16 abril, 2007

||| Bienal, resumo do dia.
Ontem, durante um debate na Bienal do Livro, alguém da assistência pergunta se os meus personagens «também são marcados pela melancolia, essa coisa do fado, a tristeza do fado». Eu vivi perseguido pelo fado porque não gostava de fado. A edição alemã de Um Céu Demasiado Azul chama-se Der Letzte Fado [O Último Fado], embora nunca se pronuncie o nome «fado»; tanto a minha agente como a minha editora acharam que era muito bom, como título. Lá foi «fado» no título. Um jornal francês diz que um dos livros está «marcado por John Le Carré e pela melancolia do fado»; uma crítica alemã vê «o espírito e a música do fado» a acompanhar a investigação dos detectives Jaime Ramos e Filipe Castanheira, os mesmos que, noutro lugar são considerados «polícias atípicos, como uma música de fado ouvida a meio da noite». Sucumbi ao fado. Mas eu não poderia dizer que Jaime Ramos ouve canções de Dick Farney, boleros de Lara, e que o imagino a vaguear ao som de canções de Van Morrison. «Olha, eu preferia que eles fossem marcados pelo rock. Mas pode ser fado. Seguramente é fado.» Percebi um certo alívio. Vendi mais uns livros por isso. Obrigado, fado.