01 maio, 2006

||| De repente.
De repente, a caixa de correio ficou cheia de mails de amigos esclarecidos que tentam salvar-me do descrédito por ter escrito este post miserável acerca da discriminação negativa dos celibatários e das famílias pouco numerosas. Os argumentos são sérios e mencionam a necessidade de salvar a segurança social e as reformas do futuro através do incremento da reprodução. Um leitor diz que o meu BMW (que eu nunca terei) circula pelas auto-estradas porque o Estado paga aos trabalhadores que as constroem. Outro diz que a nossa demografia está pelas ruas da amargura e que é preciso, suponho, que nos reproduzamos. Outra diz que eu sou um egoísta (entretanto saiu o meu artigo no JN sobre o assunto) e que o futuro espera de nós que sejamos, no mínimo, numerosos. Eu concordo com todos, por conveniência do debate. Mas agradeço que me deixem duvidar de que a reforma da segurança social vai aumentar a taxa de natalidade.

3 Comments:

Blogger JV Nande said...

Eu concordo com o que o Francisco escreveu. Mas, para quem, como eu, começou recentemente a vida contributiva (estranha opção de palavras), a questão premente que se coloca é outra. Enquanto estudava no Secundário, puseram-me reformas atrás de reformas que serviram só para complicar a vida, a mim, aos meus colegas e a quem veio a seguir, e que de nenhum modo ajudaram a uma melhor aprendizagem, antes criaram a confusão de não se saber no início de um ano lectivo como seríamos avaliados no seu fim. Fiz a universidade porque, de certo modo, me foi dito que assim mais facilmente entraria no mundo de trabalho, mas, enquanto advogado, conheci pessoas com trabalhos não qualificados a ganhar dez vezes aquilo que eu ganhava. Agora, que me inscrevi como "Outro Artista" nas Finanças para passar uns recibos de trabalhos criativos, vejo-me obrigado a inscrever-me na Segurança Social. E eu pergunto: com o exemplo que o Estado me tem dado no seu modo de se relacionar comigo, o que me garante sem sombra de dúvida que as minhas contribuições garantirão uma assistência médica capaz e uma pensão de reforma satisfatória? Para quê e o que estarei eu a pagar?

12:53 da manhã  
Blogger Sérgio Aires said...

Claro que este tipo de política não contribui - nem tinha de contribuir - para o aumento da taxa de natalidade. Este argumento foi mais um disparate do tipo "e olha que assim ainda por cima estimulamos a natalidade!". Além do mais, há uma pergunta sem resposta: qual é o limite para a natalidade? Até que idade existem os benefícios? A sustentabilidade da segurança social preocupa-me e estou disposto a alguns esforços suplementares para a sua sustentabilidade mas desde que não arrajem argumentos patéticos para este tipo de reformas e esforços. Só o crescimento económico e o desenvolvimento poderão aumentar a natalidade. Porque não tenho nada contra, pensarei em ter mais filhos se tiver dinheiro para os sustentar, e os meus impostos servirem para ter escolas para os educar, hospitais para os levar (e já agora maternidades onde os ter). De resto, julgo haver nestes argumentos uma pontinha de inconstitucionalidade... Quer queiram quer não é uma discriminação. Ainda o será mais se alguém tiver que fazer prova da sua esterilidade para ficar isento... De qualquer forma, a ideia é ainda mais obtusa quando pensamos na sua concretização. Será que alguém, que sabe quanto custa um filho, vai procriar apenas para ter um benefício fiscal tão insignificantemente ridículo? É que para valer a pena o esforço (façam bem as contas...) era preciso ter no mínimo umas oito crianças! Sabem quanto é que isso significa por mês? Sabem quanto seria uma ida ao cinema? Sabem quanto custariam os livros escolares para todos os meninos? Sabem o que custaria ir de férias com semelhante família? Um aumento da natalidade com estas dimensões (as únicas que poderiam verdadeiramente inverter a actual situação) é apelar - ainda mais - ao subdesenvolvimento e à pobreza dos portugueses. E quando assim for, e o Estado tiver que sustentar toda esta gente, venham-me falar de sustentabilidade da segurança social venham...

4:21 da manhã  
Blogger Mónica (em Campanhã) said...

não funcionando, permanecerá apenas discriminação. e para estimular a natalidade, que tal assegurar creche e ensino pré-escolar público a todas as crianças?

11:24 da tarde  

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