21 agosto, 2007

||| Resumo.













Um grupo de meninos e meninas alternativos, onde (a avaliar pelos textos e pelos discursos) se misturam o discurso radical ecologista, o gosto pelos adubos orgânicos, os narguilés, a new age, a mentalidade anti-científica e a vulgata esquerdista, decidiram promover um espectáculo – destruir um hectare de milho transgénico, invadindo uma propriedade e ministrando, alto e bom som, sempre com os microfones das televisões ligados, lições de moral, ecologia e política. Para não ir mais longe, trata-se de uma violação da propriedade e da lei, além de um ataque ao trabalho de um pequeno agricultor, aplaudida – de quatro – por “especialistas em sublevações”, desde que não as sofram eles na pele. As iniciativas dos meninos (que tiveram o cuidado de se resguardar contra o pólen, pobrezinhos, numa iniciativa “de acção directa e desobediência civil”) foram incluídas num site governamental; isto não constitui novidade nem é caso para escândalo ou para desviar as atenções do essencial, uma vez que a ampla generosidade institucional para com grupos alternativos mistura a sua própria generosidade com a duvidosa boa-fé dos outros – ou seja, com a sua patetice. Há demasiados patetas nas ONG e nos grupos que usam linguagem “ecológica” e “alternativa”; isso é mau para as ONG e péssimo para nós, cidadãos. Aquela linguagem, cheia de metáforas “alternativas” e de ditirambos sobre a “ordem moral & ecológica” é duplamente perigosa: para os próprios, porque pensam que pensam alguma coisa, e para os incautos e generosos, que lhes atribuem alguma importância – é uma linguagem cheia de preconceitos anti-científicos e de coisas que ficam bem, tal como palavras fora de contexto e erva mal misturada. É importante que isso sirva de lição à política de juventude; os jovens devem levar para trás e devem ser ensinados a ler, escrever e contar com alguma competência, arranjando-se-lhes ocupação apropriada e não serem industriados por vândalos.
Finalmente, sobre a natureza “estética” da iniciativa, coisa já suficientemente alvo de chacota, apenas confirma o razoável vácuo daqueles cerebelos. O presidente da República agiu bem ao pedir responsabilidades; o governo deve prestar apoio jurídico ao agricultor lesado, que deve poder processar os meninos; o ministro da Agricultura falou razoavelmente; o ministro da Administração Interna falou tarde demais, para defender a sua corporação, mas deve fazer-nos saber que mandou mesmo proceder a um inquérito porque a actuação da GNR é mais do que duvidosa; e aquela rapaziada deve ser identificada e levada a tribunal (por muito menos, já gente honesta foi à barra). Ou seja: se as televisões sabiam o que ia acontecer, supõe-se que a GNR também deveria saber. Não somos ingénuos.
Quanto ao resto, não vale a pena ser moralista. A vida segue. Mas prontifico-me a contribuir para apoiar o agricultor, tal como contribuo para o auxílio às vítimas de catástrofes naturais. No caso das “catástrofes naturais”, não culpo os céus, porque os elementos são assim mesmo; neste caso, cabe-nos exigir que os meninos sejam punidos.

Adendas: 1) ainda não tinha prestado atenção à acusação que pesa sobre a Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL. Espero que a FCT desminta o rumor. 2) nunca é demais insistir na hipocrisia destes movimentos financiados por dinheiros públicos para promover pseudo-ciência e “banalidades ambientalistas”.
[FJV]

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