05 dezembro, 2007

||| Mudanças. Casa nova.

A partir de agora, o Origem das Espécies está noutro endereço.

Em http://origemdasespecies.blogs.sapo.pt/

[Francisco José Viegas]
[Manuel Alberto Valente]

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04 dezembro, 2007

||| Hannukah. חנוכה










Por causa do milagre do reencontro, em tempo de Hannukah lembro sempre o Nuno. Nesta foto, com as luzes de Manhattan do outro lado do rio.
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||| Literatura popular.

















Nova homenagem à Agência Portuguesa de Revistas.
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||| O tiro pela culatra.
Estar de bem com o diabo e com os apóstolos, dá nisto. Procurando a legitimação a todo o custo, o golpe vindo da esquerda não deve saber bem aos conciliadores. Gunter Grass, Nadine Gordimer, Dario Fo, Mia Couto, José Gil, Wole Soyinka também querem ver o Zimbabwe e o Darfur na agenda da cimeira UE/África de Lisboa. Cuidado com os apertos de mão.
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||| Mundo Pessoa.










O Mundo Pessoa, blog da Casa Fernando Pessoa, mudou de endereço. Está agora no domínio Sapo.
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||| Tomar Partido.
O Jorge Ferreira assinala quatro anos do Tomar Partido, propondo uma ementa de aniversário que inclui ingredientes ucranianos. Parabéns, Jorge.

Quanto ao assunto ucraniano, eu até nem me importava – se eu não fosse, desde pequenino, sócio do Shakhtar Donetsk. Mas pronto, desta vez passa.
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|||Adormecidos.
Quando, há mais de seis anos, comecei a escrever (e a publicar reportagens) sobre o Sudão e o Darfur, os massacres no Congo e na Somália, houve vozes que mencionaram o relativismo dos números e, outras, que alertaram acerca do quanto eram relativos os direitos humanos. Eles tinham razão. Verifico hoje que eles tinham razão e terão razão.
A União Europeia foi à China entregar Taiwan às mãos de Pequim, dizer que o referendo na Formosa era um problema que só iria gerar problemas, e que a China era só uma (com que direito?). Apesar da situação dos direitos humanos no Zimbabwe e no Sudão/Darfur, a UE tudo fará para não mencionar o assunto durante a cimeira de Lisboa. Uma vergonha. Uma vergonha pelos que morrem, uma vergonha pela longa tradição de defesa dos direitos humanos que foi bandeira da Europa e que nos fazia ser europeus. Hoje, os senhorinhos da Europa, Kissingers de algibeira, sacrificam quase tudo. Os mesmos europeus que rejubilaram por Timor (quem?, quem?) não hesitariam em deixar que Pequim invadisse Taiwan se isso mantivesse os negócios de armas; como acham que é possível converter Mugabe e estão dispostos a esquecer o nome de Morgan Tsvangirai, mesmo quando ele é torturado, preso e as tropas do fascista de Harare matam a direito e sempre no plural. São pretos, valem menos do que as vítimas do Médio Oriente. Julgam que andamos adormecidos.
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03 dezembro, 2007

||| Imprensa de outros tempos.













































Homenagem à Agência Portuguesa de Revistas, claro.
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||| Daniel Morais, um português na Venezuela.



















Quando se fala tanto, nos últimos dias, sobre a comunidade portuguesa na Venezuela, recordo a figura de Daniel Morais, um português que nunca capitulou. Estas são as últimas fotografias de Daniel Morais, tiradas a 9 de Junho deste ano (morreu a 24 de Agosto) pela sua filha Laura, que vive no Panamá.

A outra foto é a da igreja da Candelaria, em Caracas, um bairro que recebeu muitos emigrantes portugueses que fizeram a sua vida na Venezuela. De algum modo este poema é uma homenagem à memória de Daniel Morais. Como escrevi noutro lugar, «ele seria uma figura de romance, certamente. Aliás, ele é uma figura de romance».

CARACAS

Eles jogavam à bola na Candelaria, os primeiros portugueses.
Melhor: viam os seus filhos jogar. Eles sentavam-se debaixo
das árvores que depois abrigaram revoluções e casamentos
proibidos. Era outro século, havia paredes cobertas de fotografias,
cortinas, penteados, ombros nus tinham muito sucesso
entre adolescentes que não tinham rumo nem passado. Só
havia La Guaira, o Cerro Avila, os subúrbios, o caminho
para as cordilheiras ou para Maracaibo, praias para lá dos muros,
céu sem melancolias, enumerações de bens inocentes
e de trabalhos circulares. Os seus filhos jogavam à bola
na Candelaria, conheciam-se os seus passos, os seus esconderijos.
Muitos anos depois contam-se pelos dedos os casamentos
desfeitos, as fortunas construídas, a pequena economia
de vizinhos que aprenderam a viver em terras estranhas.
Construíram casas nos planaltos, nos declives, aprenderam
a ler, a escrever, a contar, a sentar-se sob as árvores
para apreciar melhor a doçura da Praça Bolívar,
a cerveja, a maledicência amorosa. Amo esta gente, os primeiros
portugueses que chegaram a La Guaira e fundaram orquestras
ou plantaram amendoeiras para que a terra não lhes
fosse tão estranha nem as trovoadas tão adversas.
Se me Comovesse o Amor
[Edição Quási. Colecção Uma Existência de Papel.]

[FJV]

||| Os dias que começam.
1. Segundo o vice-ministro de Relações Exteriores da Venezuela, não se soube «vender o modelo socialista»: «Chávez tiene que entender que la reflexión es de todos. Él tiene que escuchar las reflexiones de nosotros. El Presidente necesita estar acompañado de gente que le diga las cosas. || En principio, que no se puede subestimar a la disidencia interna, el debate de ideas. Tiene que haber en el chavismo la necesaria reflexión para encontrar el camino de la crítica. Nos hace más daño el silencio hipócrita, que la crítica. || No fueron digeridos los contenidos, no supimos vender el modelo socialista. La gente asoció la propuesta a lo negativo. Se demostró que esta sociedad no está madura para el socialismo.»

2. Para Hugo Chávez, ainda é cedo para o socialismo do século XXI: «
Puede ser que no estamos maduros para asumir el bombardeo socialista (…) Antes de estar buscando culpables, tengo que decir que pude equivocarme en la selección del momento para hacer la propuesta. Eso pudiera ser. [...] Todavía no estamos a tiempo. Habrá que madurar más para construir el socialismo.»

2. Tomás Vasques, como sempre, acerta na questão venezuelana. Um pormenor a ter em conta, este.

3. Ter em atenção, de novo, esta reportagem de El Clarín.

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||| Miguel Real.










Um fôlego único, capítulo a capítulo, pela voz de uma mulher que não perde a voz. Tal é o programa do romance de Miguel Real, O Último Minuto de S. (edição Quid Novi), uma encenação romanesca que tem como personagem central Snu Abecassis e, inevitavelmente, a sua relação com Francisco Sá Carneiro. Comovidíssima incursão de Miguel Real no discurso de uma mulher e, em tão poucas páginas, um enorme lamento por Portugal.
Aí está um livro que eu não me importava de pôr na primeira página de um suplemento de livros. Este, sim. Por exemplo.
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||| Noite.
Nestas coisas, vale a pena lembrar aspectos desagradáveis como o caso Meia Culpa (e sucedâneos). Nessa altura, por causa de um «crime de província», viu-se que Portugal não era bem um país cheio de lavadeiras, com melros a cantar nas oliveiras. Agora, este crime e mais outros avulsos (o caso Luanda foi um epifenómeno) mostram que a grande noite urbana não está apenas colorida de glamour...
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||| Escrever. O diabo em qualquer lado.
O blog da Rita comemora o quarto aniversário. A Rita Barata Silvério escreve muito bem (nada de amenidades, nada de nhenhenhén; tudo ali tem bastantes calorias), e deveria escrever mais. Que comemore. Nós, apesar de tudo, também a merecemos.
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||| Venezuela, dia seguinte.
Sobre a Venezuela, nada de deitar foguetes. Os verdadeiros problemas vão começar agora; em primeiro lugar porque Chávez não vai desistir das reformas; em segundo lugar, porque haverá retaliações.
Por isso, a pergunta de Tomás Vasques tem toda a razão de ser. Só que esse «e agora?» não é puramente retórico; o que está em causa é verdadeiramente preocupante para os que vivem na Venezuela.

Ler este artigo do enviado de El Clarín a Caracas: «Un modelo com signos de desgaste.» E este.

Filipe Nunes Vicente escreve: «A resposta do povo, numa réstea de democracia formal, vai lançar a Venezuela numa guerra civil ou numa ditadura do proletariado (sim, essa mesmo, basta ler os clássicos) . Chávez deu o tom: "Vocês obtiveram uma vitória de Pirro e, nestas condições, eu não a celebraria."» Bem visto.

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01 dezembro, 2007

||| Pequenas infâmias.
Por muito que custe ao Mar Salgado, mais vale um «huno» chamado Quaresma do que onze «civilizados» passarões...

[MAV]

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||| O Cantinho do hooligan. E é assim.










1. Depois de ter sido assobiado de cada vez que tocava na bola, Ricardo Quaresma explicou o que é a trivela.
2. O FC Porto é tão bom que 60.000 benfiquistas foram vê-lo jogar no Estádio da Luz.
3. Primeira parte do FC Porto absolutamente impecável, competente e engenhosa. A segunda parte foi branda, e chegou. O golo dos 90' minutos não veio; a bola não entrou.
4. Quaresma marcou; mas Lisandro esteve cinco estrelas. Lucho como sempre, um meteorologista detectando o jogo.
5. Obrigado a todos.

1. Para o agradecimento ficar completo, fica aí o resumo de um Benfica-FC Porto que vale sempre a pena recordar (já que o penalti hoje perdoado ao Benfica, enfim, já lá vai), até para ver «as camisolas berrantes/ que nos campos a vibrar/ são papoilas saltitantes...»
2. Saudações especiais para o Filipe, meu benfiquista de eleição, o homem que melhor escreve sobre o Benfica.
3. Como escreve o Pedro M. L., ainda há o campeonato da Segunda Circular.

Videoteca do dia:

Blind Zero
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30 novembro, 2007

||| Praxe, o regresso.










Em Elvas e Coimbra, dois casos que ajudam a ilustrar a miséria no meio estudantil.
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||| Hoje é o 14.º Aniversário da Casa Fernando Pessoa.











O programa deste ano inclui dezenas actividades com crianças e adolescentes das escolas de Lisboa. Durante toda a tarde, «casa aberta». E, à noite, «Poesia de Entretenimento Científico» com o grupo O Copo [Nuno Moura e Paulo Condesso].

No hall da Casa decorre a partir das 10h00, uma Feira do Livro Pessoano. No jardim, em simultâneo, uma Feira do Livro de Natal (edições recentes para ofertas da época...). Tudo com descontos muito substanciais.
A Feira prolonga-se pelo sábado e durante o dia de domingo.

[FJV]

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||| Taiwan, 2.












O festim acabou sem declaração conjunta porque, naturalmente, não houve tempo; também não tinha havido tempo para falar de direitos humanos. Os direitos humanos são bons para que se exijam direitos humanos aos países que podemos dar-nos ao luxo de criticar? A esses damos lições; ou porque estão longe ou porque não nos incomodam nem podem levantar a voz. Mas à China? Com a China participamos em festins e lamentamos não haver declarações conjuntas. Com a China, respeitinho. Se a China diz para não se receber o Dalai Lama, não se recebe o homem, que diabo. Se a China acha que Taiwan é parte do território nacional e que só há uma China, que diabo, aceitemos. A China pede que nos coloquemos de cócoras? Pois que remédio. É preciso condenar Taiwan porque, lá, querem fazer um referendo? Condenemos. Entreguemos Taiwan à China. Taiwan tem eleições periódicas, mas que diabo, a democracia é um pormenor. E os direitos humanos são bons para os outros, os não-chineses. Os relatórios da Amnistia Internacional são bons para condenar uns; mas os chineses estão fora.
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29 novembro, 2007

||| Intimidade dos sentidos (1)










Sou um grande leitor de pedaços de livros. Ontem, por exemplo, li o primeiro capítulo de Um Diário de Leituras, do Alberto Manguel, dedicado a A Invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares. Ficou-me esta frase do diário de Bioy:

«Sempre disse que escrevo para o leitor, mas o facto de continuar a escrever, numa altura em que os leitores (os leitores a sério, comprometidos) deixaram de existir, é uma prova irrefutável de que escrevo, muito simplesmente, para mim próprio.»

[MAV]

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||| Foram gigantes...








Eu hoje visto de vermelho... mas pelo Braga.
[MAV]

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||| Portugal-Brasil. É hoje.











QUE IMAGEM TRAZEM DO OUTRO AS RELAÇÕES CULTURAIS PORTUGAL/BRASIL?
Há duzentos anos, ameaçada pelas invasões napoleónicas, a Corte portuguesa atravessou o Atlântico e fez do Rio de Janeiro a capital do Império. Dois séculos depois diversos escritores portugueses têm vindo a redescobrir o Brasil em obras de ficção.
Na sessão de Novembro dos Livros em Desassossego, como sempre moderada por Carlos Vaz Marques, o crítico e professor universitário Abel Barros Baptista, o sociólogo Ivan Nunes e os escritores Miguel Real e Francisco José Viegas debatem o estado actual das relações culturais e literárias entre Portugal e o Brasil.
Antes, Hugo Xavier, coordenador editorial da Cavalo de Ferro, escolhe três livros recentemente editados que gostava de ter visto publicados na editora de que é um dos responsáveis.

Hoje, na Casa Fernando Pessoa, às 21h30.

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||| Taiwan.
Tudo calado em redor do assunto. Mas o título do Diário de Notícias de hoje resume todo o programa geral:

«UE 'dá' Taiwan à China e omite direitos humanos.»
Não sei se entendem.
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||| Nas livrarias, acho eu.




















OS DIAS DE GLÓRIA
Envelheces tanto de cada vez que o dia termina
e olhas para trás. Tens medo do começo do fim,
das tardes de domingo; um dia, distraído, tens medo
do sexo, da amabilidade e da noite, e dos rostos
que foram belos – e não são mais. Envelheces muito
quando o mundo contraria as pequenas coisas,
sentes esse cansaço, nada a fazer.
Mesmo da poesia, que iluminava o tempo, vais
colhendo apenas a amargura; os outros procuram nela
sinais de um destino, datas curiosas, zangas, ventanias,
armadilhas, mas tu sabes – e só tu sabes –
que a tua vida é a tua vida e que o poema
é empurrado por outro sopro, por um reflexo,
um medo brutal, pela memória dos que morreram
e levaram uma parte de ti, um pouco do que havia
de comum entre ti e a vida, esse desperdício – às vezes –,
esses momentos de glória em dias felizes.
Envelheces com os ossos que envelhecem. Envelheces
sem querer. Por ti serias eternamente jovem, adolescente,
e percorrerias as estradas das serras, as florestas,
não para viveres sempre, mas para estares vivo
mais um instante, porque o espectáculo é belo
uma vez por outra. Envelheces pouco a pouco,
porque as coisas não são o que foram nem são o que são.



GENEALOGIA, I
Os pais dos teus pais, os filhos dos teus filhos,
é isto uma família? O que separa o futuro daquele lugar
onde os teus mortos repousam? Avós adormeceram,
abandonados, em campas cobertas de terra e xisto.
Foram despedidas rápidas, comoventes algumas, enquanto
os teus desciam à terra e, cá fora, a vida recomeçava
com mais uma ausência. Ficavas para trás. Fiquei para trás
algumas vezes, observando como a tarde morria
depois dos funerais e eu tinha de seguir pela vida fora
acrescentando ausências sobre ausências. Eu sei,
observando-te pela janela (a mim próprio), que tens medo:
a solidão dos anos avança e ninguém tratará de ti,
ninguém te amparará para subires as escadas, ninguém
te levará de visita à terra dos teus maiores para que olhes o rio,
os barqueiros, as ruínas ou os muros das vinhas.
Rodeado de estranhos, tão funesta foi a tua vida,
tão plena, tão feliz, com momentos desprezados e perfeitos.



GENEALOGIA, II
Ouves os ruídos dos filhos, retido na cama. Uma gripe
não te afasta do mundo, mas mostra-te como és fraco;
eles continuam, alegres ou deixando a adolescência,
ou permanecendo crianças, rindo.
Tinhas pulmões de aço, fumadores, adultos,
e um gosto elegante pelo futuro. Fumas de pijama,
na varanda, enquanto os turistas de domingo vão à praia,
saudáveis e comentando as notícias do dia,
vestidos de branco no meio do Verão.
Borboletas nas roseiras, cadeiras na penumbra,
sentes que a morte avisa uma e outra vez,
soletrando o teu nome, aprendendo as tuas sílabas,
o teu caminho, para depois te encontrar mais depressa.
Ouves os teus filhos, comovido. Terás de deixar-lhes
uma herança para além dos livros,
das observações sobre meteorologia, das receitas
de família, das recordações de aldeia.



BORBOLETAS
Noites sem sexo são perfeitas, também: janelas entreabertas,
sombras que passam na rua através das horas, relâmpagos
que não chegam a iluminar as paredes do quarto. Românticos
que se encontram depois de viver vidas paralelas, cansados

– mas enlaçados antes que chegue a hora de partir, sem saberem
se amanhã há outro sono igual, ou uma escolha para fazer.
Os dois sabem que são doidos, estendem os dedos na escuridão
entre as luas. Os dois sabem que mais adiante podem arder
de repente no meio do Verão, consumidos pelos segredos

e pela indiferença. Noites sem sexo são perfeitas, também;
e raras, e condenadas e incompletas. Borboletas no estômago,
batendo asas contra todas as paredes do corpo – não deixando
que ele adormeça, inquieto e insatisfeito, voltado para dentro

e para o passado. Românticos que se encontram quando nenhum
deles esperava outra oportunidade, outro caminho. Nunca estamos
preparados, diz um. Nunca estamos, repete o outro, quando
a primeira borboleta sossega depois de um beijo em dívida.












NEVA EM USHUAIA
Neva em Ushuaia por alguns instantes. São os primeiros
sinais do Outono, vindos de El Martial ao fim da tarde.
Os poetas locais compõem os versos adequados à circunstância
– o Diario del fin del Mundo publicará depois sonetos, odes,
vilancetes e até uma milonga irregular sobre a brancura
que emudece diante do canal. Para isso serve a poesia,
que é mais útil nas pequenas cidades: ilustra os museus, os jardins,
estátuas de almirantes, exploradores, viajantes da Antártida,

almocreves heróicos que atravessaram o estreito de Magalhães
para chegarem a Ushuaia. Neva em Ushuaia e comovo-me
nas ruas molhadas diante das livrarias e das lojas de tabacos,
e digo o nome dos meus filhos, Maria, Manuel, Francisco,
subo as escadarias, vejo a neve diante dos museus, das portas,
vejo os caminhantes que se abrigam nos cafés e olham
com surpresa a primeira neve do Outono. Mudo os meus versos
e empobreço-os, tocados pela primeira neve, a primeira neve

do Outono que cai sobre o fim do mundo, cai sobre a baía,
cai sobre o glaciar, cai sobre a mudez mais fria da pedra,
sobre as montanhas escuras, e nada resta do primeiro verso,
nada fica da primeira palavra, como uma ventania do sul.

Se me Comovesse o Amor
[Edição Quási. Colecção Uma Existência de Papel.]

[FJV]

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|||Vaidade, etc.







Isto é crítica e interpretação literária.
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28 novembro, 2007

||| O cantinho do hooligan. Eu sei que estavam à espera.







A verdade é que vi quase toda a primeira parte e adormeci ao intervalo. Quando acordei, já íamos na cabazada, coisa que não me indispôs nem me encheu de orgulho, mas me obrigou a acordar. Felizmente que o Pedro Marques Lopes já tinha tratado do assunto em dois momentos; aqui e aqui. E não temos de ganhar não sei onde para podermos ir à Taça UEFA.

P.S. - Já li, Pedro, e vou tratar de enviar o postal de volta.

P.S. 2 - Eu sei que te dá gozo, Tomás, eu sei. É a nossa modesta contribuição. Mas estás convidado para a celebração de Maio próximo. Coisa para se festejar com amigos.

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||| Finisterra.
Sem navios, o mar seria uma obsessão como outra qualquer. Este homem é um coleccionador de obsessões.
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||| Revista de blogs. Questões gerais.
«Uma gata com cio oferece-nos o lado impudico da natureza e a televisão ao lado, a libidinosa televisão a debitar moralidades sobre o comportamento íntimo dos políticos, não ajuda.»
{Rui Ângelo Araújo, no Canhões de Navarone.}
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||| Revista de blogs. Princípios gerais de electrodinâmica.
«Mulher de 40 tem o dobro do fogo de uma de vinte e metade da vergonha.»
{No Três de Trinta.}
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||| Revista de blogs. Curriculum.
«Sem qualidades, completamente desapegado do mundo e dos seus habitantes, anti-social, pouco sorridente, pouco confiante, pouco falador, pouco engraçado, nada divertido, anti-dinâmico, nada trabalhador, céptico, patético, imbecil, idiota, parolo, labrego, ignorante.»
{
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||| Revista de blogs. A procissão dos dias comuns.
«Isto está tudo mais ou menos em fase “o caralho”. Autenticamente fase “o caralho”, que é o interlúdio indefinido entre a vaga sossegada e o apocalipse. A paciência a roçar o zero negativo. Os créditos em mãos alheias. O spread, a euribor, a cotação do crude em pipo Brent. O preço do açúcar mascavado e o senhor comendador Joe Berardo a perorar. Quase a acreditar que o pai do menino Jesus não é um amigo imaginário, mas é uma encarnação vetusta do Jack Bauer. Quase a admitir que há virgens em segunda mão e que, no fosso ou no paraíso, elas são como o alecrim aos molhos.»
{Segismundo, no Albergue dos Danados.}
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||| Revista de blogs. Livros à nossa espera.
«Devemos prestar atenção aos livros em saldo, aqueles que pouca gente quis.»
{Alexandra Barreto, no Animais Domésticos.}
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||| Revista de blogs. Mais histórias de NY.
«Hoje no metro entrou-me uma coisa para o olho. Tinha um metro e oitenta e era morena de olhos azuis.»
{No Vontade Indómita}
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||| Revista de blogs. Histórias de NY.
«Caiu ontem a primeira neve do ano na cidade. Levei ontem o meu primeiro não. Vai ser um longo Inverno.»
{No Vontade Indómita}
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||| Conservador, deprimido e abstémio.
O blog do Tiago Galvão tem preciosidades que vale a pena ler sempre. «A uma semana da minha primeira conferência, sou uma personagem de V.S.Naipaul. Para parecer inteligente é só olhar o vazio, comunicar por monossílabos e babar-me a espaços. Para seduzir uma mulher, aconselha um amigo, é «só» simular naturalidade, não estar bêbado e estar atento às bêbadas. Sinto aquela ansiedade de Willie Chandran, antes de se encontrar à socapa com a namorada honorária do melhor amigo e perder a virgindade.»
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||| Purga em Angola.
Ouça, aqui, a entrevista de Dalila Cabrita Mateus sobre o seu livro Purga em Angola.

Outras entrevistas recentes: Maria Filomena Mónica sobre Cesário Verde, e Pedro Aires Oliveira sobre o seu livro Os Despojos da Aliança.

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||| Portela + 2.
Por muito que aprecie «os estudos sobre o novo aeroporto» e o trabalho de Rui Moreira, gostaria muito que a opção escolhida fosse a da Portela (para voos, digamos, domésticos ou peninsulares ou semi-europeus, uma vez que já há um terminal com mangas, podendo reservar-se o actual Terminal 2 para todos os responsáveis políticos que aprovaram aquela merda) + 1 Alcochete (para voos, digamos, europeus e transatlânticos, incluindo uma plataforma de tiro a maçaricos-de- bico-direito e pombos-torcazes), + 1 Tires (rotativamente, de acordo com os voos que me forem destinados, uma vez que fica ao pé de casa).

Uma coisa é certa: refaçam as contas sobre os financiamentos* porque o assunto já não nos é indiferente.
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||| Agora, que está a começar o Inverno europeu.


Basicamente, é para provocar inveja. A mim próprio.
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27 novembro, 2007

||| Fónix.
A nova rede de telemóveis dos CTT (a rede 922) vai chamar-se Phone Ix.
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||| Religião para fins pacíficos.
«Uma professora primária britânica que trabalhava no Sudão foi presa na capital do país, Cartum, e está sujeita a uma pena de 40 chibatadas pela acusação de blasfémia, por ter permitido aos seus alunos baptizarem um ursinho de pelúcia de Maomé.» Sei que o facto de estar a ler o livro de Christopher Hitchens pode agudizar a reacção a notícias deste tipo, mas enfim.
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||| Parabéns.
Parabéns atrasados ao Maradona, pelo blog renovado. Parabéns ao Rodrigo por mais um ano de Blue Lounge Cafe. Parabéns ao 31 da Armada pelo primeiro aniversário. Parabéns ao Jorge Fiel, ao Manuel Queiroz & Cia pelo Bússola. Parabéns a Ana Gomes e Vital Moreira por mais um aniversário do Causa Nossa.
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||| Mensagens grátis.






Por mim e muitos pais de adolescentes, as companhias de telemóveis deviam ser proibidas de engendrar esse negócio chamado «mensagens grátis». Para já, está a deformar-lhes os polegares e indicadores; depois, obriga-os a dedilhar em deficiente português; finalmente, é insuportável vê-los a enviar e receber mil ou 1500 exactas sms durante o período de promoção das «mensagens grátis». Sim, já sei, podemos roubar-lhes o telefone. Mas ninguém nos livra de, na rua, no metro, nos comboios, ouvir aquele toquezinho «timtim», «tomtom», «timtimtom», mais uma mensagem que chegou, mais uma mensagem enviada. Os adolescentes comunicam demais; as empresas de telemóvel estão a lixar-nos a vida.
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||| Barzun, de novo.












Leo Wong teve a gentileza de enviar o link do seu blog inteiramente dedicado a Jacques Barzun. Ver também o seu site comemorativo The Jacques Barzun Centennial.
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26 novembro, 2007

||| Lapidação.
Caro Pedro: antigamente, as pessoas olhavam-se, à mesa do café, e um deles dizia: «Vamos a uma polémica.» Pois bem: na falta da mesa do café, vamos a uma polémica. Não acredito que a irritação contra Scolari seja motivada pelo facto de ele ter levado a selecção portuguesa ao Euro 2008.
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||| Constrangedor.
Welcome to the club.
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||| Livros no Brasil.
Ao contrário do que se quer fazer crer, quando isso é conveniente, não é verdade que todos editores brasileiros insistam em mudar a ortografia portuguesa nas edições daquele lado do Atlântico. Pode acontecer, simplesmente, que se proponha a modificação de alguns termos que soam estranhos ao leitor brasileiro, mas a regra seguida -- e na maior parte dos casos, rigorosamente seguida -- é a de manter a ortografia original.

P.S. - Pessoalmente, não tenho nada contra a alteração da ortografia.

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||| Outras lembranças.










O Pastoral Portuguesa lembra, oportunamente, que se assinala por estes dias o centenário de Jacques Barzun. From Dawn to Decadence: 500 Years of Western Cultural Life, 1500 to the Present, traduzido como Da Alvorada à Decadência: De 1500 à Actualidade - 500 Anos de Vida Cultural do Ocidente (edição Gradiva) é um dos livros mais importantes do século XX (foi originalmente publicado em 2000). Em poucos estudos de conjunto se encontra um tal brilho, um retrato tão intenso da cultura do Ocidente e uma síntese que dê tanta vontade de ler, com páginas notáveis sobre Shakespeare, Descartes, Montaigne, Dorothy Sayers ou Walter Bagehot, e uma panorâmica tão surpreendente sobre as eutopias do século XVI até Rousseau.

Leia, aqui, uma entrevista de Barzun à Veja.

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||| Devaneios.
O Ricardo lembra, oportunamente, que o Aki Kaurismäki é adepto do FC Porto. Sim, os leitores do Ipsilon deviam sabê-lo.
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|||Memorial às vítimas do massacre de Lisboa em 1506.









Está a decorrer uma recolha de assinaturas online para a instalação, em Lisboa (Largo de São Domingos), de um Memorial às Vítimas da Intolerância, evocativo do massacre judaico de Lisboa de 1506. Assinar aqui.
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25 novembro, 2007

||| O cantinho do hooligan. Um elogio a Quaresma.













Devia existir uma espécie de guarda de honra em redor de Quaresma, para recuperar as bolas que ele perde e entregar-lhas outra vez, para que ele possa repetir a finta ou fazer de novo o que ele fez a Adalto, passando-lhe a bola por cima. Valdano, há tempos, escrevia sobre essa arte de fazer coisas estranhas, próximas do talento puro, situando Quaresma entre os grandes artistas. Mas Quaresma é solista de outra música. Há jogadores que tomam o seu lugar numa grande orquestra; há os que reconhecemos em música de câmara; há os solistas extravagantes, como Cristiano Ronaldo (que os scolarianos perseguiram à pedrada durante um ano inteiro) ou Messi, que não podemos perder de vista. E há os que saltam para o palco ora a solo, ora com o seu grupo, bailaores, cantaores e guitarristas. Sentem-se bem no tablao; não compreendem que interpretam um papel de tragédia, mas sabem passar do cante corto para o cante grande com um silêncio demolidor. A metáfora é propositadamente gitana. O cante p'alante deve ser escutado pelo público e a estrela é o cantaor; Quaresma interpreta-o algumas vezes, em trivelas fantásticas. Mas ele dá-se bem com o cante p'atrás, onde serve o conjunto de bailaores principais, e essa é uma virtude rara. O golo de hoje arrancou-lhe um sorriso aberto, largo, que o acompanhou até ao final como um jaleo cheio de brilhos adolescentes, tra tra tantan, trajili trajili traji, sons desconexos, mas sempre com voz afillá, rouca, de bandoleiro.
Sob a perseguição e pressão da inveja, Quaresma jogou os noventa minutos com a ameaça do cartão amarelo que o impediria de jogar na Luz no próximo sábado. Maturidade e aposta; Jesualdo compreendeu este desafio e deu-lhe a oportunidade de praticar a sua arte sobre o fio da navalha. Num jogo absolutamente mediano e calculado, Quaresma regressou aos golos e sorriu. Ele merece.


Outras notas sobre o jogo:

Carlos Xistra. O árbitro era medíocre. Reconhece-se um árbitro medricas quando ameaça os jogadores com aquele olhar de «não permito isso, eu tenho todo o poder». Xistra conseguiu mostrar o primeiro cartão amarelo a Raul Meireles ao fim de onze jornadas, essa foi a grande novidade.
Lucho. O primeiro golo foi Lucho, com dois fragmentos de passe interpretados como uma milonga, por entre as pernas de um central do Setúbal. Depois, Lisandro a servir. Daí a nada, com dois dribles na área, Lisandro falhou injustamente.
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||| Bellini.










Os livros de cabeceira: o de Christopher Hitchens, Deus Não é Grande, quase concluído (para noites bissextas); o de Zadie Smith, Uma Questão de Beleza (três capítulos de fim de tarde, na varanda); o de Gonçalo M. Tavares, Aprender a rezar na Era da Técnica (ainda não comecei); e os de Tony Belloto, que me ajudam a adormecer (também há o novo Harry Potter, mas guardo-o para a temporada idiota que se aproxima). Depois de Bellini e o Demônio, em que há um manuscrito perdido de Dashiell Hammett, estou agora com Bellini e os Espíritos, onde aparece um taxista paulistano chamado Elvis Presley da Silva.
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||| A Origem das Espécies.













Há 148 anos, assinalados ontem, Charles Darwin publicava The Origin of Species. A ler, no sempre excelente De Rerum Natura, a evocação da data, num post de Palmira F. da Silva.
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||| Um Solar para a poesia.










Tiveram ontem lugar os 3ºs Encontros Internacionais de Poesia promovidos pelos CS Hotéis. As duas primeiras edições realizaram-se no CS Suite Hotel de S. Rafael (Albufeira); a edição deste ano mudou-se para o Douro, tendo como cenário o Solar da Rede, em Mesão Frio.
Eduardo Pitta, Helga Moreira, Maria do Rosário Pedreira, Fernando Pinto do Amaral e valter hugo mãe foram os poetas portugueses presentes; de Espanha veio Juan Carlos Mestre.Para além da noite de poesia, os poetas e jornalistas presentes puderam usufruir da qualidade hoteleira e restaurativa, quer do Solar da Rede, quer da Vintage House, no Pinhão, unidades que integram agora o grupo CS.
Cabendo-me desde o início a missão (fácil) de coordenar estes encontros, regozijo-me com duas coisas:- a disponibilidade de uma empresa privada para apoiar uma iniciativa cultural minoritária;- o ambiente cordial que se consegue criar entre poetas de gerações muito diferentes, transformando um recital de poesia num convívio fraterno e enriquecedor, em que não há ânsias de protagonismo nem invejas.
Foi assim em 2005, foi assim em 2006, voltou a ser assim em 2007. E já lá vão 17 poetas: 13 poetas portugueses e 4 poetas estrangeiros.
[MAV]

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||| Curiosidades poéticas.










«Stalin es el mediodía/ la madurez del hombre y de los pueblos... Stalin alza, limpia, construye, fortifica/ preserva, mira, protege, alimenta.»
[Pablo Neruda, poema «Camarada Stalin»]

«Padre y maestro y camarada:/ quiero llorar, quiero cantar./ Que el agua clara me ilumine,/ que tu alma clara me ilumine en esta noche/ en que te vas.»
[Rafael Alberti, poema «Stalin ha muerto»]

«Stalin capitán,/ a quién Changó proteja y a quien resguarde Ochún/ A tu lado, cantando, los hombres libres van.»
[Nicolás Guillén, poema «Canción a Stalin»]

Em poemas com endereço, assim, prefiro a sinceridade daquele poeta, português e tudo, maneirinho: «Ó meu querido Partido/ Comunista Português:/ Ao dares à vida sentido,/ Deste-me a vida outra vez.»
[FJV]

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||| Cerveja maldita.
Não tem importância, mas ao fim da tarde de domingo, o site Orgulho Hetero tinha sido retirado do ar e o site da cerveja Tagus não lhe fazia qualquer menção. A patrulha venceu. Sobre uma campanha sem jeito, mas venceu. País de plástico e de covardes.
[FJV]

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||| ASAE?
E se a ASAE fosse a Madrid? Retrato de algumas casas que fechariam na capital espanhola, antes de a ASAE ser encerrada.
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||| A não perder.










A não perder, sob nenhum pretexto, a crónica de António Barreto no Público de hoje: «Eles estão doidos!»

«Os cozinheiros que faziam no domicílio pratos e “petiscos” a fim de os vender no café ao lado e que resistiram a toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada, podem rezar as últimas orações. Todos os que cozinhavam em casa e forneciam diariamente aos cafés e restaurantes de bairro sopas, doces, compotas, rissóis e croquetes, podem sonhar com outros negócios. Os artesãos que comercializavam produtos confeccionados à sua maneira vão ser liquidados.
A solução final vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias, os inspectores, os fiscais, a imprensa e a televisão. Ninguém, deste velho mundo, sobrará. Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, que não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas industriais e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado.
Esses exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo; organizam-se no governo nacional, sob tutela carismática do ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho; e agem através do pessoal da ASAE, a organização mais falada e odiada do país, mas certamente a mais amada pelas multinacionais na gordura, pelo cartel da ração e pelos impérios do açúcar.
[...]
Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas, refrigerantes e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos de plástico.
Vender, nas praias ou nas romarias, bolas-de-berlim ou pastéis de nata que não sejam industriais e embalados? Proibido. Nas feiras e mercados, tanto em Lisboa e Porto como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias semanais e levam tudo quanto é artesanal: azeitonas, queijos, compotas, pão e enchidos.
Na província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas e ovos? Proibido.
Embrulhar castanhas em papel de jornal? Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
[...]

Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou. Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou. É proibido.
[...]
Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira que faz isto há trinta anos? Proibido.
As regras, cujo cumprimento leva a multas pessadas e ao encerramento do estabelecimento, são tantas que centenas de páginas não chegam para as descrever.
[...]
Tudo isto, como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde. Para modernizar a economia. Para apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois claro.»
[FJV]

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||| Constitucionalistas venezuelanos. Perdão, espanhóis.









A edição do ABC de hoje mostra o rosto do principal constitucionalista de Hugo Chávez; trata-se de Roberto Viciano Pastor, professor de Direito Constitucional na Universidade de Valencia (titular da Cátedra Jean Monnet sobre Instituições Comunitárias), e ex-militante do grupo franquista Fuerza Nova. Além de trabalhar para Chávez e defender a auto-determinação do País Basco, Viciano é igualmente assessor de Evo Morales (Bolívia) e de Rafael Correa (Equador), tendo sido conselheiro do nacionalista peruano Ollanta Humala. É ele o pai do projecto da nova constituição a referendar no próximo dia 2 de Dezembro. Olé.
[FJV]

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