31 agosto, 2006

||| Revista de blogs. Questões com a literatura.
«Se a questão não fosse central, Cervantes não se daria ao trabalho de vir a terreiro desvalorizá-la, realçando que o importante é que no decorrer da história não nos arredemos um til, ou um triz, da verdade verdadeira: qual o verdadeiro sobrenome do fidalgo? Quixana, como afiança Aquilino? Quijana, como insiste Miguel Serras Pereira seguindo a lição da Real Academia Española? Ou Quejana, como se descobre numa edição da Alba Libros, S.L., em capa dura e acompanhada dos conhecidos desenhos de Gustavo Doré?»
{José Carlos Barros, no Casa de Cacela.}

||| Aniversário, etc.









Obrigado, a sério, pelas mensagens de «bom primeiro aniversário, etc», nos blogs ou por mail: ao Blasfémias, O Insurgente , Eduardo Pitta, Sérgio Aires, Filipe Nunes Vicente, João Gonçalves, Jorge Marmelo, Tiago Barbosa Ribeiro, Luís Aguiar-Conraria, Bruno Alves, Carla (Bomba) Quevedo, ao Corta-Fitas, Jorge Ferreira, George Cassiel, Tomás Vasques, André Carvalho & Geração Rasca, à Rititi Barata Silvério, Nuno Vargas, Sofia Bragança Buchholz, Diogo Ferreira, ao Pseudónimo, à Atlântico, Miss (Isabel) Pearls, Almocreve das Petas, Rui (Adufe) Branco, José Carlos Barros, Filipa (Miss Springs), José Nunes, Gonçalo Soares, Miguel Marujo, Francisco, Espumadamente, A. Lopes Cardoso, Revisão da Matéria, Anarco-Conservador, Miniscente, Diogo Dias, enfim.

E, entretanto, felicitemos o Blogame Mucho, por mais um aniversário.

||| Manuais escolares. Comentários.
Sobre a questão dos manuais escolares:
«Os manuais portugueses são caríssimos e inadequados. Ao longo dos anos, no estrangeiro quando vou às livrarias, inspecciono a secção ensino. Este ano fiz o mesmo. Vi manuais de qualidade, bem apresentados e com conteúdo. Assim: não precisam de cores; são de papel reciclável; de volume e tamanho adequado. Um manual é para ser "manuseado". Os manuais portuguese são obras. Já consultou alguns? Se puder, observe de disciplinas várias. Analise o volume e peso dos mesmos. Figuras enormes (para quê?);conteudos supérfluos; etc.» [João Moreira]

||| O texto dos jornais. Comentários.
Sobre a percentagem de texto nos jornais:
«É bom, finalmente, ver alguém a colocar o dedo na ferida, e de forma irónica, em relação à «decisão» da imprensa generalista (aliás, já é praticamente toda), mesmo da dita «de referência», em encurtar textos por alegadamente os leitores não gostarem de ler ou de não terem tempo para ler ou por outras justificações estapafúrdias. Se os leitores deixam de ler jornais é apenas por duas razões: ou as notícias já não são interessantes (e isso nota-se nos primeiros quinze segundos de leitura), porque os jornais devido aos cortes de investimento acabam por ser meras caixas de ressonância das fontes oficiais ou «repetidores de telejornais»; ou a estratégia de encurtar textos (que já vem de longe) leva a que os jornalistas não consigam sequer dar algum valor acrescentado à notícia.
Aliás, não deixa de ser curioso (e suicida, a prazo) que o encurtamento dos textos dos artigos se fez simultaneamente ao alongamento dos títulos, a tal ponto que está toda a informação essencial no título (e/ou no lead) não sendo necessário ler o artigo (ainda há-de surgir o dia de um jornal apenas com títulos). Daqui advém, do ponto de vista comercial, um perigo: o tempo que o leitor demora a passar de uma página para outra, cada vez mais encurta, o que também «encurta» o tempo de exposição da publicidade aos olhos do leitor. Quando os anunciantes repararem neste efeito, não ficarão satisfeitos com o investimento.
Além disso, a aposta em encurtar textos é perigosíssimo para a qualidade do jornalismo e dos jornalistas. Encher dois ou três mil caracteres, qualquer um consegue, com a mais banal das notícias. E começa a facilitar-se (na verdade, já acontece na generalidade): opta-se por escolher «notícias rápidas» (as que não necessitam de qualquer investigação ou de confrontação) em detrimento dos temas mais elaborados. Daqui advém que não vale a pena um jornal (mesmo os ditos «de referência») apostar em investigação, nem sequer em jornalistas de investigação. Por um serviço mais barato (encher dois ou três mil caracteres), fazem o jornal. Um mau jornal, claro. Para terminar, sinceramente acho que os «técnicos da edição» apenas reagirão, não quando as queixas dos leitores se avolumarem, mas quando os anunciantes (que pagam o jornal) começarem a desinvestir ainda mais. Só nessa altura, em que os jornais de referência estarão iguais aos gratuitos, os «técnicos da edição» acordarão. Alguns acordarão no desemprego, pois enterraram financeiramente os próprios jornais. E os jornalistas, esses, ganharam tantos vicíos que muitos já deixaram de saber como se faz um texto de 10 mil caracteres. Daqueles que os leitores até gostariam, afinal, de ler.» [Pedro Almeida Vieira]

30 agosto, 2006

||| Diálogo.
Tomás Vasques enuncia o princípio do marxismo lusitano.

||| Final de Agosto.
Esta espécie de blog dura já há um ano, o que é ligeiramente absurdo, mas enfim.

||| Naguib Mahfouz (1911-2006).









Morreu o cronista do Cairo. Em português pode ler-se A Vela de Midaq (edição Afrontamento). Omar Abdel Rahman, líder islâmico egípcio, condenou-o à morte em 1987, um ano antes de ter recebido o prémio Nobel. Em 1994, é apunhalado por um militante fundamentalista -- nunca recuperou desse atentado, que quase o cegou e lhe paralisou um braço. Mesmo assim, em 1996 é de novo condenado à morte pelos grupos fundamentalistas islâmicos da região através de uma fatwa que renova a condenação anterior.

29 agosto, 2006

||| Agir em bloco, desta maneira, é coisa de malfeitores.
Isto sim, é escandaloso: há livrarias que só vendem os livros escolares a quem encomende todo o conjunto de manuais de um aluno. A venda de manuais escolares, toda a gente sabe, é um grande momento para a vida das livrarias em geral, tal como a chamada feira do livro é um grande momento para a vida do stock de muitos editores. Mas nada autoriza que as livrarias exerçam o seu poder de grémio desta forma, quem sabe se com a ajuda dos mecanismos dos próprios editores. Que têm as livrarias de decidir sobre as compras ou encomendas de livros dos seus clientes? Quem as autoriza a decidir sobre as listas de livros de uma escola, de um aluno ou de quem quer que seja? Essa pressão absurda sobre os consumidores é manifestamente imoral, mesmo que não seja ilegal. E se não for ilegal é imoral na mesma.
Imagine-se o caso de alguém que precisa de um manual de História do 9º ano: «Queria o manual x de História para o 9º ano, edição da y.» «Não vendemos.» «Mas está ali.» «Eu sei, mas só vendemos o conjunto completo de livros.» «Qual conjunto completo de livros?» «O conjunto de livros de cada aluno.» «Mas o que é que os senhores têm a ver com os livros que o meu filho precisa?» «Nós é que sabemos.»
Em muitos casos trata-se de livrarias que, ao longo do ano, armam o «discurso da queixinha», sobre como vai mal o mercado e sobre como está difícil a vida -- mas nesta altura do ano abusam da sua posição e da quase absoluta fragilidade dos pais e encarregados de educação. Livrarias? Bah.

||| Actualização dos manuais escolares.
1. Os manuais escolares são caros. Têm de ser caros: são impressos a quatro cores; o papel usado é caro; as encadernações, plastificações e florilégios de design gráfico são caros. A tecnologia evoluiu, mas o desperdício e a exigência do negócio tornaram os manuais caros demais. E pesados.

2. Vasco Teixeira, da Comissão do Livro Escolar da APEL, disse hoje ao Público que «agora Plutão deixou de ser planeta e em breve a União Europeia terá 27 membros», o que irá impedir que os manuais, ou grande parte deles, se mantenham pelo período de seis anos. Sim, daqui a quatro anos vai descobrir-se que D. Afonso Henriques não foi o primeiro rei de Portugal e que a Terra, afinal, é plana e tem um precipício lá ao fundo, como no filme dos Monty Python.

28 agosto, 2006

||| E outras leituras.
Com especiais recomendações. Alguns textos têm versão em inglês. بسم الله الرحمن الرحيم
اللهم عجل لوليك الفرج و اجعلنا من اعوانه و انصاره .

||| Mais leituras recentes.










Desde a edição de Junho que a Playboy brasileira tem estado vetada: as suas previsões para o Mundial de Futebol falharam redondamente – sem falar de que, nessa edição, a revista vaticinou uma derrota de Portugal com a Argentina. Foi com prazer que a edição de Agosto já compareceu à mesa de leitura. Não pelas fotos de Flávia Alessandra, não, claro que não (embora tenha um texto notável de Ruy Castro a propósito, vem na página 156), nem pela magnífica entrevista com Fernando Henrique Cardoso (para quem se interessa, vem na página 73 e FHC é explosivo), nem pelo panorâmico artigo sobre literatura de espionagem (ah, página112), mas pela comemoração dos 31 anos da revista, o que inclui (da página 183 em diante) a apresentação de damas que também completam 31 anos, com lembranças de Drew Barrymore, da Jolie, da Longoria, da Jojovic, da Winslet, da Witt, enfim). Para completar a informação bibliográfica, o ISSN é o 01041746. Tudo com profissionalismo.

||| Ler.
Muitos amigos meus se escandalizam com a ideia, manifestada pelos responsáveis do Expresso, de retirar 30% da mancha de texto à sua edição a partir de Setembro. Não sei se é caso para escândalo. Repetindo o que «os técnicos de edição» têm vindo a dizer atabalhoadamente: as pessoas querem o essencial e cansam-se com muito texto. Infelizmente, isto é não perceber exactamente o essencial: que lentamente vão transformando a imprensa num gigantesco suplemento, de textos curtos, de imagens que supostamente explicam o que o texto devia contar (mas não pode, pela simples razão de não estar lá), de referências rápidas ao que é complexo mas que os jornais não querem arriscar explicar. Sem menosprezo pelos autores das imagens, eu acho que se um jornal diminui drasticamente o seu texto devia, também, baixar o preço de capa. Mas deixem: um dia, a tendência muda. Nesse dia, os «técnicos de edição» vão perceber as queixas dos leitores que dizem que «o jornal [qualquer um] não tinha nada para ler». Literalmente.

||| Segunda-feira.
A coluna do JN às segundas-feiras; hoje, futebol e Günther Grass. Matérias em atraso.

||| Pedagogia & didáctica.
Antes que comecem as inevitáveis reportagens sobre o stress das criancinhas em época pré-escolar com as também inevitáveis cargas de cavalaria sobre a consciência dos pais, acusando-os de coisas ignóbeis, o Público de hoje anuncia um estudo que confirma que «crianças sobrecarregadas com actividades não são mais stressadas do que as outras» (link para assinantes). Gosto quando os especialistas em culpabilização são desmentidos.
[Actualização: link no Público online.]

||| Solidariedades.
O André A. Alves publicou há dias este post, no O Insurgente. Essa é uma realidade cada vez mais marcante na América Latina de hoje, sobretudo depois das jornadas de solidariedade entre Chávez e Ahmadinejad sob o pretexto da criação de um novo bloco de influência. A manifestação em Buenos Aires não só ocupou a Av. Figueroa Alcorta durante todo um fim de tarde para impedir (sob o olhar da polícia) a manifestação contrária e para se solidarizar com o Irão -- como as investigações sobre os atentados contra a comunidade judaica local, de que resultaram dezenas de mortos há anos, nunca tiveram sequência.

27 agosto, 2006

||| Sean, meu bom Sean.











Eu sabia que teria de haver uma boa razão para a tua boa saúde.

25 agosto, 2006

||| Jorge Luis Borges.













Aniversário ontem.



Ajedrez

I

En su grave rincón, los jugadores
rigen las lentas piezas. El tablero
los demora hasta el alba en su severo
ámbito en que se odian dos colores.

Adentro irradian mágicos rigores
las formas: torre homérica, ligero
caballo, armada reina, rey postrero,
oblicuo alfil y peones agresores.

Cuando los jugadores se hayan ido,
cuando el tiempo los haya consumido,
ciertamente no habrá cesado el rito.

En el Oriente se encendió esta guerra
cuyo anfiteatro es hoy toda la tierra.
Como el otro, este juego es infinito.

II

Tenue rey, sesgo alfil, encarnizada
reina, torre directa y peón ladino
sobre lo negro y blanco del camino
buscan y libran su batalla armada.

No saben que la mano señalada
del jugador gobierna su destino,
no saben que un rigor adamantino
sujeta su albedrío y su jornada.

También el jugador es prisionero
(la sentencia es de Omar) de otro tablero
de negras noches y blancos días.

Dios mueve al jugador, y éste, la pieza.
¿Qué Dios detrás de Dios la trama empieza
de polvo y tiempo y sueño y agonías?

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Anteontem, isto.

15 agosto, 2006

||| No sul do hemisfério sul.













Por estes dias, para lá do Río de la Plata.

||| As primeiras frases.
O André Moura e Cunha reúne, no seu blog, «frases de abertura de obras de ficção escritas ou traduzidas em português». Ou seja: as primeiras frases de romance. Bela ideia e bons exemplos.

14 agosto, 2006

||| Tudo.













Borboletas à noite.

||| Nada.















Sempre em outro lugar.

||| Sampa.
Há sempre uma maneira de testar a imprensa. Sequestra-se um jornalista. Os bandidos do PCC de São Paulo, olhados com compreensão afável pelos sociólogos da USP, empresários de ONG locais e parapsicólogos da fraternidade, exigem ser mostrados no horário nobre da Globo. Tem de ser. Que passe cem vezes, o repórter sequestrado não tem culpa. Os rapazes que invadiram e partiram o mobiliário do Congresso de Deputados andam de braço dado com Lula, o pai da ética. Tudo vai dar ao mesmo.

13 agosto, 2006

||| Ver.









Duas sequências de imagens a reter no Dolo Eventual: as 100 imagens reconfortantes para fumadores em tempos difíceis e As mais belas rotundas de Portugal.

||| Vontade de rir.
Nesta última quinzena chamaram-me «nazi-sionista», «apaniguado de Sharon», «belicista», «menos equitativo do que o Aspirina B», «criminoso de guerra», «likudista», «fundamentalista», o que quiserem, fora o que se sabe -- tudo a propósito do Médio Oriente. Lembro-me de que escrevi (repetindo o que digo desde há anos) que «não se pode duvidar da necessidade absoluta da existência de um estado palestiniano democrático, onde as pessoas vivam decentemente, façam negócios, vão às escolas e às mesquitas, frequentem a praia e escolham os seus representantes». Mas não basta, portanto. As patrulhas ideológicas nunca se satisfazem, a sua sede é imensa, o seu olho prestável só vê uma cor.
Nunca escondi a família a que pertenço; é uma fatalidade. A vantagem da minha família é que não põe em causa a existência das outras. Mas isso não basta; eles vêem o mundo em duas cores, e ambas estão trocadas.

||| Regresso.
«Muitas vezes prática e racional, outras vezes complexa e sentimental, Diotima era, apesar da sua inconstância, amiga dos seus amigos, da boa comida, da boa bebida e do bom sexo (o pouco que a sua curta vida lhe permitiu). Brindemos, pois, à morte dessa mulher cuja beleza raiava, não poucas vezes, o desespero. Este blogue nasce hoje em sua homenagem.» A Polly, do antigo Diotima (Aus Lissabon) está de regresso.

12 agosto, 2006

||| Revista de blogs. Elogio da liberdade.
«Continuar a suportar o enfado dos europeus que estão fartos de tanta liberdade que já nem se lembram do que é - literalmente - perder a cabeça por um livro, por uma saia ou por uma antena parabólica. Continuar, sempre. A romper o cerco.»
{Filipe Nunes Vicente, no Mar Salgado}

||| O mal dos dois lados.
É humilhante que se regresse à chamada elocubração adversativa, ou seja: nunca citar um argumento sem que o outro dissesse, logo a seguir, «sim, mas o contrário também existe», e assim por uma larga eternidade, que é o tempo da história. Não se pode invocar o mal de um só lado quando se fala deste assunto. Esta evidência podemos dizê-la em qualquer lugar de Israel; não o podemos dizer em sociedades educadas a odiar Israel.

||| A ira.
O «romantismo revolucionário» não olha a meios para obter o perdão do tempo. A imagem do conflito a partir do início da II Intifada foi lida nesse contexto: um punhado de pedras de um lado, e de balas cegas do outro (infelizmente, pouca gente ou nenhuma, na nossa imprensa, lê árabe ou vê as televisões locais). Maravilhosa simplificação da história: nesse contexto, o partido a tomar é o da paixão e o da ira, porque aí, se alguém ler a cena à distância, deve existir alguma razão, alguma verdade. Mas as lágrimas, a morte, o sofrimento e a ira não constituem uma ideia, nem uma causa, nem um motivo. São apenas lágrimas, morte, sofrimento e ira -- e contagem de vítimas feitas mártires. A história é outra coisa. Mesmo quando se pensa em sentido contrário.

||| O estado das coisas.
Misturar tudo, não reconhecer diferenças de argumentação entre quem defende o direito de Israel à segurança, a ter fronteiras seguras e reconhecidas internacionalmente, e quem não reconhece o direito à existência de um estado palestiniano, é fazer batota. Não se pode duvidar da necessidade absoluta da existência de um estado palestiniano democrático, onde as pessoas vivam decentemente, façam negócios, vão às escolas e às mesquitas, frequentem a praia e escolham os seus representantes. Mas nada disso pode levar ao branqueamento de quarenta anos de hipocrisia dos estados vizinhos de Israel ou das intenções do Hamas e do Hezzbollah.
Em 1945, um povo excluído e indefeso, condenado a morrer pela Europa fora em campos de concentração, sonhava apenas com a sobrevivência. Essa sobrevivência passou, depois, pela criação do estado de Israel. O estado palestiniano nunca existiu por responsabilidade dos países árabes da região, que não o permitiram — e que invadiram Israel horas depois de David Ben-Gurion ter lido a declaração de independência. Dessa invasão resultou uma derrota militar a que a boa consciência europeia chama ainda hoje «a primeira humilhação» ou, na moderna sociologia jornalística, «fonte de ressentimento». Para não haver humilhação nem ressentimento, os judeus de Israel teriam de se deixar aniquilar pelos exércitos que os atacaram. Assim se evitariam o 11 de Setembro, Almadinejad, o empobrecimento das sociedades do Médio Oriente e uma geração de bombistas-suicidas. Daí decorre a pergunta que muitos fizeram no pós-11 de Setembro: e se não existisse Israel?

11 agosto, 2006

||| Brasil.
Para quem se interessa pela política brasileira, o Reinaldo Azevedo mudou de endereço. Está bem aqui.

||| Leituras.
Esperando que o J.M.F. não me processe, aqui estão dois textos a ler na edição de hoje do Público: o de Vasco Pulido Valente sobre os acontecimentos de Londres, e o de José Miguel Júdice sobre os malefícios do tabaco.

||| Plataforma.
Pelo desastre do Prestige ao largo da Galiza ficámos a saber que os culpados eram Fraga Iribarne e Aznar, que não providenciaram ajuda. Fizeram-se abundantes marchas encabeçadas por muitas plataformas cívicas locais e todos nos mostrámos solidários; com os actuais incêndios na Galiza ficamos a saber que a culpa é dos terroristas florestais e que os protestos contra a ajuda não providenciada dos governos regional e nacional são, evidentemente, mal intencionados. Não há plataforma que lhes valha.

||| Para quem se interessa pela autobiografia.
A quem possa interessar, 41ºC não é coisa que se apresente. Há uma pilha de livros no chão, esquemas & papéis na mesa, telefone desligado para não perder tempo e, se não fosse o repeat mode do CD, a tarde nem tinha começado. A autobiografia é assim.

||| Questões editoriais.
Às primeiras horas de hoje publiquei um post; dez minutos depois retirei-o. Achei que não estava bem e que precisava de mais trabalho. Aos que vieram em busca dele, pelo Google ou outros motores de busca, as desculpas. Critérios editoriais abundam por aí, mas cada um manda no seu blog. O post voltará.

||| Entre dois mundos.
Tens aí um problema, Rodrigo: «Com frequência me questiono como se combate uma cultura de pacifismo, apelando para os riscos que impendem sobre a Europa, sem que sejamos quase pavlovianamente rotulado de "falcões".»

10 agosto, 2006

||| O que vale a pena?
Nada. Os comentários dos leitores do Público às notícias sobre as notícias que chegam de Londres dão uma ideia acerca do nosso pequeno mundo.

||| Cuba, 2.
Não entendo a surpresa. Para quem já fez censura ou quis fazer censura aqui, ou de vez em quando faz, isto não é surpresa nenhuma.

||| Cuba.
«O gesto de se associar tão de perto a um tirano é perigoso para um escritor. Porque tiranos têm fins violentos.» Guillermo Cabrera Infante.

||| Epistemologia geral.
Ao ler que o novo treinador do FC Porto «nunca será um treinador analítico; antes multidisciplinar», fico mais tranquilo. O futebol nunca se deu muito com kantianos.
Teremos, portanto, um discípulo de Feyerabend, um Paul De Man dos relvados, alguém que tenha coragem de gritar para a defesa «deixem lá o Wittgenstein!» ou, durante os treinos, explicar porque é que os alas não podem ler Quine ou Russell, esse chato. Espero que, em todo o caso, seja alguém que tivesse lido Espinosa.

||| O estrago da nação.
Depois de publicar o seu livro sobre os incêndios em Portugal (Portugal: O Vermelho e o Negro, edição da Dom Quixote), Pedro Almeida Vieira reactivou há tempos o seu blog onde vem acompanhando o assunto com bastante minúcia.

09 agosto, 2006

||| Mayra.









O Ricardo mostrou-me uma parte da luz de Agosto. Lá, nos céus, está alguém a escutar esta menina: Mayra Andrade (ouçam-na também no novo disco de Carlos Martins).

||| Queda.
Das 13h00 às 14h15, o Origem das Espécies esteve fora do ar. O Blogger não consegue explicar como desapareceu o template. Como tenho sempre dúvidas sobre assaltos informáticos, limito-me a desconfiar -- mas a verdade é que todos os códigos do template foram cortados a essa hora. O que está à vista é apenas a reconstrução possível feita em pouco mais de meia-hora graças à cache do Google. As obras continuarão durante os próximos tempos até conseguir recuperar todo o template.

||| Adeus Co Adriaanse. O cantinho do hooligan. [Actualizado]









Infelizmente pode ser escrito assim. Mesmo que fossem buscar Rentería e o magnífico (eu só o vi no Grêmio-Fluminense e gostei bastante, mas o Milton diz que não é bom, acrescentando que o Rentería é para deitar fora -- e ele é colorado de carteirinha) meia Rafinha.

Bruno Sena Martins, um homem de palavra.

Mais comentários por mail:

«A propósito do Cantinho do Hooligan, de repente pus-me a pensar que é pena o Co Adriaanse deixar de treinar em Portugal. Adriaanse pode não ser o melhor treinador do mundo, mas é tão elegante e civilizado, que o seu charme fica bem em qualquer estádio do mundo. Qualquer um. É uma grande perda deixá-lo ir assim. E o Porto ainda se vai arrepender. Não que isso me interesse particularmente, mas por causa de umas bagatelas de umas contratações? que raio! Custa-me isto. Um homem com aquele... como direi?, aquele bom porte e aquela aura de elevada educação. O que eu gostava de o ver na Luz.» [Iolanda B.]
«O braço de ferro entre a direcção e Adriaanse resultou nisto. Já se calculava. Adriaanse não era o meu treinador preferido, mas era um cavalheiro, só que não ficou bem na fotografia destes últimos tempos. Por mim, tenho saudades de Mr Robson. Sou desess.» [Ricardo Lopes]
«Não se preocupe. O Benfica não tem equipa e o Porto não tem treinador. Bom para o Sporting.» [Pedro A.]

«Pessoas como o senhor Adrianse não são compatíveis com o futebol português. São demasiado sérias e educadas. Se todos os clubes fossem a "importar" gente assim, qualquer dia ainda tínhamos uma Liga de futebol a sério. E depois? Como é que o povo vivia sem uma novela todas as semanas? Deixá-lo ir... e dêem-nos mais Oliveiras e Octávios e Pachecos!» [Raimundo Salgueiro]

«Vi chegar jogadores maus, mas vi muitos óptimos passarem pelo meu clube. Vi treinadores serem defendidos por ele e depois aclamados pelos adeptos. Vi serem dadas oportunidades a treinadores (Octavio, Fernando Santos, etc) e demorar a srem despedidos. Vi ser mandado embora uma pessoa de trato impecável (Victor Fernandez) quando até ia na frente do campeonato e nos oitavos de final da Champions. Vi alguns arruaceiros inclusos nos Super Dragões (reservo excepções) serem postos na linha quando necessário... Vejo agora o meu presidente não dar confiança a uma pessoa que merece todo o respeito. Co Adriaanse foi sempre alguém de fácil trato, que até aprendeu a nossa lingua quando outros não o fizeram. Preferia sempre dizer uma dura verdade que uma piedosa mentira! Preferia dar um raspanete para depois o elogio saber a mel. Lembro-me que essa é a ideia que tenho dos melhores professores que tive até hoje... Podia até nem perceber nada de futebol, não o acho, mas pôs uma equipa de miúdos a jogar bom futebol... Gosto que projectos de 2/3 anos se realizem no meu clube, e nunca encostar à parede um treinador que na primeira época ganhou os dois troféus mais importantes em Portugal. Será que o meu presidente deu outra gravata a um treinador prometendo treinar o FCP? Não sei quem vem, mas sei quem vai... E sei que falta um avançado... Assim, hoje, o presidente é do meu clube, mas deixou de ser o meu presidente... [Francisco del mundo]

||| Milton Hatoum.












O excelente Milton Hatoum arrebatou o Jabuti deste ano (é o prémio atribuído por livreiros e editores) com Cinzas do Norte, o seu novo romance sobre a Amazónia. Mais desenvolvimento aqui.

Sobre Milton Hatoum; entrevista com o autor, em Agosto de 2005, em S. Paulo.

||| Choque tecnológico.
O Eduardo queixa-se, e bem, da inépcia e mau serviço da Europcar. Uma empresa privada que deve, portanto, ser penalizada pelos seus clientes. Mas, no caso dos serviços mais ou menos públicos, não se compreende que na Loja do Cidadão existam sectores (como gás ou electricidade) que não podem ser pagos através do sistema multibanco. Apenas cheque e numerário. Prega-lhes, ó Pátria, um valente choque tecnológico!

||| A vontade de proibir, 2.
Agradeço ao Tiago Mendes este comentário sobre o assunto:

«[...]Concordo (possivelmente com alguma pequena discordância nos detalhes) com a sua posição, de condenação clara de algumas políticas anti-fumo, como é o caso da recente polémica oriunda da Irlanda, que acresce a outros excessos que têm pouco que ver com o fumo passivo e mais com uma certa vontade eugenista do legislador, qual Pai-protector.
Contudo - e é essa pequena nota que lhe trago - a legislação actualmente proposta não proíbe totalmente o fumo nos estabelecimentos de restauração e bebidas. Proíbe, na totalidade, o fumo naqueles que tenham áreas inferiores a 100m2, é certo. Mas permite, nos espaços com área superior a 100m2, a existência de áreas para fumadores, até 30% do total.
Isto não muda, na essência, a crítica fundamental. Mas, a bem do rigor, convidará, a meu ver, a um ajustamento da "ênfase" posta em certas críticas. Isto, claro, para lá da necessidade de fazer jus à proposta de lei.
Na minha óptica, a solução de longo prazo deverá ser de total liberdade de escolha para os proprietários, mas admito que possa haver um período de "experimentação" em que se imponham algumas restrições, de modo a "compensar" o período anterior, por neste ter existido uma clara assimetria favorável aos fumadores (como se tem passado até hoje, julgo que concordará). A ideia seria a de tornar ambas as alternativas igualmente passíveis de uma escolha consciente, minorando o efeito de "bias" relativamente ao "status-quo" actual (este actual é mais "desde há séculos até há uns anos atrás").»
Tiago Mendes escreveu, sobre a mesma matéria, este artigo no Diário Económico. Tiago Mendes é economista, college lecturer no Christ Church College, em Oxford. Os seus textos podem ser lidos no Apontamentos.

||| Só os sãos se salvarão.
Por exemplo, os seguros de saúde. Depois de as empresas poderem, um dia, recusar dar emprego a fumadores (com o aval da Comissão Europeia?), as seguradoras podem recusar fazer seguros de saúde a, digamos, hipertensos? Veja-se este caso brasileiro.

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Escreve J.C.D., por mail:

«As seguradoras já fazem! E quando não recusam, como no caso do marido da minha empregada moldava que viu recusado, por causa de uma hepatite (B ou C, nunca percebi) perfeitamente controlada e tratada com todas as probabilidades de cura, o seu seguro para compra da casa, chateiam, demoram e exigem exames e mais exames à mínima coisa fora da norma, no meu caso por causa de uma coisa de nada da qual nunca morrerei.»

08 agosto, 2006

||| Mais um recuo.
A Comissão diz que «é uma má interpretação dizer que a UE concorda com a discriminação contra os fumadores». Não é. É uma interpretação correcta depois de ouvir um comissário dizer que discriminar fumadores no concurso para um emprego não constitui discriminação. Recapitulemos:
O comissário do Emprego e Assuntos Sociais, Vladimir Spidla afirmou o seguinte: «A legislação anti-discriminação europeia proíbe a discriminação no emprego e noutras áreas com base na raça ou etnia, numa deficiência, na idade, na orientação sexual, na religião ou crenças", esclareceu o comissário checo.» Em seu entender, recusar um emprego a um fumador «não parece enquadrar-se em nenhuma das situações acima mencionadas».
No dia seguinte, a porta-voz do comissário vem desmentir o patrão. A senhora diz que a «Carta dos Direitos Fundamentais diz claramente que a UE é contra qualquer tipo de discriminação». Veremos.

||| Pérolas.
«Depois, como um relâmpago, acende-se uma letra branca a meio da noite, como uma pérola, e ficamos à sua espera durante horas, para que nos livre do medo e nos prepare para o que há-de vir.»
Miss Pearls comemora o aniversário do seu blog. Parabéns, Isabel. Muitos.

||| Imagens.
A guerra das imagens e das encenações continua todos os dias. Quem esteve lá sabe como isso se organiza. O João Caetano Dias avança com alguns dados.

Ao contrário da BBC, nem a RTP, nem a TVI, nem a A1 corrigiram a notícia. Se a verdade se escreve nas redacções e sobretudo com as opiniões dos jornalistas e as mesmas imagens repetidas até à exaustão em peças diferentes (a mesma imagem serve, correntemente, para acontecimentos diferentes), por que razão há-de ser necessário corrigir?

07 agosto, 2006

||| A vontade de proibir.
Independentemente da discriminação de fumadores em vigor com o assentimento da Comissão Europeia, o Ministério da Saúde português apresentou uma «sondagem» que visa, fundamentalmente, mostrar que as suas decisões são aprovadas pela generalidade da população. É falso. O diploma do Ministério da Saúde é proibicionista -- mais: nega, preto no branco, a possibilidade da livre escolha. Os resultados da pesquisa apontam num sentido contrário:

«70,7 por cento dos inquiridos pensam que o proprietário de um restaurante, bar, discoteca ou hotel deve poder escolher se o seu estabelecimento é para não-fumadores ou para fumadores, publicitando-o à entrada.» (O governo quer proibir o tabaco em todos os restaurantes e bares.)
Mais: «71,5 por cento preferem a opção de serem criadas zonas de fumo ou livres de fumo», o que também contraria a vontade de proibir do Ministro da Saúde -- ou de alguém por ele. Ou seja, «o aspecto que reúne menor adesão é o da proibição de fumar em bares e 'pubs' (25,4 por cento) e em discotecas (24,4 por cento).»

Veja-se, também, a crónica de J. Pereira Coutinho na Folha de São Paulo.

||| Photoshop.
Por gentileza do Frederico Marques, mais sobre as fotos manipuladas da Reuters.

||| O anti-semitismo depois do anti-semitismo.
Imprescindível ler o que escreve o Tiago Barbosa Ribeiro no Kontratempos.

06 agosto, 2006

||| Sobre a imoralidade e outros assuntos.
Passou-me completamente ao lado, mesmo depois de já ter estado no Rio. Graças ao Sérgio, sempre atento ao que vai pelo mundo, verifico que a deputada Alice Tamborindeguy viu aprovada pela governadora Rosinha Garotinho a lei que proíbe a bunda em Ipanema, entre outros lugares. Vejamos, há razões: 1) a governadora chama-se Garotinho, é evangélica e é um castigo para os cariocas (pela sua negligência em tê-la deixado eleger-se); 2) a deputada chama-se Tamborindeguy. Nenhuma delas tem Ipanema apresentável. Perdão, bunda.

||| Os métodos de ensino, eu não dizia?
A tara crónica do Ministério da Educação: «O insucesso escolar entre o 1º e o 3º ciclos nem sempre está relacionado com a capacidade de aprendizagem dos alunos, mas sim com os métodos de ensino

||| O estranho mundo de Garp.
Não percebo por que razão a direita há-de convocar um congresso, ou lá o que for, chamando-lhe «estados gerais». Lembram os Estados Gerais de Guterres. Mas lembram também os Estados Gerais do «ancien régime». E os Estados Gerais do jacobinismo. Ou seja: como foram lembrar-se disso?

Garp, o personagem de John Irving (The World According to Garp, traduzido em português como O Estranho Mundo de Garp), não tem nada a ver com Ribeiro e Castro. Garp era um personagem fantástico na literatura e uma pessoa formidável na vida real. Ele soube que era preciso mudar a cabeça antes de mudar de linguagem.

||| A memória é curta.
Com o tempo, depois de passar a guerra das imagens, ver-se-á que nem só esta imagem foi manipulada.

Durante o célebre «massacre de Jenin» ouviram-se os números mais estapafúrdios, mas tudo começou com 500 mortos entre a população civil. O represente sueco da ONU chegou ao aeroporto Ben Gurion, vindo de NY, e confirmou «o massacre de Jenin», na mesma altura em que a Al-Jazeera passava imagens de confrontos e de representantes do Hezzbollah e do Hamas dizendo que estavam a dar luta aos sionistas. Uma semana depois, o representante da OLP na ONU falava em 75 vítimas. Uns dias depois, havia 37 vítimas entre os palestinianos e 23 entre os israelitas.

||| Máquina de livros.





Por gentileza do Pedro Figueiredo, que me enviou o link, eis uma notícia boa para a Batalha (vem no Região de Leiria), como «a primeira vila do país a contar com uma máquina de empréstimo de livros».
Outras máquinas aqui, aqui e aqui.

||| Eu, que sou contra o milagre irlandês.
Na Irlanda (conferir com o editorial e a notícia de hoje do Público) as empresas já podem abrir concursos para empregos e eliminar os fumadores à partida. A Comissão Europeia não discorda. Lindo. A vontade que eles têm de fabricar outro homem novo.
O jornal refere que «apesar de, nos últimos seis anos, ter aprovado uma vasta quantidade de leis anti-discriminação, Bruxelas diz que elas não se aplicam a quem fuma». A empresa irlandesa determinou que «os fumadores são anti-sociais». «Para o director da empresa, "fumar é idiota", pelo que se as pessoas o fazem é porque "não têm o nível de inteligência" que ele pretende.»

Ver comentários de Jorge Ferreira no Tomar Partido.

||| O cantinho do hooligan. O fim da pré-temporada.






O Inter de Milão fechou, com chave de ouro, a pré-temporada do FCP. Nada a dizer.

Os meus agradecimentos ao Jorge Ferreira, que acrescenta mesmo: «Manchester: eis uma terra que finalmente se está a portar bem connosco.»

||| Lula.
«Não sou comunista, sou torneiro-mecânico», é a frase mais citada da entrevista que Lula concedeu ao Expresso deste fim-de-semana. A frase não é novidade; é tão antiga como a fundação do PT e Lula repetiu-a uma centena de vezes antes de chegar à presidência. Em fases críticas repete-a no estrangeiro (no Brasil já não pega), onde há sempre gente disposta a aceitar a versão da História em que Lula chega ao poder e o povo viveu feliz para sempre. Claro que fez muito sucesso neste sábado lusitano. Bem-aventurados sejam.

05 agosto, 2006

||| O cantinho do hooligan pelos seus leitores.








Manchester, grande praça comercial, industrial e financeira de Inglaterra. Terra de cultura e de gente trabalhadora. Uma espécie de capital do Norte lá do sítio.
(Texto gentilmente enviado pelo Manuel Matos Nunes.)

04 agosto, 2006

||| Alcácer-Quibir. 4 de Agosto.








Outras batalhas.

||| Dar a volta ao mundo.
Um camião chamado A minha Pátria é a Língua Portuguesa.

||| Aos pinguins, aos pinguins!





Vejam como a Penguin comemora os sessenta anos de existência. Publicando uma colecção dos seus «melhores cinco títulos distribuídos por vinte categorias: dos melhores livros sobre sexo, adultério, decadência, loucura, subversão, acção ou viagens, às melhores ficções causadoras de gargalhadas, lágrimas ou arrepiosQuer saber como? Tudo aqui.

||| Gisberta, 3.
O Carlos Loureiro esclarece-nos a propósito das dúvidas sobre a natureza da pena aplicada aos rapazes que mataram Gisberta:

1 - A medida de internamento em regime aberto e semiaberto tem a duração mínima de três meses e a máxima de dois anos.
2 - A medida de internamento em regime fechado tem a duração
mínima de seis meses e a máxima de dois anos, salvo o disposto no número seguinte.
3 - A medida de internamento em regime fechado tem a
duração máxima de três anos, quando o menor tiver praticado facto qualificado como crime a que corresponda pena máxima, abstractamente aplicável, de prisão superior a oito anos, ou dois ou mais factos qualificados como crimes contra as pessoas a que corresponda a pena máxima, abstractamente aplicável, de prisão superior a cinco anos.
Ou seja, fica por explicar a aplicação das penas de 11 a 13 meses de internamento aos homicidas.

02 agosto, 2006

||| Gisberta, 2.
Meu caro Bruno: aí está um problema. A indignação de género é redutora e simples, nesse e noutros casos. Admito que o crime – o assassinato de Gisberta – foi cometido «contra» um transsexual, ou travesti, ou o que a linguagem admitir. Mas o crime está lá, independentemente do género; ou seja, não foi apenas cometido «contra» um transsexual, ou travesti. É legítimo que nos perguntemos, e devíamos perguntar-nos mais, sobre a atitude do tribunal, do MP e da turba, se em vez de Gisberta a vítima fosse «fulano de tal, gestor de uma empresa têxtil do Porto», «fulano de tal, professor de direito constitucional», «fulana de tal, empresária em Gaia» ou «fulano de tal, futebolista». Não conheço a lei; ou seja, não sei se a pena aplicada aos rapazes é correcta ou não do ponto de vista da Lei. Provavelmente, é. Provavelmente, a pena não podia ser maior. Ignoro. Mas o discurso usado no tribunal contemporiza com a curiosidade de ver «um homem com mamas, que se parecia com uma mulher», é fatal quando fala de «brincadeira de mau gosto» e, no fundo, vamos assistir à transformação dos treze menores em vítimas a recuperar em alguns meses (entre 11 e 13, segundo parece). O que está em causa, muito apropriadamente, é (além da pena aplicada) o discurso escandaloso que assenta na irrelevância da vítima (portanto, admitindo a questão do género, o que é gravíssimo, como se matar um travesti fosse mais «compreensível» do que matar a Miss Portugal) e na irresponsabilidade admitida dos criminosos (tratando-os como vítimas e não como autores materiais).
Está por fazer uma história actual da crueldade em Portugal (aí está um tema para ti, Bruno); violação de bebés, assassinato e tortura de crianças de três anos, violência sobre travestis, perseguição pública a homossexuais e a adúlteras (um célebre caso ocorrido nos arredores do Porto e que foi motivo de reportagens há uns anos), o que por aí vai. É necessário eliminar a justiça de género e evitar leis especiais. Basta cumprir a lei geral, mesmo se for necessário alterá-la para a tornar mais humana.

||| O adeus às arvores.
A propósito disto, a Manuela Ramos sugere a leitura do texto do Paulo Araújo no Dias Com Árvores. A requalificação do Vidago Palace Hotel será entregue a Siza Vieira a partir de Novembro. Eu bem temia por aquelas árvores.

||| O título.
Acaba de sair o Elogio da Intolerância, de Slavoj Zizek (edição Relógio d'Água). O título que faltava.

||| Colombo.













Este ano li quatro livros, todos eles cheios de argumentos, e um deles alucinado, sobre a identidade de Colombo. Também li um que o acusava de crimes contra a humanidade, e que resumia o estado das coisas nas universidades americanas. Tanto me faz. Por isso, estes assuntos são ingredientes da matéria do enigma. O apelo da razão quer que tudo esteja resolvido; o da desordem (muito melhor e mais saboroso) quer que o enigma seja estudado. Cristóvão Colombo, Cristóbal Colón, Cristovam Colon, tudo o que quiserem. O tema mantém-se, felizmente.

Daqui a meia dúzia de anos vai comemorar-se a viagem de Fernão de Magalhães. Independentemente do nome (Magallanes, Magalhães, etc), e da ideia estapafúrdia de chamar Pacífico àquele oceano, vão ouvir-se protestos contra a sua viagem. Tanto me faz, também. Mas acabo de passar por livro em que o tradutor não se coibiu de manter a designação de «a viagem de Magellan». É por isso que eu gosto da polémica sobre a identidade de Colombo. Por mim, fazia nascer já uma polémica sobre a verdadeira identidade de Magalhães, esse agente do imperialismo.

||| A sociedade aberta.
Há uns tempos publiquei uma série de posts sobre a inversão do ónus da prova e as ideias do então Presidente Sampaio acerca da vigilância que os cidadãos deviam exercer sobre os outros cidadãos em matérias que iam da fiscalidade (ah, os sinais exteriores de riqueza) ao «cruzamento» de dados «através do qual podem ser detectados delitos» vários. Há uma tendência para a denúncia (e para a denúncia anónima vulgar nos comentários dos blogs, por exemplo) na sociedade portuguesa. Num país que não consegue sequer explicar o funcionamento das escutas telefónicas com mandato judicial, é difícil perceber a defesa da transparência absoluta. A lista dos cidadãos com dívidas à administração fiscal é um acontecimento menor, mas é um passo não um passo em si mesmo, mas a permissão para avançar noutras direcções que podem colocar em causa a liberdade e a privacidade dos cidadãos.

||| Gisberta.
Ao contrário do que pedem as vozes da «indignação de género», o poder político não tinha nada que se meter na decisão da justiça. Mas ouvir o juiz repreender os rapazes dizendo-lhes que tinha sido «uma brincadeira de mau gosto» (reproduzo, como verdadeira, a peça da TSF) é, talvez, excessivo, e de muito pior gosto. A decisão, o veredicto e o pedido de pena por parte do MP, assentam na irresponsabilidade dos menores (um precedente grave) e na irrelevância da vítima (um escândalo). A tendência é, agora, para culpabilizar o Estado uma vez mais e, com a maior das deselegâncias, transformar os rapazes em vítimas. Nem a pena aplicada nem o discurso utilizado deixam de ser preocupantes.

||| Ouvir o computador.









Ouvir música enquanto se trabalha.

01 agosto, 2006

||| Livros no Verão.







Durante o mês de Agosto, na Antena Um, um livro por dia – três vezes por dia (às 09h20, 18h20 e 22h20). Os primeiros livros de Verão: A Relíquia, de Eça de Queirós (nesta terça-feira), O Venerável Espião, de John Le Carré (na quarta), A Brasileira de Prazins, de Camilo Castelo Branco (na quinta), Madame Bovary, de Gustave Flaubert (na sexta), A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós (na segunda-feira), A Vida e Opiniões de Tristram Shandy, de Lawrence Sterne (na terça) e por aí fora. Seguem-se Stevenson, Rubem Fonseca, Euclides da Cunha, Cortázar, Machado de Assis, Philip Roth, Melville e Borges, entre outros.

||| O cantinho do hooligan. O regresso, 3.








Atenas, essa cidade fantástica.

||| Moçambique, José Flávio.











O José Flávio retoma as coisas de Moçambique neste blog.
[Na imagem, Chinde, Moçambique.]