07 maio, 2006

||| Doutor Freud. 150 anos.

«Freud, no início do terceiro milénio, continua a ser o último verdadeiro crítico da nossa cultura e, como tal, tem uma utilidade sublime. Pouco importa que desejasse ser Darwin e acabasse por se tornar Goethe.»
[...]
«Freud é tão metafórico quanto Goethe ou Montaigne, e, como eles, é antes de tudo um escritor. [...] Freud junta-se a Johnson, Boswell e Goethe, na qualidade de autobiógrafo original e vital, bem como de dramaturgo do eu. O que é mais importante, forma um trio, com Johnson e Goethe, de sábios autênticos, moralistas validados por dotes intelectuais extremamente raros. [...] A ciência era a defesa de Freud contra o anti-semitismo: a psicanálise não era para ter sido classificada como "a ciência judaica", conforme se tornou para o desequilibrado Jung. Actualmente, um grupo de ressentidos e frustrados estigmatizam Freud, mostrando-o como um charlatão, o que constitui um aviltamento, sendo ele uma personalidade tão majestosa. [...] Exilou-se em Londres, não em Jerusalém, por acreditar que a Palestina seria sempre o berço de novas superstições. Muito me agrada a obra O Futuro de uma Ilusão, ainda que talvez seja o livro mais fraco de Freud, somente porque gosto de imaginar T.S. Eliot, anti-semita respeitável, exasperando-se ao lê-lo. Freud também se alegraria com isso. Moisés e o Monoteísmo, romance escrito por Freud, deixa bastante explícita a identificação entre as histórias da religiao judaica e da vida do novo Moisés, Solomon Freud (esse seria o seu nome hebraico, que com ele muito mais combina do que o wagneriano Sigmund). O lema de Freud, tanto em relação a católicos como a judeus ortodoxos, bem poderia ter sido «Ultrajai-os, ultrajai-os sempre!» T.S. Eliot, com efeito, sentiu-se ultrajado, mas qualquer judeu, mesmo que fosse muito menos talentoso do que Freud, bastava para provocar o desdém de Eliot. O único génio judeu apreciado por Eliot era o personagem de Christopher Marlowe -- Barrabás, O Judeu de Malta --, que morre derretido em óleo a ferver, embora, para fazer justiça ao abominável Eliot, seja necessário registar a sua admiração por Groucho Marx.»
Harold Bloom, Genius.

1 Comments:

Blogger Marco Aurélio said...

Francisco
Perdi a data para fazer um post em homenagem ao aniversário de 150 anos de um dos maiores pensadores do século 20, conhecido popularmente como o pai da psicanálise, Sigmund Freud. Hoje escrevi sobre ele. Lendo sobre quem escreveu sobre este gênio achei melhor não me estender muito. Melhor ver os comentários. Encontrei textos realmente bons.

Um abraço

Marco Aurélio

1:24 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home