08 dezembro, 2006

||| De facto, é o fim. [A TLEBS]













Leiam o texto de João Andrade Peres, magnífico e arrasador, publicado na edição de hoje da Actual, do Expresso (sem link). Depois deste artigo corajoso e ponderado (que não põe em causa a evidente necessidade de alterar a terminologia actual -- no que parece todos estarmos de acordo) não resta outro caminho, à Ministra da Educação, senão repensar muito seriamente tudo o que está a ser feito nesta matéria. Andrade Peres faz sugestões muito úteis (uma delas seria a de uma Terminologia da Disciplina de Português, por exemplo, para acabar com a guerra inócua entre Linguística & Literatura no Secundário), efectua uma separação das águas muito útil para que não se confunda a sua argumentação com a de alguns comentadores generalistas e ignorantes; salienta alguns aspectos positivos da terminologia; e desmonta passo a passo, ponto por ponto, a TLEBS. Em meu entender, é o fim da TLEBS (ver ainda o artigo de Jorge Morais Barbosa no JL). Seria uma vergonha se o Ministério permitisse a continuação do descalabro.

Ou podem consultar aqui uma versão mais alargada (é o site do próprio Prof. Andrade Peres, onde poderá também encontrar uma versão em pdf; aqui, sublinhados meus):


«Não,
a TLEBS deve ser rejeitada, antes de mais, porque cientificamente não merece crédito (quod est demonstrandum, obviamente). Adicionalmente, e dado o fim a que se destina a Terminologia, não é também despiciendo o facto de que, mesmo que ela tivesse mérito científico, se tornaria um objecto inútil por não ser servida por materiais de consulta sólidos, nomeadamente uma boa gramática do português de perspectiva inovadora, que não existe. Acresce ainda que a TLEBS é chocante pela sua insensatez no que respeita a extensão, pelo carácter abrupto (direi mesmo brutal) do seu modo de introdução (por oposição a um processo eventualmente faseado ao longo de anos) e pela insensibilidade que revela à importância da coesão inter-geracional, criando rupturas absolutamente inúteis.»

«[...] Em primeiro lugar,
alguns dos autores não são, de modo algum, as pessoas mais qualificadas do país nas suas áreas e estas não foram chamadas a dar o seu contributo crítico sobre o seu trabalho; em segundo lugar, alguns dos autores claramente excederam os limites das suas competências específicas, trabalhando sobre questões de que pouco ou nada entendem; finalmente, por mais elevada que pudesse ser a qualidade do trabalho realizado separadamente por oito entidades distintas (nuns casos, indivíduos, noutros grupos), só por milagre a conjugação dessas peças autónomas no todo da TLEBS poderia ter resultado em algo de coeso e consistente, quando nem uma única vez essas diferentes entidades trabalharam em conjunto para articular a nova terminologia para o ensino do português.»

«
Infelizmente, os aspectos negativos são bem mais abundantes. Dividi-los-ei em três tipos: (i) deficiências metodológicas, (ii) erros de formulação e (iii) erros conceptuais.»

«
Erros de formulação: Incluo nesta parte da minha exposição uma série de dislates que não quero imaginar que os autores assumam, se pensarem. Prefiro admitir (sem grande convicção, em alguns casos) que foram erros de formulação que não detectaram, sob as várias pressões que sempre nos atormentam. Quer isto dizer que, se assim tiver sido, eu compreenderei, mas nem assim desculpo: nem a incúria dos autores nem a fragilidade do sistema de produção da TLEBS, que nada foi capaz de filtrar.»

«[...] Lamento dizer que os comentários que aqui expendi (com a ironia que, para mim, quadra bem com tudo o que é tragicómico) mais não representam do que – acentuo bem –
uma pálida amostra do muito mais que há para dizer de negativo acerca da TLEBS, nuns casos por manifesta insuficiência ou incorrecção da informação dada, noutros por uma estreita visão do objectivo a atingir, a que faltou um rasgo de coragem para as inovações e as rupturas fundamentadas que se impunham. Apesar disso, eu quero muito não perder mais tempo com a TLEBS, ou, dito de outro modo, não quero gastar mais cera com tão ruim defunto. Só o farei se a isso me sentir obrigado (sans rancune, pois estará a rodear as reais questões quem pensar em conflitos pessoais).»

«[...] não tenho dúvidas em declarar publicamente, com plena convicção e sentido da responsabilidade que assumo, que, independentemente das partes válidas que a TLEBS contém, o conjunto que abrange a Morfologia, as Classes de Palavras, a Sintaxe, a Semântica Lexical e a Semântica Frásica – que constitui precisamente o cerne do sistema linguístico –
apresenta deficiências e lacunas de uma gravidade tal que fazem desta terminologia, tomada na sua globalidade, um objecto que não merece crédito científico, que envergonha a Linguística portuguesa e o próprio país e que não se entende como pode estar a ser introduzido no sistema de ensino. Se alguém tivesse como objectivo contribuir para tornar o ensino do português algo de odioso para os alunos, não poderia ter dado melhor ajuda.»

«
Seria interessante saber quanto já despendeu o Estado com toda esta barafunda: com autores, gabinete de apoio, materiais, deslocações, acções de formação realizadas e a realizar, etc. Note-se que não estou a dizer que o erário público não deve suportar despesas desta natureza e com os fins em causa, mas apenas a deixar implícito que tem de o fazer com critério, não esbanjando o dinheiro dos contribuintes em inutilidades, como é o caso.»

«
A falta de qualidade científica da TLEBS, aliada a uma clara ausência de sentido da realidade no que respeita tanto a professores como a alunos, faz desta Terminologia uma verdadeira calamidade que se abate sobre as escolas do país. Em conformidade, é como cidadão e como linguista que daqui apelo à Senhora Ministra da Educação no sentido de travar o insano processo já iniciado de experimentação da TLEBS. Em nome do rigor e da qualidade científica e a bem do ensino da língua portuguesa, peço-lhe instantemente que, corrigindo erros de Governos anteriores, suspenda a sua aplicação e nomeie de imediato uma comissão de peritos que faça o ponto da situação.»

«Não disse alguém que a guerra era séria de mais para ser deixada só aos militares? Pois bem, a terminologia com que todos falaremos sobre a língua que em parte nos identifica talvez mereça preocupação análoga. O que não pode acontecer é, como parece ser o caso, estar a TLEBS a ser revista pelo grupo a quem foi confiada e que já mostrou do que é capaz. Pelo menos alguns dos seus membros revelaram à saciedade não ser idóneos para continuar ligados a este processo e seria um escândalo nacional que nele se mantivessem.
Depois do que fizeram, não podem pedir que os deixem trabalhar, como se nada tivesse acontecido, devem antes saber retirar-se de cena com dignidade e discrição, assumindo que erros todos podem cometer.»

25 abril, 2007

||| TLEBS, o regresso.












Como já tinha escrito, o Ministério da Educação não teve coragem (ao menos científica) para acabar com a trapalhada da TLEBS. Manteve a TLEBS depois de ter mandado suspender a experiência, que estava a dar maus resultados. Como acontece no ensino do Português, tudo o que dá maus resultados é geralmente aprovado pelo Ministério da Educação. Espero que a ministra da Educação ponha ordem nessa corporação.

Hoje, no DN, Vasco Graça Moura retoma o assunto.



















Ver também:

>>> «O Ministério da Educação explicou que a tutela se compromete a garantir que os alunos expostos à nova terminologia e os que tiveram a antiga vão conseguir responder correctamente aos itens apresentados no exame», aqui. O Ministério afirmava que havia erros mas que era necessário fazer exames na mesma. Mais tarde, anunciou que ia suspender a TLEBS.

>>> A petição contra a TLEBS (que continua de pé, portanto), organizada por José Nunes.

>>> Comentário de João Paulo Sousa sobre a TLEBS.

>>> Declarações de Luís Capucha, director-geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular em que assume que a terminologia «tem deficiências» mas não aceita retirá-la das escolas.

>>> Artigo de Vasco Graça Moura no Diário de Notícias: o professor de português «não pode ser obrigado a ensinar o erro».


>>> Texto do Prof. Andrade Peres sobre a TLEBS, arrasador, originalmente publicado no Expresso (destaques aqui): «A falta de qualidade científica da TLEBS, aliada a uma clara ausência de sentido da realidade no que respeita tanto a professores como a alunos, faz desta Terminologia uma verdadeira calamidade que se abate sobre as escolas do país.»

>>> Artigo de Vicente Jorge Silva no Diário de Notícias: «A TLEBS é uma metáfora das trágicas disfuncionalidades do ensino em Portugal. Entre a velha escola autoritária e elitista da ditadura e o vertiginoso experimentalismo pedagógico - é esse, precisamente, o caso da TLEBS - que assaltou a escola democrática e massificada, instalou-se o vazio e o caos. O centralismo burocrático do Ministério da Educação atingiu um ponto insustentável, favorecendo o corporativismo retrógrado dos sindicatos dos professores. [...] Pior do que a TLEBS é impossível.»

>>> Artigo de Vasco Graça Moura no Diário de Notícias: «O ministério não pode forçar os professores de português a uma "licenciatura" em Linguística feita a martelo. E muito menos pode tratar os alunos como cobaias descartáveis. É a sua preparação para a vida que está em jogo. [...] A sobranceria corporativa e despeitada de alguns linguistas autopromovidos a vestais só lhes fica mal. Desautoriza todos os professores que não saiam da sua coutada. E mostra que eles, tão preocupados com a semântica das frases, afinal ainda não perceberam do que se está a falar.»

>>> Texto de Helena Buescu no Público.

Ilustrações de José Nunes.

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||| TLEBS, o regresso, 2.







Preocupações sobre a TLEBS:

1. A Petição continua de pé: ainda nem sequer foi debatida em plenário da Assembleia da República, como é de Lei. Sobre isso mesmo, o José Nunes enviou a semana passada um pedido ao Presidente da AR reiterando a urgência no agendamento deste debate. Aguardemos. Os deputados da comissão de educação andam entretidos com o quê, exactamente?

2. Sobre esta Portaria que retoma a TLEBS: não só é coxa relativamente ao Secundário como é omissa relativamente ao 1º ciclo do Básico: fala apenas na transposição da TLEBS para os 5.º, 6.º, 7.º, 8.º e 9.º anos. Então e do 1.º ao 4.º? Nada? Cai do céu?

3. Sobre o Secundário: não estão reunidas as condições legais para a realização de exames. Para além de os programas não estarem homologados, a TLEBS entrou no programa quando ainda era um mero documento de trabalho. Sobre esta matéria o José Nunes levantou a hipótese da realização de um inquérito parlamentar ao senhor Presidente da A.R.

4. Espera-se ainda o resultado do pedido de inconstitucionalidade entregue na Provedoria de Justiça. Tal como se espera que os deputados se pronunciem sobre a inconstitucionalidade da lei de Salazar (decreto-lei 47 578, de 10/03/1967), ainda em vigor, que permitiu esta disparatada experiência: os pais e encarregados de educação têm de ser chamados a pronunciar-se e a dar o seu consentimento sobre experiências que envolvam os seus filhos e educandos. Este é um ponto de honra, uma responsabilidade de que não se deve abrir mão para o Estado. Pergunta o José Nunes: «Desta vez foi a TLEBS, para a próxima o que se será? Caso a A.R. não tome a iniciativa de revogação desta Lei, a mesma será pedida ao Provedor de Justiça, de modo formal. No fundo trata-se do que 8.132 pessoas pedem na alinea c) da Petição, que não se esgota na TLEBS, coisa que, se calhar, o Ministério da Educação ainda não reparou.»

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24 setembro, 2007

||| TLEBS: em que ficamos?
Ficamos em que o Ministério da Educação não teve coragem de pôr a TLEBS a andar. Essa é a primeira conclusão depois de ler esta notícia:

«O Ministério da Educação suspendeu em Abril a experiência da TLEBS, mas não deu instruções aos editores dos manuais sobre o que fazer com os livros que já continham a nova terminologia. Os editores dos manuais escolares perguntaram, mas a tutela não deu resposta a tempo e horas. Resultado, mesmo com a Terminologia Linguística para Básico e Secundário (TLEBS) suspensa no ensino básico, há manuais do 4.º e 7.º ano a ser usados que contêm a nova terminologia.»
A segunda conclusão: não se sabe se o Ministério não sabe usar o seu poder, ou se não tem poder para decidir, ou se não tenciona cumprir aquilo que promete. Sobre a TLEBS já se disse o que havia a dizer. Resta pô-la a andar. Escrevi em Abril passado: «Como acontece no ensino do Português, tudo o que dá maus resultados é geralmente aprovado pelo Ministério da Educação. Espero que a ministra da Educação ponha ordem nessa corporação.» Não pôs. O Ministério é que parece refém da TLEBS.
[FJV]

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03 dezembro, 2006

||| Uma campanha. [TLEBS]











José Nunes, de Os Dedos, por mail:

«Sou pai, a minha filha está no 5º ano e está a ser avaliada pelos que sabe da TLEBS. Estou em pânico. Faço também parte da direcção da Associação de Pais da escola dela. Estamos no terreno, estamos contra a TLEBS.
A questão nem é tanto entre a Literatura e a Linguística. É uma questão de bom senso. Não dou autorização a ninguém para fazer experiências com a minha filha...nem médicas, nem cientificas, nem pseudo-pedagógicas. Todo o edifício da TLEBS falece de validação. Entre muitas outras coisas, sou arquitecto. E sei que não é nas fundações que se aplicam o mármore de Carrara e as torneiras banhadas a ouro. Podiam até ficar lindas - para quem aprecia o estilo - mas a solidez do edifício ficaria irremediável mente comprometida.
Chamo-lhe a atenção para o processo francês - artigos no Le Figaro e no Le Monde. Cito o Le Monde: "La terminologie doit être fixée dans une liste et "permettre aux parents ou aux grands-parents d'accompagner la progression des enfants". Cito o Le Figaro: "Le linguiste Alain Bentolila remettra mercredi à Gilles de Robien le rapport que ce dernier lui avait demandé sur la grammaire. Le ministre de l'Éducation souhaiterait supprimer les termes trop jargonnants."»


Outras citações:

«Os liguistas têm culpas da situação? Alguma terão, mas a responsabilidade é do ministério, que oficializou com total insensibilidade, sob a forma de portaria, o produto que aqueles gostosamente lhe puseram nas mãos por encomenda. (...) No caso concreto do caso TLEBS, o que está em causa é o facto de a encomenda se destinar ao ensino básico e secundário. Sou a favor da TLEBS mas apenas entre adultos e com consentimento mútuo.» [no Falta de Tempo, mais aqui e, com muito interesse (revelador, revelador...), aqui.]

Ver ainda o Educação Cor de Rosa (e também aqui, aqui e aqui), o Assim Mesmo, Quarta República (mais aqui), Educar («um ensino da Língua Portuguesa que sobrevalorize as derivas taxonómicas, à moda dos excessos classificadores do positivismo oitocentista, pode acabar por matar no ovo o gosto pela própria leitura...»), Mau Tempo no Canil, Estação Central, Tomar Partido, Agreste Avena.

01 novembro, 2006

||| A TLEBS pode exterminar-se.
Tenho estado a tentar exercitar-me na TLEBS, ou terminologia linguística para os ensinos básico e secundário (disponível aqui). O trabalho não tem sido fácil, porque a TLEBS é absurda. Vasco Graça Moura tem sido uma das vozes, senão a principal, a insurgir-se contra esse desmando a perpretar contra o ensino do Português. Recentemente, Maria Alzira Seixo na Visão (o que permitiu um pequeno post scriptum a E. P. Coelho no Público) escreveu um artigo notável. Poucos se têm interessado sobre o assunto, e a TLEBS passará por ser esquecida; hão-de deixá-la passar na resma de reformas que os superiores génios instalados no Ministério da Educação periodicamente apresentam. Ora, a TLEBS, proposta por uma equipa de linguistas (seguir os links apresentados aqui), não é um avanço; constitui uma distracção letal, se a ministra, ocupada em tarefas políticas, não lhe puser um travão, como deve. Esta ideia de que o Português é propriedade de um grupo de génios que detestam o Português, pode exterminar-se. Parar a TLEBS é uma etapa.

Ver também Eduardo Pitta e João Gonçalves.

09 janeiro, 2007

||| TLEBS.
O monstro volta a atacar. Só por preguiça não escrevi nada este fim-de-semana sobre as declarações do director-geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular, do Ministério da Educação. Nelas, o dr. Luís Capucha afirma que a TLEBS tem deficiências e que a maior parte delas só se corriguirá depois de serem identificadas «na prática com os alunos», que servirão de cobaias para uma terminologia que «tem deficiências», como reconhece à partida. Apesar disso, o dr. Luís Capucha entende não querer «que a TLEBS seja um corpo estranho nas escolas». É brilhante. Portanto, haverá agora uma comissão que corrigirá as deficiências (onde estará, entre outros, o Prof. Aguiar e Silva), mas o Ministério vai fazer uma «comparação, através dos exames do 9.º e do 12.º ano» entre os alunos que tiveram a TLEBS e aqueles que não a tiveram -- para saber quem deles está melhor a Português (vai ser bonito, vai).
É o corporativismo do ME a funcionar no seu melhor, uns defendendo os outros para que uns e outros não sejam atacados.
Mas há uma passagem atrevida na entrevista com o dr. Luís Capucha; afirma ele: «A TLEBS tem diversos níveis de complexidade e é um instrumento científico. Provavelmente não teria feito sentido que o anterior Governo a tivesse aprovado.» Pergunta a jornalista Barbara Wong: «Discorda dessa decisão?» Volta: «Creio que o Governo PSD-CDS/PP deveria ter incentivado a construção de uma terminologia uniformizada; mas a principal missão do ME seria pegar nesse instrumento científico e transformá-lo em conteúdos passíveis de administração ao ensino.» Mas que tem a ver isto com a jogada à defesa, invocando o Governo PSD-CDS/PP?

[O link fornecido acima está disponível apenas para assinantes, pelo que publiquei a entrevista na íntegra, aqui.]

01 dezembro, 2006

||| As hipóteses.
Os técnicos da TLEBS acham que ninguém que valha a pena está contra a TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos Básicos e Secundário); que eles continuarão a avaliar a experiência e que, depois, nos comunicarão (a nós, incréus) os resultados; que nós (seja lá isso o que for) não entendemos nada do assunto; a alguns faltou a desfaçatez para nos chamar reaccionários, mas a ameaça está lá, inteirinha; que isto é o pessoal da literatura contra a Linguística (eu pertenci à classe, mas enfim); que eles é que sabem da Língua, e que o assunto não pode ser deixado à disposição de civis. Percebe-se.
Tenho duas reacções em relação ao assunto, o que não põe em causa o respeito que me merecem os linguistas que trabalham na TLEBS. A primeira é tentar, pacientemente, ripostar e contra-argumentar, citar casos, procurar explicações para o desastre do ensino do Português (que, sim, posso também atribuir aos linguistas), desmontar a TLEBS. A segunda é, citando dois ou três casos da TLEBS, rir um pouco e, com amigável sinceridade, atirar-me ao Ministério da Educação por este descaminho.

25 junho, 2007

||| TLEBSilva.
Um post de Pinho Cardão alertou-me para as declarações do ministro Augusto Santos Silva acerca da TLEBS: «O actual Governo não concorda com experiências que têm uma parte dos actuais estudantes como cobaias. Por essa razão o governo PS generalizou a todos os alunos a aplicação da TLEBS. Foi essa generalização que levou à suspensão...» Às vezes tenho saudade de certas pessoas. Uma delas chamava-se, em tempos, Augusto Santos Silva.

P.S. - Na verdade, o que levou à suspensão da TLEBS foi o movimento de opinião e de protesto liderado por José Nunes, mais as opiniões de gente que se mostrou indignada (como o Prof. João Andrade Peres, por exemplo, ou Vasco Graça Moura, ou Maria Alzira Seixo, ou Helena Buescu). A avaliar pelo comportamento do Ministério da Educação em matéria curricular e de «experimentalismo», ainda hoje teríamos a TLEBS imposta superiormente.

[FJV]

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20 abril, 2007

||| TLEBS, parte dois. O regresso.
O Ministério da Educação não teve coragem de pôr fim à TLEBS. Ficou em meias-tintas. A TLEBS foi suspensa mas regressa, não se sabe se depois de revista pelos senhores de uma comissão onde se ouvem uns aos outros e chamam ignorantes aos que têm dúvidas legítimas (a expressão ficou), ou se depois de passada a tempestade. Nessa altura voltaremos à carga. Porque o problema da TLEBS não é «um conjunto de pormenores»; é a sua substância, o seu sentido e a sua quase inutilidade. Espero que a ministra da Educação ponha ordem nessa corporação.

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06 dezembro, 2006

||| Ah, os reaccionários. [TLEBS]
Artigos de hoje no Diário de Notícias: o de Vasco Graça Moura e o de Vicente Jorge Silva.

VGM: «O ministério não pode forçar os professores de português a uma "licenciatura" em Linguística feita a martelo. E muito menos pode tratar os alunos como cobaias descartáveis. É a sua preparação para a vida que está em jogo. [...] A sobranceria corporativa e despeitada de alguns linguistas autopromovidos a vestais só lhes fica mal. Desautoriza todos os professores que não saiam da sua coutada. E mostra que eles, tão preocupados com a semântica das frases, afinal ainda não perceberam do que se está a falar.»

VJS:
«A TLEBS é uma metáfora das trágicas disfuncionalidades do ensino em Portugal. Entre a velha escola autoritária e elitista da ditadura e o vertiginoso experimentalismo pedagógico - é esse, precisamente, o caso da TLEBS - que assaltou a escola democrática e massificada, instalou-se o vazio e o caos. O centralismo burocrático do Ministério da Educação atingiu um ponto insustentável, favorecendo o corporativismo retrógrado dos sindicatos dos professores. [...] Pior do que a TLEBS é impossível. Ter-se atingido tal grau de autismo e arrogância só mostra como o ensino em Portugal pode tornar-se uma fábrica de Frankensteins em potência. E que, para cúmulo, ainda reclamam: "Deixem-nos trabalhar."»

25 janeiro, 2007

||| TLEBS, petição.
A petição contra a experiência TLEBS foi hoje entregue por José Nunes na Assembleia da República, Presidência da República, Primeiro-Ministro, Secretário de Estado Adjunto e da Educação. Tinha 8.132 assinaturas contra a insanidade.

Em breve será publicada a portaria que suspenderá a legislação que regulava a TLEBS (portarias n.º 1488/2004, de 24 de Dezembro e n.º 1147/2005, de 8 de Novembro, por exemplo).

03 dezembro, 2006

||| Reparo.
Há um argumento obnóxio que circula com bastante insistência: o de que a campanha contra a TLEBS é de direita e conservadora*. Tamanho dislate** vem de gente que considerava Chomsky um perigosíssimo direitista depois de ter lido «os modelos de 1957 e 1965» acerca da a-historicidade da linguagem e do modelo inato de aquisição das estruturas linguísticas. Podiam inventar outra coisa qualquer e ser mais inteligentes. Mas não; é tudo gentinha pobre de espírito, malabaristas desde os tempos da faculdade. Bem os conheço.

* - Por acaso, o erro é duplo; se bem os entendo, acharam que a discussão contra a TLEBS é uma outra frente de luta contra o governo. Grosseria. A fantástica TLEBS vem dos tempos do governo de Durão Barroso, cuja ministra da Educação se fartou de despachar inanidades. Desculpem o mau jeito.

** - Ou será por Maria Helena Mira Mateus ser «de esquerda»?

||| As hipóteses, 3. [TLEBS]













O Educação Cor de Rosa dirigiu-me um pequeno repto a propósito do artigo de Rui Tavares no Público deste sábado. Basicamente, estaria em causa uma disputa do território entre Linguística e Literatura. Para que se saiba: fui o organizador do I Congresso de Estudos Linguísticos, em 1984, na Universidade de Évora, cujo tema era «Linguística e Literatura» (que nos possibilitou duas lições magistrais: uma de Óscar Lopes, outra de António José Saraiva, num reencontro notável entre os dois mestres; o segundo congresso teve como tema «Linguística e Teoria do Texto» e permitiu papers muito actuais nessa altura e ainda hoje, de Enrique Bernárdez, John Morris Parker, Aguiar e Silva, Fernanda Irene Fonseca, entre outros). Não suponho, como não supunha na altura, que essa distinção e essa disputa sejam fundamentais; ela é, antes de mais, herdeira de outras disputas que vêm dos anos cinquenta, sessenta e setenta, quando a Linguística se ocupou, também, do chamado «discurso literário», enquanto discurso (não vale a pena enumerar as referências: Jakobson, Kristeva, etc.). Curiosamente, foi a autonomia crescente da Linguística, sobretudo a partir da Linguística de Texto (van Dijk, Schmit, Petöfi, etc.), que ditou a separação dos dois corpus: o da Literatura e o da Linguagem. Questões coevas e estapafúrdias, como a da literariedade, foram abandonadas pela Linguística, com benefícios gerais para linguistas e para estudantes de literatura. Não vale a pena, portanto, reabilitar o combate. Mas é importante distinguir os campos e os combates. O que me separa da TLEBS não é a disputa sobre o papel da Linguística (até por razões sentimentais...) mas questões teóricas, de concepção e de nomenclatura -- ou seja, sobre a própria natureza da terminologia, que acho desadequada e pode dar origem a erros de interpretação e de classificação.
As minhas dúvidas têm, também, a ver com o ensino do Português em geral e com a sua pulverização pela Linguística. Não sei se a TLEBS contribuirá para o melhor conhecimento da língua e para uma melhor relação com o ensino do Português. Suponho que não. Que dificultará e que criará problemas de perspectiva. E mantenho, portanto, que um maior investimento na leitura de textos literários, por exemplo, é mais útil para esse ensino.
Há outras questões colocadas pela adopção de léxico vulgar. Mas eu não sou inimigo da gramática normativa. Acredito, até, que foi o seu abandono, ditado por preocupações teóricas, que nos levou a este estado.

02 fevereiro, 2007

||| TLEBS no exame.
Isto é o que eu chamo sentido de oportunidade por parte dos mandarins no Ministério da Educação, secção de exames de 12.º ano: «O exame nacional de Português B do 12º ano vai incluir perguntas relativas à Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário (TLEBS), apesar de a tutela já ter reconhecido a existência de erros e anunciado a sua suspensão em 2007/2008.»
Não há paciência.

25 janeiro, 2007

||| TLEBS. O debate. {Actualizado}
Para quem seguiu o debate ontem à noite sobre a TLEBS, na RTPN, parece evidente que só uma enorme falta de pudor permite que o Ministério da Educação continue com este processo azarado e ridículo (o que foi explicado por João Andrade Peres). A mesma falta de pudor atinge o Dr. João Costa, que deveria demitir-se imediatamente de todos os cargos relacionados com esta «reforma linguística» (os motivos foram explicados, um a um, por Maria Alzira Seixo). Seria uma oportunidade para que as «corporações ideológicas» fossem sacudidas («varridas» seria um excesso) do Ministério.
Entretanto, José Nunes entrega hoje a petição em São Bento e em Belém. Ele deu uma lição.

Adenda: Não, não se trata de perseguição e tenho o maior respeito pelo Dr. João Costa, mas a verdade é que o professor faz, também, parte do conselho científico do Plano Nacional de Leitura.

Adenda 2: ler, entretanto, este excelente reparo de João Paulo Sousa, no Da Literatura.

15 janeiro, 2007

||| TLEBS.




Não esquecer de assinar a petição contra a TLEBS.

15 dezembro, 2006

||| A TLEBS.
Confira aqui e assine um pedido para reconsiderar a TLEBS.

04 dezembro, 2006

||| As hipóteses, 5. [TLEBS]
João Cruz, por mail:

«A minha formação base é de Engenharia e talvez por isso tendo a analisar a realidade numa perspectiva de simplificação da mesma. Mas atenção, simplificar não é ser simplista pois enquanto o primeiro visa a optimização, o segundo deixa de fora partes importantes da explicação. É nesta óptica que olho para aquilo que uma Língua deve fazer e confesso que há algumas coisas de que só me apercebi, ou pelo menos fi-lo com um olhar crítico, quando comecei a acompanhar os meus filhos ao nível da aprendizagem da leitura. O que me parece é que, a grande riqueza da língua e do sentido literário da mesma advém essencialmente do vocabulário, das regras gramaticais e de algo a que chamaria flexibilidade no rendilhar das palavras e frases.
Sem que tenhamos que ser particularmente eruditos, a forma como podemos dar liberdade ao pensamento sem que a excessiva rigidez nos tolde o mesmo, ou sem que um manto pouco claro cubra o sentido do que queremos dizer, são para mim boas medidas da eficiência de uma Língua. A este respeito devo confessar que o pragmatismo brasileiro já fez mais pelo Português nas últimas décadas que os Portugueses, na sua atitude de preservação original, ao longo dos últimos dois séculos. Penso também que os Anglo-Saxónicos são bons exemplos desta abordagem.
Daqui resulta que o esforço de evolução deveria ser feito não em construção de novos conceitos gramaticais de génese duvidosa, como a TLEBS, mas sim em simplificação. Poderia dar muito exemplos mas deixo apenas, sob a forma de uma questão, alguns dos mais simples e elucidativos, prendendo-se com a ortografia. Porque temos letras que valem de forma diferente consoante a situação? Porque é que um S, às vezes vale Z, ou um O vale U, ou um E, vale I, etc, etc? Quando pergunto porquê, não procuro uma explicação que se encontra num qualquer prontuário, questiono sim para que serve.
Pode parecer irrelevante mas julgo que elevar a facilidade de uma aprendizagem, principalmente quando a complexidade não acrescenta valor é uma missão nobre, num mundo pleno de informação.»

||| As hipóteses, 4. [TLEBS]
Escreve, por mail, Isabel Santos:

«Sou a favor da mudança no ensino da Língua. Sou licenciada em Português/Inglês e já tive alunos que não sabem a diferença entre um adjectivo e um advérbio ou entre uma conjunção e uma preposição; que distribuem de forma automática os famosos e erróneos complementos verbais, que desconhecem a importância dos segmentos sonoros e surdos na pronúncia das formas verbais no Inglês. E isto acontece porque durante anos, ou décadas, se abafou a linguística “no manto diáfano” da literatura. É mais fácil analisar um texto por aula ou fazer a escansão métrica. Na realidade, há muitos professores de línguas ignorantes, porque julgam que ensinar uma língua é saber analisar um texto dessa língua. Não considero que a nova velha terminologia seja assim tão escabrosa. Para os alunos, sê-lo-á ou não dependendo da atitude e competência do professor. Manter o antigo método de (não) ensino e a “fácil” terminologia só ajudará a perpetuar o desconhecimento que temos da nossa língua. Já agora, quando se ensina o aparelho digestivo ou a tabela periódica também se altera a terminologia?»

A Joana C.Dias, por mail:
«A minha mãe, professora de Português reformada tem amigas que ainda leccionam e que a põem a par do que se passa no terreno. Agora a Tlebs anda na ordem do dia, e para além dos artigos de opinião que a minha mãe lê, ouve as ex-colegas que contam as barbaridades da formação para professores que os tlebso-iluminados vão fazer ao Liceu (quer dizer, escola Secundária) [...] no Porto a mando do Ministério. Entre algumas particularidades, a senhora formadora de professores deu como exemplo de palavras homónimas: «sede» («quero beber porque tenho sede») e «sede» («a sede do BPI é no Porto»), que são na realidade homógrafas. Também disse que os substantivos terminados em "o" eram masculinos; foi-lhe perguntado como se classificava "nómada" e a senhora respondeu prontamente que não se dão exemplos desses aos alunos. Ok, é maneira original de fazer e explicar gramática ou seja lá o que lhes querem chamar agora. Só que também não explicou o que se faz com "dia" e tantos outros substantivos, ou quantificadores ou lá o que é, ligados a profissões: o pianista, o electricista. A senhora não sabe é gramática.»