08 janeiro, 2006

||| Largo do Arouche.
O Alexandre Monteiro lançou o Arouche. Pessoalmente, é um dos lugares emblemáticos de São Paulo, sobretudo nos finais de tarde dos invernos paulistas, frios, com cheiro de comida vinda de lugares nada recomendáveis, árvores sujas, ônibus, luzes lá no alto, dos prédios rasgados no céu, fumaça de caminhões, Ipiranga & Avenida São João. Lembro de um episódio, numa esplanada do Arouche, por volta das duas da manhã, um grupo discutia futebol e bebia cerveja (estávamos num congresso de revistas literárias): Horácio Costa (organizador, então a viver entre México DF e São Paulo), Manuel Costa Pinto (na altura, na Cult), Christopher Domínguez (tinha acabado de substituir Octavio Paz na direcção da revista Vuelta), José Ramón Ripoll (da Revista Atlántica de Poesía), etc. Em espanhol e em português. A essa hora da madrugada, naquele lugar, só um bar tem as portas abertas, com uma velha juke box debitando sucessos de novela e duas senhoras servindo às mesas da esplanada -- uma delas avançou para a mesa e perguntou: «Vocês são cartolas do Corinthians?» Surpresa durante um instante. Horácio, que detestava futebol, olhou para a senhora e murmurou: «Não, do São Paulo graças a Deus. Corinthiano nem no futebol.»