||| Que merda.
O jornalismo nobre imita o jornalismo do «Fantástico». Para quem não sabe, o «Fantástico» é um dos mais antigos «programas de jornalismo» da Globo, e festejou, para gáudio geral, a «leitura labial» em treinadores e jogadores de futebol. Durante o Mundial, foi uma festa e até Scolari teve direito a interpretação (pouca sorte não o terem apanhado a dizer palavrões em gauchês). Zidane e Materazzi foram estrelas mas parece que as leituras falharam (os ingleses, chatarrões, iam transformando o diálogo entre os dois numa disputa política profundíssima). Uns dia fora da pátria e deixei passar a cena de Bush & Blair. Ah, escândalo. Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo, brincou indignado com «a merda» logo na página dois. A Globo e o SBT também já, em tempos, tinham instalado microfones juntos dos bancos de suplentes nos jogos de futebol. O mundo ficou petrificado com a alusão «àquela merda». A imprensa paulista, muito séria, discutiu se se devia imprimir a palavra completa. Que merda.
Sei que esta merda não se devia dizer, mas tenho saudades de Clinton. Ele dizia merda na mesma. Fingia que chorava, diante das câmaras -- como Nixon, o expert em lágrimas. Fingia que fumava (é bem feito, porque ele deu guarida aos anti-fumadores chiques). Fingia que não tinha sexo com estagiárias. Fingia que era de outra maneira. Mas eu tenho saudades de Clinton porque esta gente anda chata. Tenho. Sei que é inadmissível, mas tenho.
A Origem das Espécies
We have no more beginnings. {George Steiner}
2 Comments:
antes de mais o que é que afinal disse Materazzi a Zidane, e depois o mundo está assim, não há nada a fazer.
Cara Margarida, ao que parece houve uns brasileiros que conseguiram ler os lábios de Materazzi e o que ele disse ao Zidane foi: "Tu vais mas é p'ró Benfica!"
Assim, constata-se que a cabeçada foi plenamente justificada e o prémio de Zidane merecido, pois uma resposta tão contida perante aquelas palavras revela um enorme desportivismo.
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