26 abril, 2007

||| CDR.
Portugal tem uma larga tradição de denúncias privadas, mesquinhas, filhas da puta, de vizinhos maledicentes e de velhas taradas. À sua medida, os CDR* portugueses funcionaram sempre em situações de desregramento do poder ou da sociedade. A denúncia de judeus velhos e cristãos novos foi o que se sabe. A denúncia por maldade. A denúncia durante a I República. O denuncismo durante a revolução. A denúncia para as primeiras páginas. A denúncia vergonhosa. A denúncia dos pobres e ofendidos. A denúncia de adúlteros e de sodomitas. A denúncia à PIDE. A denúncia aos padres & às auctoridades. As cartas anónimas que circulam na Administração Pública. A perseguição a quem se queixa com bases legais. A queixinha avulsa (sabem do que estou a falar...). A queixinha por método. A denúncia por hábito. A maldade de vizinhança. O Ministério da Justiça partilha das inquietações da sociedade sobre a corrupção e quer, portanto, comprometer a sociedade nessa luta sem tréguas e sem quartel. Já havia uma Carta de Ética, dos tempos de Guterres; mas agora são os funcionários públicos que estão a ser desafiados. Denunciem. No Brasil há um Disk-Denúncia permanente e abrangente. A sociedade deve vigiar-se. Controlar os vizinhos e combater o tráfico de influência. Ser honesta e não aceitar gratificações. Mas há razões para ter algum medo. Basta conhecer a história da denúncia em Portugal. Há sempre quem tenha dúvidas, que chatice.

* - Comités de Defensa de la Revolución, em Cuba.

Etiquetas: ,