30 abril, 2007

||| Leituras.
O melhor jornal de desporto, às segundas-feiras, é o suplemento de desporto do JN. Gosto de ver as classificações da III Divisão, os resultados da II, saber que o Bragança perdeu com o Messinense e que o Pontassolense se arrasta de derrota em derrota, mas que o Numão empatou fora.

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||| Expressamente copiado sem citar a fonte.
De facto, o João Villalobos tem toda a razão: a secção Gente, do Expresso, publicou uma citação do DNA que tinha sido sido recuperada por João Pombeiro nestas citações. É assim.

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||| Chuva e fumo.

«Pioggia e fumo. Scenario pacato, piovoso e lento. Quasi metafisico. Un cadavere alla periferia di Porto. L’ispettore che indaga si chiama Ramos. Con una flemma surreale fuma il sigaro e riflette ad alta voce con il suo assistente lasciandolo di stucco per le sue teorie su quanto sia meglio la pioggia acida e piena di cloro che cade sulle città rispetto a quella pura ma che porta solo fango nelle contrade di campagna. E altre cose così, cinico e rassegnato al peggio. Ramos riflette con gli echi concentrici della mente del suo creatore, Francisco José Viegas. Si dice che ogni scrittore portoghese abbia in sé l'archetipo di uno degli eteronimi di Pessoa. In questo caso molta parte di Ramos è Alvaro de Campos, almeno per la rassegnazione nichilistica con cui intraprende la ricerca delle origini e della biografia di quel cadavere senza storia. Non è facile seguirlo tra Brasile, Indonesia, Uruguay, ex colonie portoghesi e soprattutto nel suo eterno circumnavigare intorno alle cose. (Lontano da Manaus. tr. it. R. Fregonese, La Nuova Frontiera, 18 euro). No La Reppublica.

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29 abril, 2007

||| Eleições francesas.
Tal como o Luís, eu não voto nas eleições francesas, mas não gosto que me imponham retratos a preto e branco; por exemplo, a RTP já votou e continua a votar em Ségolène, dividindo o mundo em bons e maus e ouvindo apenas os que lhe convém. Nunca mais aprendem; fazem desejar que Sarkozy os deixe pendurados.
Entretanto, Maria José Nogueira Pinto diz (no DN) que Sarkozy já ganhou. Daniel Oliveira diz (no Expresso) que a esquerda já perdeu. Não me parece. Não encomendem lugares sentados.

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||| O cantinho do hooligan. A raiva que isto me dá.
Acabo de receber um mail que termina com «um abraço tipo Jesualdo-que-deixa-o-Anderson-no-banco». A raiva que isto me dá, ver o miúdo no banco e uma certa quantidade de matraquilhos a arrastar-se no relvado.

Eu não queria, Tomás, apostar sobre a tremideira. Mas nada do que é humano nos é estranho.

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||| Revista de blogs. Extrema-esquerda.
«A única coisa relevante no episódio do Chiado - indivíduos de cara tapada a gritar morte ao capitalismo e a praticar simples e inofensivo vandalismo - é a forma como os media se referiram ao assunto. Nem uma vez a expressão "manifestantes de extrema-esquerda" foi utilizada.»
{Filipe Nunes Vicente, no Mar Salgado}

||| Intriga em Família.












O Eduardo lança esta semana Intriga em Família (edição Quasi), textos do blog; lidos num ápice para recuperar a memória dos últimos tempos. Mas, advirto-vos, canibais, a seguir vem aí Cidade Proibida, o seu primeiro romance (será publicado em Maio, edição da Quid Novi), e certamente será «polémico».

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||| Geração perdida.






Manuel S. Fonseca (que tem um dos perfis mais divertidos do Blogger na secção «Interesses»: «Eu não tenho interesse nenhum. É pelo menos o que me diz a moça do café...»), Pedro Norton, Inez Dentinho, Pedro Lains, Paulo Rangel, Jorge Buescu, Brandão da Veiga, Nuno Lobo Antunes, Sofia Galvão, entre outros, animam o Geração de Sessenta, que pretende ser, também, «uma contribuição egoísta para a defesa da nossa própria liberdade». O centro de tudo, diz o Geração de Sessenta, é «um espaço público em que, de modo livre e incondicionado, sem preconceitos, sem dogmas e com uma atitude assumidamente tentativa, se confrontam teorias e concepções distintas, ideias e visões opostas, das quais, em última análise, acabarão por brotar valores que nos implicam com tudo o que tem a ver com a vida contemporânea, da filosofia ao sexo, da arte à política, da história à moral, da liberdade a Deus». Para começar, é bom.

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||| Denúncias.
«A filosofia oficial de combate à corrupção parece partir do princípio que os funcionários públicos são uma espécie de bufos virtuosos, gente incorruptível, incapaz de fazer intriga ou denúncias caluniosas, mas perfeitamente capaz de trair os colegas. O apelo à denúncia é, na melhor das hipóteses, um sinal de impotência e degradação moral das "autoridades" que supostamente deviam combater a corrupção.» João Miranda no Diário de Notícias de ontem.

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28 abril, 2007

||| O cantinho do hooligan. Deu xadrez.









Não vale a pena enumerar os erros deste jogo ou do técnico. Do primeiro ao último minuto, foi uma imperdoável e lamentável equipa de matraquilhos.

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||| O cantinho do hooligan. Sobre rodas.










Hexacampeões. Bi-tri.

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||| Ler por aí.









O livro do mês sugerido pelo Ler por Aí é O Vice-Rei de Ajudá, de Bruce Chatwin. Mas também pode encontrar uma lista de guias de viagem especiais.

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||| O cantinho do hooligan. Diego.
Vi uma parte do Espanyol-W. Bremen outro dia, e Diego lá andava. Não é por esse jogo que se avalia a carreira do jogador durante um ano inteiro. Prometi no início da época acompanhar a carreira de Diego, o futebolista que o FC Porto, a mando de Adriaanse, despachou para o Werder Bremen. O Real Madrid quer, agora, ir buscá-lo à Alemanha, tal como vários clubes italianos. Como adepto exijo que o FC Porto me indemnize.

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27 abril, 2007

||| Fragmento. Cecília Meirelles.












«Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crinças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refelectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. [...]»

[Reprodução de um quadro de Tarsila do Amaral]

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||| Jorge Sampaio.
Havia alguma coisa que me irritava nos seus discursos redondos, cheios de circunferências e arcos de volta inteira. Geralmente, não queriam dizer nada de muito substancial que não se dissesse em meia-dúzia de frases claras e com gramática adequada. Mas justifica-se pelo facto de Sampaio ser, também, um dos herdeiros da tradição barroca da esquerda portuguesa. Discordei dele em muitas ocasiões, sobretudo quando se aproximava um 10 de Junho e o presidente falava de «patriotismo moderno» e «democrático», pedindo «respeitinho pelos políticos», exigindo «atitude positiva» e criticando «a cepa torta»; agiu mal no «caso Santana Lopes», não mandando tudo para eleições mal Durão Barroso anunciou que partia para Bruxelas; acho que ele entendia mal o país e não se dava bem com ele; como recompensa, o país tolerava-o e achava que Sampaio não era prejudicial ao regime. Acaba de ser nomeado para um cargo flutuante, o de alto representante da ONU para o Diálogo das Civilizações. No caso das caricaturas do profeta foi sensato, nunca alinhando pelo lado obscuro da nossa diplomacia da época, que pregou sermões aos portugueses, chamando-nos licenciosos. Nesse caso, defendeu o diálogo e não a submissão ao terror e à limitação da liberdade. O diálogo verdadeiro só pode existir entre homens e mulheres livres. Nisso, Sampaio tem vantagem sobre outras almas cheias de remorso e de tentações. Não sei se é o suficiente, mas é qualquer coisa.

Adenda: Outra questão, inteiramente diferente, é saber se é justificável a sua nomeação ou não.

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||| Derby.
O país anda tão feliz que hoje, sexta-feira, há 13 mil bilhetes por vender na Luz.

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||| Um pouco de silêncio.



O adeus a Mstislav Rostropovitch.

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||| Se puder, não perca.











Hoje, na Igreja de S. Roque, no Largo Trindade Coelho, não perca a leitura do Sermão da Sexagésima, do Padre António Vieira, por José Manuel Mendes, às 21h00. Na iniciativa Os Livros do Carmo e da Trindade, organizado pela Livros Cotovia e integrado na Lisboa, Cidade do Livro.

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26 abril, 2007

||| Hoje, na Casa Fernando Pessoa.










>>> Às 18h30, lançamento do romance Niassa, de Francisco Camacho (edição Asa/Babilónia), com apresentação de José Eduardo Agualusa.

>>> Às 21h30, mais uma edição de Livros em Desassossego, coordenação de Carlos Vaz Marques: com Baptista-Bastos, Dulce Maria Cardoso, Mafalda Lopes da Costa e Carlos da Veiga Ferreira, além de Eduardo Pitta, que lerá excertos do seu romance Cidade Proibida (edição Quid Novi), que será lançado no próximo mês de Maio. O tema, hoje, é «Para que servem os prémios literários?»

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||| Os amigos dos animais.
A criança, de cinco anos, foi atacada por um rottweiler, sendo mordida nas orelhas, braços e pernas e sofre actualmente de perturbação de stress pós-traumático. O tribunal considerou «não existirem indícios para acusar o dono do cão de ofensas à integridade física por negligência».

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||| Coisas esturricadas.
Li, a partir de indicações daqui e daqui, e gostei muito. Vale a pena.

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||| Fé & Religião.
Acabo de ler O Fim da Fé, de Sam Harris (Tinta da China) e recomendo a sua leitura. A tese fundamental do livro é simples e clara: o discurso da religião e a prática das religiões constituem entraves para o entendimento humano e para a liberdade. Ao longo do livro, Sam Harris recolhe exemplos e sabe onde deve atacar. E sabe defender as suas ideias. Os que seguem à risca a doutrina interpretativa de Russell Kirk sobre Burke (que é claustrofóbica e anacrónica), por exemplo, não se dão conta do peso abominável da herança religiosa sobre a política. Sam Harris e Andrew Sullivan, de perspectivas completamente diferentes (Harris é ateu, Sullivan é católico), têm uma experiência que os clássicos não tiveram: enfrentar o fundamentalismo religioso cristão nos EUA. Não é por acaso que ambos lhe dedicam muitas páginas nos seus livros; esse fundamentalismo constitui uma verdadeira caça às bruxas na política. Um liberal à moda antiga não pode desculpar a perversão em que se transformou essa tara religiosa.

Para ler o debate Sullivan/Harris.

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||| CDR.
Portugal tem uma larga tradição de denúncias privadas, mesquinhas, filhas da puta, de vizinhos maledicentes e de velhas taradas. À sua medida, os CDR* portugueses funcionaram sempre em situações de desregramento do poder ou da sociedade. A denúncia de judeus velhos e cristãos novos foi o que se sabe. A denúncia por maldade. A denúncia durante a I República. O denuncismo durante a revolução. A denúncia para as primeiras páginas. A denúncia vergonhosa. A denúncia dos pobres e ofendidos. A denúncia de adúlteros e de sodomitas. A denúncia à PIDE. A denúncia aos padres & às auctoridades. As cartas anónimas que circulam na Administração Pública. A perseguição a quem se queixa com bases legais. A queixinha avulsa (sabem do que estou a falar...). A queixinha por método. A denúncia por hábito. A maldade de vizinhança. O Ministério da Justiça partilha das inquietações da sociedade sobre a corrupção e quer, portanto, comprometer a sociedade nessa luta sem tréguas e sem quartel. Já havia uma Carta de Ética, dos tempos de Guterres; mas agora são os funcionários públicos que estão a ser desafiados. Denunciem. No Brasil há um Disk-Denúncia permanente e abrangente. A sociedade deve vigiar-se. Controlar os vizinhos e combater o tráfico de influência. Ser honesta e não aceitar gratificações. Mas há razões para ter algum medo. Basta conhecer a história da denúncia em Portugal. Há sempre quem tenha dúvidas, que chatice.

* - Comités de Defensa de la Revolución, em Cuba.

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||| Ensino superior.
Leio esta citação deliciosa no blog do Miguel Vale de Almeida e não resisto:

«Sou professora e dirijo uma pós-graduação de Gestão de Eventos na Universidade Lusófona de Lisboa. Actualmente sou professora das cadeiras de Etiqueta, Imagem, Protocolo e Eventos Internacionais, o que me agrada bastante, porque é também uma experiência muito aliciante e enriquecedora.»
O original vem aqui, no JN. Pós-graduação. Ser professora. Etc. Confiram.

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25 abril, 2007

||| Há vozes.
Ouvem-se coisas, ouvem-se coisas. Já não há estado de graça.

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||| Ler melhor.
Chamar bom jornalismo ao que se faz em El Pais até pode ser considerado de bom tom, sobretudo se não soubermos nada do que acontece em Espanha. Parece o órgão central do zapaterismo.

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||| Assim é que devia ser.
Obrigado, Pedro, por esse pedacinho de ironia.

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||| Portas.
Desculpem não alinhar no discurso ético sobre Paulo Portas e o seu regresso ao PP/CDS. Portas vai trazer alguma agitação, o que é saudável para toda a gente. Tenho uma certa pena de Ribeiro e Castro, mas está a fazer falta um cafajeste.

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||| Discursos do 25 de Abril.
Parece que Paulo Rangel fez queixinhas em nome do PSD; parece que José Sócrates, infelizmente, começou a identificar o «bota-abaixismo», tal como Jorge Sampaio falava da «cepa-torta» e da necessidade de «pensamento positivo» (lembram-se de Francisco Cuoco, na novela O Astro?). Não é um bom sinal, mas esperava-se o quê?

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||| TLEBS, o regresso, 2.







Preocupações sobre a TLEBS:

1. A Petição continua de pé: ainda nem sequer foi debatida em plenário da Assembleia da República, como é de Lei. Sobre isso mesmo, o José Nunes enviou a semana passada um pedido ao Presidente da AR reiterando a urgência no agendamento deste debate. Aguardemos. Os deputados da comissão de educação andam entretidos com o quê, exactamente?

2. Sobre esta Portaria que retoma a TLEBS: não só é coxa relativamente ao Secundário como é omissa relativamente ao 1º ciclo do Básico: fala apenas na transposição da TLEBS para os 5.º, 6.º, 7.º, 8.º e 9.º anos. Então e do 1.º ao 4.º? Nada? Cai do céu?

3. Sobre o Secundário: não estão reunidas as condições legais para a realização de exames. Para além de os programas não estarem homologados, a TLEBS entrou no programa quando ainda era um mero documento de trabalho. Sobre esta matéria o José Nunes levantou a hipótese da realização de um inquérito parlamentar ao senhor Presidente da A.R.

4. Espera-se ainda o resultado do pedido de inconstitucionalidade entregue na Provedoria de Justiça. Tal como se espera que os deputados se pronunciem sobre a inconstitucionalidade da lei de Salazar (decreto-lei 47 578, de 10/03/1967), ainda em vigor, que permitiu esta disparatada experiência: os pais e encarregados de educação têm de ser chamados a pronunciar-se e a dar o seu consentimento sobre experiências que envolvam os seus filhos e educandos. Este é um ponto de honra, uma responsabilidade de que não se deve abrir mão para o Estado. Pergunta o José Nunes: «Desta vez foi a TLEBS, para a próxima o que se será? Caso a A.R. não tome a iniciativa de revogação desta Lei, a mesma será pedida ao Provedor de Justiça, de modo formal. No fundo trata-se do que 8.132 pessoas pedem na alinea c) da Petição, que não se esgota na TLEBS, coisa que, se calhar, o Ministério da Educação ainda não reparou.»

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||| De facto.
Via JCD, o caso da condenação à morte de Ayann Hirsi Ali, a autora do argumento da curta-metragem Submissão, que custou a vida ao realizador Theo van Gogh. O imã Fouad El Bayly, que vive nos Estados Unidos, acaba de dizê-lo: «If you come into the faith, you must abide by the laws, and when you decide to defame it deliberately, the sentence is death.» Aqui.

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||| Festejar.











A alegria de um capitão.

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||| TLEBS, o regresso.












Como já tinha escrito, o Ministério da Educação não teve coragem (ao menos científica) para acabar com a trapalhada da TLEBS. Manteve a TLEBS depois de ter mandado suspender a experiência, que estava a dar maus resultados. Como acontece no ensino do Português, tudo o que dá maus resultados é geralmente aprovado pelo Ministério da Educação. Espero que a ministra da Educação ponha ordem nessa corporação.

Hoje, no DN, Vasco Graça Moura retoma o assunto.



















Ver também:

>>> «O Ministério da Educação explicou que a tutela se compromete a garantir que os alunos expostos à nova terminologia e os que tiveram a antiga vão conseguir responder correctamente aos itens apresentados no exame», aqui. O Ministério afirmava que havia erros mas que era necessário fazer exames na mesma. Mais tarde, anunciou que ia suspender a TLEBS.

>>> A petição contra a TLEBS (que continua de pé, portanto), organizada por José Nunes.

>>> Comentário de João Paulo Sousa sobre a TLEBS.

>>> Declarações de Luís Capucha, director-geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular em que assume que a terminologia «tem deficiências» mas não aceita retirá-la das escolas.

>>> Artigo de Vasco Graça Moura no Diário de Notícias: o professor de português «não pode ser obrigado a ensinar o erro».


>>> Texto do Prof. Andrade Peres sobre a TLEBS, arrasador, originalmente publicado no Expresso (destaques aqui): «A falta de qualidade científica da TLEBS, aliada a uma clara ausência de sentido da realidade no que respeita tanto a professores como a alunos, faz desta Terminologia uma verdadeira calamidade que se abate sobre as escolas do país.»

>>> Artigo de Vicente Jorge Silva no Diário de Notícias: «A TLEBS é uma metáfora das trágicas disfuncionalidades do ensino em Portugal. Entre a velha escola autoritária e elitista da ditadura e o vertiginoso experimentalismo pedagógico - é esse, precisamente, o caso da TLEBS - que assaltou a escola democrática e massificada, instalou-se o vazio e o caos. O centralismo burocrático do Ministério da Educação atingiu um ponto insustentável, favorecendo o corporativismo retrógrado dos sindicatos dos professores. [...] Pior do que a TLEBS é impossível.»

>>> Artigo de Vasco Graça Moura no Diário de Notícias: «O ministério não pode forçar os professores de português a uma "licenciatura" em Linguística feita a martelo. E muito menos pode tratar os alunos como cobaias descartáveis. É a sua preparação para a vida que está em jogo. [...] A sobranceria corporativa e despeitada de alguns linguistas autopromovidos a vestais só lhes fica mal. Desautoriza todos os professores que não saiam da sua coutada. E mostra que eles, tão preocupados com a semântica das frases, afinal ainda não perceberam do que se está a falar.»

>>> Texto de Helena Buescu no Público.

Ilustrações de José Nunes.

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||| Blaufuks.
O livro de Daniel Blaufuks, Sob Céus Estranhos (Tinta da China) é um hino à memória e à fotografia.

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||| Multiculturalismo.
O fotógrafo Gal Oppido organiza, em São Paulo, uma exposição sobre «personagens bíblicos nus». Lá vai aparecer a galeria do costume, mas sem roupa. Sintetiza a Folha: «O fotógrafo vem de uma família de mãe católica extremada e pai anarcocomunista, convivendo com amigos espíritas e uma tia umbandista.» Tudo se explica.

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||| Resumo.
Todo um programa: «Em Paraíso Tropical, Ana Luísa (Renée de Vielmond) vai transar com Lucas (Rodrigo Veronese) na casa de Daniel (Fábio Assunção) após descobrir que Antenor (Tony Ramos) a trai com Fabiana (Maria Fernanda Cândido). A novela da Globo teve recorde de audiência nesta segunda: 44 pontos no Ibope.»

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||| 25 de Abril no Brasil.












Francisco Seixas da Costa, nosso embaixador no Brasil, publica o seu livro sobre o 25 de Abril, com as fotografias clássicas de Carlos Gil e Alfredo Cunha. Edição brasileira, também.

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||| Música de 1974.










Em Portugal, na Primavera de 1974, os Terry Jacks sobem ao primeiro lugar do top de discos com «Seasons in the Sun», uma espécie de versão de «Le Moribond», de Jacques Brel. Na mesma lista, logo a seguir, «Sebastian», dos Cockney Rebel (de Steve Harley).

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24 abril, 2007

||| Cabo Verde, de novo.










A propósito deste post sobre a presença judaica em Cabo Verde (e que me levou a ouvir, de novo, uma antiga gravação de Gardénia Benrós, ou Ben Rosh), o Urbano Bettencourt lembra, por mail, o nome do futebolista Henrique Ben David «que andou pelos relvados portugueses nos princípios da década de cinquenta» e que deixou boa memória nos Açores. Na verdade, Henrique Ben David nasceu no Mindelo, em São Vicente, em 1926; em consequência de uma lesão afastou-se do futebol e foi viver para os Açores, onde treinou o Santa Clara. Veio para Portugal com um contrato com a CUF mas foi no Atlético que jogou (estreou-se num jogo contra o Casa Pia; jogou pela primeira vez na I Divisão contra o Boavista, num jogo que o Atlético ganhou por 3-1, com dois golos do caboverdiano), e chegou à selecção, onde alinhou pela primeira vez contra a Inglaterra (derrota por 5-3, mas dois golos de Ben David). No total, jogou oito anos pelo Atlético e marcou 98 golos; com seis internacionalizações marcou quatro.

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||| Pela boca morre o peixe.
Coisas que não se devem dizer:

«C'est sans doute un miracle (rires) ! En tout cas, c'est inespéré.»

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||| Efemérides.
Saudosismo com vinte e cinco anos: o ZX.

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||| Pela boca morre o peixe, 5.












Mais um grupo de frases do livro de João Pombeiro, Pela Boca Morre o Peixe; para terminar:

«Tem esperanças de um dia passar a ser o número um [do PSD]
«Não! Nem pensar! Essa perspectiva está completamente fora do meu horizonte.»
«Por que o diz de forma tão determinada?»
«Porque não tenho qualquer tipo de dúvidas. Tenho noção das minhas qualidades e das minhas limitações.»
MARQUES MENDES, então líder parlamentar do PSD. VIP, 20 de Janeiro de 1999

«Quem anda na política não tem estados de alma. Somos como crianças: tudo o que nos dão temos de aceitar com gratidão.»
PAULO PORTAS, presidente do CDS-PP. Sábado , 04 de Fevereiro de 2005

«Cavaco precisava de ler mais, em tempo oportuno! Essas coisas também se aprendem em tempo oportuno.»
VÍTOR CONSTÂNCIO, antigo secretário-geral do PS. Expresso , 06 de Fevereiro de 1993

«Ser socialista não significa não ser malandro; também os há.»
ANTÓNIO GUTERRES, secretário-geral do PS. Diário de Notícias , 31 de Maio de 1995

«Às vezes fico com a sensação que o dr. Luís Filipe Menezes não é tão esperto como parece. Às vezes parece-me um pouco "burgesso"… Há os que parecem burgessos e não são e há os que não o parecem e são-no.»
ISALTINO MORAIS, presidente Câmara Municipal de Oeiras. O Diabo , 20 de Junho de 1995

«O BE vai ser o partido da alimentação. Queremos saber o que é que os portugueses andam a comer.»
LUÍS FAZENDA, deputado do Bloco de Esquerda. Tal & Qual , 15 de Outubro de 1999

«Têm-me chamado superministro, o que é inadequado do ponto de vista ambiental. A gasolina super acabou. Talvez seja mais apropriado chamarem-me ministro aditivado!»
JOAQUIM PINA MOURA, ministro da Economia e das Finanças. Diário de Notícias , 05 de Novembro de 1999

«Jerónimo de Sousa é uma máquina eleitoral. Simpático, popular e motivador. É o 'nosso' Clinton.»
LUÍS DELGADO, jornalista. Diário de Notícias , 06 de Outubro de 2005

«A política ou é séria e feita por homens de barba rija ou é uma grande mariquice.»
NUNO KRUS ABECASSIS, antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa. A Capital , 05 de Abril de 1991

«Quem pensa que há promiscuidade entre a política e o futebol é um estúpido.»
AVELINO FERREIRA TORRES, presidente da Câmara de Marco de Canaveses. Diário de Notícias , 20 de Maio de 2003

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23 abril, 2007

||| Hoje, livros a partir de 1€, descontos entre 50 e 80%.
Na Casa Fernando Pessoa, hoje, segunda-feira, 23, Dia Mundial do Livro, entre as 10h00 e as 24h00, super-saldo de livros (organização da Sodilivros). Há descontos entre 50 e 80%, e uma secção de livros vendidos apenas a €1. Para cada visitante, há flores e um postal da Casa.
É o início da programação da Lisboa, Cidade do Livro. (Informações permanentes sobre os eventos, aqui.)

Rua Coelho da Rocha, 16, em Campo de Ourique. No espaço do jardim.

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||| Contentamento.
O Nuno Guerreiro tem mantido o seu blog em rigoroso silêncio. Compreende-se: mudança de trabalho, adeus temporário ao jornalismo, etc. Mas são boas novidades. Abril nem sempre é o mês mais cruel.

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||| Eleições francesas.
O grande derrotado, além de Le Pen, é Jacques Chirac. Chorem, crocodilos, pelo grande homem.

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||| Salazar ganha de novo.
Aprendi com o meu avô a desconfiar do homem e a não gostar dele; o meu pai passou-me o vírus (um pobre homem da PIDE acusava-o de não ir à missa...); recebi o primeiro rádio a pilhas da minha vida no dia em que ele morreu. Estudei a oratória de Salazar e li bastante sobre ele, mas passo ao largo. As coisas são o que são. Simplesmente, esta ideia de a Câmara de Santa Comba Dão proibir romagens à campa do homem no dia 28 de Abril, seu aniversário, parece-me imprópria de uma democracia. Salazar não faria melhor, se bem que tivesse feito pior. Deixem essas pobres almas ir em romaria, comprovar que ele morreu.

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||| O mixer.
Pedro Arroja continua a produzir autênticas pérolas de generalização a partir de exemplos que chegam à sua incansável banca de trabalho, mas só depois de devidamente misturados em cocktail. Uma tese por dia. Leiam e aprendam. Daqui a nada, entramos no capítulo da equivalência moral, preparemo-nos.

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||| Cabo Verde.
O Adilson Moreira envia-me, por mail, este artigo em que se menciona a presença judaica em Cabo Verde, assinalando o caso do imigrante Shlomo Ben Shimol, ido de Marrocos para as ilhas. Bom. Em Santo Antão há uma aldeia chamada Sinagoga. Há vários Levi em Cabo Verde. E quem não ouviu falar da cantora Gardénia Benrós (aliás, Ben Rosh)?

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22 abril, 2007

||| Pela boca morre o peixe, 4.












Mais frases do livro de João Pombeiro, Pela Boca Morre o Peixe:

«A acusação de isto ser a sede da Liga é falso. Ligas, aqui na câmara, só as que as meninas usam.»
VALENTIM LOUREIRO, presidente da Câmara Municipal de Gondomar e da Liga de Clubes de Futebol. A Bola, 19 de Dezembro de 1993

«Acredito piamente na justiça divina. E acredito muito em karmas. Acho que estou aqui a pagar por alguma coisa que familiares meus do passado fizeram.»
AVELINO FERREIRA TORRES, presidente da Câmara Municipal de Marco de Canaveses. Grande Reportagem, 1 de Outubro de 2005

«Penso que Mugabe é uma pessoa com os pés assentes na terra, senhor de um grande pragmatismo.»
FRANCISCO PINTO BALSEMÃO, ministro-adjunto do primeiro-ministro.
A Tribuna, 30 de Abril de 1980


«Não é justo nem razoável que persistam enviesamentos masculinocêntricos tão acentuados nas questões políticas agendáveis.»
JORGE SAMPAIO, Presidente da República. Lusa, 8 de Março de 2005

«Engenheiro José Sócrates, vamos vê-lo, um dia, primeiro-ministro?»
«Não! Primeiro, porque não tenho o talento e as qualidades que um primeiro-ministro deve ter. Segundo, porque ser primeiro-ministro é ter uma vida na dependência mais absoluta de tudo, sem ter tempo para mais nada. É uma vida horrível e que eu não desejo. Ministro é o meu limite.»
JOSÉ SÓCRATES, ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território. Dna, 16 de Setembro de 2000

«Quando se sai do Governo pode sair-se de duas maneiras: queimado ou bronzeado. Eu prefiro a segunda.»
PAULO PORTAS, deputado do CDS-PP. Única, 16 de Julho de 2005

«Fechem os olhos e pensem por breves segundos na imagem de Cavaco Silva. Depois, abram-nos e olhem bem para mim e interroguem-se se sou realmente uma ameaça.»
ANTÓNIO GUTERRES, primeiro-ministro. 24 Horas, 4 de Outubro de 1999

«Se houvesse um campeonato nacional de autarcas, o major Valentim seria o campeão; e, na Europa, se houvesse um lugar dos campeões para as autárquicas, Gondomar estaria sempre automaticamente qualificado.»
DURÃO BARROSO, presidente do PSD. Público, 5 de Novembro de 2001

«Isto do Presidente e do Governo é como marido e mulher na lide da casa. Mesmo que o marido diga isto ou aquilo, na casa é a mulher que manda.»
RAMALHO EANES, presidente do Partido Renovador Democrático. Expresso, 17 de Julho de 1987

«Não somos nós que os assustamos, porque estou convencido de que em Portugal se alguém poderia dar garantias aos capitalistas seriam ainda só comunistas!»
ÁLVARO CUNHAL, secretário-geral do PCP. Expresso, 19 de Novembro de 1976

«Portugal é um oásis, é bom pensar nisso...»
JORGE BRAGA DE MACEDO, ministro das Finanças. Diário de Notícias, 28 de Setembro de 1992

«Jardim, queres dinheiro? Vai ao Totta...»
CAVACO SILVA, primeiro-ministro. Público, 19 de Julho de 1992

«É preciso continuar a sacar dinheiro da Europa.»
MÁRIO SOARES, candidato socialista ao Parlamento Europeu. Público, 18 de Maio de 1999

«Sei que o senhor não é crente, mas tenho as provas irrefutáveis, racionais, positivistas de que Nossa Senhora existe. Que é portuguesa. E que é de Fátima.»
PAULO PORTAS, ministro da Defesa, numa reunião com Jorge Sampaio, durante a crise do Prestige. Visão, 27 de Fevereiro de 2003

«Eu sou o princípio e o fim. A vida. Tal como nos Evangelhos.»
ALBERTO JOÃO JARDIM, presidente do Governo Regional da Madeira. Público, 30 de Julho de 2001

«Sabe qual é a coisa que nos une? Ambos estamos no negócio da roupa suja. Eu na política, você na lavandaria.»
MENDES BOTA, candidato do PSD à Câmara Municipal de Loulé, em conversa com a proprietária de uma lavandaria. O Independente, 5 de Dezembro de 1997

«O poder não é para ser namorado, é sim para ser conquistado. O poder está feito para ser possuído.»
MIGUEL VEIGA, advogado e fundador do PSD. Diário de Lisboa, 20 de Março de 1984

«É difícil encontrar no mundo outro lugar onde a mão de Deus e do homem tenham trabalhado com tanta sintonia.»
MANUEL DIAS LOUREIRO, presidente do Congresso Nacional do PSD, em visita à Madeira. Público, 9 de Maio de 2004

«Tenho falta de estrutura política, se tivesse essa cultura, que não tenho, poderia ter sido um Fidel Castro da Europa.»
OTELO SARAIVA DE CARVALHO, comandante do Copcon. Diário Popular, 30 de Setembro de 1975

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||| Assim é que é.
Pedro Arroja tem assinado no Blasfémias uma série de posts em que tenta explicar o mundo com uma margem mínima de erro, mostrando aos incréus como seria fácil as coisas serem mais perfeitas se o mundo fosse outro e se as pessoas não fossem como são. Tão elevado grau de certeza comove qualquer um. Infelizmente, o mundo é um lugar muito mais simpático. Apesar de tudo.

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||| Esquerda.
Depois do episódio da UNI e da tese da conspiração de direita que visava «destruir o governo», José Sócrates precisa de aliados na esquerda. Mas não precisa de dizer que não se lembra «de nenhum outro Governo que em dois anos tenha deixado tantas marcas de esquerda». As pessoas assustam-se.

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||| Divertimento.
É uma das entrevistas mais divertidas deste fim-de-semana (a de J. Pina Moura ao Expresso). É que ele tem razão. Pina Moura diz que a sua aceitação do convite para administrar a TVI «tem um pressuposto ideológico» e que «não há nenhum projecto empresarial que não tenha objectivos políticos, nomeadamente na comunicação social». Mas acha as críticas de Marques Mendes «uma calúnia e uma ingerência intolerável nas opções empresariais legítimas de uma empresa». Vamos lá: uma coisa ou outra, mas nada de garantias de inocência.
O problema é que Marques Mendes, com os episódios do seu passado, não pode fazer críticas dessa natureza sem sentir um arrepio de ligeira vergonha. A verdade é que toda a gente sabe o que está a passar-se mas a lógica manda que depois de uma maré venha outra. É isto uma alegria do centrão.

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||| Pela boca morre o peixe, 3.












Mais umas frases do livro de João Pombeiro, Pela Boca Morre o Peixe:

«Você sabe por que é que o Soares tem votos em Portugal? Você está a ver o funcionário público com 20 anos de carreira que chega a casa e veste o pijama, calça as pantufas, vem à varanda e diz para o vizinho do lado: "Sabes, houve um gajo que meteu um requerimento para fazer isto, mas ele que não pense que o ministro vai deferir porque, primeiro, eu vou ver se levo aquilo ao ministro". Depois fala da gaja boa que passa na rua, a seguir dá um arroto sibilino no meio da conversa e depois senta-se a ver televisão. Este homem de barriga obesa, de casaco de pijama vestido e de pantufas é um pouco a imagem do Soares, do bom pater familias.»
ALBERTO JOÃO JARDIM, presidente do Governo Regional da Madeira. O Independente, 10 de Abril de 1992

«Pegam na pilinha, começam uma mija e tal, fazem uma com uns oitinhos e tal. E pronto, brincam na praia. Agora, aqui dentro do partido, não, porque não é o sítio ideal.»
VALENTIM LOUREIRO, presidente da Distrital do Porto do PSD, dirigindo-se os críticos do seu partido. Diário de Notícias, 8 de Julho de 1999

«Hoje, os lugares de governação exigem capacidade de comunicação e características de liderança, predicados que só se adquirem e exercitam na "universidade" dos aparelhos partidários.»
LUÍS FILIPE MENEZES, presidente da Câmara Municipal de Gaia. Correio da Manhã, 5 de Fevereiro de 2004

«A Miss Portugal 1990 tem 1,81 metros. Repito, um metro e oitenta e um centímetros! Outro feito do cavaquismo ocidental: a raça está a crescer…»
ANTÓNIO BARRETO, sociólogo e comentador político. Público, 13 de Maio de 1990.

«Aqui para nós, estar vestido numa praia de nudistas, só de nudistas, deve ser quase tão saboroso como votar contra num congresso do PC.»
JOÃO SOARES, vereador da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, em resposta a um inquérito de Verão. Público, 5 de Agosto de 1990

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20 abril, 2007

||| Harmonia.













Depois de jantar, Quinta do Infantado, um Vintage de 1999. Pura esteva, ameixas, sol do Douro. Perfeição quase absoluta. Depois de beber mais um pouco, fica restabelecida a harmonia do mundo. Mas o pior é que estão quase esgotadas as reservas do supermercado Tradicional, no Estoril.

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||| TLEBS, parte dois. O regresso.
O Ministério da Educação não teve coragem de pôr fim à TLEBS. Ficou em meias-tintas. A TLEBS foi suspensa mas regressa, não se sabe se depois de revista pelos senhores de uma comissão onde se ouvem uns aos outros e chamam ignorantes aos que têm dúvidas legítimas (a expressão ficou), ou se depois de passada a tempestade. Nessa altura voltaremos à carga. Porque o problema da TLEBS não é «um conjunto de pormenores»; é a sua substância, o seu sentido e a sua quase inutilidade. Espero que a ministra da Educação ponha ordem nessa corporação.

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||| Cabalas.
Se há um debate a fazer, ele seria sobre a natureza das cabalas. A designação é sofrível e inadequada, mas podemos substituí-la com vantagem pela ideia da conspiração. Santana Lopes falava dos encontros de árbitros e dirigentes desportivos em Canal Caveira. Nunca esclareceu. Carlos Tavares publicou um livro em que se queixa de pressões durante o tempo em que foi ministro da economia. De quem? Gostaríamos de saber. O ex-presidente Soares falou ontem de uma grande conspiração contra José Sócrates. Quem está por detrás da conspiração? Octávio Machado dizia que «sabem do que eu estou a falar». Nunca chegámos a saber. Santana Lopes queixava-se de pressões e de influências. Quem? Digam nomes, entrem em polémica, ataquem forte & feio, mas falem em português com sujeito, predicado e, muito especialmente, com complemento directo.

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||| Neura.
Pois, caro João, fico à espera que passe a tua neura. Mas vamos lá discutir isso.

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||| O farisaísmo, 2.
A questão é que os lugares públicos supõem uma ética do serviço público. Muitas vezes, as notícias que perseguem os cargos públicos são irrelevantes, reconheço. Mas convém não arrumá-las todas no mesmo lado da estante, sobretudo na hora de fazer o balanço. Também é verdade que a ética política não se pode arrumar do mesmo lado da ética pessoal, como se sabe. Felizmente que não vivemos num país de moralistas, onde as pessoas não são perseguidas publicamente por excêntricos tarados ou vigilantes de sacristia. A vida sexual dos candidatos não nos interessa. A vida pessoal dos políticos não nos interessa. A vida familiar dos detentores de cargos públicos deve ser protegida. As suas leituras dão-nos uma ideia vaga do que são, mas as pessoas têm direito à privacidade, ao silêncio. A vida financeira dos que ocupam lugares públicos só lhes pertence a eles, desde que não haja uma intersecção com a vida financeira do Estado ou do serviço público. Acredito que há vida pública e vida privada. Mas quem tem vida pública deve saber proteger a sua vida privada. Ou seja: deve manter um padrão exigente na vida pública para que a vida privada não se torne suspeita. Fui – e sou – defensor do direito de Sócrates à vida privada; ninguém tem nada com a sua vida privada e até creio que Sócrates tem sabido proteger esse lado da sua vida. Mas quando um político diz que “se lembrou” de uma pessoa para “determinado lugar” (leiam-se certas declarações de Armando Vara) depois de ter apresentado como recomendação “ser natural de Carrazeda de Ansiães”, há lugar para investigação. No caso dos dinheiros públicos deve ser-se bastante rigoroso. É dinheiro dos contribuintes e nem todos os contribuintes estão dispostos a facilitar a vida. É um direito seu. Fui – e sou – contra a inversão do ónus da prova quando o Estado se põe a desconfiar dos cidadãos e dos contribuintes, como se fosse um pai severo ou um pai extremoso. As coisas podem não nos interessar. Mas existem. Acontecem. Frequentemente acontecem.

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||| O farisaísmo.
O meu amigo Eduardo Pitta gosta de ater-se ao essencial e ao que realmente importa. Como o conheço há muitos anos, sei que esta preocupação de rigor é uma das suas qualidades, que falta em muita gente. Não posso, no entanto, estar de acordo com a natureza & o sentido destes dois posts dedicados ao que o Eduardo designa, ora por farisaísmo galopante, ora por “notícias irrelevantes”. A questão não está na natureza e no sentido dessas notícias e desse suposto farisaísmo – mas na desvalorização de toda e qualquer notícia ou reparo como sintoma de um mal que cerca o bom rumo do governo. Votei Sócrates, fui um desses. E essa condição dá-me alguma legitimidade para falar do assunto (de que falaria mesmo se não o tivesse feito, ou se tivesse votado Santana Lopes ou Bloco de Esquerda, evidentemente): não aceito nenhum poder que não seja escrutinado, sujeito a vigilância e à desconfiança. Acho, mesmo, que essa vigilância e essa desconfiança devem, em certa medida, ser sistemáticas, permanentes. O Estado não é uma coisa particular que possamos entregar a um capataz, consoante ganhe ele as eleições; escolhe-se um primeiro-ministro por ser o que achamos o melhor para todos, por ser o que mais nos convém ou por ser o menos mau dos que se candidatam. Mas, em qualquer dessas circunstâncias, nada nos pode impedir de duvidar, de escrutinar e de desconfiar. Não se trata do mesquinho espírito lusitano ou da miserável mania de estar do lado do contra. Trata-se de ter respeito pela função. Portanto, essa série de notícias que «não interessa para nada» não deve, logo à partida, ser arrumada na categoria das irrelevâncias com o argumento de que houve eleições e pronto. Frequentemente elegemos cafajestes. Frequentemente sabemos que os cafajestes que elegemos são realmente cafajestes – e os cafajestes sabem o que pensamos deles e em que categoria os incluímos. Quem aceita figurar na galeria do poder sabe ao que se sujeita: ser observado e vigiado. São coisas legítimas essa observação e essa vigilância.

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19 abril, 2007

||| Só uma ideia.
































Apenas uma pequena ideia de quem, em Maio (semana de 20 a 28, aproximadamente), vai estar na Casa Fernando Pessoa (com desdobramento na Fnac Chiado): Letícia Wierzchowski (a de A Casa das Sete Mulheres, Uma Ponte para Terebin e Um Farol no Pampa), Paulo Lins (o de Cidade de Deus), Moacyr Scliar (o de A Mulher que Escreveu a Bíblia e O Centauro no Jardim), Tabajara Ruas (o de O Fascínio, A Região Submersa e Netto Perde sua Alma), Tatiana Salem Levy (a de A Chave de Casa), Enrique Vila-Matas (o de Longe de Veracruz e de Suicídios Exemplares), Diego Paszkowski (o de Tese sobre um Homicídio), Bernardo Carvalho (o de Teatro, As Iniciais, Mongólia, Nove Noites), Adriana Falcão (a de A Tampa do Céu, e Contos de Estimação) e Marçal Aquino (o de Miss Danúbio, Famílias Terrivelmente Felizes ou Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios).

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||| Companhia.






A partir de agora, tenho companhia no Origem das Espécies: um co-autor visitante que iniciará em breve as suas colaborações. Manuel Alberto Valente é um bom amigo de há anos, teve em tempos um blog, é editor (da Asa), poeta (ele diz que na condição de poeta bissexto; mas espero que regresse em breve com um novo livro), um grande leitor e um gastrónomo. Tudo virtudes. Além disso – para que não se pense que a ortodoxia deste blog fica abalada – o Manuel Alberto Valente é portista. Evidentemente, é também um darwiniano. Estamos, juntos, a reler A Origem das Espécies.

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||| Livros baratos na segunda-feira. E flores. E postais.
Na Casa Fernando Pessoa, na próxima segunda-feira, 23, Dia Mundial do Livro, entre as 10h00 e as 24h00, super-saldo de livros. Haverá descontos entre 50 e 80%, e uma secção de livros vendidos apenas a €1. Para cada visitante, há flores e um postal da Casa.
É o início da programação da Lisboa, Cidade do Livro. (Informações permanentes sobre os eventos, aqui.)

Rua Coelho da Rocha, 16, em Campo de Ourique. No espaço do jardim.

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||| Pela boca morre o peixe.







Mais frases recolhidas no livro de João Pombeiro:

«Portugal é um oásis, é bom pensar nisso...»
JORGE BRAGA DE MACEDO, ministro das Finanças. Diário de Notícias, 28 de Setembro de 1992

«Jardim, queres dinheiro? Vai ao Totta...»
CAVACO SILVA, primeiro-ministro. Público, 19 de Julho de 1992

«É preciso continuar a sacar dinheiro da Europa.»
MÁRIO SOARES, candidato socialista ao Parlamento Europeu. Público, 18 de Maio de 1999

«Sei que o senhor não é crente, mas tenho as provas irrefutáveis, racionais, positivistas de que Nossa Senhora existe. Que é portuguesa. E que é de Fátima.»
PAULO PORTAS, ministro da Defesa, numa reunião com Jorge Sampaio, durante a crise do Prestige. Visão, 27 de Fevereiro de 2003

«Eu sou o princípio e o fim. A vida. Tal como nos Evangelhos.»
ALBERTO JOÃO JARDIM, presidente do Governo Regional da Madeira. Público, 30 de Julho de 2001

«Sabe qual é a coisa que nos une? Ambos estamos no negócio da roupa suja. Eu na política, você na lavandaria.»
MENDES BOTA, candidato do PSD à Câmara Municipal de Loulé, em conversa com a proprietária de uma lavandaria. O Independente, 5 de Dezembro de 1997

«O poder não é para ser namorado, é sim para ser conquistado. O poder está feito para ser possuído.»
MIGUEL VEIGA, advogado e fundador do PSD. Diário de Lisboa, 20 de Março de 1984

«É difícil encontrar no mundo outro lugar onde a mão de Deus e do homem tenham trabalhado com tanta sintonia.»
MANUEL DIAS LOUREIRO, presidente do Congresso Nacional do PSD, em visita à Madeira. Público, 9 de Maio de 2004

«Tenho falta de estrutura política, se tivesse essa cultura, que não tenho, poderia ter sido um Fidel Castro da Europa.»
OTELO SARAIVA DE CARVALHO, comandante do Copcon. Diário Popular, 30 de Setembro de 1975

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||| Pela boca morre o peixe.













O meu amigo João Pombeiro publica esta semana o seu livro Pela Boca Morre o Peixe. É uma recolha das frases mais gloriosas, luminosas e estapafúrdias dos políticos portugueses da democracia. Todos vamos rir bastante com elas. Há para todos os gostos. A edição é da Esfera dos Livros.

«Ele disse a Guterres para ir arranjadinho, porque as empregadas domésticas gostam disso. É isso que faço, limito-me a aparecer arranjadinho.» José Sócrates
«Não sou Maria-vai-com-as-outras, mas gosto imenso que elas venham comigo.» Santana Lopes

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||| Israel.
O Tiago Barbosa Ribeiro publica o texto de um manifesto das esquerdas sobre Israel:

«O objectivo é reunir subscritores de diferentes quadrantes da esquerda
europeia, no seu sentido mais amplo, com ou sem partido, que defendam com
clareza os direitos legítimos do Estado de Israel e que fomentem um
reposicionamento crítico das esquerdas europeias face ao Estado judaico.»

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||| Distraído.









Não reparei, a tempo, na campanha «Novas Oportunidades». Reparo agora, que vem sempre a tempo.

«A Iniciativa Novas Oportunidades, que procura dar resposta aos baixos índices
de escolarização dos portugueses através da aposta na qualificação da população,
concretiza-se em duas ideias-chave: uma Oportunidade Nova para os jovens e uma
Nova Oportunidade para os adultos.»

Tudo certo. Fundamental. Mas a ideia de uns anúncios publicados na imprensa apresentarem pessoas «que não terminaram os estudos» e que, por isso, são vendedores, funcionários de um hotel ou de um bar, etc., parece-me mais do que esdrúxula. Parece-me escandalosa.

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17 abril, 2007

||| O cantinho do hooligan. Não sei se devo.







Bola na trave é bola mal chutada. Continua a disputa pelo terceiro lugar. E eles vão na frente.

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16 abril, 2007

||| Bienal, resumo do dia.
Ontem, durante um debate na Bienal do Livro, alguém da assistência pergunta se os meus personagens «também são marcados pela melancolia, essa coisa do fado, a tristeza do fado». Eu vivi perseguido pelo fado porque não gostava de fado. A edição alemã de Um Céu Demasiado Azul chama-se Der Letzte Fado [O Último Fado], embora nunca se pronuncie o nome «fado»; tanto a minha agente como a minha editora acharam que era muito bom, como título. Lá foi «fado» no título. Um jornal francês diz que um dos livros está «marcado por John Le Carré e pela melancolia do fado»; uma crítica alemã vê «o espírito e a música do fado» a acompanhar a investigação dos detectives Jaime Ramos e Filipe Castanheira, os mesmos que, noutro lugar são considerados «polícias atípicos, como uma música de fado ouvida a meio da noite». Sucumbi ao fado. Mas eu não poderia dizer que Jaime Ramos ouve canções de Dick Farney, boleros de Lara, e que o imagino a vaguear ao som de canções de Van Morrison. «Olha, eu preferia que eles fossem marcados pelo rock. Mas pode ser fado. Seguramente é fado.» Percebi um certo alívio. Vendi mais uns livros por isso. Obrigado, fado.

||| Revelações.
Quem leu Nelson Rodrigues conhece as suas crónicas sobre os serões de grã-finos. Ontem, durante um jantar tardio com cariocas em viagem à Bienal de Salvador, aprendi o seguinte: sim, a culpa do estado de terror em que vive o Rio de Janeiro vem de há muito – naturalmente; mas o pior aconteceu quando Brizola decidiu que não podiam prender bandidos, porque havia uma ética da bandidagem e porque havia qualquer coisa de belo na bandidagem. A gente conhece dos livros. De desculpa em desculpa até à catátrofe final. Não, os meus convivas não eram de direita.

15 abril, 2007

||| Livros de domingo.
Domingos são quase sempre chatos em todo o lado, mas em Salvador – se não houver praia e estiver aquele chove-não-chove – é ligeiramente angustiante. As livrarias abrem à tarde. Pornopolítica, de Jabor, que me tinha escapado; um romance de Marcelo Rubens Paiva para acrescentar à lista, Malu de Bicicleta; e os contos de Ela e Outras Mulheres, de Rubem Fonseca. Do livro de Jabor li, no táxi, uma entrevista póstuma realizada com Nelson Rodrigues (Jabor trabalhou O Beijo no Asfalto e Toda a Nudez será Castigada, para desconsolo dos mandarins da época):

«Finalmente, os marxistas de galinheiro estão mostrando a cara, rapaz. Eles fazem parte da legião de cretinos fundamentais que infestam o país. Os cretinos fundamentais se escondem sob a capa da revolução, dos títulos acadêmicos, das togas de juízes, da faixa de presidente. Antigamente, o cretino se escondia pelos cantos, envergonhado da própria sombra; hoje, se você subir num caixotinho de querosene "Jacaré" e falar "meu povo", os cretinos formam uma multidão de FlaxFlus. Você pegue o Prestes, por exemplo; ele só fez errar na vida. Tudo o que ele quis deu zebra, de 35 até ao fim... No entanto, quem falar mal do Prestes provoca arrancos de cachorro atropelado no ouvinte: "Não admito, ouviu!?" Esta crise é boa porque revela a burrice da velha esquerda...»

||| Hilariante, a não perder.



Via Corta-Fitas (Nuno Sá Lourenço): ou de como há mais Sócrates em jogo.

||| Código de conduta.
De vez em quando fala-se da adopção de um código de conduta na blogosfera. O tema é recorrente e não parece inócuo, desde que seja adoptado por todos os blogs. Mas nunca deixará de ser facultativo. O passo definitivo para a adopção generalizada desse código de conduta, evidentemente, é o fim do anonimato. Desse modo deixarão de se ouvir queixas sobre esse mundo nebuloso e obscuro «que anda na internet». O que preocupa os queixosos em relação a esse mundo «que anda na internet» não é o anonimato, mas o facto de não se sujeitar aos mecanismos de controle e de validação presentes noutros meios. Este choque tecnológico (a existência da blogosfera) supõe a existência de um choque de natureza mais vasta, que pode passar pela chamada participação dos cidadãos. Não se pode querer uma coisa e limitar a outra. Por mim, aceito a ideia (indiscutível) de um código de conduta; aceito a (discutível) ideia do fim do anonimato. Mas não acho aceitável que a blogosfera seja tratada como um todo, em que, naturalmente, cabe o melhor e o pior da natureza humana. Como em tudo.

14 abril, 2007

||| Acaba de sair.












Um livro do homem que nunca pára, Onésimo Teotónio de Almeida, estes Tales From the Tenth Island.

||| Resumo do dia.







Bienal do Livro de Salvador: durante quase duas horas, Moacyr Scliar fala do seu novo livro, O Texto, ou: a Vida (edição Bertrand Brasil), quase uma antologia, quase uma recolha de memórias. Mas não é do novo livro que ele fala, é das histórias de infância, do mundo da adolescência. Durante quase duas horas, Scliar convoca os demónios da literatura (ele que escreveu 75 livros) e da autobiografia para honrar a obsessão pela ficção, pelos personagens e pelo seu mundo do Bonfim. Nesse tempo, ele contou como era a primeira biblioteca, como era a sua primeira autobiografia, como é o seu tempo nos aeroportos, como era a vida dos emigrantes do Leste europeu no Brasil, como Verissimo não leu o seu primeiro conto.

Novos livros brasileiros no Gávea.

||| Um golpe no bom selvagem.
Naturalmente que posso enganar-me, mas a alteração do Estatuto do Aluno põe em causa muita da tralha ideológica dos corredores do Ministério da Educação (a queixa é da própria ministra, que acha que o estatuto anterior, de 2002, falha «sobretudo devido à sua excessiva burocratização»).
Recordo este texto de há um mês.

||| A má imagem das instituições.
Bolsa de Miss Paraná desaparece misteriosamente depois uma visita ao congresso brasileiro.

||| Esquerda e direita.
As leis do aborto, da procriação médica assistida e da paridade são o que distingue a esquerda da direita? E se alguém de direita vota a favor da despenalização do aborto, da procriação médica assistida e é, com certeza, a favor de toda e qualquer lei que promova a paridade, passa a ser de esquerda?

||| Os amiguinhos.
Os novos amigos de Lula: Jader Barbalho e Orestes Quércia. Leram bem. Mas vejam aqui. O mundo não cessa de nos surpreender.

13 abril, 2007

||| E, portanto.
Como escrevia o Paulo Gorjão e se dizia neste post,«qualquer discrepância entre as declarações do primeiro-ministro e pormenores eventualmente revelados por futuras investigações jornalísticas, será decisiva».

||| Casablanca.
Casablanca fica a cinquenta minutos de Lisboa.

||| Lembrar os professores.
Obrigado ao Luís Januário por isso.

Lembro os nomes de todos os meus professores. O de História, Antero Lopes. O de Ciências da Natureza, Dr. Castro. O de Francês, Peixoto, que nos obrigava a recitar Verlaine («les violons de l’automne…». O de Estudos Literários I e II. O de Expansão. A de Estudos Camonianos. O de Filosofia Medieval. O de Literatura Brasileira, Mário António, que de facto mudou a minha vida de leitor. A de Latim I e II. O de Grego, em aulas depois de almoço, solitárias (éramos apenas dois, suportando poemas clássicos sobre as batalhas do Peloponeso durante as tardes de Maio). O de Geografia, que nos explicou como funciona o sistema de barragens da China. Até os nomes de todas as minhas professoras de Linguística, chomskyanas ou estruturalistas de primeira geração.

||| Esqueçam por instantes o caso de Sócrates.
Evidentemente que o caso da licenciatura de José Sócrates merece outra discussão, mas há uma questão que deve ser colocada a propósito dos «cursos frequentados» por dirigentes políticos já em idade madura. Constituem, sem dúvida, um degrau de aperfeiçoamento. Mas a qualidade das escolas e dos cursos deixa muito a desejar, e o «aperfeiçoamento» nem sempre se refere às qualidades científicas ou humanísticas do aluno.
Rui Curado Silva aborda esta questão aqui. E remata.