07 novembro, 2006

||| Ler, 4.
Há um personagem chamado Licurgo. Mas antes de se encontrar com ele (o que acontece pelas páginas cinquenta) M. discute com W. sobre a sanidade de Lepinski e a sua interpretação dos sete dias de oração do rei David destinados a salvar o filho. É no mesmo dia que conhece Lilibeth. Quarenta páginas adiante -- suspeitava-se, e isso é uma falha -- M. está na cama com Lilibeth: «O meu olhar desceu pela sua perna até ao pé detendo-se na pulsação da artéria abaixo do tornozelo.» Ninguém se interessa pela «artéria abaixo do tornozelo» se não estiver disponível para seguir essa descrição minuciosa, a que vai dos olhos de Lilibeth (que abraça a própria perna, encolhida sobre um sofá) até ao esquecimento. «Ah, as mulheres», pensa M. Mas, mais tarde (páginas duzentos), ele dedica igual atenção a outra mulher (que morrerá a seguir): «O seu rosto parecia uma efígie numa moeda de ouro.» A luz do entardecer, «esse tipo de homem gosta de mulheres submissas». E M. repete: «Ah, as mulheres.» Ele dirá esta frase de outras vezes. E pensa nas mulheres de Arquelau, o personagem com quem se encontrará ao fim de uma viagem de comboio, e cujo pai era professor de grego.