18 outubro, 2005

||| O cantinho do hooligan.




O Manuel acha que ando comovido com as agruras do FC Porto e que, também para mim, o bombo de serviço é o treinador. Não é assim. Explico porquê. Sou um hooligan sem importância; gosto de ver o FC Porto ganhar porque sou adepto do meu clube e, hoje em dia, pouco mais. Hoje de tarde na TSF e na Antena Um, e ontem à noite na SIC Notícias, ouvi comentadores discretearem com sabedoria sobre a crise na SAD do Sporting e no sistema táctico do FC Porto; frequentemente os oiço falar de futebol como o Prof. Marcelo fala sobre política. Não percebo, hoje, como é possível falar durante 37 minutos sobre «questões político-estratégicas dos três grandes» (foi o tempo de Rui Santos ontem na SIC); compreendo a ideia -- mas, pessoalmente, não seria capaz. Já participei como «comentador residente» em dois programas de tv sobre futebol, mas acho que nunca se tinha chegado a um espectáculo desta dimensão. Saber se a jogada de Luís Filipe Vieira deixa Pinto da Costa em apuros ou se o equilíbrio de forças dentro da SAD do Sporting está quebrado e são necessárias eleições antecipadas parece-me política dos pobrezinhos. Num desses programas em que participei disse, a abrir, que não ia discutir off-sides ou penaltis por assinalar e que não ia debater a originalidade da gestão de Vale Azevedo. O que é assunto de polícia é para ser tratado na polícia, o que é negócio é para ser tratado pelos negociantes, o que é futebol é para ser tratado a falar de futebol.
A minha perspectiva é, assim, fraquinha. Admito que seja importante apreciar a gestão desportiva do Sporting e o contributo do kit Benfica para a gestão de Luís Filipe Vieira, tal como acompanhar os desaires de Pinto da Costa e a rouquidão arrastada de Dias da Cunha. Só que, hoje, isso não me interessa. Por isso chamo a esses textos sobre futebol «o cantinho do hooligan»: só me interessa o jogo. Acho que o tempo de Pinto da Costa já passou e que ele se devia retirar. Tal como acho que as questões do Apito Dourado dizem respeito à justiça e à polícia -- e se tiverem efeitos desportivos, que o decidam logo.
O futebol alimenta três jornais que precisam de vender papel; se o Benfica não vem na primeira página, não se vende. Alimenta uma indústria de televisão. Alimenta o negócio da publicidade. Etc. Saber se é mais importante ter na mão a comissão de arbitragem ou contratar o Samuel Etoo ou o Drogba é coisa que não discuto. Eu preferia ter o Drogba a marcar golos (digo e escrevo há anos sobre a falta que faz um goleador no FC Porto...). Viciar a comissão de arbitragem é, para mim, assunto de polícia de costumes. Essa gente não me interessa. Sei que podem viciar jogos, aldrabar resultados, torpedear contratações; os tribunais comuns que julguem essa gente, e depressa. Quanto mais depressa melhor. A mim, o que me interessa é perceber a razão por que Co Adriaanse deixou no banco jogadores como o Diego e o Quaresma e o Hugo Almeida entrou tão tarde; quero saber porque não jogaram o Jorge Costa ou o Pedro Emanuel; quero saber porque é que joga o Bosingwa e não o Sonkaya; quero perceber porque é que mantemos (nós, o FC Porto) jogadores como o Pepe, o Postiga e o McCarthy e não se contratou um rapaz goleador nem se treina alguém para marcar um miserável pontapé de livre. E não percebi as razões do treinador nem as razões do clube. Agora, se Pinto da Costa tem culpas, isso não sei. Admito que possa ter, mas já não me interesso pelo assunto. Essa gente toda tem uma importância fatal, eu sei. Mas quando vou ao estádio pago bilhete como toda a gente e quero que a minha equipa ganhe. Sou um hooligan.

9 Comments:

Blogger PR said...

olé.
mais nada.



um hooligan também pode ser ateu.
Não acredita em Deus, mas espera que o Porto vença o Inter.
Não lhe falta fé.


Repito! Raoul meireles, dançando o tango frente aos adversários.

2:23 da manhã  
Blogger M.J.Marmelo said...

E bibó hooligan!

10:28 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

O Quaresma não jogou porque o Benfica não é o Rio Ave, o Beira-Mar ou o Gil Vicente, aparentemente os únicos clubes a quem o Quaresma é capaz - de 10 em 10 jogos - de marcar um golo. O Diego não jogou porque não defende, e o meio-campo do Benfica é muito forte (tão forte que em dois jogos seguidos atiraram com os melhores jogadores dos adversários para o estaleiro...). O problema foi o Jorginho, que no Setúbal jogava tão bem atrás do ponta-de-lança, não ter jogado a ponta de um corno. O Hugo Almeida entrou tarde porque o Co Adriaanse tem respeito pelo público das Superiores, que se fartam de levar com os balões do Hugo Almeida. O Jorge Costa não entrou porque há que respeitar os símbolos do clube, algo que o aano passado não aconteceu quando, com o Jorge Costa a titular, perdíamos com toda a gente em casa (e até levámos 4 do Nacional da MAdeira...). O Sonkaya não joga porque o Sonkaya.... não joga. De acordo quanto ao Pepe, Postiga e McCarthy.

10:41 da manhã  
Blogger Fernando said...

Como te entendo Francisco!
A mim também só me interessa que o meu clube ganhe. Seja em que modalidade fôr, todavia, não posso deixar de lado o jogo rasteiro, aquele que é designado o submundo desportivo. Aí gostava muito que a justiça fosse cega, célere e justa.
Até lá, que o Porto vença sempre!

11:39 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Francisco, continuo a achar que o seu Canto do Hooligan é espaço de hegiéne mental!
Os modelos de negócio dos media dão cabo da beleza da coisa (como a Nike deu cabo do Ronaldo no França 98), always the green!
O Porto é o meu clube e tenho ido ao estádio... tenho pena de ter celebrado pouca coisa este ano. Também não me interessam os penaltys e os off-sides. Acho que precisamos de um bom central (não temos ninguém na equipa que tenha pernas e sentido posicional ao mesmo tempo), os laterais são asnientos nas funções em que estão. Temos médios defensivos que podem jogar, e deviam jogar mais vezes! E, vistas bem as coisas, o McCarthy está demasiado seguro (ou indiferente) sem concorrência! Mas o meu maior receio é que com tantas reclamações por gente nova a SAD vá destrocar mais algumas furtunas e o porto de Leixões assista à chegada de uns quantos contentores de zagueiros, centro-avantes... ainda que só(!!!) por 25% dos seus passes!

1:26 da tarde  
Blogger Francisco del Mundo said...

E mais nada precisa ser dito...
Abraço

1:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Concordo que a bola, ao fim-de-semana, é apenas um episódio fugaz em 7 dias. Mas dói, dói mesmo, entregar assim o "ouro ao bandido" e abrir, despudoradamente, o cofre ao anjinho do Nuno Gomes!

12:10 da manhã  
Blogger ATF said...

Post longo, comentários longos, tenho de ler isto tudo amanhã. Agora vou ver o resumo de mais uma noite A Benfica numa Vila Real qualquer. Não fora aquele roubo de igreja...

12:42 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Meu amigo o mal desta merda toda é que já não há clubes há SAD's, já não há jogadores há activos......e já não há jogos de futebol ao domingo à tarde, por isso é o desencanto.

Severino

12:19 da manhã  

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