| O elogio.
As pernas de Anderson. Curioso que aquele grego não tenha sido, como é que se diz?, admoestado.

28 outubro, 2006

||| O cantinho do hooligan.
Depois dos noventa tem mais sabor. Mas era escusado.

27 outubro, 2006

||| Mulheres: carne à vista.
«Se você pegar um pedaço de carne descoberta e deixar na rua, no jardim, ou no parque, e os gatos vierem e comerem… de quem é a culpa, dos gatos ou da carne descoberta?» Magnífica pergunta. Responde o xeique Taj el-Din al-Hilali, principal líder muçulmano da Austrália: «O problema é a carne descoberta. Se a mulher estivesse na sua sala, na sua casa, no seu hijab, não teria acontecido nada.»

26 outubro, 2006

||| Lembram-se?
Há 12 anos, a sede da AMIA, Asociación Mutual Israelita Argentina, foi destruída num atentado que matou 85 pessoas. Apesar de suspeitas fortíssimas, as investigações nunca chegaram a conclusões definitivas, contando -- além do mais -- com algum desinteresse das autoridades. O juiz encarregado do caso reafirma agora que o autor material, que dirigia o carro de explosivos, era Ibrahim Huseim Berro, militante do Hezbollah. Doze anos depois há progresso nas investigações, segundo o La Nación, de Buenos Aires:

«Los acusados por los fiscales son el ex presidente de Irán entre 1989 y 1997 Alí Akbar Hashemi Rafsanjani; el ex ministro de Información y seguridad hasta 1997, Alí Fallahjan; el ex ministro de Relaciones Exteriores de Irán, Ali Akbar Velayati; el ex comandante de la Guardia Revolucionaria Mohsen Rezai; el jefe del Servicio de Seguridad Exterior del Hezbollah Imad Fayez Moughnieh (también buscado por Estados Unidos por el ataque a la embajada de Israel); el ex consejero cultural de la embajada iraní en Buenos Aires, Mohsen Rabbani, el ex tercer secretario de la embajada Ahmad Reza Asghari y el ex comandante de las fuerzas QUDS iraníes Ahmad Vahidi. Los acusados actualmente ocupan cargos menores en el gobierno y no tienen inmunidad, dijeron a LA NACION fuentes judiciales.
Los fiscales señalaron que, por diversos testimonios, establecieron que el motivo por el cual se produjo el ataque en nuestro país fue la suspensión unilateral por parte del gobierno argentino del programa de transferencia de tecnología nuclear, que Irán consideraba clave.»

||| Privacidade.
Bravo artigo de José Pacheco Pereira hoje no Público («A degradação da privacidade e da intimidade»). Muito bom.

25 outubro, 2006

||| Escutas.
Ironia: o novo Procurador-Geral defendeu, na China, as escutas telefónicas como instrumento de combate à corrupção. Oremos.

||| Poesia bilingue.
E, já agora, prepare-se para poesia em português e em espanhol. É o Festival de Poesia Todos os Mares / Todos Los Mares, organizado pela Casa Fernando Pessoa e pelo Instituto Cervantes de Lisboa, de 8 a 10 de Novembro. Em português: Nuno Júdice, Gastão Cruz, Luís Quintais, Manuel António Pina, Maria do Rosário Pedreira, Rosa Alice Branco, António Osório e Ana Luísa Amaral. Em espanhol: Eloy Sánchez Rosillo, Darío Jaramillo Agudelo, Luis Alberto de Cuenca, Andrés Sánchez Robayna, María Victoria Atencia, Eugenio Montejo, Luiz Muñoz e Pere Rovira.

Informação sobre horários dos recitais, aqui.

||| Plano Nacional de Leitura.
Amanhã (quinta-feira, 21h30), na Casa Fernando Pessoa (Campo de Ourique, Lisboa), debate sobre o Plano Nacional de Leitura. Presenças de Teresa Calçada (coordenadora do projecto), Vicente Jorge Silva, jornalista, Mário de Carvalho, escritor -- e ainda de António Osório, que lerá poemas da sua antologia Casa de Sementes; e de Alexandre Manuel, editor, que falará dos livros dos outros editores. Coordenação de Carlos Vaz Marques. É mais uma edição dos Livros em Desassossego, como acontece nas últimas quintas-feiras de cada mês.

||| Mac.
Uma das vantagens de, de vez em quando, recorrer ao Macintosh que trabalha com Safari (certamente desprezada por toda a gente) é a necessidade de operar maravilhas com html básico. Fazer links, itálicos, etc., transforma-se numa trapalhada. É um regresso à net dos velhos tempos.

(Actualização: sim, opto pelo Mozilla ou pelo Camino, que, como lembra o João Luís Pinto, nõ têm problemas de java com o Blogger.)

||| Revista de blogs. O refúgio da extrema-direita.
«Na Hungria, os manifestantes são todos de extrema-direita. Nas manifestações anti-globalização, os meninos de passa-montanhas enfiados na cabeça e molotovs nas mãos, são “manifestantes anti-globalização”; ou como dizia Boaventura S. Santos, “provocadores de extrema-direita infiltrados”. Gente organizada, esta extrema-direita.»
{Filipe Nunes Vicente, no Mar Salgado.}

24 outubro, 2006

||| Releituras.
Este texto publicado por Nuno Guerreiro.

||| Conforto e aventura.
Alexandre Soares Silva sobre Hercule Poirot e Nero Wolfe, sobre Agatha Christie e Rex Stout.

||| Sepúlveda na rádio.









Luis Sepúlveda entrevistado esta semana na Antena Um (versão para wma / versão para real audio).

||| Deus porquê?
Por sugestão do Pedro e comentário do Maradona, chego ao artigo de Terry Eagleton acerca do último Richard Dawkins, na London Review of Books:

«Imagine someone holding forth on biology whose only knowledge of the subject is the Book of British Birds, and you have a rough idea of what it feels like to read Richard Dawkins on theology. [...] Dawkins on God is rather like those right-wing Cambridge dons who filed eagerly into the Senate House some years ago to non-placet Jacques Derrida for an honorary degree.»
Eagleton era o nosso marxista de eleição nos anos oitenta, quando falávamos de literatura e de crítica literária. E já então era bastante bom.

||| Norah Lange.
O Jansenista lembra os 100 anos de Norah Lange. Um discretíssimo manto de pudor acerca da sua relação com Borges.

||| Fumar em Buenos Aires.
Em Buenos Aires, agora que chegou o Verão, eles driblam a lei anti-tabaco como podem.

||| TLEBS.
Continua a minha saga de leitura da Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (disponível aqui). Continuo a não entender a necessidade de atrapalhar e de criar «novas designações» para «conceitos» que eram bem tratados em terminologias anteriores. Isto, a ministra da Educação devia conhecer melhor.

||| Mayra.
Até os nossos bibliófilos estão convertidos.

||| Mudanças.
O Insurgente em nova morada.

23 outubro, 2006

||| Os polacos fora da espécie.
O vice-ministro da educação polaco decreta o fim da teoria da evolução – e o pai do ministro, pede, em Estrasburgo, que Darwin seja retirado dos livros escolares.
[Link por gentileza de O Escudo.]

||| O cantinho do hooligan.
Hoje não há o cantinho do hooligan. Estive toda a noite a ver o jogo (o jogo) e a lamentar-me de não ter escolhido o Real-Barcelona.

21 outubro, 2006

||| Liberal à moda antiga, 2.
Basicamente, segundo percebo, há uma disputa entre o Estado e as Empresas; ou seja: há quem queira mais intervenção do Estado (ou melhor intervenção do Estado) e quem queira mais serviços nas Empresas (ou mais espaço para as Empresas). Estado e iniciativa privada. O liberal à moda antiga fala em proteger os direitos dos cidadãos. Protegê-los do Estado e das corporações.

18 outubro, 2006

||| Pedro Tamen.
Hoje ao final da tarde, 50 anos de vida literária de Pedro Tamen -- e um novo livro.

Actualização: imagens da sessão.

||| Electricidade.
Pode ter lógica, sim, mas é uma declaração e pêras.

17 outubro, 2006

||| Rivoli.
Eduardo Pitta sobre o Rivoli.

||| O cantinho do hooligan. Até ver.
Marcámos mais golos do que o Celtic, e isso também conta.









Uma boa cerveja escocesa, a Dragonhead Stout.

||| O cantinho do hooligan. Para lá do Báltico.










Recebo um sms da Finlândia: «Isto visto desde Tampere tem outra graça. Um golo e caviar. Um golo e salmão. Um golo e um pedaço de rena...» À beira do Tammerkoski, este fanático do Celtic festeja.

||| O Quizz.
O Milton Ribeiro organizou um quizz. Vá lá e responda.

||| Arnaldo Jabor censurado pela justiça eleitoral no Brasil.
O Tribunal Eleitoral mandou retirar, a pedido, o comentário do colunista Arnaldo Jabor sobre o debate Lula-Alckmin. Fica aqui um extracto do comentário de Jabor:

«Lula tentou encobrir os crimes de sua quadrilha apelando para pretensos 'crimes' de gestões anteriores, como barragem de CPIs, votos comprados, caixa 2 sem provas. Ele e os petistas se julgam donos de uma 'meta-ética', uma 'supramoral' que os absolveria de tudo e, por isso, Lula se utilizou de mentiras e meias-verdades para responder às acusações de mensalões e sanguessugas em seu governo. Para justificar a omissão e a passividade diante da Bolívia e do prejuízo de 1 bilhão e meio de dólares nas instalações da Petrobrás, Lula chegou a criticar a violência burra do Bush para se absolver na política de 'companheirismo' com o Evo Morales.
Ao invés de se defender de acusações pontuais, dizia que a era-FHC também era corrupta, como nas brigas de bordel, em que as prostitutinhas se defendem apontando os pecados das outras.
Lula tentou fugir da pergunta que não vai se calar: 'Qual a origem do dinheiro?' Lula respondeu com a metáfora batida : 'Muitas vezes o sujeito está na sala e não sabe o que está acontecendo na cozinha.' Ou seja: é normal que o chefe da Casa Civil e agora o Presidente do partido, Berzoini, Hamilton Lacerda, o chefe da campanha do Mercadante, o diretor do Banco do Brasil, seu assessor, seu churrasqueiro, petistas ativos no diretório, todos soubessem e trouxessem o dinheiro em malas, sem avisar o chefe. E quer que a gente engula. Lula pediu a Deus que não o mate 'até que ele saiba de onde veio o dinheiro'. A resposta obvia é: 'Não precisa perguntar a Deus; basta perguntar aos seus assessores na sala ao lado...', como escreveu a Miriam Leitão.»
Texto na íntegra aqui. Outros comentários de Jabor, com som, aqui.

||| Ortega.
Sandinistas.
(Via O Insurgente e Tomar Partido)

15 outubro, 2006

||| Liberal à moda antiga.




















Os liberais de hoje defendem a iniciativa privada. Está certo. Mas os liberais à moda antiga acham que o mais importante são os direitos dos cidadãos -- dos indivíduos, aliás. Não vale a pena substituir um Estado por outro.

(Clicar na imagem para ampliar o texto completo da Bill of Rights.)

||| The Temptations, «Papa Was a Rolling Stone (1972)»

«Em 1973 o silêncio era muito pesado, denso, irreal, mesmo com aquelas canções dos The Temptations, Papa Was a Rolling Stone, «papa was a rolling stone, wherever he laid his hat was his home, and when he died all he left us was alone, papa was a rolling stone», e «that’s why I can’t seem to understand why, girl, girl, girl, why you wanna make me blue? I’m askin’ you girl, girl, girl, why you wanna make me blue?» e o som, ele não esqueceria o som da Orquestra Moderna Os Embaixadores, parecia o som que iluminava toda a sua memória, a dos babás da Pastelaria Princesa, a do buffet ao domingo no Polana, a do chá das cinco, a dos machibombos ruidosos a chegar à Mac Mahon, Papa Was a Rolling Stone, o mar, Papa Was a Rolling Stone, o céu, Papa Was a Rolling Stone, o vento de Lourenço Marques, os bailes de casamentos, as cadeiras que se afastavam nas rodas à volta das mesas do Scala, as matinées na Igreja da Polana, o maillot, como então se dizia, de Maria de Lurdes, a descer até à cintura.» Lourenço Marques.

||| The Beautiful South, «A Little Time»

Inocência e leviandade. Nada mau.

||| Por causa da verdade, nua e crua.
O Miguel Marujo tem alguns dos melhores comentários as eleições brasileiras.

||| Flores de antanho, 3.










Sabonete Rose, Ach. Britto.

||| Cidadania.
O Ministério Público foi vencido pelos tribunais no caso de naturalização de uma cidadã brasileira que vive no Seixal, casada com um português – e que vive em Portugal há bastantes anos, além de pagar os seus impostos e de possuir bens em território nacional. A notícia vem no Público, que transcreve o parecer do MP: «Não indicou prova da sua integração social, desconhecendo-se o que conhece de Portugal além da região do Seixal, se tem uma percepção histórica de Portugal (conhece, por exemplo, Pedro Álvares Cabral? Ou quem foi o fundador do Reino de Portugal?), das figuras mais representativas da sua cultura (por exemplo, sabe quem foi Camões, autor de Os Lusíadas?), se acompanha a realidade actual do nosso país (como?), se sabe quais os titulares dos principais órgãos políticos da nação (quem exerce as funções de Presidente da República? De presidente da Assembleia da República? De primeiro-ministro?), se conhece os símbolos nacionais (quais as cores da bandeira nacional, o hino nacional?), quais os partidos políticos representados na Assembleia da República, qual a função essencial desta». Para se ser português devia ser necessário saber responder a algumas dessas perguntas essenciais. Temo, no entanto, que a sua argumentação poderia causar uma boa razia no número de cidadãos portugueses nascidos em Portugal. O MP devia submeter-nos a exame igualmente. Não se perdia nada.

13 outubro, 2006

||| Flores de antanho, 2.









Sabonete aromático Ilyria, Ach. Britto.

||| Sexta-feira, 13.
Quem não fica feliz com esta sexta-feira, 13? «Ministro da Economia anuncia fim da crise em Portugal.»

||| On line.
Khamenei tem uma página na internet onde responde às dúvidas dos xiitas.

«Ao responder a queixa de uma internauta, Khamenei estabelece que o trabalho doméstico não é responsabilidade das mulheres. Instado por outro, o aiatolá determina que os maridos não têm o direito de impor à esposa o uso do hijab (o véu), mesmo que seu uso seja obrigatório. Uma internauta reclama a falta de interesse do marido pelo sexo. Diz que está sem transar há pelo menos dois anos e que o cônjuge se recusa a procurar ajuda médica. Depois de considerar a queixa, Khamenei estabelece que a esposa tem direito a ter relações com o seu marido pelo menos uma vez a cada quatro meses.» [No No Mínimo.]

||| Touros.
O parlamento europeu considera a tourada uma tradição espanhola, portuguesa e francesa -- e já não vai proibir a festança. Ficaram tristes, menos pelos touros do que pelo facto de esta semana não proibirem outra coisa qualquer.

12 outubro, 2006

||| E, a propósito.
«Neste complexo, os professores - os que estão instalados no terreno - são o elo mais fraco de uma cadeia de comando em que, frequentemente, têm sido cobaias de vários génios, certamente talentosos, que, à distância, "imaginam" o ensino em Portugal. Quando falo no "terreno", quero dizer "as escolas", quero dizer os problemas de indisciplina com que têm de lidar permanentemente, os contactos com os pais, a realidade fatal das agressões nos corredores e nos gabinetes (por alunos e pais das criancinhas), a catadupa de legislação escolar em que têm de se especializar, as alterações muitas vezes absurdas das orientações científicas caídas do parnaso ministerial. Muitas vezes, aliás, por culpa do Ministério (que vive a desconfiar dos professores) eles não têm meios para reagir nem à indisciplina, nem ao insucesso escolar, nem às salas frias de escolas públicas onde falta gás para aquecimento, nem aos manuais escolares de qualidade confrangedora que o ministério autoriza a circular, nem aos - repito - génios certamente carregados de talento que, depois de requisitados às escolas, se ocupam de reformar periodicamente os programas e a gramática das suas directivas.
Se alguém se ocupar, durante alguns dias, a analisar grande parte dos documentos de natureza pedagógica e ideológica que emanam do ministério da educação acerca de coisas tão díspares como matemática, português ou disciplina na sala de aula, fica com a impressão de que um grupo de esquizofrénicos se entretém a punir professores e alunos com uma gramática desconhecida e absurda. Este é apenas um exemplo, mas haveria muitos. Leiam os materiais de apoio e rejubilem.
A ministra, trata os professores como uma corporação, à semelhança do que o governo entende fazer com os farmacêuticos ou os juízes e médicos. Errado. Depois de disciplinar a vida da escola, a verdadeira corporação resiste e sobrevive nos vários andares daquele pobre ministério cheio de - repito - génios certamente carregados de talento, mas que tudo têm feito para tentar destruir o ensino. Os professores são o elo mais fraco nessa cadeia de pequenos ideólogos formados à pressa nos anos setenta e que se encarregaram de matérias científicas, sindicais e pedagógicas com empenho semelhante. Isto pode não preocupar a ministra para já. Mas os professores sabem do que falo. E esse é o próximo desafio, se houver seriedade.» [Na crónica desta semana do JN.]

||| Gramática.
Estou desde há umas horas a ler alguns dos elementos de uma nova gramática do português (e fui ao Diário da República) que entra nas escolas com a designação de Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário, disponível aqui. Recomendo vivamente a TLEBS para momentos de optimismo histórico em geral e, se se encontrarem diante de uma dificuldade podem tirar dúvidas online. Por exemplo: nome comum concreto, contável, não humano, animado, epiceno, sabem o que é? Pois tratem de saber. Vejam só a lógica fantástica que preside à designação oração ou frase. Entretenham-se, entretenham-se. Só agora começou. Gostei de ver que, em matéria de semântica frásica, os nomes uniformes podem ser, quanto ao género, epicenos, sobrecomuns e comuns de dois; vagueei pelos verbos auxiliares aspectuais e pelas frases subordinadas substantivas completivas; e, em matéria de propriedades semânticas dos grupos nominais, diverti-me com os nomes não contáveis não massivos e, mais tarde, com a definição de modalidade epistémica ou deôntica. A vida é assim mesmo mas não sei se tem sentido desta maneira. Aprendam e habituem-se.

P.S. - Um pouco de má-fé não faz mal: quantos manuais vão preparar-se?

||| Flores de antanho, 1.










Sabonete de Magnólia, Ach. Britto.

||| Turquia na Europa.
Pierre Assouline, no La République des Livres, diz que Pamuk é o homem ideal para levar a Turquia para a União Europeia.
Links sobre o Nobel, aqui.

11 outubro, 2006

||| O cantinho do hooligan. Co za mecz! Portugalia na kolanach! Zwycięstwoooooo!
Seria tão fácil dizer piadas sobre aquela manada vestida de preto e sobre aquele teimoso chefe de caserna, que o melhor é seguir em frente.

||| Ora cá está.
Quem vai «castigar» os jornalistas? A ERC ou a comissão da Carteira?

||| Booker Prize.
Tudo sobre Kiran Desai, vencedora do Booker Prize inglês com o romance The Inheritance of Loss.

10 outubro, 2006

||| O véu.
Artigo de Yasmin Halibhai-Brown na Time sobre a polémica do véu em Inglaterra:

«Feminists have denounced Straw's approach as unacceptably proscriptive, and reactionary Muslims say it is Islamaphobic. But it is time to speak out against this objectionable garment and face down the obscurantists who endlessly bait and intimidate the state by making demands that violate its fundamental principles. That they have brainwashed young women, born free, to seek self-subjugation breaks my heart. Trained creatures often choose to stay in their cages even when released. I don't call that a choice.»

(Sugestão, que agradeço, do Fernando Antolin).

||| O apedeuta.
Duas simpáticas frases de Lula: 1) «Não sei de presidente que tenha feito tantos discursos, diariamente.» 2) «Muitas vezes, no Brasil, as pessoas confundem o desejo de derrotar o presidente com ajudar o Brasil.»

||| Lapso.
A RTP corrigiu o lapso. Já incluiu o nome de Oliveira Salazar na lista de sugestões para Os Grandes Portugueses.

||| Revista de blogs. Da natureza dos prefácios ou como prejudicar Steiner.
«A versão italiana de Uma Ideia da Europa, de George Steiner, é prefaciada por Mario Vargas Llosa. A nossa, é precedida de um texto do também nosso dr. Barroso. Como um prefácio pode fazer toda a diferença num livro.»
{João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos}

||| Tindersticks, «Travelling Light».

Manhãs de Outono.

09 outubro, 2006

||| Livro Aberto.
Actualizações em marcha e permanentemente.

||| Brasil, o segundo turno, 4.
Generosidade do Gonçalo Augusto dos Santos, este link para um artigo da BBC sobre «Brazil poor feel benefits of Lula's policies» (enviado por mail). Esta mesma tese foi antes defendida por Luiz Cláudio Lourenço (cientista político e pesquisador Doxa-IUPERJ), gentilmente enviada por outro amigo, F., a quem agradeço o email.

||| Brasil, o segundo turno, 3.
O desespero do PT é infantil. Depois de Berzoini (um dos seus mais sinistros dirigentes) ter caído devido ao dossier sanguessugas, o partido reconhece que errou gravemente. Não era preciso Jacques Wagner ter dado esta entrevista para se perceber como o PT está minado por dentro. O problema é que o PT sofre de desespero infantil tendo vantagem relativa nas pesquisas de opinião. Mau sinal para a rua. Mas é ainda pior sinal para a imprensa que alinhou na ideia de que Lula só tinha de passear durante a campanha. Alckmin pode perder no segundo turno; mas Lula levou um ralhete sonoro do eleitorado.

||| Brasil, o segundo turno, 2.
Para confirmar que José Dirceu sofre de apneia, ver este rico post do ministro que ruiu devido a acusações de corrupção. O Brasil não merece.

||| Brasil, o segundo turno, 1.
Festa nas bancadas. Lula, o apedeuta, entrou no debate com Alckmin lendo as perguntas ao adversário -- mas lendo mal e confundindo números. Só mesmo o inefável José Dirceu, no seu blog, para dizer que Lula ganhou o debate.

Análise do debate no blog do Josias de Souza.

07 outubro, 2006

||| Letra Livre.
O almocreve Mason dá esta indicação útil para quem gosta de livrarias que gostam de livros.

||| O cantinho do hooligan. Bola, com uma semana de atraso.
«Por motivos suspeitos e absurdos, o Sporting de Braga-FC Porto desta semana lembrou-me Didi, considerado o melhor criador de jogo no Mundial de 1958, na Suécia – o campeonato que marcou a arrancada do Brasil. Ia distrair-me e falar de Pelé, Mané Garrincha, Vavá, Nilton Santos, Mazzola e Didi, mas não vale a pena. Fico-me por Didi como o contrário de tudo o que o FC Porto fez em campo. Duas frases do génio, apenas. A primeira, enganosa: “Quem corre é ela”, dizia Didi (especialista no golpe de “folha seca”) sobre a bola. Os jogadores do FC Porto também esperavam que a bola corresse e os substituísse ao longo do jogo – mas não fizeram nada por isso, como se sofressem de paralisia temporária nas meninges. A outra frase de Didi é patifaria: “Eu tratava a bola com tanto carinho como trato a minha mulher, tinha por ela um carinho tremendo. Se você a maltratar, quebra a perna.” Se isso fosse verdade, os rapazes tinham saído de Braga em maca e embrulhados em gesso, directamente para a ortopedia do Dragão. Na verdade, em noventa minutos, os jogadores do Porto maltrataram a bola quanto podiam. Já não repito que o segundo golo do Braga foi, também, obra da vastíssima preguiça daquela manada fatigada que defendia a área; o primeiro foi resultado da sua arrogância, o segundo da sua preguiça. Em ambos os casos, mereceram perder, convencidos de que o Braga ia fazer em casa aquilo que tinha feito em Itália na primeira parte do jogo com o Chievo. Ora, de convencidos está o purgatório cheio.» Aqui.

02 outubro, 2006

||| Yom Kippur.











O Público mostra esta foto no final do Yom Kippur (Emilio Morenatti/AP).

||| Brasil. O dia seguinte, 6.
Se há coisa irritante no discurso do apedeuta Lula é a irresponsabilidade permanente; segundo Lula, nada do que aconteceu foi responsabilidade sua -- nem o mensalão, nem todos os casos de corrupção, nem o oligopólio que deixou montar no Planalto, nem o favorecimento ao seu filho pela Telemar, nem o escândalo dos sanguessugas, nem as suas gaffes, nem os abusos de poder cometidos por Palocci, Dirceu, Gushiken, Duda ou Genoíno, nem a própria campanha. Na hora de perceber que tem segundo turno, Lula atribuiu as culpas ao PT. Irresponsável, ausente, cómico.

||| Brasil. O dia seguinte, 5.
Volta de novo o tema: com a substituição do GNT-Globo pela Record (da rede evangélica) todos ficaram a perder, sobretudo os brasileiros que vivem em Portugal e os portugueses que se interessam pelo Brasil e que tinham no GNT uma programação de qualidade. Ontem, quando a Datafolha já previa o segundo turno, a Record dividia a emissão entre conselhos financeiros aos sócios da IURD e uma trapalhada de dados confusos sobre as eleições, insatisfeita com a derrota de alguns apaniguados. A TV Cabo conseguiu acabar com a transmissão de um bom canal e a sua substituição por uma programação de merda. Essa falta de qualidade deve ser totalmente assacada à Portugal Telecom e aos seus critérios. Uma pena. Uma miséria.

||| Brasil. O dia seguinte, 4. Satisfação.
Denise Frossard (PPS) vai ao segundo turno no Rio de Janeiro. Severino Cavalcanti não foi eleito. Serra ganhou São Paulo com grande margem sobre Aloizio Mercadante e Orestes Quércia. Yeda Crusius é uma boa perspectiva para o Rio Grande do Sul. A derrota do PMDB no Senado. O PT ficou reduzido ao Sergipe, Bahia, Piauí e Acre (revelador).

||| Brasil. O dia seguinte, 3.
O passeio do apedeuta (roubo a expressão a Reinaldo de Azevedo) transformou-se num pesadelo para o grupo de sitiantes do Planalto (José Dirceu, José Genoíno, Sílvio Pereira, Delúbio Soares, Antonio Palocci, Luiz Gushiken, Mercadante, etc.) e num pequeno momento de glória para o caciquismo e as oligarquias do PMDB, que venderão o poder a Lula, voto a voto. Na rádio, oiço António Costa Pinto prever a vitória por margem absoluta de Lula na segunda volta -- com uma segurança extraordinária e surpreendente. Duvido. Pode ganhar. Mas não é seguro que ganhe. Aliás, não é nada seguro que ganhe nos estados que verdadeiramente contam: São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio, Minas ou Santa Catarina e Paraná.

Outro pormenor curioso: o tom nas rádios portuguesas, em certos horários. Pelo tom de voz se conhece a desilusão do jornalista. Muitos tinham assumido a vitória absoluta de Lula na primeira volta (primeiro turno) e nem sabiam pronunciar correctamente o nome de Alckmin. E juro que ouvi isto: Lula, o antigo operário, terá de esperar até dia 29 para ver confirmada a sua reeleição. Onde está o jornalismo? Por que será que as pessoas não se informam minimamente antes de tratar um assunto tão complexo como este?
Nem uma referência a dois factos essenciais: o PFL ganhou no Senado (o PSDB é segundo) e o PSDB é o partido com mais votos em todo o Brasil.

||| Brasil. O dia seguinte, 2.
Heloísa Helena derrotada por Collor de Mello em Alagoas. Impossível não esquecer que, por menos do que Lula fez e deixou fazer, Collor foi apeado do Planalto. Mas é uma derrota, de qualquer modo. Heloísa é folclórica mas nunca vendeu a alma aos diabos do petismo.

||| Brasil. O dia seguinte,1 .
Primeira conclusão: Paulo Maluf, ele-mesmo, foi um dos mais votados no país. Roubar é argumento. Vale para o grupo de Lula.