09 novembro, 2005

|||Carpe diem. [Nuno Júdice]

Confias no incerto amanhã? Entregas
às sombras do acaso a resposta inadiável?
Aceitas que a diurna inquietação da alma
substitua o riso claro de um corpo
que te exige o prazer? Fogem-te, por entre os dedos,
os instantes; e nos lábios dessa que amaste
morre um fim de frase, deixando a dúvida
definitiva. Um nome inútil persegue a tua memória,
para que o roubes ao sono dos sentidos. Porém,
nenhum rosto lhe dá a forma que desejarias;
e abraças a própria figura do vazio. Então,
por que esperas para sair ao encontro da vida,
do sopro quente da primavera, das margens
visíveis do humano? "Não", dizes, "nada me obrigará
à renúncia de mim próprio --- nem esse olhar
que me oferece o leito profundo da sua imagem!"
Louco, ignora que o destino, por vezes,
se confunde com a brevidade do verso.

9 Comments:

Blogger Ni said...

Olá Viegas!

Sorri ao ler este teu post e lembrei-me de quando eramos companheiros de carteira e conversa nas aulas do prof. Nuno Júdice.
A serenidade da voz, do olhar tímido do NJ, contrastava com os nossos sorrisos ireverentes... naquela fase em que tudo era tão 'sorrível'.
Acabei de copiar este teu texto e de o colocar no meu blog. (Não te zangues!).

Beijo para ti.
Deves estar a pensar 'Mas quem é esta?'

Nina... a CC... Conceição Castro.

Gosto de ti, 'caramba'!
Mas do NJ ainda mais!

4:18 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Viva, permita que me apresente: o meu nome é Jack e gosto muito de escrever histórias (com e sem “h”)… hummm, começar esta apresentação com uma mentira não é nada bom… na verdade o meu nome não é Jack (tem mais pinta assim) mas gosto efectivamente de escrever.
Caso este conjunto de letras tenham suscitado algum tipo de curiosidade (espero!), teria muito gosto que fizesse uma visita ao meu humilde blog.
Desculpe o abuso.

http://doadordehistorias.blogspot.com

12:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Confiar no precário amanhã, deixar que do acaso - prefiro chamar-lhe vida por saber - e da curiosidade brotem respostas novas a inquietações antigas, adiar momentos, horas, dias e anos, não é existir. Sendo uma a imagem contemplada, menos ainda; não raro ela de nós reflecte o que obstinámos focar - o próprio ser. Como narcisos pendendo para a água parada do regato. Ignorando rios tumultuosos, mares e marés. Limitados. Murchando a cada amanhecer.

Tati

2:57 da tarde  
Blogger Luís Filipe C.T.Coutinho said...

O incerto do amanhã,não se confunde apenas com a ausência de respostas às questões que nos surgem ao dobrar da esquina quando nos deparamos com nós próprios vindos de um dia anterior, com olhos cansados ainda à procura das respostas que ficaram do outro dia. É um deja vú constante. Nesses momentos somos apenas algo pequeno, tornamo-nos parte de um conjunto de palavras que se vestem de poesia para nos amenizar a constante dúvida de sermos apenas insatisfeitos, com a nossa condição de sermos algo tão pequeno em resposta às dúvidas que o mundo nos coloca...

abraço

Luís Coutinho

4:44 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Por acaso, acho um bocado ridiculo essa coisa do Carpe Diem! Essa obcecao em aproveitar o dia, como se fosse o ultimo, parece-me doentia, estupida. Se soubesses que hoje era o teu ultimo dia, irias aproveita-lo nas calmas, a curtir, a saborea-lo? Desconfio que nao! Acho que se pensares que ainda ha muito tempo, que a vida da muitas voltas, que ainda poderas fazer muitas coisas, que tens MUITOS dias pela frente: vives muito melhor!
luis

12:05 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

ah! o vazio das nossas vidas. o querer fugir-lhe! os nossos silêncios. o querer encontrar o outro! o hoje! o amanhã! estamos vivos. aproveitemos!

obrigado Nuno

2:48 da tarde  
Blogger PR said...

óptima maneira de terminar um blog.

A desculpa é viver, portanto...

3:39 da tarde  
Blogger K. said...

Fantástico, como aliás quase tudo que conheço do NJ.

7:01 da tarde  
Blogger Nuno said...

Mais importante é não desperdiçar, que é a forma mais natural de aproveitar o quer que seja

11:50 da tarde  

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