16 novembro, 2006

||| Campanha.
Li o livro de Filipe Santos Costa, A Última Campanha (edição Palavra), sobre a campanha presidencial de Mário Soares, com a impressão de estar a assistir a uma tragédia a desenrolar-se à frente de Soares e em que ele acaba por ser personagem principal. Sim, há esse lado de Soares que pode cativar almas generosas, mas ele é vítima de si próprio. Sou dos que nunca lhe chamou velho, dos que nunca achou que a idade seria um argumento contra o voto em Soares. E, lendo bem o livro, reparando bem nos depoimentos dos seus conselheiros mais próximos, acho que com razão: Mário Soares não tinha envelhecido; ele transportava consigo a mesma euforia, a mesma determinação e o mesmo entusiasmo -- merecia ser tratado como igual, com igual crueldade, com igual desaforo e com iguais modos. Isso, ele não aguentou. Não percebeu que já tínhamos saldado a dívida.

P.S. - Medeiros Ferreira, percebe-se nas páginas do livro, era o verdadeiro anjo de Soares. A reportagem de Filipe Santos Costa é justa para o único homem que sempre compreendera o verdadeiro sentido do discurso de Soares no seu 80º aniversário.