||| Compromissos pessoais.
O ministro Mário Lino garante que a construção do aeroporto da Ota até determinado ano, de que agora me não recordo, será um compromisso pessoal. O ministro afirmou isso há uns dias, veio na imprensa, e Fernando Sobral retoma o assunto na sua coluna de hoje no Jornal de Negócios. Eu deixei passar na altura porque me pareceu um disparate. Nem tanto acerca do próprio aeroporto, cujo «argumentário» me parece vago e pouco justificado, mas acerca do «compromisso pessoal». A declaração é grave e desajustada; espera-se de um ministro que ele não assuma compromissos pessoais desta natureza. Compreende-se o que ele, no fundo, quer dizer – mas não se entende a natureza pessoal do compromisso. Sabemos a partir de agora que, mesmo que as contas derrapem, mesmo que seja dado como adquirido que a Ota não é boa solução, ainda que haja intervenção divina no curso das coisas humanas, o aeroporto da Ota é uma questão pessoal que o ministro Mário Lino tem com o país. Ora, isto não pode suceder assim. O país não quer saber dos motivos pessoais que animam o ministro das Obras Públicas; o país, digamos, quer ter a certeza de que a Ota é uma boa opção porque tem o direito e o dever de lutar pela boa aplicação dos seus dinheiros; o ministro não pode tratar o aeroporto como coisa sua nem pode esperar que todos nós respeitemos os seus compromissos pessoais. Dir-se-á que é um exagero, um modo de dizer. Mesmo assim.
A Origem das Espécies
We have no more beginnings. {George Steiner}
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