26 outubro, 2005

||| Leituras soltas. Paul Blick fala sobre a França.
«Era esta a minha família na época, desagradável, retrógrada, reaccionária, terrivelmente triste. Francesa, numa palavra. Assemelhava-se ao país, que se considerava satisfeito por se manter de pé, depois de superar a humilhação e a pobreza. Um país agora suficientemente rico para desprezar os seus camponeses, fazer deles operários e construir-lhes cidades absurdas formadas por edifícios de uma fealdade funcional. Ao mesmo tempo, a caixa das mudanças dos automóveis passava de três ara quatro velocidades. Não faltava mais nada para que o país inteiro se convencesse de que metera a mudança superior.»

«A eleição de Mitterrand provocara o descalabro do franco, uma desvalorização de vinte por cento dos valores bolsistas e a fuga de capitais que se escapavam, noite e dia, por todas as fronteiras da nação. E eu, entretanto, de alma pura e pé na tábua, conduzia o meu automóvel até Barcelona.»

«Apertava a mão de Marie na minha e contava-lhe notícias da família e do mundo, os magníficos progressos de Louis-Toshiro e os propósitos de um certo Raffarin, antigo fiscal de pesos e medidas de Poitevin. Quando, em Março de 2003, eclodiu a guerra do Iraque, ainda tentei descrever-lhe a desordem do mundo [...]»
Paul Blick é o personagem-narrador de Uma Vida Francesa, de Jean-Paul Dubois (edição Asa), a lançar amanhã à tarde em Lisboa.