||| Justiça, apesar de tudo.
O ar festivo com que se comemoram instruções de processos, indicações de arguidos e de testemunhas, idas à PJ e aos departamentos, inquéritos e anúncios de inquéritos, não significa regozijo pelo bom andamento da justiça. Quer sobretudo dizer que o ressentimento tem cada vez mais espaço público. Muitos processos caem depois no esquecimento -- mas, entretanto, já fizeram manchete, já estiveram nas primeiras páginas. Um dia, muitos deles acabarão nas colunas mais escondidas dos jornais (ver este texto de João Gonçalves e os cuidados de Tomás Vasques) e ninguém se lembrará deles. Mas entretanto satisfazem a fome de denúncia. «Corram ao Paço que matam o Mestre!», lembram-se de Fernão Lopes? E o Mestre estava de boa saúde.
No caso desportivo, a esquizofrenia é superlativa. Bandos de justiceiros dizem que a justiça já está feita e que nada será como dantes. Não que haja, até agora, um único julgamento. Na verdade, trata-se apenas de profissões de «fé na culpabilidade dos inimigos». Muitos desses jornalistas limitaram-se, durante anos, a identificar o inimigo com adjectivos e a nunca dar um único passo de «investigação jornalística», que deveria ser o seu trabalho. Covardia pura de quem se satisfaz a esconder-se atrás de uma coluna.
Ontem como hoje, o chamado «desejo de justiça» satisfaz-se com a gritaria e o desejo de vingança. O resto é papel. Gente de papel, aliás.
[FJV]
Etiquetas: Estado das Coisas, Pátria Querida, Política
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