23 fevereiro, 2006

||| Cabo Verde. Poesia de João Vário.










Há muito passado no estar aqui com o tempo,
Fim e reconhecimento, e não sofrendo nada mais do que o tempo concede,

Fim de novo e reconhecimento de novo
E tudo é crime, ou crime sempre, crime ou crime,
Criminosíssimamente crime,
Quando arriscamos a intensidade, comemorando.
Aumento e festa, ou cilício, e tempo de cair e tempo de seguir,
Tempo de mal cair e tempo de mal seguir,
Oh amamos tanto, amamos tanto estar aqui com o tempo
E sabendo que há nisso pouco passado.
Porque maiores que os desígnios da vida
São os desígnios da medida e, divididos
Em dois por eles, com eles indo, se por eles
Ganhamos o tempo, pedimos a forma mais fácil
De indagar que vamos morrer e, um dia, se
O tempo for deles e, a memória, de outros,
Havemos de ser úteis como mortos há muito,
Sem que a causa, o delírio, a designação,
O julgamento nossa medida abandonem,
Dividida em duas por elas, e ganhando constância.

Depois, depois faremos ou fará o tempo, por sua vez,
Aquele blasfemíssimo comentário,
E então consta que amámos.



[Em onda de revisita a Cabo Verde, ver também outros exemplos clássicos, como este poema de Eugénio Tavares e o monumento musical de «Hora di Bai».)

{Nota: Nas escolha do Prémio Camões, quando colocarem em cima da mesa as hipóteses de mais uma escolha literário-diplomática, esqueçam os argumentos e, no caso de Cabo Verde, podem começar a pensar em João Vário.}