22 setembro, 2007

||| O estado das coisas.










O Estado Civil, do Pedro Mexia, fez dois anos. É uma data séria. O Pedro é, entre outras coisas excelentes, um dos fundadores da blogosfera portuguesa (Coluna Infame, Dicionário do Diabo, Fora do Mundo). É uma das pessoas que mais admiro e um bom amigo – mesmo quando não nos vemos durante muito tempo. É um grande poeta, um escritor que prezo muito, um dos nossos melhores cronistas. Se eu pertencesse à sua geração diria que «ele é o melhor de nós» – pelo que escreve, pelo que é, pelo que há-de escrever e pelo que vai ser. Os seus textos romperam com «a ideologia do bem-estar literário», dominante na imprensa e nos debates; a sua voz é das mais elegantes e melancólicas da nova poesia portuguesa. Foi corajoso na imprensa. Ganhou ódios de estimação porque não pertencia aos círculos da universidade e tinha mais competências do que eles. Ou porque não tinha nascido nas trincheiras da esquerda, o que era um pecado fatal. Ou porque, simplesmente, é culto, informado, tolerante. Uma das características do trabalho do Pedro, em qualquer área, é a de surpreender sempre aqueles que gostam do mundo muito bem catalogado. Ele não pertence a esse universo. Às vezes, devemos ter inveja dele. É uma forma de dizer que o admiramos. Ele merece.

[As fotos não têm nada a ver com o Estado Civil; são de uma das mais belas bibliotecas que visitei, a Athenaeum, em Providence, Rhode Island. Fundada em 1753, foi frequentada por Poe, que viveu uns quarteirões acima. Tem livros belíssimos, corredores cheios de penumbras onde há sempre uma cadeira para aproveitarmos uma janela ou um recanto iluminado pela luz da tarde. Conhecia-a graças ao Onésimo Teotónio de Almeida, naturalmente, e sempre achei que era um lugar excelente para o Pedro. Eu digo-lhe porquê. Ele suspeita.]
[FJV]

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