||| Isto resolve-se.
Um estudo publicado pela TSN diz que os portugueses não se interessam grandemente pelo País. Portugal é «um país mais atractivo para os portugueses não residentes, enquanto os residentes não se interessam por ele», diz um dos responsáveis pelo estudo, que acrescenta: «Se Portugal fosse uma marca e, se nada fosse feito, estaríamos em risco de desaparecer.» A questão está no «se nada fosse feito», evidentemente. Os portugueses são casmurros, é o que é. Com tanta campanha pela auto-estima, pelo «Portugal Positivo», pelas nossas vitórias históricas, pelas nossas virtudes e glórias – e nada. Contra isto não há remédio, vendo bem; este sentimento é velho de séculos. Não nos habituamos a nós próprios, às condições do nosso destino, que seria o primeiro passo para que as coisas corressem melhor; isto não tem nada de conformista. Vejam-se os debates sobre o futuro da Pátria e das instituições: quase todos falam de um País que seria bom existir, o que daria jeito para tornar mais confortáveis as convicções e o debate entre intelectuais. Mas a verdade é que somos isto. Enquanto não nos habituarmos à ideia de que somos isto, de que é necessário orgulho pessoal, afirmação, esforço individual, não se dará esse salto. Estes temas cansam bastante, são repetitivos, inócuos, irrelevantes. Mas nem tudo tem de ser relevante nesta matéria. Os portugueses merecem melhor sorte, são simpáticos em dias flutuantes, são entusiastas por temporadas – resistem ao ressentimento dominante entre as lideranças, à mediocridade das pequenas elites, melhoram no que podem; nessa matéria, conheço exemplos bastante interessantes, do ensino às grandes empresas e à administração pública. Infelizmente, além das elites que deviam dar exemplo de imaginação, criatividade, parcimónia, bom-senso e bom-gosto geral (e não dão, basta ver a televisão, ler as revistas), as lideranças intermédias são, em boa parte, medíocres, ressentidas, mal formadas, com falta de sentido de humor e com falta de sentido do dever público. Quando ouço tantas críticas à afirmação da «liberdade individual» diante dos «interesses da sociedade» (e quais são eles?), que se acumularam também por causa deste post daninho, confirmo que o problema reside, na verdade, nos «interesses da sociedade» e nos seus intérpretes. Se os «indivíduos» fossem mais exigentes, mais corajosos na sua exigência (para consigo, para com o Estado, para com os serviços prestados pelos outros), andaríamos muito melhor. Nem era preciso chegar aos quartos-de-final e às festas na Expo se Portugaaaale passar nas eliminatórias do Mundial.
A Origem das Espécies
We have no more beginnings. {George Steiner}
5 Comments:
Como escreveu o argentino-americano Kevin Johansen, sobre a Argentina:
"And all the people that aren’t from here would like to come and stay
And all the people that are from here just want to get away"
Também se adapta a Portugal e aos portugueses.
Faltava-me mais este argumento para o rol das que me levam a pensar que temos tanto, mas tanto a ver com os argentinos...
Adorava ver um estudo assim feito para todos os países da UE. Não me surpreenderia que os resultados fossem semelhantes aos encontrados para Portugal. Não acho que as pessoas dos outros países sejam assim tão diferentes de nós.
Ora aí está, Hugo. O problema não é o que pensamos sobre a nossa vida, mas o que fazemos com ela.
O nosso problema, mas isso já todos sabemos, é que se diz mal de tudo, de todos, mas nunca somos responsáveis de nada, e diz-se mal de tudo a todos e de todos aos outros, porque, ainda por cima somos cobardes...não sabemos ser exigentes, mas também esperamos que ninguém exija nada de nós... Isto assim pode durar muito tempo, séculos, ao que parece... Nem sabem, como me fez bem, ter passado mais de metade dos anos de vida que tenho, fora daqui: nem sebastianismo, nem faduncho barato. Mas de vez em quando lá tenho que andar à porrada nisto tudo, quando a mostarda me sobe ao nariz, e é quase todos os dias. Garanto-vos que é cansativo, resultados, não vejo... sou pior que o cavaleiro da triste figura!
e depois, com tanta fama, ajeitamo-nos a caber no fato
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