11 agosto, 2007

||| Entre as florestas.















No velho hotel, entre as florestas, houve espiões ingleses e alemães, velhos príncipes italianos, uma suposta amante de Salazar, o próprio Salazar, luas-de-mel britânicas, velhos coronéis da Índia inglesa, poderosos em repouso. O espírito mantém-se, ao largo, mas só entre as florestas, num ou noutro corredor, no velho bar (a cozinha piorou muito, mas a simpatia extrema mantém-se, uma cordialidade pura das nossas províncias). Junto dos ciprestes da piscina descobri um vaso com uma planta de plástico, embora a sombra das grandes árvores seja a sombra das grandes árvores. Não sei o que impede as coisas belas de permanecerem como são, a não ser esta doença do «espírito moderno» dos portugueses que trata de remodelar hotéis decadentes que eram bons por serem decadentes, e transformá-los em hotéis assim-assim. Gosto dele, mesmo desta maneira, apesar da relativa devastação da paisagem que arrancou e incendiou árvores no cume das serras. Nos seus anos de glória, não havia piscina; bastava o rumor das árvores, entre relâmpagos; e deviam ter existido fantásticos dias de chuva, ramos de cedros desprendendo-se e caindo nas calçadas.
[FJV]

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