05 março, 2006

||| Educação sentimental.








A Books Upstairs não era bem uma livraria. Andávamos perdidos e encontrávamo-la. Não ficava muito longe do The Palace, aquele pub onde uma bicicleta estacionada no hall nos dizia que tínhamos entrado no templo onde John Banville se sentava a uma mesa. No The Davvy Byrnes (na Baggot Street) havia expostos cheques sem cobertura ou vale de caixa assinados por Joyce (e poemas nas paredes do Buswells, claro). A tertúlia onde parava Sean O'Casey no bar do outro lado da rua. Os canais, as pontes, as placas que assinalavam a passagem de Leopold Bloom. Entrei pela primeira vez na Books Upstairs à procura de um livro de John McGahern e acabei por descobrir que uma livraria fantástica de Dublin era mais do que uma livraria fantástica de outra cidade. Nessa tarde havia uma leitura de poemas de Brendan Behan e tudo acabou em música («the auld triangle...»), tudo acabou no factory wall, tudo acabou sujo como as águas do Liffey, tudo acabou. Por isso a Books Upstairs não era bem uma livraria. Era mais um mundo de livros acumulados sobre a poeira, chá, libras contadas (no tempo em que havia libras), esperando que o O'Donohughes abrisse as portas.

1 Comments:

Blogger inês s. said...

Agradeço a descrição.

10:53 da manhã  

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