16 março, 2006

||| Regresso.
1. Não me comove nada que Soares tenha abandonado a tomada de posse com o ar dele. Ou que seja quem for não tenha aplaudido o discurso do novo Presidente (que apoiei e no qual votei, fica dito) – coisas como «tomada de posse» ou «discurso inaugural» têm uma carga simbólica que não está sujeita à manobra política quotidiana. São interrupções antes dos verdadeiros primeiros gestos, que hão-de vir a seguir. Em Portugal discutem-se muito os momentos simbólicos como questões de pompa e estratégia. Infelizmente, da «tomada de pose» resultam muito poucos sinais sobre o que se passará daqui a meses. Na verdade, a «tomada de posse» é entre nós uma chatice demorada e lúgubre, cheia de filas e de abraços tão públicos como risíveis.
2. Quanto ao disparate televisivo (horas e horas de inutilidades e de palermices), ele apenas traduz o vazio televisivo.
3. Já a nomeação de novos membros do Conselho de Estado é um gesto importante. Por um lado, deviam ser escolhidas mais pessoas como João Lobo Antunes. Ele é um excelente interlocutor para se falar do país. Mas a escolha de Marcelo Rebelo de Sousa é inútil e coloca questões importantes sobre a relação entre o comentário político, o poder das televisões e as carreiras dos políticos como comentadores políticos. Não que o não possam ser; mas isso devia ter um preço, e esse preço, como mandam as regras, devia estar afixado: este cavalheiro não pode exercer o papel de comentador político e, ao mesmo tempo, de actor político no activo e de conselheiro de Estado. José Sócrates está, e Santana Lopes esteve em São Bento, depois de uma passagem pelo comentário político na televisão; Marcelo desceu dos microfones da TSF para a presidência do PSD; Paulo Portas sairá do «Estado da Arte», da SIC, para a presidência do CDS. Os casos são diferentes e devem ser analisados um a um, evidentemente, mas este traço comum devia fazer-nos pensar mais no assunto.

3 Comments:

Blogger António Viriato said...

Tem razão, quanto a MRS. O seu estatuto não quadra com a natureza da função para a qual o Presidente o convidou, pessoa de quem, aliás, Marcelo disse o que Mafoma não disse do toucinho.

Marcelo pode ser intelectualmente brilhante, mas carece de seriedade política e de constância de carácter e de humor.

Será um excelente Professor, um bom orador ou um desenvolto animador de tertúlias, mas dificilmente o imagino como condutor de homens ou líder partidário, que, de resto, já foi, sem brilho, nem particular sucesso.

É demasiado criativo, confunde os interlocutores e desacredita-se com tanta versatilidade. Demais, está num partido que usa a designação social-democrática, mas MRS indentifica-se a si mesmo como de Direita, o que não sendo pecado, me soa como uma aberrante contradição, ainda mais vinda de um Professor Catedrático de Direito, político, por excelência.

Também parece despropositada a nomeação de Manuela Ferreira Leite para o Conselho de Estado, visto que já deu provas sobejas, no Partido e nos Governos em que entrou, que lhe falta visão e sensibilidade políticas, apesar de se lhe reconhecer alta capacidade técnica, na área financeira.

Cavaco Silva, que muitos elegeram por exclusão de partes, dada a conjuntura prevalecente, volta a demonstrar pouco acerto nalgumas escolhas que faz. Queira Deus não persista no erro das escolhas, nem na teimosia em negar o desacerto. Seria anómalo falhar a reeleição.Mas isso dele depende.

11:44 da tarde  
Blogger T. G. Amaral said...

Presumo tratar-se duma gralha, mas mesmo assim achei um piadão à expressão «tomada de pose»! :-)

1:08 da manhã  
Blogger maloud said...

Não precisava de dizer. Todos sabíamos que tinha votado nele. Declrou-o antes. Só se mudasse de intenção na cabine de voto.

9:43 da tarde  

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