26 agosto, 2007

||| O dilema depois da vergonha.
Cesare Battisti (hoje um escritor de romances policiais, casado, bom pai, cidadão pacato) é acusado pelo governo italiano de ser um criminoso comum (terá, segundo testemunhos de arrependidos, assassinado quatro pessoas e efectuado alguns assaltos) preso em 1979 e condenado, à revelia, a prisão perpétua; fugiu e está no Brasil. Passou pela França (onde, durante o consulado Mitterrand foi recusada a sua extradição -- decisão que viria a ser alterada em 2004) e pelo México. O assunto é tratado na edição da Folha de São Paulo deste domingo (edição em papel já disponível em Portugal). Porque, para o governo brasileiro e para os seus juristas, Cesare Battisti, que foi militante do PAC (Proletari Armati per il Comunismo), é um refugiado político. Os crimes cometidos quando muito jovem estão “ao abrigo” dessa militância. Alguns brasileiros que cometeram crimes durante a sua militância política são hoje governantes durante a ditadura; na Itália não havia ditadura e os crimes de que é acusado decorreram em 1978 e 1979. Seja como for, o que está em causa não é o dilema que se coloca agora ao Supremo Tribunal brasileiro e à consciência de cada um – mas sim a vergonhosa atitude do governo de Lula, que devolveu à ditadura de Fidel Castro os dois cubanos que tentavam o exílio. Eles não tinham cometido nenhum crime, mas a Polícia Federal tratou de os engavetar e de obedecer aos telefonemas cubanos. Com a curiosidade de que a viagem entre o Brasil e Havana foi feita num avião venezuelano. Santa aliança.
[FJV]

Etiquetas: