04 dezembro, 2006

||| As hipóteses, 5. [TLEBS]
João Cruz, por mail:

«A minha formação base é de Engenharia e talvez por isso tendo a analisar a realidade numa perspectiva de simplificação da mesma. Mas atenção, simplificar não é ser simplista pois enquanto o primeiro visa a optimização, o segundo deixa de fora partes importantes da explicação. É nesta óptica que olho para aquilo que uma Língua deve fazer e confesso que há algumas coisas de que só me apercebi, ou pelo menos fi-lo com um olhar crítico, quando comecei a acompanhar os meus filhos ao nível da aprendizagem da leitura. O que me parece é que, a grande riqueza da língua e do sentido literário da mesma advém essencialmente do vocabulário, das regras gramaticais e de algo a que chamaria flexibilidade no rendilhar das palavras e frases.
Sem que tenhamos que ser particularmente eruditos, a forma como podemos dar liberdade ao pensamento sem que a excessiva rigidez nos tolde o mesmo, ou sem que um manto pouco claro cubra o sentido do que queremos dizer, são para mim boas medidas da eficiência de uma Língua. A este respeito devo confessar que o pragmatismo brasileiro já fez mais pelo Português nas últimas décadas que os Portugueses, na sua atitude de preservação original, ao longo dos últimos dois séculos. Penso também que os Anglo-Saxónicos são bons exemplos desta abordagem.
Daqui resulta que o esforço de evolução deveria ser feito não em construção de novos conceitos gramaticais de génese duvidosa, como a TLEBS, mas sim em simplificação. Poderia dar muito exemplos mas deixo apenas, sob a forma de uma questão, alguns dos mais simples e elucidativos, prendendo-se com a ortografia. Porque temos letras que valem de forma diferente consoante a situação? Porque é que um S, às vezes vale Z, ou um O vale U, ou um E, vale I, etc, etc? Quando pergunto porquê, não procuro uma explicação que se encontra num qualquer prontuário, questiono sim para que serve.
Pode parecer irrelevante mas julgo que elevar a facilidade de uma aprendizagem, principalmente quando a complexidade não acrescenta valor é uma missão nobre, num mundo pleno de informação.»