||| Humanidades e messianismo.
Sim, também vi a entrevista de Soares à TVI. Conforme o esperado mas com Soares em forma, disposto a atacar: Cavaco é o bárbaro que vem das Finanças, ele é o homem de letras que publicou vários livros e discreteou sobre a globalização. Este vai ser um dos tons da campanha, salvo erro, como um dos pecados do soarismo mais convencido de si mesmo: Soares como homem de letras. A imagem é potente e satisfeitinha. Para que queremos um presidente? Para que, de sobrolho vigilante, debite uns nomes indiscutíveis e tenha referências, seja um homem das humanidades. Evidentemente que as humanidades não fazem um humanista, mas a mensagem vai ficando. Salvo erro, e percorrendo os nove livros de Mário Soares (se os livros de entrevistas entram na contabilidade), e com todo o respeito pela figura*, não há ali uma ideia, uma proposta, uma chama de criatividade: há memória, uma narrativa do seu tempo, um testemunho que defende o seu lugar. O que Soares defendeu foi o seu currículo político contra o bárbaro. A acusação de que Cavaco tem «uma concepção de democracia muito pouco estruturada» é uma dramatização em dois tempos falsos e não merecíamos que Mário Soares sucumbisse a essa tentação pobrezinha; nem à que o deixou, suspenso no ar, invocando «pressões», a dizer que o governo de Sócrates cairá se Cavaco for eleito.
Basicamente, em termos políticos, o que Soares disse nas entrevistas é literatura justificativa e exercício narrativo; o que disse sobre o futuro pode resumir-se a coisas normais; sobre literatura, não acrescenta nada (pelo contrário); sobre o tempo actual, trata-se de um discurso com convencimento e algum ressentimento.
Soares tenta arrepender-se do que disse de Sócrates -- mas já vai tarde. Teria de se arrepender também do que disse de Blair, de Guterres e de quem não gosta ou veio depois de si (o que, em alguns casos, é a mesma coisa). Tenta também recuperar a imagem do «papão terrível» que vem substituir, nesta campanha, o perigo do fascismo ou do golpe militar (que anunciou recentemente), o que é muito fraco. Mas o que ele tenta é, sobretudo, enviar este recado: ele não tem currículo para isto; eu sou o currículo. O messias, basicamente.
* Como entraremos em campanha eleitoral daqui a nada, não vale a pena repetir a expressão «e com todo o respeito pela figura». Disse-o sempre e está escrito nos textos anteriores sobre o ex-presidente.
A Origem das Espécies
We have no more beginnings. {George Steiner}
5 Comments:
Soares falou claramente em revanchismo de direita e em subversão do regime e acusou pessoas que " eu bem as vi lá na cerimónia do ccb ao lado de cavaco".
porque é q constança n lhe perguntou quem eram essas pessoas q segundo ele colocam em causa os aliçerces do regime democratico?
eu gostava de saber pq n gostava de ver o revanchismo, amnhã, na casa civil ou na casa militar do presidente cavaco.
Tenham medo, muito medo!
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cumprimentos portistas,
Essa dos papões não colhe. Há uns bons aninhos o sr. Cavaco Silva não fazia outra coisa que não fosse alertar para o perigo das alianças entre PS e PCP para as autárquicas. O argumento era o de que, mais tarde ou mais cedo, essas alianças se alastrariam às eleiçoes legislativas e os comunistas - os comunas, esses monstros sem alma - chegariam ao poder. Buuuu!...
A boa notícia:
Soares é um humanista.
PS apoia Soares porque é um humanista;
Logo, Sócrates nunca será Presidente da República.
que pena que o f.j.v. não tenha encontrádo uma ideia nos livros de soares,e que este não nem tenha uma formação humanista,há 30 anitos por onde andava? A perparar o ódio que sente á esquerda?HÁ já me esquecia que o sr é um liberal(de esquerda,tipo C.Magno.Eu é que nem consiguilêr mais de uma vintena de paginas do seu ultimo livro é de uma boçalidade total...
Soares merece as críticas porque tem debatido, tem falado, tem aparecido. Quanto a Cavaco, é o candidato escondido. Nem a sua mandatária para a juventude se digna debater uma ideia que seja. Para não ofender e ganhar votos em todos os quadrantes, evita toda a exposição.
O meu voto não terá.
Quero votar em alguém de quem eu saiba as ideias, opiniões e direcção.
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