||| A não perder.
A não perder, sob nenhum pretexto, a crónica de António Barreto no Público de hoje: «Eles estão doidos!»
«Os cozinheiros que faziam no domicílio pratos e “petiscos” a fim de os vender no café ao lado e que resistiram a toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada, podem rezar as últimas orações. Todos os que cozinhavam em casa e forneciam diariamente aos cafés e restaurantes de bairro sopas, doces, compotas, rissóis e croquetes, podem sonhar com outros negócios. Os artesãos que comercializavam produtos confeccionados à sua maneira vão ser liquidados.[FJV]
A solução final vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias, os inspectores, os fiscais, a imprensa e a televisão. Ninguém, deste velho mundo, sobrará. Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, que não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas industriais e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado.
Esses exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo; organizam-se no governo nacional, sob tutela carismática do ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho; e agem através do pessoal da ASAE, a organização mais falada e odiada do país, mas certamente a mais amada pelas multinacionais na gordura, pelo cartel da ração e pelos impérios do açúcar.
[...]
Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas, refrigerantes e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos de plástico.
Vender, nas praias ou nas romarias, bolas-de-berlim ou pastéis de nata que não sejam industriais e embalados? Proibido. Nas feiras e mercados, tanto em Lisboa e Porto como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias semanais e levam tudo quanto é artesanal: azeitonas, queijos, compotas, pão e enchidos.
Na província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas e ovos? Proibido.
Embrulhar castanhas em papel de jornal? Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
[...]
Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou. Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou. É proibido.
[...]
Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira que faz isto há trinta anos? Proibido.
As regras, cujo cumprimento leva a multas pessadas e ao encerramento do estabelecimento, são tantas que centenas de páginas não chegam para as descrever.
[...]
Tudo isto, como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde. Para modernizar a economia. Para apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois claro.»
Etiquetas: Liberdade, Pátria Querida
5 Comments:
Depois do sorteio dos grupos para o mundial 2010 a ASAE deverá inspeccionar o sr. chocolari, antes de ele abrir as asas e fugir, sem antes defrontar os vikings. Depois a ASAE que se auto-dissolva dada a sua putridão
O problema dos senhores de Bruxelas que produzem esse tipo de leis é serem uns sensaborões que nunca provaram galinha caseira, ou, se provaram não souberam notar a diferença.
E, se hoje em dia estão tão na moda os produtos biológicos, as pessoas esquecem que os produtos caseiros são ainda muito superiores. Por isso não digam que estas leis são elaboradas pelos "mais qualificados cientistas", isso não é verdade.
Mas julgo não errar ao afirmar que haverá muita gente a favor destas novas leis.
Quanto às futuras leis para os nossos lares, basta observar que já há pelo menos um estado americano onde é proibido fumar em casa (li também que se está a ponderar implementar essa lei em Inglaterra) para facilmente concluir o que aí vem.
é ridiculo este tipo de comportamento por parte da ASAE.
eu não me rendo, vou continuar a comer o meu chouriço caseiro, a minha broa de milho caseira, vou continuar a almoçar e jantar em locais em que os alimentos sabem a comida, NÃO ME RENDO, E APELO PARA QUE FAÇAM O MESMO
Nunca em democracia vivemos tão vigiados. E o PS é um partido de que lado? Ah, pois, de "esquerda". Como? O que quer dizer? Ah, pobre Sócrates de fatiota Hugo Boss mas que come frango de aviário a tresandar a hormonas e antibióticos. Blhac!
https://www.youtube.com/watch?v=XAHZ7R5lrls
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