07 fevereiro, 2006

||| Outra coisa, ainda.
O governo, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, reagiu como se esperava à questão dos cartoons. Diplomacia é diplomacia,negócios são negócios, nada de especial a registar acerca desta posição, certamente concertada com a União. Salvo aquilo que nos diz respeito como cidadãos portugueses interessados em saber o que pensa o seu governo independentemente da política real e do mundo dos negócios.
A saber: o governo acha que os cartoons ofendem os povos muçulmanos e que a liberdade de os ter publicado (de que o governo discorda) está no domínio da «licenciosidade»; o governo também acha que a publicação dos cartoons fomenta «a guerra de religiões»; além disso, o governo acha que «o que se passou recentemente em alguns países europeus» é «lamentável». De onde se conclui que, para efeitos diplomáticos e para pôr água na fervura internacional, o senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros se permite avisar os seus concidadãos sobre o que pensa, de facto, acerca do respeito pela liberdade e da legitimidade para queimar bandeiras de um país membro da União. O comunicado do MNE poderia ter sido mais lacónico, menos consentâneo com a tradição inquisitorial e igualmente sereno no modo como salva a face da diplomacia da União e dos interesses portugueses. Manter-se nessa posição e nessa área era sinal de contenção, de serenidade, de correcção diplomática e de bom-senso, além de não ofender os seus concidadãos. Mas não. O senhor Ministro faz doutrina (e da que é muito discutível), o que é manifestamente dispensável e um exagero desnecessário, embora lhe seja permitido ceder quantas vezes quiser às pressões e à tentação de disciplinar a imprensa. Não comentando a reacção inusitada e a manipulação da violência e dos incêndios das embaixadas, o Senhor Ministro mostrou aos seus concidadãos (apesar de o comunicado ser para estrangeiros) aquilo com que podem contar.

P.S. - Evidentemente que a posição de Freitas do Amaral só pode ser entendida neste contexto diplomático, tentando apaziguar «o perigo». Caso contrário, trata-se de um indício muito perigoso a que devíamos estar mais atentos.

5 Comments:

Blogger NUNO FERREIRA said...

Não existe ninguém que não se revolte com a queima de bandeiras e com o ataque a embaixadas de um país democrático e europeu, para mais com o historial de defesa dos direitos humanos da Dinamarca.
Convinha é que, sob o alibi da liberdade de expressão a todo o preço e da sua defesa a todo o preço, não esquecessemos que deste lado, do lado da democracia europeia, existem também, de forma subtil, elementos a manipular a questão dos cartoons. Ao colocar água na fervura, Freitas do Amaral está a agir com consciência, a consciência de quem sabe que a guerra dos cartoons só interessa à extrema-direita europeia e aos radicais islâmicos.

3:11 da tarde  
Blogger El Ranys said...

Subscrevo inteiramente, FJV.

4:40 da tarde  
Blogger Teófilo M. said...

Mas o Francisco J. V. queria que o comunicado dissesse o quê?

6:18 da tarde  
Blogger K. said...

Custa-me a aceitar à primeira esta posição do Governo. "Lamentar e discordar da publicação" dos cartoons poderá fazer-nos (Europa) incorrer no caminho sem regresso do medo em relação a outrém. E em relação aos boicotes económicos do Irão, se não houver sanções imediatas no sentido inverso por parte da UE, é grave.

7:27 da tarde  
Blogger Nancy Brown said...

sinceramente não percebo toda esta trovoada acerca do comunicado. se toda a gente pode dizer o q bem lhe apetece em nome da "liberdade de expressão" porque raio não hão-de os defensores da dita "liberdade" "ironizar" acerca de mais uma insensibilidade e falta de bom senso? é q no q toca à "sensibilidade", "bom senso" e outras razões, tanto abunda o disparate num lado como n'outro. mas... meus caros é por isso q defendemos a "liberdade" e não pelo seu oposto, ou tudo isto não passa de uma ginástica argumentativa... hipócrita?

5:19 da tarde  

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