13 novembro, 2005

||| Modelo social.
Nos comentários, chamam a minha atenção acerca do problema francês: «em vez de se reivindicar mais estado social talvez se devesse pedir um estado mais social». Irra. Como é que eu pude ser tão brutal e, passivelmente, ignorante? Simples: porque não consigo compreender como o «estado social» francês pôde gerar, ampliar e tornar tão confortável o racismo e o provincianismo franceses, o mesmo racismo que atira emigrantes para os novos e velhos subúrbios e gasta dinheiro com eles, desde que eles não apareçam, impantes da sua ignorância e brutalidade. Porque não consigo perceber como o extraordinário «modelo social» serviu para criar barreiras cada vez maiores entre «os cidadãos» em vez de as diluir. A menos que esse «modelo social» tenha como função, oh flagrante pequenez europeia, criar e proteger cidadãos cada vez mais egoístas, preguiçosos, com vidas confortáveis e miseráveis, que preferem alimentar de subsídios as vacas francesas a encarar uma mínima mudança de vida, e que se vêem -- ah, coitadinhos -- forçados a votar Chirac para não cairem nas mãos de Le Pen. Chirac, o antiliberal; Chirac, o que jurou defender até ao fim (que nunca mais vem) o seu «modelo social»; Chirac, o que em plena campanha eleitoral não se cansou de mencionar os bairros de imigrantes -- antes de se ter vergado ao «modelo social» e às suas corporações. Mundo estranho, mundo estranho.