22 outubro, 2007

||| Livros que deviam ser vendidos na farmácia.
Defendo há muito que há livros que deviam ser vendidos na farmácia, com ou sem receita médica. Uma pessoa chegava ao balcão e dizia: «Não tenho dormido bem.» «Ah», o farmacêutico com ar triunfal, mas preocupado, «e o que anda a ler?» «Bom, tenho andado a ler isto e aquilo.» «Deve ser por isso. Tenho aqui um livro que vai ajudá-lo. Depois traz-me a receita.»
Ou: «Digestões difíceis, sabe como é, eu tomo Kompensan e Rennie, mas nada.» «Sei.» «E passo mesmo mal.» «Sei, sei o que é. Não me diga que anda a ler esse livro novo, esse que anda aí.» «De facto.» «Pois não pode. É acidez a mais, um nadinha de mau ressentimento, isso provoca mal-estar. Acho que tenho aqui o livro ideal, e não precisa de receita, já é antigo, um clássico. Vai ler uma página à hora de almoço e pelo menos dois capítulos depois de jantar.» E embrulha o livro.








Estou a ler a biografia de Shakespeare, de Peter Ackroyd (edição da Teorema): é difícil não sermos transportados, desde as primeiras páginas, para esse mundo de florestas dizimadas em Stratford-upon-Avon (é uma das imagens mais fortes), participando num filme de época, conhecendo o nome das ruas, a fortuna de John Shakespeare, a inteligência da mãe de William, a infância de um homem que usou todas as máscaras.
[FJV]

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4 Comments:

Blogger Artes Plásticas - FLANKUS said...

Nesta multidão, globinerente, e em grande velocidade as composição convivem em ininterruptos apuros, prescrevendo de cada um o aperfeiçoamento das capacidades mais complexa do ser sensível.
A metamorfose.

12:15 da tarde  
Blogger joshua said...

Ó maravilhosa liberdade de comentar! Finalmente!

Escrever de livros e de autores, como Shakespeare, que nos pertencem inteiramente enquanto Espécie e nada podermos dizer, nós que aparecemos entre o bajulador e independente de este lado, é um furto lesa-democracia, lesa-diálogo. Já corrigido e ainda bem.

Abraço e boa leitura, Francisco.

joshua

4:41 da tarde  
Blogger Isabel said...

durante as minhas angustias de adolescente o nosso médico de família, um sábio senhor de quase 90 anos prescrevia-me: não leias coisas complicadas, lê Julio Dinis, lê Julio Dinis.

2:37 da tarde  
Blogger Leonor said...

Aqui há receitas de leitura: http://geracao-rasca.blogspot.com/2007/10/receitas-de-leitura.html#links

12:22 da manhã  

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