12 setembro, 2006

||| Prós.
Se acham que foram os americanos a mandar os aviões contra o WTC, eu acho bem. É preciso que assentemos numa verdade. Se acham que cada um de nós tem culpa dos crimes do fundamentalismo e anda a humilhar o Oriente e o Magrebe, transformemos isso numa verdade inquestionável (basta ouvir os noticiários). Paguemos a Kadhafi, como ele exige, para evitar que a emigração do outro lado do Mediterrâneo chegue às praias de Espanha e de Itália (chantagem por chantagem, o melhor é pagar ao chantagista directamente em vez de votarmos depois de fazerem explodir Atocha). Consideremos que o uso da burka e a excisão feminina são apenas questões de natureza cultural e que, no fundo, são reacções contra a arrogância ocidental e as pernas de Mary Quant, essa vaca imoral. Claro que estamos de acordo em que o Ocidente tem falta de Deus e que Maomé tem lições a dar-nos, ele e os outros profetas de vária procedência; o criacionismo integrista está aí para nos salvar. Vigiemos os caricaturistas, vigiemo-los bem. Claro que andamos a irritar o mundo das mesquitas fundamentalistas; aceitemos, portanto, a bondade de nova fatwa contra Rushdie e, mesmo agora, contra Mahfouz. Eles têm razão quando escrevem, nos cartazes, «Freedom Go to Hell» ou «I love Al Qaeda»; temos de ser compreensivos. Aliás, ainda não está provado que a Al Qaeda exista. Bin Laden não é apenas uma invenção americana: é um Zorro libertador das massas, um produto de Hollywood; o verdadeiro Bin Laden é um canadiano da Guarda Montada que se limita a pedir a proibição dos Simpsons, o resto é invenção. Claro que o fundamentalismo muçulmano é compreensível (está longe). Os israelitas são ensinados nas escolas a matarem crianças árabes, como toda a gente sabe, basta ler os Protocolos dos Sábios de Sião, que é (ao contrário do que diz a propaganda sionista) um documento histórico; por isso é que eles precisam da sua dose diária de sangue; aliás, muitos deles não vieram do centro da Europa e daquelas terras do Drácula? Qual é o mal de o pessoal de Finsbury Park pregar contra a democracia inglesa e pedir bombas no metro de Londres? Nós não pregamos contra as tiranias do Médio Oriente? A ideia de que o Califado deve ser restabelecido, para cá do Guadalquivir, até ao Mondego e à Faculdade de Economia de Coimbra, não está senão justificada pela história. O Ocidente, como aliás diz Ratzinger, está minado pela falta de Deus e pela presença do Satã laico e racionalista; por isso, é necessário sermos compreensivos para com os sentimentos religiosos que autorizam o apedrejamento de apóstatas, a lapidação de mulheres, adúlteros e homossexuais ou a mutilação de infiéis; é o regresso da religião. Mesmo que o Irão, o Hamas e o Hezbollah, mais a Irmandade Muçulmana afirmem que um dos seus objectivos é a eliminação do estado de Israel, quem somos nós para defender o desarmamento do Hezbollah? Os americanos são boçais, obesos, comem hamburgers, acreditam que há uma colónia de extraterrestres no deserto do Novo México onde fundarão uma nova Las Vegas, falam nasalado e usam botas texanas; esse é, ou não, um argumento suficiente para os termos como inimigos? É. E, além do mais, devia-lhes ser retirado o direito de voto. A tolerância faz mal ao Ocidente; tem enfraquecido a sua moral. A liberdade de imprensa do Ocidente pode ser ofensiva; limitá-la para não ofender os xeiques de Jakarta, os rabis de Meah Sharim ou os maluquinhos do Utah é um imperativo. A pobreza conduz ao bombismo; temos de ser compreensivos para com o bombismo. Em África não há bombistas, mas apenas porque não têm dinheiro saudita ou wahabita para fazer bombas e, na verdade, não estão preparados para a democracia, o que nos leva a termos que ser compreensivos para com as tiranias, os seus abusos e a corrupção dos governos. Podemos enviar dinheiro; é falso que os militares e os tiranos desviem esses dinheiro das populações para proveito próprio. Bush teve uma falsa revelação divina; o profeta John Smith apareceu-lhe em sonhos mas falou-lhe em inglês erudito; o gabinete de Bush faz orações antes de reunir, mas ele cruza os dedos por debaixo da mesa.
Espero que, para já, isto seja o suficiente.