30 maio, 2007

||| Erros ortográficos (A Corporação), 2.
No estado em que as coisas estão, eu aceito quase tudo. Sempre me fez confusão haver níveis destes, separados e bem delimitados: de um lado, a ortografia, do outro a sintaxe, do outro «a adequação» ou «a interpretação». A questão é saber se as pessoas (os cidadãos, os eleitores, os encarregados de educação, os professores, «a comunidade educativa») querem que os alunos saiam da escola a produzirem abundância de erros ortográficos, ou seja, se os erros ortográficos não têm importância nenhuma -- ou se têm. Não entendo como os alunos podem mostrar «que compreenderam» um texto, explicando-o através de uma amostra de erros ortográficos. Sempre pensei que escrever mal era pensar mal, interpretar mal, explicar mal. Portanto, abreviando e simplificando, um aluno pode dar erros ortográficos desde que tenha percebido o essencial do texto que comenta. Numa fase posterior, pede-se-lhe: «Então, criancinha, agora escreve aí um texto sem erros ortográficos.» E ela escreve, escreve.
Aqui, Feytor Pinto, presidente da Associação de Professores de Português, tem razão: se o que estava em causa era aferir a «competência interpretativa», então «mais valia optar pelo modelo da escolha múltipla», o chamado «teste americano». As crianças não davam erros ortográficos e não se discutia se deviam, ou não, ser penalizadas por isso. Obrigar um professor a deixar passar em branco os erros ortográficos é uma injustiça e um precedente grave.
[FJV]

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