17 fevereiro, 2006

||| Assalto ao jornal.













Não vale a pena discutir os métodos da polícia ao entrar na redacção do 24 Horas. Não discutirei a honorabilidade da imprensa nem o que está oculto em cada investigação que cada jornal entende fazer, nem com as suas opções editoriais (sim, porque no «affair Casa Pia» há profissões de fé, como se sabe). Mas estou com o Eduardo Pitta: sim, pessoal, o 24 Horas não é dos nossos, nós somos finíssimos, nós passamos ao lado. «Nós somos todos muito finos para nos preocuparmos com jornalismo marron Pode ser. Sim, pessoal, uma notícia do 24 Horas vale menos do que uma do Diário de Notícias ou do Le Monde. Vale mesmo? O pessoal não vai preocupar-se com o assalto ao jornal das manchetes marron, o pessoal é superior. Eu sei que há uma coisa que vale mais do que isso: o assalto ao jornal, que é preocupante. Hoje não nos preocupamos com o assalto ao jornal, como ontem pouca gente se preocupou com o assalto à casa de um blogger; amanhã não nos preocupamos com o assalto a nossa casa. De uma coisa podemos estar certos: a liberdade só tem um valor. E os cavalheiros que desde há anos andam a violar o segredo de justiça, «colocando notícias» estrategicamente, divulgando partes de processos, industriando devagar ou em catadupas, esses, não foram assaltados pela polícia.
Se por acaso o sr. Presidente da República, entre tantas condecorações recentes, resolver comentar esse assunto, não se esqueça do que já disse sobre a honorabilidade do regime e o respeito que devemos à liberdade. E que nenhum de nós esqueça que é muito fácil e popular punir o mensageiro, sejam eles o 24 Horas ou o Público -- e muito conveniente levantar esta poeira. No meio da poeira todos os figurões são pardos. Eles também são contra a licenciosidade, claro. E, neste caso, ficam a saber que podem retaliar desta maneira.

5 Comments:

Blogger P said...

A verdade é que a maioria do cidadão comum (pelo menos da pequena amostra com que tenho contacto), acha este um facto "normal". Aliás, até acham que a nossa justiça é muito branda com estes casos... e com estes jornais.

As pessoas têm medo da liberdade. Cada vez mais... e quando assim é, esse deixa de ser um valor fundamental.

E, só para dar um exemplo de como a nossa justiça está podre:

No verão, em plena época de incêndios, um grupo de jovens que se aprontou a ajudar no combate aos incêndios na para defender o local onde vivem, ao darem-se conta da propagação do incendio pelas faíscas, que estavam a criar um foco de incendio num local onde ainda ninguem tinha xegado, foram acusados de incendiarios!! (Xegam a responder na PJ e tudo!) tudo porque um sr da aldeia viu-os a sair do local do suposto foco, o que originou uma queixa, que claro.. foi tomada pela policia como muito credivel. Só resta contar, que no fim desta palhaçada, onde se goza com os cidadãos, a policia pediu imensa desculpa pelo engano. E, hoje, a sociedade ganhou mais 4 jovens cidadãos que se dizem "pouco importando se arde ou deixa de arder", se não for nada directamente com eles, não mexeram uma palha em prol de ninguém.

Eu, sinceramente axo muito bem.

Sinceramente, já não vale a pena. Já não vale a pena lutar por nada.

4:16 da manhã  
Blogger André Moura e Cunha said...

Caro Francisco,
O texto de Eduardo Pitta é simplesmente magnífico e suficientemente curto e directo.
Como escrevi no meu pequeno espaço, este "assalto" é um "atentado legal à liberdade".
Vou ser muito sincero e sem pretensões de alguma espécie: é admirável a forma como escreve e, acima de tudo, dispõe de um notável conceito de justiça.
Nós, os quase anónimos, precisamos dessas vozes inconformadas.
A juntar a tudo isso e tal como dizia o nosso saudoso João Pinto "o nosso coração tem só uma cor: azul e branco"!
Bravo! Que os seus conceito de justiça e liberdade de pensamento façam escola!
Um abraço,
AMC

11:57 da manhã  
Blogger Teófilo M. said...

Ainda não entendi muito bem qual será a diferença entre um jornal e um normal cidadão?

Será que a PJ invadir a casa de um normal cidadão em busca de algo que poderá estar relacionado com um crime será notícia de jornal, e um atentado à liberdade?

Se não, porque é que uma investida num jornal normal é vilipendiada até à exaustão em nome de uma pretensa liberdade de... qualquer coisa?

Será que a liberdade é um polígono com vários lados?

Ora bolas!

3:12 da tarde  
Blogger Carlos said...

Subscrevo.

4:17 da tarde  
Blogger CN said...

estou completamente de acordo. deixar passar em branco este facto é permitir que outros (ou os mesmos) o repitam no futuro.

11:17 da tarde  

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