05 setembro, 2007

||| Não gosto de literatura. Eu sabia. 2.
Mas há mais: O Corsário Negro, de Emilio Salgari, mudou um pouco a minha vida. E, ainda hoje, sinto aqueles silêncios de O Drama de João de Barois. Mas prefiro esse Salgari. Camilo sim, mudou a minha vida de leitor: A Brasileira de Prazins não é apenas uma construção fantástica; é uma teoria do romance, da história e da ironia. Lembro-me sempre daquela introdução em que Camilo é levado por um devaneio a falar das folhas das giestas, boninas e das lágrimas perlando a aurora; e ele: «A Aurora a chorar! de que tempo isto é! Como a gente, sem querer, mostra numa ideia a sua certidão de idade e uma relíquia testemunhal da idade de pedra! Oh! os bigodes tingem-se; mas as frases – madeixas do espírito – são refractárias ao rejuvenescimento dos vernizes.» O Retrato de Ricardina, outro. Os Brilhantes do Brasileiro, um prodígio de selvajaria (quando se retrata a paixão do Sr. Barrosas: «um choque eléctrico lhe subverteu as enxúndias mais profundas do coração!»). Eusébio Macário, um léxico da literatura (aquela primeira descrição é outro grande momento de barbárie). Onde Está a Felicidade?, um monumento de ironia finíssima, mascarada com o perfume do agrado das burguesias. Não terminaria.
[FJV]

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