05 junho, 2007

||| O problema da natalidade.
O Estado gosta muito da natalidade dos seus cidadãos, exercitando-se em teorias sobre a fraca taxa de reprodução do povo, quase sempre em jeito de queixinhas. Que as pessoas já não querem famílias numerosas (fazem elas bem), que não estamos a olhar bem para o problema da taxa de natalidade europeia, que precisamos -- enfim -- de mais filhos gerais para equilibrar a previdência, as contas do Estado, o que vai por aí fora. Depois, o argumento moral, que não falha: os europeus não se reproduzem e daqui a umas décadas desaparecem. Portanto, resumindo, o que o Estado quer é que os cidadãos se «sacrifiquem» em seu nome, para reequilibrar as contas. Dito assim, parece uma cousa fracturante, do género «toca a reproduzir».
Há tempos, o governo ensaiou uma forma de discriminação negativa das famílias pouco numerosas ou dos celibatários. A coisa ficou por aí, no capítulo dos ensaios. O presidente da República voltou a falar do assunto recentemente, insistindo «no problema». Ora, «o problema» é que a vida está como está, e ninguém de cabeça a funcionar com o mínimo de neurónios aceitáveis quer pensar nas suas obrigações reprodutivas em nome do Estado. O Estado que tenha filhos onde quiser, mas não aborreça as pessoas.

PS - Há o método islandês, claro: um dia da semana sem televisão destinado à fisiologia reprodutiva. Coisa de outros tempos.

Ver post de Jorge Marmelo: «E depois vem o argumento, que ainda há dias ouvi: “Qualquer dia acabam-se os portugueses”. E depois? Vem daí grande mal ao mundo? Não. [...] Calhando, o problema das contas do Estado português até fica resolvido no dia em que acabarem os portugueses.»

[FJV]

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