09 setembro, 2007

||| Comentários de domingo, 2. Escócia-Portugal. [Actualizado]














Se o Criador quisesse dar uma prova da sua existência, depois de ter aberto um sulco nas águas do Mar Vermelho – há muito tempo –, teria escolhido o minuto 44 do jogo, quando Pedro Carvalho deixou para trás os escoceses e rasgou pelo estádio fora na direcção de um ensaio fabuloso. Com isso, provaria a sua existência e indicaria também que era fanático dos Lobos. Infelizmente, o árbitro neozelandês assinalou fora de jogo. É um Apito Escocês na forja. A Procuradoria que investigue.
De resto, não foi um jogo de desilusão. Rory Lamont só chegou ao seu primeiro ensaio aos 12 minutos. E só o terceiro (aquela passagem de Dan Parks para Scott Lawson, aos 23) ia confirmar o peso definitivo dos escoceses, se bem que o primeiro ensaio português acontecesse quatro minutos depois. Glória nas alturas. Vejam as estatísticas: o primeiro ensaio escocês da segunda parte (o de Dan Parks) só aconteceu aos 16 minutos. Podíamos ter chegado a mais dois ensaios na segunda parte? Podíamos, sim. Mas os escoceses, verdadeiramente, perderam o jogo: arrasámos-lhes os nervos (eles pensavam que ia ser fácil), mostrámos-lhes por que razão eles usam saias, revelámos pessoal capaz (olhem Vasco Uva, olhem Severino e, digam o que disserem, olhem o franzino Cabral) e, no fundo, as nossas adeptas nas bancadas eram muito mais apresentáveis do que as deles (contando ainda com o facto de eles estarem carregados de drag-queens vestidos de azul). Foi uma grande vitória nossa e só não foi KO por inexplicável azar.
Poderíamos tergiversar sobre o estatuto amador da equipa, mas não é isso o mais forte que fica do jogo e sim a entrega e a energia. Os derradeiros vinte minutos não trouxeram o esgotamento físico (apesar das distracções fatais que permitiram os ensaios escusados da Escócia), nem a sensação de desânimo que se nota nos mariquinhas do futebol. A dedicação de Vasco Uva, a alegria de João Uva ao regressar ao campo depois do amarelo, a competência de Duarte Cardoso Pinto, a insistência de Penalva apesar de lesionado desculpam essas distracções fatais, sobretudo depois do minuto 60. Os escoceses pensaram que andava ali bruxaria, ou então era o whisky que estava estragado. Uma das duas. Sábado será a vez de cairem os neozelandeses. Bem podem vir com o Haka em três tons.

[Hard work: Portugal made life difficult for Scotland.]

The Independent: «For Portugal, too, there was a measure of joy on what was an historic day for them: a try, a conversion and a penalty with which to mark their World Cup baptism. Despite their own fears, Os Lobos, the wolves, were not entirely lambs to the slaughter.»

The Independent: «There have been those who have questioned Portugal's presence at the top table of world rugby, but not Murray. "These guys have had to play a lot of teams to qualify," he said. "They deserve to be here. They've had to work hard just to get here. This is what they've done all of that hard work for."»

Nuno Mota Pinto, no Mar Salgado: «Um jogo de grande dignidade e valentia. Foram verdadeiros campeões ao superarem-se a si mesmo e equilibrando,a espaços, o jogo com a Escócia. O comentador de língua inglesa da emissão a que assitia referiu a certo ponto: The Portuguse team brought a great spirit to this World Cup

Entretanto, a TVTel acabou com o regabofe e a DSF deixou de transmitir os jogos em sinal aberto para Portugal. O Tiago Mendes informa que a ITV transmite os jogos pela net.


Trinta-e-um no 31 da Armada: O Pedro Lopes Marques escreve: «Prefiro uma Amélia que ganhe a um macho que perca.» E sustenta: «A mais risível das coisas é justificar as, mais que previsíveis, derrotas humilhantes com o “grande” argumento de que aqueles rapazes são amadores. E então? Confesso não sentir ponta de orgulho em ver uns escoceses a dar baile a meus conterrâneos ou ver declarações em que se diz que sofrer menos de 100 pontos contra a Nova Zelândia é fonte de orgulho... » Respostas de Paulo Pinto Mascarenhas («E agora é só uma presença de uma equipa amadora entre as melhores selecções do mundo que contam com jogadores que são pagos a peso de ouro. Se isto não é de aplaudir - e transmitir - então devo estar sintonizado no canal errado.») e de Eduardo Nogueira Pinto (que cita Laurent Bénézech: «Dès les premières minutes, on les a vu très limités techniquement, mais quel coeur, quel courage. Ils ont réussi à perturber les Portugais et ils sortent la tête très haute de ce premier match.»)

Já agora, que me desculpem, mas aqui vai a citação completa de Laurent Bénézech: «[...] joueur que je retiendrais, c'est le troisième ligne portugais Vasco Uva, qui symbolise vraiment cette esprit portugais, cette vaillance. Dès les premières minutes, on les a vu très limités techniquement, mais quel coeur, quel courage. Ils ont réussi à perturber les Portugais et ils sortent la tête très haute de ce premier match.» Há coisas que vale a pena repetir.

No Blood & Mud, blog de rugby: «A plucky performance by the newcomers from the Iberian peninsular yesterday, including this lovely try. Good forwards control to begin and then a delightful offload by the out-half for the winger to score.» [Tem um vídeo do ensaio.]

No Alan's Rugby Blog, o post «Better Know A Rugby Team: Portugal»: «Because, while Portugal doesn't have a rugby leaguer's chance in a union scrum, they have a great story.»

Para ir acompanhando de longe, e fora do Mundial, o blog brasileiro Um Pouco de Rugby, do paulistano Rafael Takano.


[FJV]

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