30 novembro, 2007

||| Praxe, o regresso.










Em Elvas e Coimbra, dois casos que ajudam a ilustrar a miséria no meio estudantil.
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||| Hoje é o 14.º Aniversário da Casa Fernando Pessoa.











O programa deste ano inclui dezenas actividades com crianças e adolescentes das escolas de Lisboa. Durante toda a tarde, «casa aberta». E, à noite, «Poesia de Entretenimento Científico» com o grupo O Copo [Nuno Moura e Paulo Condesso].

No hall da Casa decorre a partir das 10h00, uma Feira do Livro Pessoano. No jardim, em simultâneo, uma Feira do Livro de Natal (edições recentes para ofertas da época...). Tudo com descontos muito substanciais.
A Feira prolonga-se pelo sábado e durante o dia de domingo.

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||| Taiwan, 2.












O festim acabou sem declaração conjunta porque, naturalmente, não houve tempo; também não tinha havido tempo para falar de direitos humanos. Os direitos humanos são bons para que se exijam direitos humanos aos países que podemos dar-nos ao luxo de criticar? A esses damos lições; ou porque estão longe ou porque não nos incomodam nem podem levantar a voz. Mas à China? Com a China participamos em festins e lamentamos não haver declarações conjuntas. Com a China, respeitinho. Se a China diz para não se receber o Dalai Lama, não se recebe o homem, que diabo. Se a China acha que Taiwan é parte do território nacional e que só há uma China, que diabo, aceitemos. A China pede que nos coloquemos de cócoras? Pois que remédio. É preciso condenar Taiwan porque, lá, querem fazer um referendo? Condenemos. Entreguemos Taiwan à China. Taiwan tem eleições periódicas, mas que diabo, a democracia é um pormenor. E os direitos humanos são bons para os outros, os não-chineses. Os relatórios da Amnistia Internacional são bons para condenar uns; mas os chineses estão fora.
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29 novembro, 2007

||| Intimidade dos sentidos (1)










Sou um grande leitor de pedaços de livros. Ontem, por exemplo, li o primeiro capítulo de Um Diário de Leituras, do Alberto Manguel, dedicado a A Invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares. Ficou-me esta frase do diário de Bioy:

«Sempre disse que escrevo para o leitor, mas o facto de continuar a escrever, numa altura em que os leitores (os leitores a sério, comprometidos) deixaram de existir, é uma prova irrefutável de que escrevo, muito simplesmente, para mim próprio.»

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||| Foram gigantes...








Eu hoje visto de vermelho... mas pelo Braga.
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||| Portugal-Brasil. É hoje.











QUE IMAGEM TRAZEM DO OUTRO AS RELAÇÕES CULTURAIS PORTUGAL/BRASIL?
Há duzentos anos, ameaçada pelas invasões napoleónicas, a Corte portuguesa atravessou o Atlântico e fez do Rio de Janeiro a capital do Império. Dois séculos depois diversos escritores portugueses têm vindo a redescobrir o Brasil em obras de ficção.
Na sessão de Novembro dos Livros em Desassossego, como sempre moderada por Carlos Vaz Marques, o crítico e professor universitário Abel Barros Baptista, o sociólogo Ivan Nunes e os escritores Miguel Real e Francisco José Viegas debatem o estado actual das relações culturais e literárias entre Portugal e o Brasil.
Antes, Hugo Xavier, coordenador editorial da Cavalo de Ferro, escolhe três livros recentemente editados que gostava de ter visto publicados na editora de que é um dos responsáveis.

Hoje, na Casa Fernando Pessoa, às 21h30.

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||| Taiwan.
Tudo calado em redor do assunto. Mas o título do Diário de Notícias de hoje resume todo o programa geral:

«UE 'dá' Taiwan à China e omite direitos humanos.»
Não sei se entendem.
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||| Nas livrarias, acho eu.




















OS DIAS DE GLÓRIA
Envelheces tanto de cada vez que o dia termina
e olhas para trás. Tens medo do começo do fim,
das tardes de domingo; um dia, distraído, tens medo
do sexo, da amabilidade e da noite, e dos rostos
que foram belos – e não são mais. Envelheces muito
quando o mundo contraria as pequenas coisas,
sentes esse cansaço, nada a fazer.
Mesmo da poesia, que iluminava o tempo, vais
colhendo apenas a amargura; os outros procuram nela
sinais de um destino, datas curiosas, zangas, ventanias,
armadilhas, mas tu sabes – e só tu sabes –
que a tua vida é a tua vida e que o poema
é empurrado por outro sopro, por um reflexo,
um medo brutal, pela memória dos que morreram
e levaram uma parte de ti, um pouco do que havia
de comum entre ti e a vida, esse desperdício – às vezes –,
esses momentos de glória em dias felizes.
Envelheces com os ossos que envelhecem. Envelheces
sem querer. Por ti serias eternamente jovem, adolescente,
e percorrerias as estradas das serras, as florestas,
não para viveres sempre, mas para estares vivo
mais um instante, porque o espectáculo é belo
uma vez por outra. Envelheces pouco a pouco,
porque as coisas não são o que foram nem são o que são.



GENEALOGIA, I
Os pais dos teus pais, os filhos dos teus filhos,
é isto uma família? O que separa o futuro daquele lugar
onde os teus mortos repousam? Avós adormeceram,
abandonados, em campas cobertas de terra e xisto.
Foram despedidas rápidas, comoventes algumas, enquanto
os teus desciam à terra e, cá fora, a vida recomeçava
com mais uma ausência. Ficavas para trás. Fiquei para trás
algumas vezes, observando como a tarde morria
depois dos funerais e eu tinha de seguir pela vida fora
acrescentando ausências sobre ausências. Eu sei,
observando-te pela janela (a mim próprio), que tens medo:
a solidão dos anos avança e ninguém tratará de ti,
ninguém te amparará para subires as escadas, ninguém
te levará de visita à terra dos teus maiores para que olhes o rio,
os barqueiros, as ruínas ou os muros das vinhas.
Rodeado de estranhos, tão funesta foi a tua vida,
tão plena, tão feliz, com momentos desprezados e perfeitos.



GENEALOGIA, II
Ouves os ruídos dos filhos, retido na cama. Uma gripe
não te afasta do mundo, mas mostra-te como és fraco;
eles continuam, alegres ou deixando a adolescência,
ou permanecendo crianças, rindo.
Tinhas pulmões de aço, fumadores, adultos,
e um gosto elegante pelo futuro. Fumas de pijama,
na varanda, enquanto os turistas de domingo vão à praia,
saudáveis e comentando as notícias do dia,
vestidos de branco no meio do Verão.
Borboletas nas roseiras, cadeiras na penumbra,
sentes que a morte avisa uma e outra vez,
soletrando o teu nome, aprendendo as tuas sílabas,
o teu caminho, para depois te encontrar mais depressa.
Ouves os teus filhos, comovido. Terás de deixar-lhes
uma herança para além dos livros,
das observações sobre meteorologia, das receitas
de família, das recordações de aldeia.



BORBOLETAS
Noites sem sexo são perfeitas, também: janelas entreabertas,
sombras que passam na rua através das horas, relâmpagos
que não chegam a iluminar as paredes do quarto. Românticos
que se encontram depois de viver vidas paralelas, cansados

– mas enlaçados antes que chegue a hora de partir, sem saberem
se amanhã há outro sono igual, ou uma escolha para fazer.
Os dois sabem que são doidos, estendem os dedos na escuridão
entre as luas. Os dois sabem que mais adiante podem arder
de repente no meio do Verão, consumidos pelos segredos

e pela indiferença. Noites sem sexo são perfeitas, também;
e raras, e condenadas e incompletas. Borboletas no estômago,
batendo asas contra todas as paredes do corpo – não deixando
que ele adormeça, inquieto e insatisfeito, voltado para dentro

e para o passado. Românticos que se encontram quando nenhum
deles esperava outra oportunidade, outro caminho. Nunca estamos
preparados, diz um. Nunca estamos, repete o outro, quando
a primeira borboleta sossega depois de um beijo em dívida.












NEVA EM USHUAIA
Neva em Ushuaia por alguns instantes. São os primeiros
sinais do Outono, vindos de El Martial ao fim da tarde.
Os poetas locais compõem os versos adequados à circunstância
– o Diario del fin del Mundo publicará depois sonetos, odes,
vilancetes e até uma milonga irregular sobre a brancura
que emudece diante do canal. Para isso serve a poesia,
que é mais útil nas pequenas cidades: ilustra os museus, os jardins,
estátuas de almirantes, exploradores, viajantes da Antártida,

almocreves heróicos que atravessaram o estreito de Magalhães
para chegarem a Ushuaia. Neva em Ushuaia e comovo-me
nas ruas molhadas diante das livrarias e das lojas de tabacos,
e digo o nome dos meus filhos, Maria, Manuel, Francisco,
subo as escadarias, vejo a neve diante dos museus, das portas,
vejo os caminhantes que se abrigam nos cafés e olham
com surpresa a primeira neve do Outono. Mudo os meus versos
e empobreço-os, tocados pela primeira neve, a primeira neve

do Outono que cai sobre o fim do mundo, cai sobre a baía,
cai sobre o glaciar, cai sobre a mudez mais fria da pedra,
sobre as montanhas escuras, e nada resta do primeiro verso,
nada fica da primeira palavra, como uma ventania do sul.

Se me Comovesse o Amor
[Edição Quási. Colecção Uma Existência de Papel.]

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|||Vaidade, etc.







Isto é crítica e interpretação literária.
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28 novembro, 2007

||| O cantinho do hooligan. Eu sei que estavam à espera.







A verdade é que vi quase toda a primeira parte e adormeci ao intervalo. Quando acordei, já íamos na cabazada, coisa que não me indispôs nem me encheu de orgulho, mas me obrigou a acordar. Felizmente que o Pedro Marques Lopes já tinha tratado do assunto em dois momentos; aqui e aqui. E não temos de ganhar não sei onde para podermos ir à Taça UEFA.

P.S. - Já li, Pedro, e vou tratar de enviar o postal de volta.

P.S. 2 - Eu sei que te dá gozo, Tomás, eu sei. É a nossa modesta contribuição. Mas estás convidado para a celebração de Maio próximo. Coisa para se festejar com amigos.

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||| Finisterra.
Sem navios, o mar seria uma obsessão como outra qualquer. Este homem é um coleccionador de obsessões.
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||| Revista de blogs. Questões gerais.
«Uma gata com cio oferece-nos o lado impudico da natureza e a televisão ao lado, a libidinosa televisão a debitar moralidades sobre o comportamento íntimo dos políticos, não ajuda.»
{Rui Ângelo Araújo, no Canhões de Navarone.}
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||| Revista de blogs. Princípios gerais de electrodinâmica.
«Mulher de 40 tem o dobro do fogo de uma de vinte e metade da vergonha.»
{No Três de Trinta.}
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||| Revista de blogs. Curriculum.
«Sem qualidades, completamente desapegado do mundo e dos seus habitantes, anti-social, pouco sorridente, pouco confiante, pouco falador, pouco engraçado, nada divertido, anti-dinâmico, nada trabalhador, céptico, patético, imbecil, idiota, parolo, labrego, ignorante.»
{
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||| Revista de blogs. A procissão dos dias comuns.
«Isto está tudo mais ou menos em fase “o caralho”. Autenticamente fase “o caralho”, que é o interlúdio indefinido entre a vaga sossegada e o apocalipse. A paciência a roçar o zero negativo. Os créditos em mãos alheias. O spread, a euribor, a cotação do crude em pipo Brent. O preço do açúcar mascavado e o senhor comendador Joe Berardo a perorar. Quase a acreditar que o pai do menino Jesus não é um amigo imaginário, mas é uma encarnação vetusta do Jack Bauer. Quase a admitir que há virgens em segunda mão e que, no fosso ou no paraíso, elas são como o alecrim aos molhos.»
{Segismundo, no Albergue dos Danados.}
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||| Revista de blogs. Livros à nossa espera.
«Devemos prestar atenção aos livros em saldo, aqueles que pouca gente quis.»
{Alexandra Barreto, no Animais Domésticos.}
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||| Revista de blogs. Mais histórias de NY.
«Hoje no metro entrou-me uma coisa para o olho. Tinha um metro e oitenta e era morena de olhos azuis.»
{No Vontade Indómita}
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||| Revista de blogs. Histórias de NY.
«Caiu ontem a primeira neve do ano na cidade. Levei ontem o meu primeiro não. Vai ser um longo Inverno.»
{No Vontade Indómita}
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||| Conservador, deprimido e abstémio.
O blog do Tiago Galvão tem preciosidades que vale a pena ler sempre. «A uma semana da minha primeira conferência, sou uma personagem de V.S.Naipaul. Para parecer inteligente é só olhar o vazio, comunicar por monossílabos e babar-me a espaços. Para seduzir uma mulher, aconselha um amigo, é «só» simular naturalidade, não estar bêbado e estar atento às bêbadas. Sinto aquela ansiedade de Willie Chandran, antes de se encontrar à socapa com a namorada honorária do melhor amigo e perder a virgindade.»
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||| Purga em Angola.
Ouça, aqui, a entrevista de Dalila Cabrita Mateus sobre o seu livro Purga em Angola.

Outras entrevistas recentes: Maria Filomena Mónica sobre Cesário Verde, e Pedro Aires Oliveira sobre o seu livro Os Despojos da Aliança.

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||| Portela + 2.
Por muito que aprecie «os estudos sobre o novo aeroporto» e o trabalho de Rui Moreira, gostaria muito que a opção escolhida fosse a da Portela (para voos, digamos, domésticos ou peninsulares ou semi-europeus, uma vez que já há um terminal com mangas, podendo reservar-se o actual Terminal 2 para todos os responsáveis políticos que aprovaram aquela merda) + 1 Alcochete (para voos, digamos, europeus e transatlânticos, incluindo uma plataforma de tiro a maçaricos-de- bico-direito e pombos-torcazes), + 1 Tires (rotativamente, de acordo com os voos que me forem destinados, uma vez que fica ao pé de casa).

Uma coisa é certa: refaçam as contas sobre os financiamentos* porque o assunto já não nos é indiferente.
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||| Agora, que está a começar o Inverno europeu.


Basicamente, é para provocar inveja. A mim próprio.
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27 novembro, 2007

||| Fónix.
A nova rede de telemóveis dos CTT (a rede 922) vai chamar-se Phone Ix.
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||| Religião para fins pacíficos.
«Uma professora primária britânica que trabalhava no Sudão foi presa na capital do país, Cartum, e está sujeita a uma pena de 40 chibatadas pela acusação de blasfémia, por ter permitido aos seus alunos baptizarem um ursinho de pelúcia de Maomé.» Sei que o facto de estar a ler o livro de Christopher Hitchens pode agudizar a reacção a notícias deste tipo, mas enfim.
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||| Parabéns.
Parabéns atrasados ao Maradona, pelo blog renovado. Parabéns ao Rodrigo por mais um ano de Blue Lounge Cafe. Parabéns ao 31 da Armada pelo primeiro aniversário. Parabéns ao Jorge Fiel, ao Manuel Queiroz & Cia pelo Bússola. Parabéns a Ana Gomes e Vital Moreira por mais um aniversário do Causa Nossa.
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||| Mensagens grátis.






Por mim e muitos pais de adolescentes, as companhias de telemóveis deviam ser proibidas de engendrar esse negócio chamado «mensagens grátis». Para já, está a deformar-lhes os polegares e indicadores; depois, obriga-os a dedilhar em deficiente português; finalmente, é insuportável vê-los a enviar e receber mil ou 1500 exactas sms durante o período de promoção das «mensagens grátis». Sim, já sei, podemos roubar-lhes o telefone. Mas ninguém nos livra de, na rua, no metro, nos comboios, ouvir aquele toquezinho «timtim», «tomtom», «timtimtom», mais uma mensagem que chegou, mais uma mensagem enviada. Os adolescentes comunicam demais; as empresas de telemóvel estão a lixar-nos a vida.
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||| Barzun, de novo.












Leo Wong teve a gentileza de enviar o link do seu blog inteiramente dedicado a Jacques Barzun. Ver também o seu site comemorativo The Jacques Barzun Centennial.
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26 novembro, 2007

||| Lapidação.
Caro Pedro: antigamente, as pessoas olhavam-se, à mesa do café, e um deles dizia: «Vamos a uma polémica.» Pois bem: na falta da mesa do café, vamos a uma polémica. Não acredito que a irritação contra Scolari seja motivada pelo facto de ele ter levado a selecção portuguesa ao Euro 2008.
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||| Constrangedor.
Welcome to the club.
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||| Livros no Brasil.
Ao contrário do que se quer fazer crer, quando isso é conveniente, não é verdade que todos editores brasileiros insistam em mudar a ortografia portuguesa nas edições daquele lado do Atlântico. Pode acontecer, simplesmente, que se proponha a modificação de alguns termos que soam estranhos ao leitor brasileiro, mas a regra seguida -- e na maior parte dos casos, rigorosamente seguida -- é a de manter a ortografia original.

P.S. - Pessoalmente, não tenho nada contra a alteração da ortografia.

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||| Outras lembranças.










O Pastoral Portuguesa lembra, oportunamente, que se assinala por estes dias o centenário de Jacques Barzun. From Dawn to Decadence: 500 Years of Western Cultural Life, 1500 to the Present, traduzido como Da Alvorada à Decadência: De 1500 à Actualidade - 500 Anos de Vida Cultural do Ocidente (edição Gradiva) é um dos livros mais importantes do século XX (foi originalmente publicado em 2000). Em poucos estudos de conjunto se encontra um tal brilho, um retrato tão intenso da cultura do Ocidente e uma síntese que dê tanta vontade de ler, com páginas notáveis sobre Shakespeare, Descartes, Montaigne, Dorothy Sayers ou Walter Bagehot, e uma panorâmica tão surpreendente sobre as eutopias do século XVI até Rousseau.

Leia, aqui, uma entrevista de Barzun à Veja.

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||| Devaneios.
O Ricardo lembra, oportunamente, que o Aki Kaurismäki é adepto do FC Porto. Sim, os leitores do Ipsilon deviam sabê-lo.
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|||Memorial às vítimas do massacre de Lisboa em 1506.









Está a decorrer uma recolha de assinaturas online para a instalação, em Lisboa (Largo de São Domingos), de um Memorial às Vítimas da Intolerância, evocativo do massacre judaico de Lisboa de 1506. Assinar aqui.
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25 novembro, 2007

||| O cantinho do hooligan. Um elogio a Quaresma.













Devia existir uma espécie de guarda de honra em redor de Quaresma, para recuperar as bolas que ele perde e entregar-lhas outra vez, para que ele possa repetir a finta ou fazer de novo o que ele fez a Adalto, passando-lhe a bola por cima. Valdano, há tempos, escrevia sobre essa arte de fazer coisas estranhas, próximas do talento puro, situando Quaresma entre os grandes artistas. Mas Quaresma é solista de outra música. Há jogadores que tomam o seu lugar numa grande orquestra; há os que reconhecemos em música de câmara; há os solistas extravagantes, como Cristiano Ronaldo (que os scolarianos perseguiram à pedrada durante um ano inteiro) ou Messi, que não podemos perder de vista. E há os que saltam para o palco ora a solo, ora com o seu grupo, bailaores, cantaores e guitarristas. Sentem-se bem no tablao; não compreendem que interpretam um papel de tragédia, mas sabem passar do cante corto para o cante grande com um silêncio demolidor. A metáfora é propositadamente gitana. O cante p'alante deve ser escutado pelo público e a estrela é o cantaor; Quaresma interpreta-o algumas vezes, em trivelas fantásticas. Mas ele dá-se bem com o cante p'atrás, onde serve o conjunto de bailaores principais, e essa é uma virtude rara. O golo de hoje arrancou-lhe um sorriso aberto, largo, que o acompanhou até ao final como um jaleo cheio de brilhos adolescentes, tra tra tantan, trajili trajili traji, sons desconexos, mas sempre com voz afillá, rouca, de bandoleiro.
Sob a perseguição e pressão da inveja, Quaresma jogou os noventa minutos com a ameaça do cartão amarelo que o impediria de jogar na Luz no próximo sábado. Maturidade e aposta; Jesualdo compreendeu este desafio e deu-lhe a oportunidade de praticar a sua arte sobre o fio da navalha. Num jogo absolutamente mediano e calculado, Quaresma regressou aos golos e sorriu. Ele merece.


Outras notas sobre o jogo:

Carlos Xistra. O árbitro era medíocre. Reconhece-se um árbitro medricas quando ameaça os jogadores com aquele olhar de «não permito isso, eu tenho todo o poder». Xistra conseguiu mostrar o primeiro cartão amarelo a Raul Meireles ao fim de onze jornadas, essa foi a grande novidade.
Lucho. O primeiro golo foi Lucho, com dois fragmentos de passe interpretados como uma milonga, por entre as pernas de um central do Setúbal. Depois, Lisandro a servir. Daí a nada, com dois dribles na área, Lisandro falhou injustamente.
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||| Bellini.










Os livros de cabeceira: o de Christopher Hitchens, Deus Não é Grande, quase concluído (para noites bissextas); o de Zadie Smith, Uma Questão de Beleza (três capítulos de fim de tarde, na varanda); o de Gonçalo M. Tavares, Aprender a rezar na Era da Técnica (ainda não comecei); e os de Tony Belloto, que me ajudam a adormecer (também há o novo Harry Potter, mas guardo-o para a temporada idiota que se aproxima). Depois de Bellini e o Demônio, em que há um manuscrito perdido de Dashiell Hammett, estou agora com Bellini e os Espíritos, onde aparece um taxista paulistano chamado Elvis Presley da Silva.
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||| A Origem das Espécies.













Há 148 anos, assinalados ontem, Charles Darwin publicava The Origin of Species. A ler, no sempre excelente De Rerum Natura, a evocação da data, num post de Palmira F. da Silva.
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||| Um Solar para a poesia.










Tiveram ontem lugar os 3ºs Encontros Internacionais de Poesia promovidos pelos CS Hotéis. As duas primeiras edições realizaram-se no CS Suite Hotel de S. Rafael (Albufeira); a edição deste ano mudou-se para o Douro, tendo como cenário o Solar da Rede, em Mesão Frio.
Eduardo Pitta, Helga Moreira, Maria do Rosário Pedreira, Fernando Pinto do Amaral e valter hugo mãe foram os poetas portugueses presentes; de Espanha veio Juan Carlos Mestre.Para além da noite de poesia, os poetas e jornalistas presentes puderam usufruir da qualidade hoteleira e restaurativa, quer do Solar da Rede, quer da Vintage House, no Pinhão, unidades que integram agora o grupo CS.
Cabendo-me desde o início a missão (fácil) de coordenar estes encontros, regozijo-me com duas coisas:- a disponibilidade de uma empresa privada para apoiar uma iniciativa cultural minoritária;- o ambiente cordial que se consegue criar entre poetas de gerações muito diferentes, transformando um recital de poesia num convívio fraterno e enriquecedor, em que não há ânsias de protagonismo nem invejas.
Foi assim em 2005, foi assim em 2006, voltou a ser assim em 2007. E já lá vão 17 poetas: 13 poetas portugueses e 4 poetas estrangeiros.
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||| Curiosidades poéticas.










«Stalin es el mediodía/ la madurez del hombre y de los pueblos... Stalin alza, limpia, construye, fortifica/ preserva, mira, protege, alimenta.»
[Pablo Neruda, poema «Camarada Stalin»]

«Padre y maestro y camarada:/ quiero llorar, quiero cantar./ Que el agua clara me ilumine,/ que tu alma clara me ilumine en esta noche/ en que te vas.»
[Rafael Alberti, poema «Stalin ha muerto»]

«Stalin capitán,/ a quién Changó proteja y a quien resguarde Ochún/ A tu lado, cantando, los hombres libres van.»
[Nicolás Guillén, poema «Canción a Stalin»]

Em poemas com endereço, assim, prefiro a sinceridade daquele poeta, português e tudo, maneirinho: «Ó meu querido Partido/ Comunista Português:/ Ao dares à vida sentido,/ Deste-me a vida outra vez.»
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||| Cerveja maldita.
Não tem importância, mas ao fim da tarde de domingo, o site Orgulho Hetero tinha sido retirado do ar e o site da cerveja Tagus não lhe fazia qualquer menção. A patrulha venceu. Sobre uma campanha sem jeito, mas venceu. País de plástico e de covardes.
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||| ASAE?
E se a ASAE fosse a Madrid? Retrato de algumas casas que fechariam na capital espanhola, antes de a ASAE ser encerrada.
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||| A não perder.










A não perder, sob nenhum pretexto, a crónica de António Barreto no Público de hoje: «Eles estão doidos!»

«Os cozinheiros que faziam no domicílio pratos e “petiscos” a fim de os vender no café ao lado e que resistiram a toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada, podem rezar as últimas orações. Todos os que cozinhavam em casa e forneciam diariamente aos cafés e restaurantes de bairro sopas, doces, compotas, rissóis e croquetes, podem sonhar com outros negócios. Os artesãos que comercializavam produtos confeccionados à sua maneira vão ser liquidados.
A solução final vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias, os inspectores, os fiscais, a imprensa e a televisão. Ninguém, deste velho mundo, sobrará. Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, que não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas industriais e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado.
Esses exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo; organizam-se no governo nacional, sob tutela carismática do ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho; e agem através do pessoal da ASAE, a organização mais falada e odiada do país, mas certamente a mais amada pelas multinacionais na gordura, pelo cartel da ração e pelos impérios do açúcar.
[...]
Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas, refrigerantes e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos de plástico.
Vender, nas praias ou nas romarias, bolas-de-berlim ou pastéis de nata que não sejam industriais e embalados? Proibido. Nas feiras e mercados, tanto em Lisboa e Porto como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias semanais e levam tudo quanto é artesanal: azeitonas, queijos, compotas, pão e enchidos.
Na província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas e ovos? Proibido.
Embrulhar castanhas em papel de jornal? Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
[...]

Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou. Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou. É proibido.
[...]
Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira que faz isto há trinta anos? Proibido.
As regras, cujo cumprimento leva a multas pessadas e ao encerramento do estabelecimento, são tantas que centenas de páginas não chegam para as descrever.
[...]
Tudo isto, como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde. Para modernizar a economia. Para apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois claro.»
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||| Constitucionalistas venezuelanos. Perdão, espanhóis.









A edição do ABC de hoje mostra o rosto do principal constitucionalista de Hugo Chávez; trata-se de Roberto Viciano Pastor, professor de Direito Constitucional na Universidade de Valencia (titular da Cátedra Jean Monnet sobre Instituições Comunitárias), e ex-militante do grupo franquista Fuerza Nova. Além de trabalhar para Chávez e defender a auto-determinação do País Basco, Viciano é igualmente assessor de Evo Morales (Bolívia) e de Rafael Correa (Equador), tendo sido conselheiro do nacionalista peruano Ollanta Humala. É ele o pai do projecto da nova constituição a referendar no próximo dia 2 de Dezembro. Olé.
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|||Memorial às vítimas do massacre de Lisboa em 1506.












Está a decorrer uma recolha de assinaturas online para a instalação, em Lisboa (Largo de São Domingos), de um Memorial às Vítimas da Intolerância, evocativo do massacre judaico de Lisboa de 1506. Assinar aqui.
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||| Revista de blogs. Leitura.
«Harold Bloom revelou, no último número do The New York Review of Books*, que decidiu voltar a ler Shakespeare em vez da Bíblia, depois de ter regressado à vida, em Agosto, na sequência de alguns dias de internamento a recuperar de uma síncope. E a conclusão tornou-se óbvia: “Não há separação entre vida e literatura em Shakespeare”.»
{Luís Carmelo, no Miniscente}
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||| Revista de blogs. Pele.
«Um beijo numa pele macia ( e caberá ao leitor a escolha da superfície), por trivial que possa parecer, não terá preço quando já não houver pele para beijar. O nosso tempo conta connosco, o futuro conta com os outros.»
{Filipe Nunes Vicente, no Mar Salgado}
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||| Revista de blogs. Figo.
«Caríssimo Figo, foste muito bom e ainda és. Mas peço-te que não voltes à Selecção. [...] Vamos deixar a próxima geração à sua sorte, desgraçando-se, se tiver que ser, às suas próprias expensas.»
{Bruno Sena Martins, Avatares de um Desejo}

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||| Revista de blogs. Perfeitamente.
保険の加入を考えるときには、保険料がいくらになるのか 良く考える必要があります。保険の相談をするときにも、この保険料の計算はしておく必要があるでしょう。生命保険、火災保険、学資保険などは
この計算が大事だと思います。
{Kozima, no Tomara que Caia}
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||| Revista de blogs. Queriam.
«A nós, solteironas feministas, nenhum homem nos faz o ninho atrás da orelha. Queriam, mas está para vir o dia.»
{O Mundo Perfeito}

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||| Revista de blogs. Três remates.
«Na segunda parte o Sporting vai jogar pior mas acredito que terá a devida compensação dessa inevitabilidade e marcará 3 golos em 2 remates.»
{Besugo, no Blogame Mucho}
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24 novembro, 2007

||| O interior.










O presidente da República lamenta a desertificação do interior e o presidente da Câmara de Gouveia informa que nos últimos anos perdeu 3000 pessoas. A última grande iniciativa lançada para fixar empresas e pessoas «no interior», lançada pela então ministra Elisa Ferreira, previa uma festa com a redução de 5% no IRC. Mas a realidade é esta: um quarto do território com três quartos de população; três quartos do território com um quarto da população.
De vez em quando, o país inteiro (três quartos da população, um quarto do território) dá-se conta de que existe um país incompleto (um quarto da população, três quartos do território). O “país incompleto” pesa pouco na balança dos créditos e constitui uma ameaça para o orçamento, cada vez mais apertado quando se trata de financiar “regiões improdutivas”. Para uma economia estritamente liberal, seria conveniente arrendar esse território e ceder à exploração de uma entidade privada essa parcela populacional. O Estado lucraria imenso e livrar-se-ia de uma grande parte da taxa de analfabetismo, de agricultores humildes, de funcionários da administração pública, de guarda-rios, de professores deslocados e de médicos que ambicionam viver em Lisboa, Porto ou Coimbra. Três quartos da população (ainda que confinados a apenas um quarto do território) talvez não rejubilassem, porque grande parte deles conserva a sua condição de emigrantes na periferia das três maiores cidades, mas os responsáveis pela administração do Estado sorririam à ideia. De vez em quando há problemas em Miranda do Douro, em Portalegre, em Mogadouro, em Almeida, em Pias, na Covilhã ou na ilha do Corvo. Lamentáveis ocorrências apenas explicadas pela incúria e inoportunidade desse “país incompleto”. Sejamos realistas: metade do país não rende. Quer dizer: não é prestável do luminoso ponto de vista da rendibilidade económica. De resto, só défice. Esse “país incompleto” é bom apenas por poucos motivos: oferece uma boa área para que as estradas que vêm de Espanha e do resto da Europa atinjam o litoral sem problemas de maior, pontuados aqui e ali de bombas de gasolina, de restaurantes e de lojas de artesanato; e é “a terra” de muita gente que vai lá às romarias ou ao jantar de Natal. De resto, tirando o turismo de habitação, o país vinícola no Douro e no Alentejo, o circuito dos hotéis de charme e o esforço triplicado dos que vivem mesmo «no interior», o litoral vê o resto como hortas, pastagens e muita pedra. Não está posta de parte a hipótese de arrendar essa parcela do território. Ficariam com a bandeira portuguesa, sim. E até se mandariam professores. Mas, que diabo, seriam administrados por uma empresa que garantiria que o orçamento de Estado não geraria défices assombrosos com essa terra de ninguém que era bom entregar ao turismo rural e à “literatura fantástica” que se encarregaria de divulgar as suas potencialidades para os fins devidos. Quando há eleições autárquicas, autarcas dinossauros ou estreantes aparecem nas pantalhas. Os comentadores têm em conta a expressiva votação em Almeida ou em Vimioso, como no Alandroal e em Aviz? Não. Eles sabem que se trata de um quarto da população, três quartos do território. Esse país terá cartazes, outdoors, visitas do Tribunal de Contas e da IGAT. Tem estradas e IP, “acessibilidades” e Pólis, mas duvido muito que perceba as incidências do défice. Está em défice há muito tempo. Devíamos pensar nele por um instante.
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||| Acordo ortográfico.
Tanto me faz. O «acordo ortográfico» para a Língua Portuguesa não faz mais do que alterar a grafia de 0,45% de palavras escritas em português do Brasil e menos de 2% do português de Portugal (sendo o «português europeu» o padrão dos países africanos). Por isso, reparo agora nesta coisa esdrúxula de a ministra da Cultura portuguesa pedir uma moratória de 10 anos para a adopção integral do acordo. Quatro anos no Brasil, dez anos em Portugal?

Também acho estranho que a SPA e a APEL insistam em iniciar agora um período de discussão alargado e um «debate público e institucional sobre a matéria». Desde 1990 que o protocolo inicial está assinado para ratificação política depois de dez anos de elaboração das bases pela Academia de Ciências de Lisboa e pela Academia Brasileira de Letras. E houve debate público, na imprensa, nas faculdades, nas «instituições».

O pior dos argumentos dos defensores do Acordo: «Os inimigos do Acordo acham que a ortografia é uma coisa sagrada, que seria pecado alterar». Em certa medida, a ortografia devia ser sagrada e respeitada; mas ser sagrada e respeitada não significa ser inalterável de acordo com o costume, que é um valor a ter em conta.

O pior dos argumentos dos adversários do Acordo: «Não me roubem o c de insecto ou o p de baptismo». Na verdade, tanto o c como o p dessas palavras não se pronunciam. Batista já não é Baptista há tempos. No Brasil idéia e vôo passarão a ideia e voo. E ficarão sem o trema de tranqüilo (com os lamentos de João Ubaldo Ribeiro, que dorme abraçado ao trema).
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|||Histórias nem por isso secretas.







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23 novembro, 2007

||| E não esqueçam!













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||| Tagus para quê?
Não é escandalosa, nem ofensiva, nem homofóbica. Fica na memória, mas eu não a subscreveria nem imaginaria. A campanha da cerveja Tagus poderia ser muito melhor. Poderia, até, ser boa. Mas a reacção indignada, acusando-a de homofóbica, é mais ridícula do que a campanha propriamente dita e configura uma patrulha sobre toda e qualquer linguagem, engrossando a classe dos coitadinhos. O Boss, no Renas e Veados (li via Insurgente), vem temperar uma polémica que ainda não nasceu verdadeiramente mas que apenas causa estragos idiotas.

Só mais uma nota. A Tagus é uma boa cerveja e produz, inclusive, uma boa dunkel.
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22 novembro, 2007

||| Atrevimento.
O senhor ministro da Justiça acha que as declarações do Procurador-Geral se devem a desconhecimento ou a atrevimento. De facto, se são um atrevimento, então o senhor ministro sempre pode castigar o atrevido. Metê-lo na ordem. Ou ele não é um funcionário público?

Note-se que a frase «Ou ele não é um funcionário público?» é uma pergunta.

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||| TVLula.
A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) entrará em formação em Dezembro: é a rede pública de televisão, uma espécie de TV Lula, criada com a Radiobrás e a TV Educativa e destinada a veicular «informafão pofitiva fobre o Brasil». Para dirigir a EBT, Lula nomeou Tereza Cruvinel, jornalista e militante da Convergência Socialista na fundação do PT, e Orlando Sena, ex-director da Escuela Internacional de Cine y Televisión de Cuba. No conselho-geral está um dos novos indefectíveis lulistas de eleição, Delfim Netto. Sim, Delfim Netto, ex-ministro, ex-deputado, foi um dos signatários do AI5 que instituiu o período mais negro da censura durante a ditadura militar brasileira, além de ter sido um dos responsáveis pelo encarceramento de vários oposicionistas, entre os quais Mário Covas. Eba.
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||| Vacas.
Aquelas vacas da Cowparade, agora no Rio de Janeiro, foram atacadas pelos defensores dos animais.
Há umas semanas já tinham sido humilhadas, coitadas, quando um jornalista pediu à cantora Björk para não andar nas ruas do Rio, para não ser confundida com uma delas.
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||| Ele não gostava.
Mas não interessa. Está na rede já desde há dias o blog do Pedro Rolo Duarte; tem uma secção a seguir com interesse, «As Coisas que eu Sei».
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||| Cartão único.
A princípio leva-se a notícia na conta de uma anedota: em Inglaterra, os dados pessoais de milhões de pessoas andam a flutuar, na rede, ou na poeira da rede, ou em lado nenhum. Que engraçado, olha o que os ingleses perderam. Claro que «was no evidence the information “has found its way into the wrong hands”»; claro que é fácil encontrar um culpado para o desastre; claro que ainda não se sabe bem o que se perdeu. Mas pensem, pensem bem no que pode andar a flutuar.
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||| Música portuguesa, cultura portuguesa, todos nós, 2.
Dos comentários a este post, um dos últimos, assinado pelo João Bonifácio, questiona-me directamente: «Não percebo porque é que tem de vir a conversa do bacalhau e da sardinha e da Claudisabel. Portugal é isso? Ou o Francisco tem medo que Portugal seja isso (ou tem medo disso)?»
Não. Não e não. Eu acho que a Claudisabel é Portugal e não me envergonho disso (sei que a menção à Claudisabel tem alguma coisa a ver com a minha tendência para a devassidão). E o bacalhau também é nosso. E a sardinha. Do que eu discordo é, também – e muito – do benefício atribuído aos compositores e executantes de «música portuguesa», que estão supinamente defendidos da «invasão estrangeira» por meio da política de quotas.
O João Bonifácio pede para que se «discuta racionalmente a questão». Pois cá estamos. Primeira pergunta: por que razão há uma vantagem da «música portuguesa»? Acha que é «caricatural» invocar os nomes de Claudisabel, de Clemente ou dos Delfins (para nos mantermos naquilo que é tendencialmente kitsch)? Eu acho que são exemplos naturais e elementares. Segunda pergunta: se o princípio das quotas é válido para a «música portuguesa», por que razão não há-de ser válido para outros domínios? Se o legislador pode «evangelizar» a propósito da «música portuguesa» (falando do património, dos valores, das nossas coisas), o que o impede de evangelizar acerca da gastronomia, do futebol, da arte em geral, das raças caninas? Está bem; estou a chegar à caricatura. Mas se a racionalidade tem medo da caricatura, então quer isso dizer que se vão punir as caricaturas, ou se vai perguntar porque é que «isto» dá para caricaturar?
Outro tema: as playlists das rádios. Nada tão absurdo como discutir as playlists sem discutir a formação cultural e as directrizes dos programadores de rádio. Pode assumir-se que os dj das rádios são apenas dj, e então sabe-se que eles são apenas passadores de música; parece assumir-se que as playlists são inimigas da música portuguesa. Esse sim, é um tema que merece debate. Proposição: só não existe uma rádio que passe exclusivamente «música portuguesa» por falta de visão comercial. Argumento contrário: «Ah, mas ninguém ouvia...» Então, é necessária uma lei, mascarada de «cultural», que beneficie o comércio da «música portuguesa», de Claudisabel aos Da Weasel? Discutamos isso racionalmente, porque de «O Carteiro» (saudosos versos: «“Traz carta p’ra mim” / e o carteiro que é gago/ espera um bocado/ e responde-lhe assim:/ “Não não não não não/ não não não trago nada/ só só só só só/ só trago o pacote/ da sua criada”) até às «sonoridades características» (cito da lei) da música de Roberto Leal, há muito para falarmos. Segundo argumento contrário: «Ah, mas então iam passar Claudisabel, Tucha, José Malhoa, Toy, Ágata ou Madalena Iglésias...» Tem isso. Mas não se pode pedir que o legislador faça a playlist.
Nesta matéria, como em quase todas as outras, sou pela antropofagia cultural. Devoremos e reproduzamos. A vida é assim.

No caso da Antena 2, por mais que gostemos de peças de Carlos Seixas, de Bomtempo, Emmanuel Nunes, Frederico de Freitas, Vianna da Mota, Luís de Freitas Branco, João Pedro Oliveira ou Fernando Lopes-Graça, talvez seja impraticável, eu entendo.
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||| O cantinho do hooligan. De resguardo.
O empate com a Finlândia compôs o ramalhete desta série de empates e vitórias curtas ou pouco exigentes. Mas já está. Scolari irritou-se no final, ao seu jeito. No entanto, não me parece, depois de tanta cretinice por parte das estrelas da bola, tê-los visto (a todos) dirigirem-se às bancadas para saudar a multidão que os aplaudiu e que não os assobiou. Fica para depois. Guardamos tudo.
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21 novembro, 2007

||| O cantinho do hooligan. Razões patrióticas.
Ainda antes de almoço, um amigo garantiu-me que tinha uma explicação para o facto de eu querer que Portugal ganhe hoje à Finlândia, apesar de Litmanen, dos lagos, das florestas da Karelia, da música de Sibelius, de Hyypia, da estepe ao norte de Rovaniemi (e do facto de a Finlândia jogar de azul e branco no Estádio do Dragão). Ele garante que não tem nada a ver com patriotismo – mas porque a vitória portuguesa me garante mais um ano e meio de assunto. Seja como for, casmurrices à parte, estou com a rapaziada. Hoje, o modelo finlandês faz-me impressão.
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20 novembro, 2007

||| Recuperado.
Depois do transplante, já desligado das máquinas, o Fernando fala, respira, ri, e marca encontros para daqui a umas semanas. De certa maneira, é um herói. Uma pessoa comove-se.
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||| Irrelevância, mas um sinal.
Jantem bem, fumem um charuto no final, estabeleçam lá o preço do petróleo, digam mal do rei, saudem o povo.
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|||Assédio sexual.
Em Dezembro, fará agora um ano, uma criança de 4 anos, em Waco, Texas, foi acusada e declarada culpada de assédio sexual numa escola local. Segundo a imprensa, a criança encostou o rosto aos seios da educadora de infância. Na mesma altura, uma escola infantil de Hagerstown, Maryland, acusou uma criança de 5 anos de assédio sexual a uma colega sua (e «condenado» a pena suspensa até entrar na escola primária). Entre 2005 e 2006, 25 crianças de jardins de infância no estado de Maryland foram alvo de inquéritos por assédio sexual na suas escolas. No caso de Hagerstown, a porta voz da Washington County Public Schools referiu que «It's important to understand a child may not realize that what he or she is doing may be considered sexual harassment, but if it fits under the definition, then it is, under the state's guidelines. [...] If someone has been told this person does not want this type of touching, it doesn't matter if it's at work or at school, that's sexual harassment.» Para esta cavalheira, o caso pode ser considerado uma «learning opportunity». Puta que pariu.
Em Canton, Ohio, uma criança de seis anos estava a tomar banho para sair para escola quando ouviu o school-bus a passar; saiu a correr, nu, com medo de perder o autocarro. Consequência: foi suspenso, pela sua escola, por assédio sexual.
«Could my son be accused of sexual harassment?», pergunta-se Yvonne Bynoe, no Washington Post. «He's a good boy. He likes watching Thomas the Tank Engine on television and playing Simon Says. Like many 3-year-olds, he's very affectionate. Unfortunately, hugging his teacher may get him suspended from nursery school.»
Por que razão prestei atenção ao assunto? Por causa de uma estupidez qualquer.
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||| Música portuguesa, cultura portuguesa, todos nós.
[Post de João Miranda sobre o assunto.] É um pormenor importante, não sei se repararam: a lei define o que é música portuguesa: «veiculem a língua portuguesa ou reflictam o património cultural português, inspirando-se, nomeadamente, nas suas tradições, ambientes ou sonoridades características»; «representem uma contribuição para a cultura portuguesa». Mais: «A quota de música portuguesa fixada (...) deve ser preenchida, no mínimo, com 60% de música composta ou interpretada em língua portuguesa por cidadãos dos Estados membros da União Europeia.» Compreendo a tentativa de colocar os distribuidores na ordem e de os impedir de dominar as playlists das rádios ignorando o que é nosso, as nossas sardinhas, o nosso bacalhau, a nossa Mafalda Veiga, o nosso Clemente, o nosso António Manuel Ribeiro, o nosso Fernando Girão, o nosso Fausto Cantor Maldito Bordalo Dias, a nossa Claudisabel, os nossos Delfins. É preciso fomentar as nossas coisas.
Porquê a música apenas? Por que não os livros nas livrarias? Entremos no delírio. Aceitam-se sugestões sobre pautas obrigatórias. Não sobre aquilo de que gostamos, mas sobre aquilo de que devemos gostar para sermos mais portugueses, melhores portugueses, sempre portugueses.

P.S. - Uma coisa é «a música portuguesa»; outra, é beneficiar uma classe profissional, impondo por meios legais a obrigatoriedade de abrigar os seus produtos.
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||| Livros em Desassossego.



















Na próxima semana, Livros em Desassossego (quinta-feira, 29, às 21h30) em torno das relações Portugal-Brasil, com Abel Barros Baptista, Ivan Nunes, Francisco José Viegas e Miguel Real. Moderação de Carlos Vaz Marques.
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||| Contagem decrescente.
No próximo dia 30 de Novembro (com continuação a 1 e 2 de Dezembro), Feira do Livro Pessoano e Feira do Livro de Poesia na Casa Fernando Pessoa. Três dias até à meia-noite.
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||| Artur Ramos.
Hoje, na Casa Fernando Pessoa, homenagem a Artur Ramos (1926-2006) - encenador e realizador -, com a participação de Artur Portela, Correia da Fonseca, Jorge Silva Melo, José de Matos-Cruz, Luiz Francisco Rebello e Manuel Wiborg. Às 18h30.
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||| Espanha: o nacionalismo na escola.












O nacionalismo como uma doença fatal. Leia aqui uma imprescindível reportagem de El Mundo sobre como as editoras de livros escolares alteram, censuram ou acrescentam figuras ao conteúdo dos manuais consoante a região a que se destinam:

«Un joven de 16 años de Bilbao puede concluir sus estudios sin que en sus libros hayan mencionado la Constitución Española, la figura del Rey, los símbolos del país al que pertenece o las protestas contra el terrorismo de ETA. También es frecuente que se le oculte la existencia de los yacimientos cercanos de Atapuerca y Altamira, el Camino de Santiago y la participación de los vascos en el Descubrimiento de América.»

«En Barcelona, un joven puede rebuscar en su libro el Siglo de Oro y no hallarlo. O interesarse por los Juegos Olímpicos del 92, el mayor acontecimiento internacional y deportivo celebrado en su ciudad, y sólo encontrar que "fueron el punto álgido en la reconstrucción nacional [de Cataluña]". De la lluvia de medallas y del oro que España logró en fútbol en el Camp Nou, ni una palabra. Pero sí un extenso ejercicio para la asignatura de Lengua Catalana con la simulación, por parte del alumno, de la retransmisión radiofónica de la final de la Copa del Mundo entre Brasil y Cataluña.»

«En otro extremo de España, una chica de Huelva estudiará la Guerra Civil como si se tratara de una invasión de Andalucía por parte de fuerzas de ocupación y, simultáneamente, un niño de La Coruña leerá en su manual de Lengua que en Cáceres el gallego no goza de protección.»

«El resultado es una abismal fragmentación educativa, un puzzle de libros de texto que no encajan entre sí: conocimientos diferenciados, sentimientos de agravios entre comunidades autónomas, odio hacia lo español, imposibilidad para compartir un mismo sistema escolar y universitario y dificultad para converger dentro de un mismo mercado laboral.»

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||| Chávez em Lisboa.
A RCTV reportou perto de 100 agressões físicas a jornalistas à Organização dos Estados Americanos, a Globovisión mais de 70. || Um jornalista pode ser preso por publicar uma notícia se o visado se sentir ofendido. || A inflação acumulada nos últimos três anos levou a uma grande perda de poder de compra e porque é difícil arranjar produtos alimentares como leite, açúcar, farinha, frango. Arranja-se, mas é no mercado informal bem acima do preço regulado. || Desde que Hugo Chávez chegou ao poder, a produção da quinta maior potência petrolífera do mundo caiu 18 por cento e a descoberta de novas reservas desacelerou enquanto o preço do barril aumentou no mesmo período seis vezes. || Dossier do Público aqui.
[FJV]

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||| Soneto para os amigos no dia dos meus 62 anos.

Se aqui cheguei foi graças a vocês
Que me tiraram as pedras do caminho
E me deram resposta aos múltiplos porquês
Onde o medo sorrateiro faz o ninho

E por isso aqui estou passados os sessenta
Pejado de tabaco e vinho tinto
A olhar tranquilo o banco onde se senta
Esse juiz supremo a que não minto

Fui jovem e sonhei, errei, caí
Mas sempre soube que o rumo que escolhi
Só podia ser livre e verdadeiro

Não sei se consegui mas estou seguro
Que tentei construir o meu futuro
Pra que nele coubesse o mundo inteiro


[MAV]

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19 novembro, 2007

||| Aniversário.
O meu companheiro de blog anda retirado, eu sei. Mas ele acaba de regressar de Santiago de Compostela para hoje, hoje mesmo, festejar o seu aniversário. Vamos entupir-lhe a caixa de correio electrónico. Está aí ao lado.
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||| O cantinho do hooligan. Onde estás?
Um dos fenómenos mais interessantes do hooliganismo deste blog é a série de comentários que se segue a uma pequena crítica ao Divino Mestre Felipe Scolari. Se não gostas de São Felipe, é porque gostavas do bruxo António Oliveira, esse do Japão-Coreia. Se não aplaudes o Xeique Luiz Felipe é porque aprecias os velhos tempos de Artur Jorge ou de, digamos, Rui Seabra, esse de quando tínhamos a emoção de ver Jorge Plácido a jogar contra Malta. AH, grande pergunta: «De que lado estás? Onde estás?» O Clube Portugal espera-nos à esquina, vingativo. O problema, meus amigos, é que já se pode querer gente a jogar futebol. Os jogadores não são máquinas, dizia Cristiano Ronaldo. Como eu o compreendo, a querer máquinas de aplaudir nas bancadas. As coisas já não são fáceis, é o que é.
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18 novembro, 2007

||| Revista de blogs. Sobre as coisas para que devemos estar preparados.
«Nos tempos antigos, os homens sentavam-se no escano à beira do lume e pensavam na vida. Hoje não se pensa, não é preciso. Deve morrer-se bastante em Dezembro. Gente só, que vive em apartamentos frios e quase vazios, gente que não vai esperar pelo fim da telenovela. Não é preciso.»
{Filipe Nunes Vicente, no Mar Salgado.}
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||| O cantinho do hooligan. Que bom, ganhámos à Arménia.
Olha que bom. Foi uma vitória e tanto, valorosa, muito bem conseguida, heróica, frente ao futebol brutal dos arménios, esses montanheses iletrados, que vieram convencidos de que iam passear a sua classe no estádio de Leiria. Ah, mas nós mostrámos-lhes como se joga. Eu bem ouvi, antes do jogo, aquelas boas alminhas a dizer que são candidatos (nós todos, enfim) a campeões europeus, tudo com o patriótico apoio dos jornalistas do «clube Portugal». Sim senhor, rapazes, jogai assim. Jogai assim na quarta-feira contra a Finlândia e mostrai a esses canalhas dos lagos e das florestas de que massa é feita esta valorosa selecção. Força Portugal. A jogar assim até dá gosto.

O Helder passou-se, como qualquer um de nós, aliás, puta que pariu.
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17 novembro, 2007

||| Sim.
No mais importante referendo deste fim de semana, votei sim. Comprei dois exemplares do novo Harry Potter e os Talismãs da Morte.
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||| O trabalho.
O livro de Manuel Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP (Trabalho e Sindicalismo em Tempo de Globalização, publicado pelo Círculo de Leitores) merece uma leitura. Ele compõe-se de duas partes, ironicamente: uma, dedicada ao trabalho; outra dedicada ao sindicalismo. A tese é inteligente, embora elaborada sem suficiente elegância teórica: os novos tempos desvalorizaram o papel do trabalho na sociedade. Ao premiar-se o capital de risco, o capital financeiro, a especulação, o trabalho deixou de ser um valor essencial para a criação da riqueza e para a vida em sociedade.
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||| Gare do Oriente, um caso.
Passei uma década a viajar de comboio. Até escrevi um livro sobre comboios. Uma década, entre Lisboa e o que havia de Europa para conhecer. Estações minuciosamente esquadrinhadas para encontrar um restaurante, um duche, um canto para dormir, uma cabine telefónica, um terminal de autocarros ou de barcos. Tenho recordes para contar, como o de 16 dias seguidos a dormir em carruagens que atravessavam fronteiras visíveis e invisíveis, ou a companhia de viajantes ainda mais incansáveis. Linhas principais e ramais secundários. Não interessa. Do que me lembro, raras vezes senti a imagem de desprotecção proporcionada pela Gare do Oriente, onde me abasteço periodicamente de ligações ferroviárias. O Pedro Sales comenta o comentário de Duarte Calvão (já aqui comentado, por sua vez) e chama à Gare do Oriente aquilo que ela é: um apeadeiro «que custou 175 milhões de euros, o que deve ser um recorde mundial». A questão, caro Pedro, de facto, não é de ordem arquitectónica; é de respeito pelo viajante de comboio. Ela é o resultado de uma década de ouro do bacoquismo nacional, que de resto está à vista em quase todo o espaço da Expo. Gente fascinada pelas glórias da grande arquitectura deixou aquela zona entregue à desolação -- o que é matéria arquitectónica e é matéria política. Sobre o primeiro dos aspectos, pronuncio-me pouco, e a medo. Mas acho que há ali uma questão política, não no sentido em que as decisões de deixar aquilo como está foram tomadas por responsáveis políticos, mas porque tudo aquilo dá uma ideia de como eles vêem os utilizadores, os cidadãos, os viajantes, os habitantes: lixo, muito lixo; cafetarias sujas; zonas escuras onde não é seguro passar quando se chega no «comboio da noite»; labirintos mal sinalizados e cuja ordem só é apreendida depois de muitos dias de frequência; parques de estacionamento com pouca vigilância; bilheteiras ao ar livre com filas de viajantes agradecendo o vento de Inverno; salas de espera desconfortáveis; escadarias igualmente mal sinalizadas. Isto é uma questão política; os talentos da Expo permitiram que a «nova estação ferroviária» de Lisboa se transformasse num repositório de maus hábitos suburbanos, onde tudo apodrece, onde o lixo se acumula, onde não é agradável apanhar comboios num cais que não tem bancos suficientes para aguardar a hora de embarcar e que está desprotegido, onde chove e faz vento, onde o horror da camionagem está sempre presente.
Pessoalmente, prefiro apanhar o comboio em Santa Apolónia, na velha Santa Apolónia. Infelizmente, os Alfas não partem da bela São Bento. Um Estado que não garante conforto aos cidadãos; é esta a imagem definitiva. Compreendo a visão do arvoredo metálico da estação do Oriente, que deve ser um primor arquitectónico. Mas fatal, se lá pomos pessoas. Pessoas que merecem um lugar para se sentarem.

PS - No caso do «Terminal 2» do aeroporto de Lisboa, não há sequer considerandos de ordem arquitectónica. É como se ele fosse destinado aos camelos. Se me faço entender.
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