25 março, 2006

||| Imigrantes.
Queria escrever sobre o assunto outro dia, a propósito da rusga efectuada no restaurante do Jardim Zoológico durante a qual foram detidos imigrantes ilegais brasileiros (que mereceu uma crónica do Ferreira Fernandes no Correio da Manhã, e uma nota do João Miguel Tavares no Diário de Notícias). À luz da lei, nada a fazer; trata-se de imigrantes ilegais, e alguns deles já tinham recebido ordem de saída do país. Evidentemente que há outras questões implicadas no assunto. Em primeiro lugar, o espaço onde decorreu a rusga, um restaurante onde brasileiros costumam ir; em segundo lugar, como apurei, o cruzamento de denúncias (por parte de portugueses que não gostam de brasileiros nem do barulho que faziam no restaurante, de um lado; por parte de negociantes de imigração, por vingança). Evidentemente que o gesto é deselegante, mas puramente legal. Ir a uma festa de brasileiros e apanhar brasileiros é canja -- mas a polícia podia ir aos lugares onde eles trabalham e onde os seus empregadores lucram com o negócio.
Agora, o que eu queria dizer é isto: não vejo razão para que, num processo rápido, com documentos claros e com boa-fé (naturalmente, a análise do registo criminal e de outros papéis constantes do processo actualmente em vigor), não se legalizem todos os imigrantes residentes em Portugal, que provem estar a trabalhar e em condições de trabalhar e que, por consequência, aceitem as leis portuguesas. Depois desse processo decorrer é mais fácil e mais justo aplicar as leis de controle à entrada de estrangeiros imigrantes e falar de legitimidade para esse controle. Uma das razões: regularizaria a vida de milhares (muitos milhares) de cidadãos estrangeiros que estão a trabalhar em condições precárias e facilitaria em muito o trabalho do aparelho fiscal (além das contas da segurança social, creio eu).
Por outras razões, defendo a concessão de cidadania portuguesa a filhos (nascidos em Portugal) desses imigrantes agora legalizados. Não só porque Portugal precisa de mão-de-obra, como se diz sem pensar bem no assunto; mas também porque Portugal precisa de estrangeiros para crescer e melhorar. Não é apenas de choque tecnológico que precisamos; fazem-nos falta mais cor, mais choque cultural, mais contribuição dos outros para podermos melhorar um país que vai ficando muito cinzentinho.

4 Comments:

Blogger Mónica (em Campanhã) said...

precisamos de qualquer sangue que dilua a inteligência superior de sangues como o de antónio garcia barreto

1:07 da tarde  
Blogger CN said...

subscrevo todas as palavras deste texto. todas. uma por uma.

7:17 da tarde  
Blogger Gláucia said...

Esse texto está tudo de bom. MARAVILHOSO.

3:56 da manhã  
Blogger Raimundo said...

Pergunto-me se alguma das 400 medidas para agilizar os processos burocráticos que o Governo se prepara para apresentar hoje contempla situações como esta - a legalização de imigrantes. Mas suponho que uma entidade que pactuou silenciosamente com o que o Governo do Canadá acabou de fazer aos nossos emigrantes não esteja muito preocupada com isso.

5:40 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home