27 abril, 2007

||| Jorge Sampaio.
Havia alguma coisa que me irritava nos seus discursos redondos, cheios de circunferências e arcos de volta inteira. Geralmente, não queriam dizer nada de muito substancial que não se dissesse em meia-dúzia de frases claras e com gramática adequada. Mas justifica-se pelo facto de Sampaio ser, também, um dos herdeiros da tradição barroca da esquerda portuguesa. Discordei dele em muitas ocasiões, sobretudo quando se aproximava um 10 de Junho e o presidente falava de «patriotismo moderno» e «democrático», pedindo «respeitinho pelos políticos», exigindo «atitude positiva» e criticando «a cepa torta»; agiu mal no «caso Santana Lopes», não mandando tudo para eleições mal Durão Barroso anunciou que partia para Bruxelas; acho que ele entendia mal o país e não se dava bem com ele; como recompensa, o país tolerava-o e achava que Sampaio não era prejudicial ao regime. Acaba de ser nomeado para um cargo flutuante, o de alto representante da ONU para o Diálogo das Civilizações. No caso das caricaturas do profeta foi sensato, nunca alinhando pelo lado obscuro da nossa diplomacia da época, que pregou sermões aos portugueses, chamando-nos licenciosos. Nesse caso, defendeu o diálogo e não a submissão ao terror e à limitação da liberdade. O diálogo verdadeiro só pode existir entre homens e mulheres livres. Nisso, Sampaio tem vantagem sobre outras almas cheias de remorso e de tentações. Não sei se é o suficiente, mas é qualquer coisa.

Adenda: Outra questão, inteiramente diferente, é saber se é justificável a sua nomeação ou não.

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