26 outubro, 2005

||| Leituras soltas. Mandrake confessa-se sobre o passado.
«Meu pai passava o dia e a noite acordado, quando ia para a cama ficava lendo e eu lhe pedia que parasse de ler, apaga a luz de cabeceira e vamos dormir, eu dizia, e ele respondia que não queria dormir e quando não estava lendo ficava de olhos abertos olhando para o teto ou para a janela. Fecha os olhos, eu pedia. Não fecho, não posso fechar os olhos, se fechar os olhos eu morro. A luz da cabeceira permanecia acesa, eu acordava no meio da noite, do meu sono agitado, e lá estava ele, de olhos abertos, olhando para o teto. Um dia notei que ele estava de olhos fechados e pensei, aliviado, afinal ele dormiu, e apaguei a luz da cabeceira. Quando acordei, pela manhã, ele estava morto.» «Monólogo» de Mandrake em Mandrake, a Bíblia e a Bengala, de Rubem Fonseca. Na semana passada, no «Escrita em Dia» da Antena Um, o Bruno Santos fez uma magnífica leitura do extracto.