24 maio, 2007

||| Assim se legisla mais um pouco, 2.
O problema não é legislar, no fundo. Legislar é fácil e relativamente económico; o problema é que, nesta onda de controleirismo da vida alheia, cada legislador quer ser um moralista, proteger-nos, pregar moral, evangelizar, fazer o proselistismo da própria lei, elaborar preâmbulos, suscitar humilhações -- em primeiro lugar porque desconfia dos cidadãos, desconfia que os cidadãos não entendem o que está em causa e desconfia que os cidadãos têm como objectivo primeiro a desobediência às leis. Não lhes basta legislar, como devem (ou como deviam, ponderadamente); além da lei, que já seria suficiente, ainda temos de aturar os imperativos da moral e da superior presciência do legislador, em parágrafos sempre discutíveis. Assim, as leis transformam-se em arrazoados e são fonte de ressentimentos.
[FJV]