31 agosto, 2007

||| Rudolf.






O João Miranda refere Rudolf Steiner neste post. Não comento o assunto (a agricultura biológica), mas lembro-me de uma visita a Dornach, perto de Basileia, onde se comemora a enorme sapiência de Rudolf Steiner, um homem que sabia de tudo e onde estão instalados os Goetheanum, edifícios tremendos que também comemoram a sua vasta sapiência. Rudolf Steiner sabia de tudo: de linguística a agricultura biológica, de filosofia (vagamente) a fisiologia (bastante), de esoterismo a literatura (Goethe), de economia a política, de pedagogia (com as escolas Waldorf) a ciência em geral (sobretudo decalcando tudo o que Goethe escrevia). Sobre este «sistema total», a antroposofia, li algumas coisas na época, no princípio dos anos oitenta. Tudo estava ordenado, tudo se orientava para «princípios unificadores», não havia pormenor escatológico que não estivesse explicado no interior de um «conhecimento» que não deixava nada de fora. Dornach, a aldeia, assinalava Goethe de forma obsessiva e as representações integrais do Fausto demoravam semanas de aborrecimento intenso. Os seguidores de Rudolf Steiner passavam pelas ruas, vestidos de lã escura, com gorros a esconder a palidez da pele; comiam-se bastantes cereais e frutos secos, perseguiam-se o álcool e o tabaco, as pessoas riam com cuidado; havia grupos de trabalho sobre agricultura biológica e o sistema digestivo ao lado de aulas de «ciência espiritual», a que assistiam muitas fãs de Madame Blavatsky e Annie Besant. As «origens intelectuais» de Rudolf Steiner eram interessantes (ficaram conhecidos o seu apoio a Dreyfus e as suas leituras iniciais de Nietzsche, que lhe forneceu a gramática e a euforia), mas o resultado era uma cosmogonia que acabava por reduzir as ciências à tríade «pedagogia-medicina-agricultura» e à sua mistura com uma «ciência espiritual» que procurava tranquilizar-nos com Goethe no original. Quando deixei Dornach, pela estrada que me levava para longe de Basileia, deixei para trás uma grandee perigosa tristeza; eu não sabia, até aí, que se podia detestar a vida real com uma convicção tão intensa. Mas cheia de palavras.
[FJV]

Etiquetas: