14 setembro, 2007

||| Mães e filhos.
A imprensa ficou muito chocada com as revelações do diário de Kate McCann. Não só parte da nossa (aquela que acha que os culpados devem ser escolhidos segundo a fé dos editores ou dos informadores que têm de garantir). Os jornais espanhóis e brasileiros, que eu li ontem, demonstravam choque e pavor: a mãe achava que as crianças eram histéricas, que Maddie era hiperactiva e que o marido não ajudava a tratar dos gémeos. Daí se infere, portanto, que estava tudo escrito. Uma mãe que acha isso está destinada ao infanticídio, à carreira do crime -- e à condenação popular. Primeiro, procuraram-lhe as lágrimas; não encontraram. Depois, investigaram no diário expressões de dedicação maternal mais delicodoce; não encontraram. Está, então, tudo explicado.
Não me interessa a investigação; apenas acompanho. Mas estas inferências explicadas ao povo são escolhidas a dedo. Todas as mães chamaram histéricos aos seus filhos e todas já acharam que eles são hiperactivos. Todas já acharam que os maridos (como aquele) não as ajudavam. Todas elas, em algum momento, pensaram na sua vida sem filhos. Todas elas têm vida para além dos filhos e nenhuma delas está exclusivamente destinada, como se fosse carne para canhão, à carreira de reprodutora e puericultora. O que se pretende fazer com a «caracterização psicológica» de Kate McCann é uma filha da putice.
[FJV]

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