29 setembro, 2005

|||A noite, o que é?, 55.
As cidades têm hotéis. Varandas. Os quartos de hotel nem sempre são felizes. Têm televisões ligadas, frigoríficos, camas brancas. Lembram-me sempre esse hotel noutra cidade, diante do Índico. As obsessões pagam-se com a vida, mais tarde ou mais cedo, mas seguramente mais tarde, quando tudo desapareceu.

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Talvez tenhas razão.
Talvez a solidão seja o preço a pagar.
Mas a questão é: valerá/valeu a pena?

1:36 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

estranho, gosto de hotéis e seus quartos diante do índico

6:53 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.

Sophia de Mello Breyner Andresen

6:41 da tarde  
Blogger T. G. Amaral said...

Arrisco um paralelismo muito rebuscado: “Compreendemos que o Império era um sonho impossível, no nosso tempo. Mas compreendemos, também, que há uma memória que se nos impõe por si, por mais que a vontade de uns e o desleixo de outros façam por esquecê-la. Tudo se torna claro, em Goa. No terraço de um hotel em frente ao mar que nos trouxe, à luz do Cruzeiro do Sul, numa noite afogada em estrelas.” (Miguel Sousa Tavares, Sul, “Goa, o sonho impossível”)

8:48 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Da varanda desse quarto de hotel não uito feliz, ainda é possível vislumbrar ao longe um veleiro que se aproxima da praia e ter esperança...

7:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

(Quase) como num poema de Manuel António Pina:

JUNTO À ÁGUA

Os homens temem as longas viagens,
os ladrões da estrada, as hospedarias,
e temem morrer em frios leitos
e ter sepultura em terra estranha.

Por isso os seus passos os levam
de regresso a casa, às veredas da infância
ao velho portão em ruínas, à poeira
das primeiras, das únicas lágrimas.

Quantas vezes em
desolados quartos de hotel
esperei em vão que me batesses à porta,
voz da infância, que o teu silêncio me chamasse!

E perdi-vos para sempre entre prédios altos
sonhos de beleza, e em ruas intermináveis
e no meio das multidões dos aeroportos.
Agora só quero dormir um sono sem olhos

e sem escuridão, sob um telhado por fim.
À minha volta estilhaça-se
o meu rosto em infinitos espelhos
e desmoronam-se os meus retratos nas molduras.

Só quero um sítio onde pousar a cabeça.
Anoitece em todas as cidades do mundo,
acenderam-se as luzes de corredores sonâmbulos
onde o meu coração, falando, vagueia.

in UM SÍTIO ONDE POUSAR A CABEÇA, com um retrato de José de Guimarães, s/ l, edição do Autor, 1991 (fora do mercado); POESIA REUNIDA (1974-2001), Lisboa, Assírio & Alvim, 2001, pp. 162-163.

(www.blogdetrazerporcasa.blogspot.com)

11:01 da tarde  

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